terça-feira, 7 de junho de 2011

TAPERA

Por Antonio Francisco de Paula (Brasília, DF)

Quem passar naquela estrada
Empoeirada de chão batido,
Barranco todo florido
Com a ramagem de São João,
Vai avistar lá na baixada
Uma tapera abandonada
Na beirada de um capão.

À direita de quem chega,
Entre as sombras das palmeiras,
A porteira de tronqueira
Ao relento escancarada,
Onde não se ouve mais
Tropel de cascos de baguais
Nem mugido de boiada.

Nem o grito da peonada,
Nem rangido de carreta,
Nem tilintar de rosetas
Das esporas da bugrada,
Nem badalo de cincerro,
Nem os berros dos bezerros
No silêncio das madrugadas.

Nem latido de cachorros,
Nem aboio de tropeiros,
Nem relinchos no potreiro
Da tropilha abagualada,
Nem estalo de açoiteira,
Nem estampido de cartucheira
Nas encostas da invernada.

Bem na frente do terreiro
Com o tabuado carunchado
A mangueira grande sem gado
Ainda resiste os janeiros,
Ao lado de uma cocheira
Rodeada de costaneira
Onde dormiam os terneiros.

Entre o valo e a paineira
Os coqueiros e o alambrado,
O chiqueiro esburacado
Divisando com o galpão,
Meio torto e destelhado
Com os esteios oitavados
Escorando o travessão.

Entre meio o arvoredo,
Lá no fundo do quintal,
O engenho velho de pau
Com as moendas desdentadas,
A fornalha de tijolo
E as peças do monjolo
Enterradas na palhada.

E debaixo da figueira,
Junto aos trastes amontoados,
A carroça sem rodado
Com o eixo corroído,
Amarrados entre os fueiros
A cangalha e o cargueiro
E um corote ressequido.

Lá no canto da cozinha,
Assim meio atravessado,
O fogão de lenha barreado
Chamuscado de tição,
Com a chapa enferrujada
Sobre a taipa desbeiçada
Envernizada de carvão.

Entulhados na despensa,
Entre os vãos da prateleira,
A cambona preta e a chaleira
E os avios do chimarrão,
E na mesa debruçado
O tacho de fazer melado,
A gamela e o pilão.

A varanda e a sala
Com o assoalho desgastado,
O candeeiro enfumaçado
Em riba da cantoneira,
E, no quarto, estendido
Um couro de boi curtido
Sobre um catre de madeira.

Patrício, como é triste
Olhar para aquela tapera
Com as paredes amarelas
Carcomidas de cupim,
Janelas e portas fechadas
Com a soleira e a calçada
Encobertas de capim.

Num adeus de despedida
Vou repontando lembranças
Da minha querida infância,
A morada onde nasci,
Chego até ouvir o lamento,
Resmungo do próprio vento,
Que eu nunca esqueça de ti.

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