domingo, 1 de abril de 2012

PERFIL: NESTOR KIRJNER

 
Por Paccelli José Maracci Zahler

Guri de Santiago do Boqueirão, RS, radicado em Brasília, DF, desde 1973, compositor, poeta popular, instrumentista,colunista do jornal Lago Notícias, diretor musical do Coral Alegria, membro imortal da Academia de Letras do Brasil, Seccional Distrito Federal (ALB-DF), cadeira nº 14, que tem como patrono Vinícius de Moraes, Nestor Kirjner (NK) prontamente aceitou o convite da Revista Cerrado Cultural (RCC) para um bate-papo por correio eletrônico.É ele o entrevistado deste mês de abril de 2012, onde relata a sua trajetória artística e profissional. Registramos aqui o nosso mais sincero agradecimento ao Velho Menestrel pela gentileza de nos receber.

RCC.Mesmo tendo nascido no interior do RS, em Santiago, próximo de Santa Maria, o senhor teve seu interesse despertado para o samba e as marchinhas de Carnaval, quando o normal, para qualquer piazito gaúcho, seria interessar-se pela música regional, dado o sucesso de Teixeirinha e Mary Terezinha. Como isso se deu?

NK. Na verdade, quando eu era “piazito de Santiago”, Teixeirinha ainda não tinha acontecido. E meu pai era diretor do bloco carnavalesco do clube que ele presidia. Os ensaios, às vezes, eram lá em casa. Afora isso, era o tempo do rádio e, mais especificamente, do apogeu da Rádio Nacional e do Programa César de Alencar. Como ouvinte assíduo de Marlene e Emilinha Borba, cheguei à música de Carnaval quase que naturalmente.

RCC. O gosto pelo samba foi cultivado nos clubes durante o Carnaval?

NK. Comecei a fazer “samba de verdade” quando passei a frequentar as areias da Praia do Flamengo, no Rio de Janeiro. Fui ao Rio fazer um curso e, nos fins de semana, descobri que o samba morava bem próximo do meu hotel. Percebi que o samba é pura riqueza poético-musical, associada a uma percussão a que ninguém resiste! Acho que, quando eu partir, vão cantar “Minuto Vagabundo” lá no Campo da Esperança. Meu casamento com o samba é pra toda a eternidade!

RCC. Por falar em clubes, o senhor já foi diretor de Blocos de Clubes, tendo vencido concursos de melhor bloco e melhor compositor. Gostaria de nos falar a respeito?

NK. Qual o compositor que não gosta de falar sobre suas músicas? Vencer Carnaval como melhor bloco e ainda ser indicado como melhor compositor é uma emoção que só quem passou por essa experiência pode avaliar. Nunca experimentei drogas, mas duvido que haja droga no mundo que proporcione um prazer de tanta intensidade. Você vira ícone e herói de uma hora para outra. De repente, você passa a ser incrivelmente amado pelo povo e ouve sua canção explodindo na voz de um grupo enorme de pessoas. É glorioso, uma coisa estupenda! Melhor nem lembrar, dá muita saudade!

RCC. O que o motivou a escolher o acordeon como instrumento musical?

NK.Foi um feliz “acidente de percurso”. Aos nove anos, o que eu achava “bacana” era ouvir bolero, samba dolente e samba-canção. E havia um primo cavaquinista, com quem formei uma dupla amadora de canto e cavaco. Aí, meu pai achou que era hora de eu estudar Música. O acordeon, para mim, era um “instrumento de grosso”, como se dizia lá no Sul. Mas, no Conservatório que existia no meu bairro, em Porto Alegre, não tinha mais vagas no Curso de Piano. A diretora do Conservatório sugeriu que, enquanto não surgisse essa vaga, eu poderia fazer o Curso de Acordeon, para ganhar tempo e não perder a motivação. Quando a vaga apareceu, eu já era solista da Academia, como ia voltar atrás? E, em vez de Teixeirinha, meus ídolos eram Chiquinho e Art Van Damme, e eu tocava no acordeon Beethoven, Ernesto Nazareth e os sambas-canções do outro ídolo, a cantora Nora Ney. Foi irreversível!

RCC. De Santiago a Porto Alegre, como foi essa mudança?

NK. Em Santiago do Boqueirão, meu pai era comerciário, balconista de loja. Foi tentar a sorte em Porto Alegre, teve sorte e competência para vencer o desafio e nunca mais voltou. Assim, aos quatro anos, cheguei a Porto Alegre, onde morei até os 28 anos. Não lembro muito bem de Santiago, poucas vezes voltamos à minha cidade natal. Poucos parentes ficaram lá! Mas o pessoal da seresta às vezes me chama de “Don Nestor Del Boquerón”, por causa da minha mania de cantar boleros em espanhol.

RCC. Com quantos anos de idade o senhor começou seus estudos de acordeon na Escola de Música “Cabral de Mello Borges”, em Porto Alegre?

NK. Comecei aos nove anos e me formei aos catorze. Minha professora, dona Gladys Cabral de Mello Borges, foi fundamental em minha vida, uma mestra excepcional, que me convenceu de que eu tinha algo a fazer como instrumentista e compositor.

RCC. Professor de Música e Acordeon aos 14 anos. Muita responsabilidade?

NK. Só muito mais tarde vim a exercer a função de professor de Música que o diploma do Conservatório me concedeu. Mas, aos 16 anos, assumi uma responsabilidade ainda maior, quando formei um conjunto de baile e resolvi ganhar algum dinheiro como músico profissional. Era pouco, mas ajudava! “Nestor e seu Conjunto” foi uma experiência muito intensa, não dava para pensar em outras atividades musicais, até porque eu era estudante e precisava “ralar” muito para acompanhar o Curso Científico, preparatório para o Vestibular de Engenharia.

RCC. Fale-nos sobre o conjunto de baile “Nestor e seu conjunto”.

NK. Poderia escrever um livro com as memórias do Conjunto. Há coisas incríveis para serem contadas. Aqui, ocupariam muito espaço. Talvez seja importante dizer que foi esse conjunto que revelou Geraldo Flach, um dos maiores pianistas da história da MPB. E nosso ritmista era João Carlos Machado Filho, hoje muito conhecido no Sul como o brilhante jornalista que depois se revelou. “Nestor e seu Conjunto” tem história! E fez muito sucesso, em sua época.

RCC. O conjunto de baile se apresentava nos clubes de Porto Alegre? Houve alguma apresentação pelo interior?

NK. Atuávamos mais em Porto Alegre. Mas fizemos algumas viagens ao interior do Estado. Naquele tempo, os deslocamentos tinham de ser feitos por meio de trens, as estradas eram muito ruins, e os carros ainda eram muito deficientes. Éramos um pequeno conjunto, apenas um grupo de estudantes, não tínhamos empresário. E o contrabaixo acústico era enorme, difícil de transportar, o braço do instrumento ia por fora do carro, não cabia no nosso valente Austin A16. Tempos heroicos, com certeza!

RCC. Da música à engenharia elétrica. Uma mudança radical?

NK. Minha história de engenheiro é muito singular. Pertenço à geração que mudou as telecomunicações brasileiras, nós éramos a revolução, a modernidade daquele momento. Depois, ficamos obsoletos, mas na época havia muito amor à profissão, muita motivação, muitos desafios. Tive de conciliar Música e Engenharia, sendo que a Engenharia era, e ainda é, o meu modo de vida, o meu ganha-pão. Para mim, não houve a necessidade de optar, mas de estabelecer uma forma de partilhar o tempo entre o trabalho remunerado e o trabalho voluntário. Era trabalho em dobro, mas tudo feito com muita dedicação.

RCC. Durante o período universitário, “Nestor e seu conjunto” fez alguma apresentação para os colegas?

NK. Não, “Nestor e seu Conjunto” acabou quando fiz o primeiro vestibular. No período universitário, tornei-me solista, tocava pouco e só em lugares selecionados. Ou seja, deixei de ser músico profissional e nunca mais cobrei cachê. Música, para mim, é coisa muito séria, mas tenho conseguido desvincular totalmente minha atividade artística de remuneração. Tenho, porém, o cuidado de não ocupar espaços que os colegas da minha antiga profissão possam ocupar. E, se for preciso, minha carteira da Ordem dos Músicos ainda está em dia. Posso voltar a ser profissional, se a vida assim o exigir.

RCC. Depois de formado, a atividade como engenheiro da TELEBRÁS prejudicou a atividade musical?

NK. Sim, sempre houve um certo conflito. Mas a atividade remunerada tinha que ter prioridade. Nunca descumpri prazos, e trabalhei por vários anos com o maior orçamento do País, na época: eram três bilhões de dólares de investimentos. Tenho orgulho de ter deixado o serviço público sem sequer uma única suspeição sobre minha conduta. Tinha um cuidado extremo com a ética. Música e poesia, fazia somente quando era possível. Foi depois de aposentado que passei a dedicar-me em tempo integral à atividade artística.

RCC. Como se deu a vinda para Brasília, DF?

NK. Quando foi fundada a Telebrás, em fins de 1972, ex-colegas da telefônica do Rio Grande do Sul que trabalhavam no Ministério indicaram meu nome, no momento em que se começou a recrutar quadros para a nova Empresa. Meu salário era muito baixo, dobrou, não havia como recusar o convite. Foi a Engenharia que me trouxe para cá.

RCC. O acordeon o acompanhou?

NK. Claro! O acordeon era parte importante da minha vida, fui um pesquisador de sons no instrumento, meus arranjos eram muito pessoais. Só deixei o acordeon quando a coluna vertebral me deu o “xeque-mate”. Na Telebrás, ainda formamos um conjunto de músicos veteranos para tocar nas festas da Empresa. Mas era só diversão, ação entre amigos, coisa para consumo interno.

RCC. Além do acordeon, o senhor é um exímio violonista. Como o violão o conquistou?

NK. Sou um apaixonado pelo violão, mas não me considero um violonista. Sou apenas um compositor que toca violão com muito entusiasmo e muita identificação com o instrumento. Por isso, sempre procuro exímios violonistas, para com eles conviver e aprender um pouco com a arte desses virtuoses. Sobre a passagem do acordeon para o violão, foram vários fatores que influenciaram essa mudança. Primeiro, a composição. O violão é muito adequado para compor, permite mais opções harmônicas que o acordeon, cuja mão esquerda já tem os acordes prontos, com as tríades montadas. Também a saúde influenciou, porque minha coluna apresentou sequelas do tempo em que eu tocava acordeon de pé, por horas a fio. E, claro, o poder de comunicação do violão, sua leveza, o fato de poder levá-lo para todos os lugares. O acordeon ficou no passado, não sei mais tocar o instrumento, vendi o que eu tinha. Mas, se pudesse tocar acordeon, nunca deixaria o violão, mas gostaria de voltar a ser acordeonista. Minha coluna é que não concorda com isso.

RCC. Sua aposentadoria como engenheiro deu-se em 1997. A atividade musical falou mais alto?

NK. São fases da vida. A Engenharia mudou, eu não era mais necessário na telefonia, fiquei obsoleto. Como músico, parecia-me que ainda havia uma boa razão para continuar servindo à Sociedade. Não tem sentido a vida só como diversão, é preciso ter rumos, ideias, ideais, planos efetivos. Hoje, sinto-me outra vez participante, graças à Música e à Poesia Musicada. Tenho uma longa vivência musical e creio que isso me qualifica a prosseguir. Sou muito grato ao Coral e às Academias por darem a mim uma real oportunidade de criar e aplicar o fruto dessa criação. Ser compositor e poeta musical é uma “persona” social que me motiva, e para a qual eu me sinto habilitado.

RCC. A Academia Kirjner teve o propósito de inovar o ensino da música ou foi um resgate do método de ensino da Escola de Música “Cabral de Mello Borges”?

NK. Na verdade, tentei uma utopia: mudar o ensino do violão na Sociedade, alterando a função e a postura do estudante de Música. Não foi possível! Existe um Governo tacanho, burocrata e tecnocrata, que desincentiva o professor de Música a estabelecer-se profissionalmente, impondo-lhe uma tributação absurda e uma legislação que o leva à informalidade. E a colonização e massificação mental de nossos jovens é um problema de grandes dimensões. Tudo isso ajudou a frustrar essa ideia inovadora, que, apesar de tudo, ainda me parece muito válida. Quanto ao Conservatório da profa. Gladys, em Porto Alegre, ele foi magnífico em seu tempo. Não tenho uma restrição sequer aos quatro anos que lá estudei. Foi perfeito e motivador! Sou só reconhecimento a essa extraordinária formadora de instrumentistas, que ainda está entre nós e recebe, diuturna e merecidamente, a gratidão de seus ex-alunos.

RCC. Os alunos que passaram pela Academia Kirjner também seguiram os passos do mestre? A Academia ainda está em atividade?

NK. A Academia Kirjner não sobreviveu ao absurdo fiscal e à invasão comercial da música popular de nível menos elevado. Foi uma luta inglória e desgastante. Meu filho Daniel Kirjner é cria da nossa Academia e faz um belo trabalho no campo do rock`n`roll, com composições marcantes, além de ser um pesquisador ativo na área da MPB. No entanto, devo dizer que não consegui passar minha mensagem a um grande número de pessoas, como pretendia. E jamais faria de novo, foi uma iniciativa caracterizada por uma total ingenuidade.

RCC. O senhor chegou a participar de festivais de música? Poderia nos falar a respeito?

NK. Foi uma fase interessante da minha vida. Creio ter um belo histórico de festivais de Música. Os fatos mais relevantes talvez sejam a vitória no primeiro festival aberto de música popular brasileira realizado em Brasília, e uma nota dez do poeta Mário Quintana, quando o mestre foi jurado do quesito “letra” num festival de que participei. Histórias “mis”, que um dia ainda conto a você.

 
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RCC. Suas músicas chegaram a ser gravadas? Qual a receptividade do público?

NK. Como não sou um músico profissional, meus trabalhos atingem a um número limitado de pessoas. Mas meu disco “Sinfonia da Cidade Nova” e minha invenção, os “Cartões de Natal Sonoros”, foram muito bem recebidos e estão na origem de todas as homenagens de que fui alvo a partir de 2003. Espero ser merecedor desse crédito que os amigos músicos e poetas, as Academias, os sodalícios, o Coral Alegria e a Sociedade me concedem! Encaro tudo isso como uma grande responsabilidade, a de ter voz e participação, e de gerar expectativas em relação a meu trabalho. Pretendo corresponder cada vez mais a essa confiança! Continuo a estudar Música, e trabalho no computador de maneira incessante, fazendo arranjos, textos, artigos para o “Lago Notícias” e projetos culturais. Creio que adquiri o “status” de agente cultural e não posso falhar num trabalho que talvez só eu próprio possa realizar. Se falhar, é provável que minhas ideias, meus projetos e minhas composições morram comigo.

RCC. Como surgiu o Coral Alegria?

NK. Como muitas das coisas importantes que ocorrem em nossa vida, foi o acaso que me aproximou do Coral. A primeira tarefa do então recém criado Coral Alegria foi cantar na reinauguração da Biblioteca da Administração de Brasília, onde o grupo havia sido formado. A bibliotecária que organizava o evento é minha amiga, encontrou-me casualmente num estúdio de gravação, e convidou-me a participar do evento. No ensaio geral, procurei a regente Ana Boccucci e convidei o Coral a cantar comigo uma das músicas programadas. Deu tão certo que estamos há dez anos trabalhando juntos. Ana é uma regente de grande sensibilidade e tem muito respeito por minha obra de arranjador e compositor.

RCC. Como foram selecionados os componentes do Coral Alegria? Todos são cantores formados?

NK. Não, o Coral Alegria é formado por cantores amadores, todos eles sem formação convencional em matéria de Música. São funcionários públicos, donas de casa, pequenos empresários. Todos, porém, têm uma paixão em comum: a música popular brasileira mais tradicional. No Coral, só eu e a Regente somos formados em Música. Os coralistas são pessoas da comunidade que se dispõem a dedicar parte importante de seu tempo à atividade cultural.

RCC. Como o senhor recebeu a designação do Coral Alegria como o coral oficial da Academia de Letras do Brasil, Seccional Distrito Federal?

NK. A princípio, com grande surpresa. Não é comum uma entidade literária ver com bons olhos a música popular. A própria Academia Brasileira de Letras, ao ignorar a poesia musicada como uma expressão importante da Língua Portuguesa, estimula esse tipo de preconceito. Mas, graças a Deus, existem no mundo pessoas como Vânia Diniz, que fazem a diferença e enxergam além dos ditames convencionais. A poesia musicada tem hoje relevante função sócio-cultural, e quem não perceber essa realidade ficará cada vez mais defasado da realidade do seu tempo. Minha atuação na Academia de Letras do Brasil tem, por isso, um caráter pioneiro e transformador. Sou muito consciente dessa responsabilidade. A designação do Coral Alegria como Coral Oficial da ALB-DF veio na esteira desse ato corajoso de nossa Presidente Vânia e tem muito a ver com o fato de eu estar ocupando a Cadeira 14 da Academia, tendo o poeta-letrista Vinícius de Morais como Patrono. A qualidade musical que eventualmente tenhamos conseguido por meio de nosso trabalho dedicado e persistente reforçou, provavelmente, a indicação e a postura corajosa de nossa Diretoria. Temos grande orgulho por ter merecido essa designação.

RCC. O senhor é Diretor Cultural da Sociedade Amigos da Biblioteca Demonstrativa de Brasília. Quais os projetos que o senhor vem desenvolvendo naquela instituição?

NK. A Biblioteca Demonstrativa vive atualmente o trauma da perda inesperada de sua grande líder, a bibliotecária Maria da Conceição Moreira Salles. Não sei como evoluirão os projetos criados por Conceição, que tenho a alegria de ter ajudado a implantar. Vejo com grande preocupação a possibilidade de a BDB voltar a ser uma biblioteca convencional. E tenho carinho especial por dois projetos que ajudei a implantar na área musical: o Bibliomúsica e o Quintas Sonoras. A meu ver, há um risco muito grande de retrocesso. Conceição foi na BDB o que Vânia é em nossa Academia: uma liderança muito presente e bem adiante do seu tempo.

RCC. Recentemente a Biblioteca Demonstrativa de Brasília perdeu sua grande incentivadora, Maria da Conceição Moreira Salles. O que a Sociedade Amigos da Biblioteca Demonstrativa de Brasília vem fazendo para homenageá-la?

NK. Como afirmei, o momento atual é de expectativa pela definição de novas políticas para a BDB. A Sociedade Amigos, da qual estou afastado há algum tempo, por acúmulo de outros projetos, parece-me estar em compasso de espera. Mas as homenagens à Conceição vieram de várias fontes. Foi uma figura lapidar na Biblioteconomia do Distrito Federal. Há um projeto que visa dar seu nome à Biblioteca Demonstrativa. Seria um merecido reconhecimento ao trabalho singular feito por Maria da Conceição Moreira Salles.

RCC. Fale-nos sobre a sua participação na Casa do Poeta Brasileiro.

NK. Foi a poetisa e grande artista plástica Ydê Afonso quem me apresentou a Maria de Lourdes Reis e me trouxe para a Casa do Poeta Brasileiro. Pela mão de Maria de Lourdes, tornei-me Vice-presidente e Diretor Cultural da Casa. Ela pretendia que eu fosse preparado para ser seu sucessor, mas fiz ver a Maria de Lourdes que um poeta musical não seria a pessoa mais indicada para presidir uma entidade tradicionalmente literária. Fomos então buscar nomes significativos da nossa Literatura para exercer a Presidência, e tivemos a felicidade de trazer para a Casa do Poeta pessoas do porte de Henrique do Cerro Azul e Luiz Carlos Cerqueira para dar continuidade ao Projeto que Maria de Lourdes criou com Nélson Fachinelli e J. G. de Araújo Jorge. Sobre minha participação na Casa, identifico muita coragem também na atitude pioneira de Maria de Lourdes e sinto a mesma responsabilidade de corresponder à confiança de Cerro Azul e Cerqueira, que me honram com sua apoio e amizade.

RCC. Como o senhor avalia a sua participação na vida cultural do Distrito Federal há 40 anos?

NK. Deixo essa avaliação a cargo de pessoas como você, intelectuais de ponta que acompanham de perto meu trabalho e podem opinar sobre os resultados efetivos do esforço cultural que desenvolvo. Encaro seu convite para esta entrevista, por exemplo, como uma avaliação positiva da revista “Cerrado Cultural” com relação a meu trabalho. Recebo o convite como um grande incentivo. Do ponto de vista da avaliação popular, estou muito satisfeito com o reconhecimento à atuação do Coral Alegria, mas luto para ter um maior retorno para meu trabalho como compositor. Já do ponto de vista formal, não posso pretender que Brasília me dê mais reconhecimento do que já tive. A cidade realmente não tem negado incentivos a este Velho Menestrel.

RCC. O senhor considera o recebimento da Medalha do Centenário de Bernardo Sayão como o ápice de sua atividade cultural no Distrito Federal?

NK. Essa Medalha é, sem dúvida, um dos pontos altos de minha atividade cultural no DF. Brasília talvez não existisse sem a participação heroica de Bernardo Sayão e sua colaboração estreita com Juscelino. Mas seria injusto não incluir nesse mesmo patamar fatos como: a Moção de Louvor que me foi concedida pela Câmara Legislativa do Distrito Federal, em 2011; o lançamento da “Sinfonia da Cidade Nova”, em 2003; o diploma de reconhecimento por 10 anos de serviço como Diretor Musical do Coral Alegria, em 2011; a posse como Acadêmico Fundador da Cadeira 14 da ALB-DF, em 2010; a posse, como Acadêmico, na Cadeira 49 da ALMUB, em 2011, sucedendo o grande violonista Raul Santiago; o recebimento da Medalha do “Mérito Cidadão Brasiliense”, no Instituto Histórico e Geográfico do Distrito Federal, em 2010; e o recebimento do diploma de Homenageado do Ano na mais recente edição do Bibliomúsica, em 2011. São momentos especiais, que me surpreenderam e dignificaram meu trabalho, e que se constituem em grandes fatores de motivação, como a provar que o rumo que escolhi não está equivocado. Agradeço profundamente a Brasília esse reconhecimento, que só irá reforçar o denodo com que procuro caracterizar minha atividade cultural. Espero ter saúde e ambiente propício para que um esforço dessa magnitude, que já se prolonga por quatro décadas, não tenha solução de continuidade. E agradeço, especialmente, ao “Cerrado Cultural” e ao amigo Paccelli Zahler por essa singular e preciosa oportunidade de colocar e debater algumas ideias, e relatar fatos relevantes de minha biografia. Tal convite, vindo de vocês, é uma honra para a qual me faltam o verbo e a palavra certa para bem exprimi-la. Obrigado, de coração!

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