sexta-feira, 1 de junho de 2012

PERFIL: ARMANDO C. SOUSA (CANADÁ)


Por Paccelli José Maracci Zahler

Neste mês de junho de 2012, o escritor português, radicado em Toronto, Ontário, Canadá, vai nos contar um pouco de sua história, de sua experiência de vida.
Ele frequentou a escola dos 7 aos 10 anos. A partir daí foi alfaiate, tecelão, jornaleiro, eletricista, pedreiro, chefe cofrador na construção civil, mineiro, chofer de caminhão e escritor.
A entrevista foi concedida por correio eletrônico. Devido às diferenças entre o português de Portugal e o do Brasil, tomamos a liberdade de colocar algumas observações entre colchetes.A ele o nosso agradecimento pela gentileza em nos receber virtualmente.


RCC. O senhor nasceu em Ruivães, Vila Nova de Famalicão, Portugal, uma cidade surgida na Idade Média. Que imagens guarda de lá?

ACS. De minha Freguesia, as recordações são de gente rude,  que eram conhecidas  quase em geral por apelidos e bem feios.Por exemplo Maria Mentideira, a Pega,  a Burra Branca, a Maria Isca, assim como a falta de todos os comestíveis , distribuídos com senhas. No seio da família, a  falta de dinheiro desde que meu pai morreu com antraz [Bacillus anthracis]; tinha eu 6 anos. A vila vagar recordações…filas de gente para ver se tinham a sorte de comprar 2 kg de pão; ou meio litro de azeite…recorda-me da fabrica de relógios Boa Reguladora, e da estação do comboio; o campo de jogos do Freião e a inauguração do estádio de futebol na década dos 50… ler meus primeiros livros na casa museu de Camilo Castelo Branco, o embrião que ficou em mim.

RCC. O auge de sua infância coincidiu com a Segunda Guerra Mundial. Como era a vida nesse período?
ACS. A vida foi terrível onde eu principiei a aprender as primeiras letras na areia… não existiam meios para ardósias ou lápis; menos ainda para cadernos; calças remendos sobre remendos ou muitas vezes arames para tapar um rasgão, escondido da mãe.

RCC. Em sua autobiografia, o senhor relata ter estudado apenas dos 7 aos 10 anos de idade.  Por que o senhor teve que abandonar a escola?

ACS. Nesse período, minha irmã já trabalhava,mas com a morte de meu pai e meu tio, minha mãe teve de pedir dinheiro emprestado e era imperial [imperioso] pagar os juros a 8%. Entrei para a escola a 7 de setembro de 1940 e fiz exame de terceira a 21 de junho de 1943. Poderia ter feito de quarta nesse período, mas minha mãe não tinha 5$00 [escudos] para meu cartão de identidade, e minha mãe pensava que eu não passaria nesse curto espaço de tempo que frequentei a escola…a essa idade era preciso ir ganhar meu pão… então puseram-me a guardar bois e ovelhas numa quinta…. Desse tempo existe um feito que me marcou para a vida e pode ser lido nas minhas memórias.

RCC. Que profissões o senhor exerceu até emigrar para a França, em 1963, para trabalhar na construção civil?

ACS.  Como já disse, aos dez anos e meio puseram-me a guardar bois e ovelhas, como me queriam dar com a soga  (correia de couro de boi) nas duas primeiras semanas, eu até mijei na cama com medo. De manhã, peguei nos animais, meti-os no campo que me mandaram, fechei o portão e corri para casa cerca de 8 km e disse à minha mãe que não serviria mais. Então, fui aprender a alfaiate. Em principio nada ganhava,mas aprendia o oficio.Dois anos depois, o patrão dava-me 10$00 [escudos] por semana… eu amava…Minha irmã e mãe puseram-me a tecelão aos 14 anos, numa fábrica que veio a falir; tinha eu 19 anos… tive um período que andei vindimando na quinta do Senhor Engenheiro. Este me deu trabalho nas máquinas de fiação; ali trabalhei até me casar, onde mudei para uma outra fábrica de um primo. O encarregado era rede e estúpido dava duas chapas [fichas] para cada secção para poder ir ao quarto de banho… um dia eu estava apertado e tive de ir mesmo sem meu colega ter voltado. Este bruto deu-me ordem de despedida…fui trabalhar para outra fabrica que estava a construir … fui ajudar o montador de eletricidade  que,  em contrapartida pediu para que eu ficasse a ajudar o eletricista…recebi carta de chamada enviada por meu cunhado. Tive de deixar esposa e três filhas e ir para a França como ajudante mação [pedreiro]…um ano depois era chefe cofrour [chefe cofrador] …

RCC. A saída de Portugal ocorreu por motivos políticos, já que Portugal vivia sob o regime salazarista?

ACS. Minha saída de Portugal ocorreu porque ouvia os filhos todos os dias a chorar por pão. Essa seria oportunidade de poder realizar um sonho,viver entre gente honesta, onde quem trabalhasse poderia viver feliz, com muita mais igualdade, com gente que sabia o que era ser oprimido e se estava a reconstruir da Segunda Guerra Mundial.

RCC. Como o senhor foi recebido na França?

ACS. Em França, todos os que demonstravam vontade de trabalhar eram aceites sem discriminação.

RCC. Como foi a sua vida na França de 1963 a 1967?

ACS. Foi realmente uma vida de trabalho duro, mas cheia da companheirismo, de aprendizagem e crescimento. Ajudei os que pude,aprendi a guiar carro, comprei o primeiro carro usado no espaço de um ano. Um ano depois de sair de Portugal, levei minha família para junto de mim.

RCC. Como foi o seu recrutamento para trabalhar em uma mina de urânio no Canadá?

ACS.  O mesmo cunhado que me enviou carta para França, enviou-me carta do Canadá,ao mesmo tempo que eu tratava  a recensear-me para ir para Austrália…espírito de aventura que se infiltrou no sangue português.

RCC. Como sua família recebeu a notícia de partir para a América do Norte?

ACS.  Minha Esposa seguia meu espírito de aventura… as crianças eram pequeninas, seguiam tudo com curiosidade, esperando fazer novos amigos e aprender.

RCC. Nessas suas andanças, o senhor pensou em voltar para Portugal?

ACS. Sim, em principio, até atravessar as maiores dificuldades da língua.Logo depois reconheci que em Portugal nunca haveria oportunidade de igualdade…a gente que ficava para trás era piegas e oportunista seria preciso muitos fundos para o imigrante se impor em Portugal… alem disso era feliz com minha família. Mas ia e ainda vou visitar os familiares.Família é sangue!  Importa mais viver com um sorriso que com dinheiro

RCC.O senhor não teve receio de trabalhar em uma mina de material radioativo?

ACS. Nós, os portugueses,  não tínhamos educação para reconhecer o perigo e esse nos era escondido debaixo dos interesses das companhias e do estado. A segurança do trabalho de uma mina de urânio foi elaborado, em 1978, com uma greve… isto salvo erro na data… mas tinha medo dos rebentamentos de ar na pedra e dos canos… onde tive de atar deus e diabos que me vinham a cabeça esmagando os dois para ficar livre… e poder trabalhar o pão de meus filhos e esposa; depois principiei a compreender que furava a montanha, que deveria evoluir o mundo e talvez destruir a humanidade… tudo quando se refinou o ytrium [ítrio] o motivo da cor da tinta invisível.

RCC. Como eram as condições de trabalho e segurança na mina?

ACS. Ultimamente eram regulares e com boa educados…[sic] mas o interesse de bônus era o grande mal… os bônus [hora extra,gratificação] eram o chicote da escravatura imposta a si próprio pelo mineiro; estes eram o grande mal…espírito de aventura estava nos bônus.

RCC. Entre 1985 e 1993, o senhor iniciou um programa de televisão chamado “Sol da Nossa Terra”. Poderia nos falar sobre ele?

ACS. Sim! Como onde vivíamos não existia nada em português, tive oportunidade de falar com o cônsul português que veio de visita  à Vila onde vivia. Foi o início dos contactos com a RTP [Rádio e Televisão Portuguesa] que enviava o material para o consulado com uma câmera de filmagem de amadora e a colaboração do Cabo Local, dois VCR s [videocassete recorders, gravadores de videocassete], muita boa vontade minha e algum dinheiro meu… desse tempo ainda guardo cerca de 700 fitas… as mais diversas noticias de então, fados e danças folclóricas

RCC. Embora tendo estudado dos 7 aos 10 anos,  sua verve poética floresceu 40 anos mais tarde.  O senhor teria alguma explicação para isso ou sempre se dedicou à poesia e esta foi  a oportunidade de expor seu talento?

ACS. .Sempre tive vontade de saber alguma coisa… mas na verdade no meio do lago quando pescava expandia-me [encantava-me] com os peixinhos… depois que me reformei, ai sim… escolhi escrever enquanto minha esposa guardava os netos… escrever era melhor que ir para o café ou cervejaria passar o tempo… depois, encontrei na internet uma musa que me tornou poeta e contista.

RCC. O amor pelas letras sempre o acompanhou?

ACS. Sim, desde a minha adolescência que me sentava nas escadas do museu de Camilo Castelo Branco e li Alexandre Dumas. Almeida Garret e tantos outros… como “Os Miseráveis” de Victor Hugo.

RCC. A sua experiência de vida é muito rica. Que lições o senhor tirou de toda a sua existência e que costuma passar para seus filhos e netos?

ACS. Existem coisas muito básicas que devem ser seguidas: nada existe sem trabalho;nunca comprar sem ter com que pagar; comprar fiado leva-te a ser corrupto; a verdade defende-te de todos os males mesmo que leve tempo vira ao de cima; um sorriso aproxima amizades; amigos verdadeiros ou virtuais são anjos que nos mantém enterrados em viver; nunca faças mal que esperes o bem; sê sempre honesto mesmo que sejas traído; o calado diz tudo, mas não diz a verdade; a hipocrisia defende-te nesse dia, mas morres de remorso se fores verdadeiro; deixa de fumar em quanto é tempo, eu deixei e ainda vivo;se ensinares teus filhos a voar, eles vão e voltam. Este ano planeamos irmos todos a Portugal e viver juntos em família na mesma quinta com sete quartos, duas salas e duas cozinhas… somos uma família formada em dois continentes e cinco países. 

QUEM TOCA MUITOS BURROS

Por Armando C. Sousa (Canadá)


Ouvia sempre dizer
Desde que era rapaz
Se tocasse muitos burros
Algum deixava para trás

Contai os que eu toquei
Desde que sai da Escola
Vivendo só Deus o sabe
Mas nunca pedi esmola

Fui criado de servir
Alfaiate e tecelão
Alguns dias jornaleiro
Trabalhei na fiação

Casei-me, fui electricista
Eu na França fui mação
Cheguei a chefe de equipa
Para ganhar mais (largean)

No Canadá fui mineiro
Trabalho que as minas dão
Espécie de carpinteiro
Fui chofer de camião.

Eu trabalhei com borracha
As correias emendar
Toquei todos estes burros
E a todos deixei ficar.

Hoje p`ra passar meu tempo
Sem burro algum p`ra tocar
Ajudo a criar meus netos
Prós pais poder trabalhar.

O tempo que me sobeja
Passo parte dele a ler
Leio jornais portugueses
Outro passo-o a escrever.

(10.12.1997)


LÁGRIMA

Por Armando C. Sousa (Canadá)


Vi a face alongar-se; os olhos serrarem; coração tremer
O pensamento chocou com o rancor ou saudade
No poço; fonte dos sentimentos; água principia a nascer
Desliza a escorrer na face; a cor da natureza invade.

Se forem de alegria as lágrimas; bendito seja o padecer
A lágrima é de mãe; ouve filho chorar; não tem pão
Está à janela; é tarde; não o vê chegar; sente alargar a dor
Mais uma vez sente o pensamento partir em emoção.


É mãe; o sangue fervilha; quem como ela sente o amor?
As lágrimas correm; precisa lavar o dorido coração
Lágrima pode ser gota ou rio que invade a face sem pedir
Pode nascer do pensamento; medo do momento então.


Mãe ouve seu filho cantarolando; abre-se num sol a sorrir
Lágrima será de dor? Acusação muda? Saudade ou alegria?
De certeza é água que corre; do coração ou pensamento
Será chicote? Alívio? Quase sempre termina em nostalgia.


Inquietude; incerteza; impossível amor acaba em lamento
Lágrimas sem compasso; são o antídoto da dor; nesse dia
Quantas vezes lágrimas são os juízes do sofrimento
Se a fonte seca, corpo desidratado não terá outra via.


Sem interesse ao trabalho; aos amigos; alegria de escrever
Principiam soluços secos sem compasso; sem magia
Servo descontrola; sem forças; procura doçura no morrer
Lágrima se a vejo deslizar sem motivo; me arrepia.


Procuro estancar o lacrimejar com mentiras bosta e lama
Atirando chapadas de alegria inventada; é o destino
Mas prefiro ver os lábios em arco dentes brancos a sorrir
Digo-te amor; abraça rola e beija e volta a ser menino.


Tão belo; será doce o futuro; a felicidade volta a vir
Lágrima; esconde-te; não voltes a marejar o lindo olhar
Não voltes; nem tão pouco para exprimir a saudade
Fica no poço do pensamento; não exprimas falta de pão
Bate o tacão; veste o fato de banho; sorri de vaidade
Vive a vida que vale a pena; veras que tenho razão.

(Toronto, Ontário, Canadá, 03/05/2012)

MAIS UMA VEZ AMOR

Por Armando C. Sousa (Canadá)



Hoje mais uma vez pensei em ti
Queria dar-te rosas com cheiro de jasmim
Oh, se eu estivesse junto de ti
Queria os teus beijos todos para mim.

Amaria de adocicar a minha boca
Iniciando pelos dedos de teus pés
Queria ver-te de prazer gritar de louca
Abraçar-te e beijar-te assim linda como és.

Queria febrilmente teus lábios sugar
Mamando teus mamilos com prazer
Descendo devagar a teu umbigo
Sentir-te de prazer a derreter.

Amaria percorrer o baixo de teu ventre
Com meus lábios te fazer arrepiar
Naquele pigarrinho já fervente
Ele ser por segundos o meu manjar.

Queria sentir no meu peito o teu suspiro
De prazer e de gozo saciado
Queria me embeber de todo teu perfume
Ficar com teu cheiro de amor embriagado.

Queria rolar aos balouçares
Por baixo, por cima ou do lado
Fundir, num suspiro nossos beijares
Acordar para sempre a teu lado.

Queria viver para sempre esta paixão
Banhar-me na lava que tenhas jorrado
Gritar com teus gritos e gemidos 
Sentir teu vulcão com orgasmos transbordado.

Viver o calor de tua cama
Sentir teus pelos, tua nudez
Viver a cada dia a mesma chama
Cada manhã poder rolar mais uma vez.


IMPRECISÕES

Por Luiz Eduardo Caminha


Quem sou eu,
este ser inerme,
que faz da voz,
arma contusa?

Quem sou eu,
este ser inerte,
que mexe, remexe,
látego impiedoso?

Quem sou, afinal,
este ser sereno,
que num ímpeto se faz,
irascível mordaz?

Oh, cruel, inominado e controverso ser,
Verso, reverso, homo erraticus et perdidit!

Acaso uma criatura?
Erro da Criação,
insigne animal,
pedestal de areia?

Quiçá um dia,
de tanto me procurar,
alcance, almejo,
lugar pra descansar.

Desta busca infindável,
deste contínuo rebuscar.
Neste dia, quiçá, porvir,
Deus se ponha a me perdoar.

(Florianópolis, Distrito (In)dependente de Ratones, 17.05.2012)


CHUVA

Por Luiz Carlos Leme Franco


A chuva ruidosa bate na  minha janela,
faz-me melancólico e retrospectivo.
A natureza se  rejuvenesce com ela
E eu, silente, fico apreensivo.
                                           A chuva sempre nos deixa receptivo,
                                            receosos, com medo de tempestade,
                                           porém ela é benfazeja ao cultivo
                                           e  embeleza as plantas de toda a cidade.
A chuva fina pula nos telhados,
Deixa tudo e todos molhados,
mas seus pingos condensados
deixam todos os açudes aliviados.
                                           A chuva  caindo então, mais forte
                                           ainda atiça o medo de enchente,
                                           pode causar pouco estrago ou morte,
                                           mas retira os tóxicos do ambiente.
O medo da chuva não tem causa sabida.
Ela não faz mal, tem grande serventia:
Os rios sem ela  morrem sem vida
e  a Terra fica mais do que é, doentia.


                                            A chuva é necessária à raízes,
                                            É útil para umedecer o ar,
                                            dá   bom destaque às matizes,
                                            refresca o mundo do calor solar.
A chuva, nada de se ter dela , receio.
À chuva devemos dar sempre loa
Por limpar a poluição, dar asseio
e matar a sede numa “boa”
                                           Chuva, chuva, abençoada,
                                           - dizem que trazes fartura -
                                           aceita nossa gratidão alargada
                                           e voltes, cada vez  mais pura.

TELEFONE

Por Luiz Carlos Leme Franco


O telefone tocou repetidamente ruidoso,
fui atender, e de modo rancoroso,
a raiva apareceu, e eu, bondoso,
deixei-a a falar sozinha.

Dia outro, o telefone tilintou ruidoso,
e falou alô o vazio ruinoso.
Eu, paciencioso,
Desliguei a campainha.

Hoje o telefone foi quase silencioso.
era o amor maravilhoso
convidando-me a ser sempre ditoso.
Aceitei a companhia.

O PONTO

Por Luiz Carlos Leme Franco


O ponto, bolinha no fim da linha, dia destes rebelou-se por não ter com quem conversar á sua direita. Resolveu pular, sacolejar, procurar outra posição. Tanto fez que caiu linhas abaixo entre dois As e foi enxotado, pressionado a sair dali, porque deixaria os dois As sem função e ninguém conseguia lê-los.
O ponto triste com tal recepção, mas não querendo de novo se mover por sentir-se bem entre duas letras rechonchudinhas, agradáveis de se falar, bateu o pé para ficar aí. Foi agredido, espremido e esticado, de cada lado, por um dos As, até que virou travessão. Pior p’ra ele que ficou maior e mais difícil de se mexer e para as letrinhas mais longe uma da outra.
O ponto, agora retinha, levantou-se assustado por ver suas ex- vizinhas tão longe, que caiu e quebrou o pé ficando com um dedinho pendurado: virou um ponto de exclamação, esquisito entre as duas vogais - A!A - situação que não agradou nem este ponto rebelde e nem as letras, que começaram puxando-o de um lado, empurrando de outro até que esta reta com um ponto em baixo envergou-se  e originou um ? , ponto de interrogação, propiciando já uma leitura rudimentar, ao se ler cada A de uma vez .
-A? se pergunta.
-A.
- A o quê?
-A oras.
Mas o que é A?
A de Agora, Amora, Afora,  Alguém, Amor,
Ah, é Amor. Então deixa. E ficou o ex ponto assim até que lhe entortaram mais e jogaram seu pontinho de baixo fora.
Agora um S entre As lhe proporcionou a ser ASA e voou para longe, até ser estilingado no lugarejo de nome CASAco quando perdeu um A de sua ASA e não mais ficou livre como sempre esteve. Virou cASco.ling

MEMÓRIA

Por Pedro Du Bois (Itapema, SC)


Pelo vão da porta
insiro a memória

cobro pela entrega
o gesto
desprendido do envelope
sob a porta

envelopo a série
e na espera tenho
a sequência mnemônica
dos atrasos

a companhia alarma a casa
e sobre o assoalho
repousa a prova na memória
avivada dos extremos.

OBRA

 Por Pedro Du Bois (Itapema, SC)


Prefácio: apresento
               a obra
               na delicadeza
               da palavra
               escrita

a obra: fechada em si
            lamenta a entonação
            cortante nos desvios
            sobrepostos ao texto

glossário: alego insanidade
                 em sorrisos e nada explico
                  além dos signos traduzidos.


CPI (microconto)

Por Paccelli José Maracci Zahler 

Ata da CPI 

- Se condenado, Vossas Excelências perderão a mamata do dinheiro fácil? 
- Que é isso, Excelência, não é nossa intenção! 
- Nossos jetons já foram depositados? 
- Pizza, por favor! 

CPI é isso aí!