domingo, 16 de dezembro de 2012

CORDEL DO NATAL


Por Gustavo Dourado

Dos idos da Babilônia…
Zagmuk festival…
O Natal é festa antiga:
Tanto quanto o Carnaval…
Na velha Mesopotâmia:
Era ato cultural…

Marduk enfrentava o caos:
Fazia-se um festival…
As pessoas se uniam:
Para combater o mal…
Para salvar o povo:
Em sacrifício ritual…

Qual o significado do Natal?!
Solstício de Inverno/Verão…
Ritual, festa e liturgia…
Crística manifestação…
Luzes da cosmogonia:
Na cidade e no sertão…

Confraternização de paz:
Prazer e gastronomia…
Baco e Dioniso na festa:
O cristal da alquimia…
Pão e vinho consagrados:
A divina eucaristia…

Família, paz e amor:
Na cultura ocidental…
Zeus batalha com Cronos:
No Olimpo sideral…
Em Roma a Saturnália:
Nas raízes do Natal…

Jantares, festas na ruas:
Velas e ornamento…
Sol invitcus brilhante:
Dáva-se o nascimento…
Alegria e presentes:
Era grande o movimento…

336 depois de Cristo:
Surgiu o nosso Natal:
Ouro, incesso e mirra:
Na raiz do festival…
Reis Magos e Pastores:
Da banda oriental…

Tinha jejum e comunhão:
Um lanche era servido…
Como o tempo evoluiu:
Novo rito definido…
Frutas, bolo, panetone:
Muito assado e bom cozido…

São Francisco fez presépio:
A árvore Lutero enfeitou…
Ato de ecumenismo:
O costume prosperou…
Meias e sapatinhos:
Nas chaminés nos chegou…

A Coca-Cola criou:
O Papai Noel atual:
Em 1881:
Publicidade total…
São Nicolau tornou-se:
Um mito fenomenal…

Jesus foi incorporado:
Pelo Imprério Romano…
Houve adaptação:
De Cristo o sol arcano:
Alfa e Ômega que brilha:
No universo soberano…

Depois veio o peru:
Hábito americano…
Bacalhau e rabanada…
Um costume lusitano
Biscoitos deliciosos:
Desde o tempo romano…

Uvas, vinhos, champanhe:
Pinheiro, Árvore de Natal…
Enfeites e ornamentos:
No rito tradicional…
Menino Jesus em cena:
Missa do Galo ao final…

Pra sublimar a miséria:
Consumália e fartura…
Ultrapassemos a cri$e:
Divida-se a rapadura…
Endurecer se for preciso:
Mas sem perder a ternura…

Pra você tudo de bom:
Saúde…Fraternidade
Um Natal de harmonia:
Luz…Solidariedade…
Paz…Amor e Alegria:
Sucesso e Felicidade…

Um Ano-Novo de glórias:
Sua estrela vai brilhar…
Que tudo se concretize:
Possa a vitória alcançar
Realize os seus desejos
Conjugando o verbo amar...

Sobre o autor: Gustavo Dourado, professor, escritor, poeta, cordelista, é Presidente da Academia de Letras de Taguatinga, ALT/DF.

domingo, 2 de dezembro de 2012

REDUNDÂNCIA


Por Pedro Du Bois (Itapema, SC)

A redundância cerca as palavras
e as multiplica contra a vontade
de quem as pronuncia: o som
estende o lapso ao final da frase
e o verbo – deslocado na ação –
é entronizado em verdade. Contemplo
o espectro e no desdouro das cores
reparto o sim e o não na ubiquidade
reportada ao desconsiderado.

Retiro cada palavra dos cantos
inseguros do discurso e desço
a escadaria.
         Saio antes que acordem.


OUVIR


Por Pedro Du Bois (Itapema, SC)

Ouço no canto o grito do silêncio
nas madrugadas que se ofertam
em oportunidades perdidas
aos dias que se anunciam:

o estupor do corpo
ante a luz
amanhecida
aterroriza o gesto
depois da hora

ouço o desencanto da voz
em conversas e desdouros

o grito sutil da descoberta
do corpo sobre a relva

amanheceres repõem
dúvidas desconsideradas.

O VALOR DO MÉRITO



Por Humberto Pinho da Silva (Vila Nova de Gaia, Portugal)

Que grande parte do mérito de cada um depende dos amigos que tem, e da cor política que defende, todos nós sabemos.
Assim como sabemos que prémios e concursos, sejam literários ou científicos, mesmo quando são atribuídos com justiça, escondem, quase sempre, interesses e amizades.
Acabo de ler a “Carta do Canadá”, que a jornalista Fernanda Leitão, envia periodicamente desse país, onde vive. A determinado passo, a conhecida jornalista, assevera: “ Jorge Amado devia ter sido o primeiro Prémio Nobel da língua portuguesa, e não foi. Ele mesmo disse o porquê numa entrevista na tarde da vida: “ Eu nunca neguei ter recebido da União Soviética a Ordem de Estaline e outras distinções, não escondo nada, mas abandonei o comunismo, por isso eu acho que o Nobel vai para o Saramago.” - “ O Inesquecível baiano” - “ A Ordem” 27/Set./2012.
Não se enganou o grande mestre da literatura portuguesa, de facto Saramago viria a receber o maior prémio de literatura do mundo.
Ao ler isto recordei a conversa que meu pai teve na livraria Guimarães, em Lisboa, com certo escritor, seu amigo:
Lamentava-se o prosador da dificuldade que há em editar uma obra. E a propósito contou que certa ocasião foi apresentado a célebre escritor, para que avaliasse o mérito de manuscrito.
Decorrido semanas de ansiedade, apareceu a desejada carta. Aberta com sofreguidão, e lida de jacto, ficou dececionado:
Após palavras elogiosas ao estilo e desenrolar do romance, a missiva declarava que teria muito gosto de o apresentar ao editor, mas que o livreiro só editava se fosse militante de determinado partido.
Meu pai, que era jornalista, viu muitas crónicas rejeitadas pelos diretores de empresas, apenas porque era conectado como homem da direita, ainda que fosse  mais de esquerda, que muitos  que se dizem esquerdistas
Houve até chefe da redação, de diário lisboeta, que lhe disse que gostaria muito de publicar seus artigos, que taxava de brilhantes, mas para isso teria que deixar de publicar a coluna no periódico “X”.
Essa recusa não foi por motivo de ética, porque o jornal em questão, era editado a centenas de quilómetros de distância.
Assim se mede o mérito em Portugal, e infelizmente não é só neste país. Dá-se mais valor à filiação política, ao cargo que ocupa, e até à crença que professa, que ao mérito.
Mas isso não são modernices. Sempre assim foi e por certo assim será.


O ÚLTIMO NATAL EM FAMÍLIA


Por Humberto Pinho da Silva (Vila Nova de Gaia, Portugal)

Nos derradeiros anos da década de setenta, convidaram-me a cear em Alto de Pinheiros, pacato bairro paulista, em casa de parentes.
Era uma bela moradia cercada de luxuriante jardim, tipo inglês, mosqueado de miudinhas flores encarnadas.
A ampla sala de jantar, quando cheguei, estava decorada para a festa. Na grande mesa de jacarandá, havia alva toalha adamascada, e sobre ela, pratos de porcelana branca, com arabescos a ouro, ladeados de lustrosos talheres de prata.
Ao centro, o vistoso vaso de faiança de Alcobaça, transbordava de fruta fresca, rodeado de garrafas de vinho chileno, guaraná, e muito suco de maracujá.
Suaves e delicados vapores perfumados enchiam o ar: aromas a canela e açúcar caramelizado, à mistura com o gostoso cheirinho de cozido de castanhas, batata, e de bons lombos de bacalhau, que me disseram ser de Portugal, mas importado da Noruega.
Chegavam da cozinha leves sussurros de vozes nordestinas e agudos risinhos de crianças. De súbito, revoada de gurizinhos travessos, à compita, rompeu pela sala, desaguando no adormecido jardim, onde imponente abeto, de largos frondes, feericamente engalanado de vistosas lâmpadas coloridas, comunicava, aos transeuntes, que era noite santa, a santa noite de Jesus.
Entreguei caixa de vinho verde, alvarinho, e outra de saboroso vinho fino – o “Porto” que não pode faltar na ceia de família portuguesa, – e acomodei-me junto ao ancião, que embebido, assistia ao “ Direito de Nascer”, novela que a “Globo”, com sucesso de audiência, transmitia.
Conversamos de outros natais; de natais de outrora; do bolo-rei, doce que o idoso, que saíra do Porto, em 1913, desconhecia.
Estávamos em doce cavaqueira, quando confidenciou-me o seguinte:
Nos anos trinta, pelo Natal, a família aconchegava-se à volta da mesa. Vinham tios, irmãos, primos e mais primos, alguns de muito longe. Apinhava-se a casa com festa rija, que terminava altas horas. Nesse tempo a cidade de São Paulo era tranquila. Ninguém receava atravessá-la, mesmo noite dentro.
Após a ceia, Papai Noel, vestido de encarnado, entrava, segurando grande saco de serapilheira. Dele saíam, como coelhos da cartola de mágico: bicicleta para menino, boneca para menina, brinquedos sem conta, e roupa de marca.
Um dia a filha Helena, que era excelente aluna, pediu-lhe uma bicicleta; prenda demasiada para a pobre bolsa. Comprou-lhe, nesse Natal, gracioso vestidinho de organdi, azul celeste. Na hora da distribuição, coube a garotinha, sua sobrinha, moça sapeca, nada aplicada ao estudo, garrida bicicleta, que faiscava, reluzindo na intensa iluminação da sala.
Helena cravou a vista no velocípede, atirando-lhe olhinhos de censura, indignada.
À saída, voltando-se para o pai, desabafou com raiva:
- Papai Noel é muito injusto. Pedi-lhe uma bicicleta e dá-me vestidinho!
Com os olhos humedecidos, o idoso, murmurou tristemente:
- Foi o último Natal em família! Como é difícil o pobre conviver com o rico!

TAUTOGRAMA I


Por Luiz Carlos Leme Franco

Ivete instiga  Inês: interrompa iluminação, investigue impropriedades, instale isolantes internos. Imagine ilha isolada.
Inteligente, Inês intensificou instalações. Irritava instituto intolerante : informatizava imagens institucionais . Inês,  incompetente, iluminava infrutiferamente  ícones ilustrativos, itinerantemente. Inana  incomensurável.