quarta-feira, 4 de junho de 2014

O VELHO RELÓGIO DE CORDA

Por Humberto Pinho da Silva (Vila Nova de Gaia, Portugal)

São quatro horas de tarde escaldante. O velho relógio de parede acaba de dar quatro sonoras badaladas, que ecoaram pela casa deserta e silenciosa.
O centenário relógio de pêndulo, movido a corda, foi de minha bisavó Júlia. Sempre o conheci suspenso na parede, forrada a papel encarnado, da pequena salinha de jantar, onde tomávamos as refeições diárias.
Está protegido por sólida caixa de madeira, esbotenada e lurada de caruncho, de cor castanha, onde dois grandes ponteiros negros, marcam e contam o tempo.
Insensível, cumpridor fiel das suas funções, assistiu, altivo e sisudo, às alegrias e angústias da família.
Passivamente, viu, do alto da sua parede a morte de minha avó, na flor da idade e à criação de meu pai.
Assistiu, igualmente, aos derradeiros momentos de minha mãe, vítima de doença que não perdoa, apesar do progresso da medicina.
Impávido e sereno, sempre indiferente, sempre na monotonia do tic- tac, o pêndulo de metal amarelo, marca ritmicamente, minutos e horas. Horas que passam, que foram, mas já não são.
Minha juventude foi cronometrada por esse velho relógio de corda.
As sonoras badaladas percorriam a antiquíssima casa, avisando a hora do almoço, e indicando o termo das divertidas brincadeiras – as construções de madeira, o mecânico, os soldadinhos de folheta policromados, os bonecos de trapos, que a madrinha Baptista, com habilidade, paciência e muito gosto, confeccionava, imitando trajos usados na sua longínqua adolescência.
E sempre ele, o velho relógio de pêndulo, dia e noite, sem parar, sem descansar, avisava que o tempo passava.
Um dia fui chamado a cumprir os deveres para com a pátria.
Levei saudades da casa, onde nasci; dos carinhos maternos; do sofá, onde, em tardes sombrias, lia e relia livros que retirava da vasta biblioteca paterna; e do velho e amigo relógio.
Após a morte de meu pai, feito partilhas, trouxe-o para minha casa.
Solenemente coloquei-o na sala de jantar.
Reparei, então, que a velhice, começara a corromper a complicada engrenagem, que mostrava sinais de desgaste.
Levei-o ao relojoeiro. Mirou-o, remirou-o e por fim disse: - “ É muito antigo…Os concertos são difíceis e caros…
Pendurei-o em local de destaque, mas não lhe dei corda, para não gastar as peças.
Mas sempre que chega o Natal, acerto-o. Dou-lhe corda. Começa, então, no seu tic-tac, surdo, o mesmo tic-tac que ouvia na infância.
O velho relógio de parede traz, consigo, o passado: cenas, alegrias, tristezas, que sempre partilhou, impassível, mas atento, do alto da sua parede.

Os objectos antigos, que passam de geração a geração, na mesma família, possuem encanto especial, e a magia de unir a família…principalmente os que já faleceram.

segunda-feira, 2 de junho de 2014

THE LISTENING EAR

Por Geoff Kebby (Stratford-upon-Avon, England)

The Listening Ear...
Finds the time we are needing
To thoughtfully hear what the Heart may be pleading.

The Listening Ear...
is not looking for shame.
It usually wants to forget who to blame.

The Listening Ear...
is just waiting to give
each one a chance to contentedly live.

It happily takes on the burden of sharing.
The Listening Ear
looks for ways that are caring.

VENTAVA

Por Paccelli José Maracci Zahler

Ventava...
E naquela estrada
Cabelos esvoaçavam,
Folhas secas rolavam,
Arranhando o chão.

Arbusto vergavam
E a poeira subia,
O vento assoviava,
Saci-Pererê?

Ventava...

Um coração
Batia lentamente,
A cada passo, uma dor.
O vento arrepiava a alma,
Mexia com o corpo,
Como se tocasse um sino.

O toque era triste
Como no réquiem
E ecoava campo a fora
Dizendo:

- Estou com saudades!

MÃOS

Por Paccelli José Maracci Zahler

Mãos que desfilam
Pelo teu corpo,
Percorrendo caminhos sinuosos,
Muitos vales e montanhas.

Mãos que sentem
Tua maciez
E estudam tua textura.

Mãos que encontram as tuas
Fazendo-me sentir
Algo diferente
- Elos de uma corrente
Ligados ao coração?

Mão que tocam teu rosto,
Conduzindo meus olhos
Na direção dos teus,
Permitindo-me ouvir
Os teus pensamentos.

Mãos que exploram teus cabelos,
Sentem teu calor
E as batidas do teu peito.

É neste momento
Que uma energia envolve meu corpo,
Fazendo-me esquecer do mundo
Num beijo terno.
Então, nossas mãos se encontram...
-Momento mágico, efêmero,

Porém, eterno!


YUGO Y ESTRELLA

Por José Martí

Cuando nací, sin sol, mi madre dijo:
-Flor de mi seno, Homomagno generoso,
De mí y de la creación suma y reflejo,
Pez que en ave y corcel y hombre se torna,
Mira estas dos, que con dolor te brindo,
Insignias de la vida: ve y escoge.
Este, es un yugo: quien lo acepta, goza:
Hace de manso buey, y como presta
Servicio a los eñores, duerme en paja
Calente, y tiene rica y ancha avena.
Ésta, oh misterio que de mí naciste
Cual la cumbre nació de la montaña,
Ésta, que alumbra y mata, es una estrella:
Como que riega luz, los pecadores
Huyen de quien la lleva, y en la vida,
Cual un monstruo de crímenes cargado,
Todo el que lleva luz se queda solo.
Pero el hombre que al buey sin pena imita,
Buey vuelve a ser, y en apagado bruto
La escala universal de nuevo empieza.
El que la estrella sin temor se ciñe,
Como que crea, crece!
Cuando al mundo
De su copa el licor vació ya el vivo:
Cuando, para manjar de la sangrienta
Fiesta humana, sacó contento y grave
Su propio corazón: cuando a los vientos
De Norte y Sur virtió su voz sagrada,-
La estrella como un manto, en luz lo envuelve
Se enciende, como a fiesta, el aire claro,
Y el vivo que a vivir no tuvo miedo,
Se oye que un paso más sube en la sombra!
Dame el yugo, oh mi madre, de manera
Que el puesto en él de pie, luzca en mi frente
Mejor la estrella que ilumina y mata.


CULTIVO UNA ROSA BLANCA

Por José Martí (La Habana, 1853 - Dos Rios, Cuba, 1895)

Cultivo una rosa blanca
En Junio como en Enero,
Para el amigo sincero,
Que me da su mano franca.

Y para el cruel que me arranca
El corazón con que vivo,
Cardo ni ortiga cultivo

cultivo una rosa blanca.

LA ESCALERA

Por Mireya Piñeiro Ortogosa (Guantánamo, Cuba)

Guarde siempre la madera
de los bosques de algún sueño
de mariposa sin dueño
y sagas que nadie viera;
brote de ella una escalera
de tan gigante, que asombre,
para descifrar el nombre
de arcanos en la distancia,
no para alzar la arrogancia
por encima de otro hombre.

INMORTALIDAD

Por Manuel Navarro Luna (Jovellanos, Matanzas, 1894 - La Habana, Cuba, 1966)

Mientras pueda mirarse tu rostro destruido
y sobre él erigirse una lágrima fuerte;
mientras pueda la luz, tan tuya, contemplarte
iluminando el rumbo postrero de tu frente...

¡aún no será toda la muerte,
sino un poco de muerte...
¡Nada más que un poco de muerte!

Cuando llevemos tu ataúd em hombros
y em la casa se queden llorando las mujeres
y  llorando los hombres el dolor infinito
de perderte...

¡aún no será toda la muerte,
sino un poco de muerte...
¡Nada más que un poco de muerte!

Cuando ya estés debajo de la tierra
en gusanos y polvo convirtiéndote;
cuando ya estés cubierto de agua negra
hundido en la sombra para siempre...

¡aún no será toda la muerte,
sino un poco de muerte...
Nada más que un poco de muerte!

Cuando los que hoy te lloran y los que, tristes, callan
al ver cómo han caído tus oriflamas verdes,
mañana no recuerden tu juventud radiante
ni limpia frescura de tu presencia alegre...
¡Entonces sí será toda la muerte!
¡Toda la muerte...!

Pero si te has resuelto, con tu copa colmada,
a verter su licor en las zonas dolientes,
y mueres batallando por libertar al hombre
de las cadenas frías que lo hieren...

Aunque ya estés caído...
Aunque ya estés inerte...
¡Para ti no habrá muerte!

¡No habrá muerte!

Sobre o autor: Manuel Navarro Luna foi um poeta e jornalista cubano.

MÃOS

Por Pedro Du Bois (Itapema, SC)

A mão abranda: cabeça
                  entre as mãos.

Mãos brancas entrecruzam o corpo.

              Cabeça pendida
              entre as mãos.

Chora.

Mãos abarcam a sala

e se tocam em calores e frios.

BANHO

Por Pedro Du Bois (Itapema, SC)

O banho
envolve
o corpo
em espumas
                 a água retira o excesso
           do dia e recompõe o noturno
           incenso do perfume.

O corpo repete
em rito de coragem
a secagem no suave
contato da toalha.

     A água em filetes sobre o piso
     retém da impureza o dia

                   amedrontado.

MORAL

Por Pedro Du Bois (Itapema, SC)

Nas vezes em que procuro
nas fábulas
a moral: amoral a fábula
recorre ao desgosto
das circunstâncias
para provar do improvável
o restante. Revistado na entrada
descubro preconceitos dúvidas
e inverdades. A moralidade diz
o verdugo – lâmina afiada –
sustenta meu trabalho
e o povo satisfeito

na plateia.