quinta-feira, 2 de julho de 2015

ARROIO BAGÉ, BAGÉ, RS (arte computacional)

Por Paccelli José Maracci Zahler (Brasília, DF)


SEM TETO (POEMA MUSICADO)

Poema: Ridamar Batista (ALB, Anápolis, GO)

Voz: Roberto Brenner (CD "Versos e Canções II)

ESCOLHER

Por Pedro Du Bois (Balneário Camboriú, SC)

Escolho ser da geração o estigma
               e da terra o magma
                  na oração do devoto

         o coração se despedaça
         ao solo. Beijo o solo
         em homenagem.

Anos passados representam
a hora da jornada. O que falta
ao espírito. O que se deduz

em luz. A escolha.

VIVER

Por Pedro Du Bois (Balneário Camboriú, SC)

Vivo na ilusão
da água infinita
e da sede
saciada em goles.

vivo como intruso
destruindo o que não me pertence.

Alcanço o fruto e o desfruto.
Deixo o sumo escorrer pelas mãos.

Vivo na desilusão
de me intrometer

como abuso.

SEMPRE

 Por Pedro Du Bois (Balneário Camboriú, SC)

Na voracidade feito tempo
multiplico necessidades.
Não deixo a imagem perdurar.
Substituo feitos anteriores:
o produto recondicionado
transcende ao mito desprotegido.

A fome permanece como sempre.

EU SEI

Por Samuel da Costa (ALB-Anápolis, GO)

Eu sei!
Pelo menos pensava que sabia!
Passou da hora...
De parar de importunar-te.
Com os devaneios...
Quiméricos meu.
***
Desculpas meu sagrado amor...
Passei de todos os limites...
Não te aborrecerei mais...
Com o desesperado pranto meu!
***
Peso-te desculpas...
Amada minha!
Vou me exilar no silêncio absoluto.
Dos poetas em êxtase.
E recitar versos ignotos!
Para ouvidos surdos.
***
Martirizar-me!
Em meio da realidade liquefeita.
Evanescer no contemporâneo...
Deserto do real!

POESIA NA ÁRVORE

Por Samuel da Costa (ALB-Anápolis, GO)

Eu prefiro frases feitas...
Adoro lê-las...
E pensar que são minhas!
Dizer: — Vou te amar para todo o sempre!
Usando velhos clichés.
***
Finjo ser poeta!
Às vezes contista...
Nessas horas uso velhos clichés.
Porque dizer: — Eu te amo...
Não é dizer bom dia!
***
Escuto velhas músicas!
E chego a pensar que a dor.
É realmente minha.
Mas não é!!!
É alheia!
***
Penso em ser prosador...
Para voltar para a minha infância!
Onde corro de novo.
Entre becos e vielas...
De braços bem abertos!
***
Mas volta para o tempo...
Presente mais que perfeito!
Onde finjo ser poeta...
Na pós-modernidade líquida!
A ignorar regras, rimas e métricas...
A desdenhar de antigas elegias!
Todas as velhas fórmulas...
Prontas e acabadas.
Velhas formas de amar musas, virgens intocadas...
E santas vaporosas...
***
Finjo ser versejador...
Nos tempos modernos!
E em meus versos!
Sinto que não fostes embora...
Estás perdida entre os meus versos...
Mais profanos...
Nos meus versos...
Finjo que não te perdi para sempre!
***
Às vezes leio velhas poesias.
Mas só às vezes!
E penso que são meus...
Aqueles idílios de saudade...
***
Nessa hora eu gostaria...
De ser um poeta de verdade.
Para pensar que não a perdi!
Para todo sempre...
***
Imortalizar-te-ia minha musa sagrada
Em meus versos mais profanos!
***
Às vezes penso ser poeta!
Na pós-modernidade liquefeita!
A usar velhos clichés!
Para poder ousar dizer:
— Te amo, não é bom dia!

ALA (arte computacional)

Por Paccelli José Maracci Zahler (Brasília, DF)


REGULARIDADE

Por Pedro Du Bois (Balneário Camboriú, SC)

Habito a regularidade
dos vizinhos: levanto
        em encaminhadas manhãs.

              Alimento o pássaro
              encarcerado.
              Alimento paixões
              desenfreadas.
              Aumento o volume
              do rádio.

Almoço e janto. Tomo remédios

proscritos em visitas habituais.

VIVER

Por Pedro Du Bois (Balneário Camboriú, SC)

Observo o contexto
desentranhado

sobre o construir
da casa desabo
em estruturas

no olhar da criança
                      creio
             encontrar
                  o gesto
       ainda presente

            observo o estranho

             mundo vivenciado.

TUDO ALI ERA FALSO

Por Samuel da Costa (ALB-Anápolis, GO)

O pigarrear das gargantas...
As conversas aparentemente normais!
Tudo era falso...
***
Nada era verdade!
As cores, os sons...
Tudo ali era manipulado.
***
As Mentiras de última hora!
Verdades fabricadas
Para somente para agradar uns e outros.
***
Até as conversas no pé-de-ouvido...
Nada era de verdade!
Todos ali mentiam: a idade, a situação financeira...
Pretensões surreais...
 Para afugentar os fracos...
Os fracassados e os mentirosos!
***
Nada ali era de verdade!
Maquinações a luz de lampiões e lamparinas!
Como se fossem adágios.       

DARK VALKIRIAS

Por Samuel da Costa (ALB-Anápolis, GO)

(Para Titi Yitayish Ayanaw, Deise Nunes e Luana D'Oliveira)

Perdido!
Em um universo de sombrio.
Diáfano e nevoento!
Nessa hora extrema de solidão e dor.
Ocorre uma diáspora em mim.
***
São as deidades...
Supremas!
Divinas!
Sãos as negras Valquírias
Diante de mim
Clamam por mim
Sorriem para mim
***
É o inebriante olor das negras rosas...
De Halfeti!
Que me entorpecem!
Por inteiro...
***
São as negras ninfas dos bosques
Encantados!
Diante de mim
Delicadas
Raras
Benquistas
Benditas
Diante de mim
Sorriem para mim
***
Estou perdido...
Em um universo de sonhos!
Nessa hora suprema.
De infinita dor e solidão...
Ocorre uma diáspora
Em mim...
***
Sou eu que ascendo do chão
Subo ao céu
Perco-me no astro rei!
Viro cinzas por fim
***
São as sagradas negras Valquírias...
As divinas deidades...
Diante de mim!
Clamam por mim!
Sorriem para mim!

SAUDADE

Por Humberto Pinho da Silva
(Vila Nova de Gaia, Portugal)

Vivo de saudade, dos vivos e dos mortos. Dos vivos, que se perderam no turbilhão da vida; dos mortos, que conheci…; e até das casas e lugares que desapareceram, sinto saudade…
Saudade do menino que fui, do tempo de infância, quando pela mimosa mão de minha mãe, ia à cidade.
Como gostava de passear pelas ruas do Porto! …As montras iluminadas, os carros deslizando pela calçada, as pessoas, a confusão, a luz, as cores vistosas dos vestidos … Tudo para mim, para meus olhos de criança, era um encanto.
Certa ocasião, ao dobrar a rua das Flores – então conhecida pelo ouro, – para os Loios, minha mãe escorregou. Quase caiu. Amparei-a.
Virando-se para mim, muito séria, disse: - “ Se não fosses tu, tinha caído…” – Fiquei orgulhoso! …Teria seis anos. Não mais.
Saudade dos meses quentes de Verão, que passei na Vilariça, na simpática “ Quinta do Bem “…
Dos animais, da vida agrícola, mormente do tanque de pedra, de água corrente, toldado de densa parreira, convidando-me à preguiça; à delícia da sonolência…nas cálidas tardes de Estio.
Saudade do Nero. Canzarrão meigo, amigo sincero, que sempre permanecia junto de mim. De noite dormia estendido na soleira da porta, porque não o deixavam entrar.
Saudade da velha e amiga cidade de Bragança, onde permaneci quatro longos anos, que foram os melhores e os piores da minha existência.
Saudade, saudade que lasca o coração e se enraizou na memória, sinto daquela que foi para mim, a melhor amiga:
Tinha nos olhos sorrisos e ingenuidade. Boca pequenina. Lábios cor-de-rosa. Por eles saíam ternas palavras que faziam sonhar…
Por que boa fada não encantou, para sempre, num sonho perpétuo, o quadro familiar?! … - Ela sorrindo, eu, enlevado na beleza, na graciosidade de uma criança amorosa…
Saudade das tardes de sábado, quando visitava velhas senhoras. Poder correr livremente ao redor do pessegueiro, sentido o perfume adocicado de roseiras floridas, e a glicínia, de grandes e vistosos cachos roxos, espiando a rua, debruçada em tosco muro de pedra.
Saudade de certo mês de Dezembro, que passei na Parede. Época dolorosa, mas que despertou sentimentos que não conhecia…
Saudade do Manuel Maria, e dos amenos passeios por velhos becos e vielas tripeiras…
Saudade de Roma. Do reconfortante silêncio do claustro, vendo monges deslizarem pelos corredores, envoltos numa luz misteriosa e silenciosa. - “ Aquele fraterno é um santo…como já não há!...” – Disse-me o meu companheiro.
Saudade de Frei António, sempre prestável, sempre afável, a mostrar-me belos rincões da Cidade Eterna.
Saudade da Pauliceia. Das pessoas que conheci, e das figuras simpáticas que me apresentaram: - “ Você é português?! … Então é quase brasileiro…” afirmou-me arquitecto de Porto Alegre.
Saudade de Itanhaém. Da casinha amorosa, que ficava perdida, em verduras, na Praia dos Sonhos…
Ai, nesse bocadinho de terra abençoada, convivi com a que se tornou companheira de jornada.
Saudade do velho prédio de alforge, que tinha quase duzentos anos, onde nasci…e da humilde casinha de Sumaré…
Saudade dos mortos, que legaram o que sou e o que sei.
Tudo e todos vivem dentro de mim…. Neste corpo envelhecido, que sofre dia e noite…
Todos me deixaram um pouco. Devo-lhes o que fui e o que sou.
A todos agradeço. Todos se encontram entranhados neste cansado coração…