domingo, 1 de novembro de 2015

A VOZ DO AUTOR: GUSTAVO DOURADO

ARTE COMPUTACIONAL


ARTE COMPUTACIONAL


TAPACHULA, CHIAPAS, MÉXICO (ARTE COMPUTACIONAL)


POEMAS COM MARCA REGISTRADA

Por João Carlos Taveira (Brasília, DF)

Ao terminar a leitura dos poemas de Linhas Convergentes, de Vili Santo Andersen, tive a sensação de estar lendo/ouvindo pequenas orações do poeta enviadas a Deus. Aqui, ele não faz concessão a nenhum anjo ou santo. E seus versos soam aos nossos ouvidos como pequenas preces, cheias de ternura e de delicado sentimento de pureza. São poemas sintéticos, que buscam sugerir mais que propriamente dizer — avessos ao discurso verborrágico, tão comum nos dias de hoje. É como se Vili quisesse nos deixar lição de uma verdade para ele irrefutável: Deus põe pedras no nosso caminho para que aprendamos a caminhar devagar; só assim poderemos contemplar a paisagem e ouvir o canto dos pássaros.

.................................
Eis aqui, apenas, sinais
dos poemas que eu faço.

Deus, quando viu, exultou:
Que belos traços!

O livro está dividido em três partes: “Sob o azul do céu”, “Versos molhados de mar” e “Versos que a terra sujou”, em que, numa ordem aleatória, estão distribuídos 66 poemas curtos e incisivos. A novidade é que cada peça procura seu espaço na página, guiada pela simetria de uma linha real que estabelece o ponto de ligação e o ritmo de cada uma delas. Pura brincadeira!

(...)

Deus sabe tudo de mim
do meu pífio desempenho.
Até das coisas que de mim eu não sei.
Sim. Todos os defeitos que eu tenho.

Senhor!
Quase estou desesperado
apenas sussurro no Teu ouvido
Poesia! Poesia! Poesia!
E Tu me ouves, demais.
Meu Deus! Obrigado!

Depois de publicar uma dezena de livros, entre obras autorais e antologias reunindo outros poetas e autores ficcionais, este gaúcho de Camaquã radicado em Brasília está sempre procurando inovar. Nunca repete fórmula nem conteúdo. Cada obra sua traz uma marca registrada. E ele parece se divertir muito com esse jogo, às vezes lúdico, às vezes dramático, mas sempre centrado num eixo muito claro: fora da palavra não há poesia. E, ao propor que o sigamos em suas andanças temáticas e perquirições linguísticas, ele quer que o compreendamos com a mesma disposição de menino que o move na vida, dentro e fora da poesia. E só esse fato já o consagra como poeta.

Vejamos agora o poema “Pensamento”:

Punhos cerrados
braços cruzados
olhos fechados.

Assim...
a poesia desencantada pergunta:
por que tenho a esperança
dessa forma
exilada em mim?

Agressão ou defesa?
A mariposa sabe que vai morrer
e voa inutilmente
em volta da lâmpada acesa.

Assim, Linhas Convergentes há de dar seu testemunho seguro da maturidade de quem sabe das coisas simples e quer compartilhá-las com seus leitores por intermédio único e exclusivo da poesia. Que Deus escute cada oração emitida, liricamente, pela voz deste menestrel que, do Planalto Central, clama por si, por sua amada e pelos outros.

Salve, Vili Santo Andersen, amigo, companheiro de letras e representante legítimo de uma estirpe em extinção! E viva a poesia, agora e sempre!



Brasília, 7 de setembro de 2015.

O ESCRITOR NÃO MERECIA ISSO

Por Humberto Pinho da Silva (Vila Nova de Gaia, Portugal)

Ferreira de Castro era um menino de Ossela, Oliveira de Azeméis, que ao completar o ensino primário, abalou, em 1911, com doze anos, para o Brasil, em busca de fortuna, a exemplo de muitos portugueses do seu tempo.
Após várias peripécias foi parar a Humaitá, à Vila Seringal Paraíso, em plena Amazona, onde viveu a adolescência, com gente rude, em tosca casa de madeira.
Apesar das vicissitudes e dificuldades financeiras e de habitar no sertão, longe de grandes centros, de bibliotecas e de quem o pudesse compreender, veria a revelar-se um génio da literatura, granjeando o respeito de mestres, não só portugueses e brasileiros, mas mundiais.
Suas obras encontram-se traduzidas e publicadas em vinte e dois países; e imortalizou-se com “ A Selva”, e com ela o rio Madeira e Humaitá.
Veio-me, agora, parar às mãos, recorte da revista “Portugal”, cuja data desconheço, onde Abrahim Baze, da “ Fundação Rede Amazónica”, relata o desprezo que o Município de Humaitá tem ( ou teve) pelo escritor.
Não sei se foi por ser português. Infelizmente, ainda persiste, mormente nas gerações mais velhas e incultas, incompreensível má vontade com Portugal; talvez  fruto da má-fé de professores.
Felizmente os mais jovens, mais evoluídos, começaram a compreender melhor a história do Brasil e do povo europeu.
Como ia dizendo, Humaitá, que ficou conhecida mundialmente, graças a Ferreira de Castro, despreza ou desprezou o escritor.
Houve Prefeito que impediu qualquer manifestação ao escritor(!) Chegou mesmo a fechar a biblioteca que tinha o nome do prosador, transferindo os livros para outro edifício, mudando-lhe o nome e deixando ao abandono a casa histórica que embelezava e enriquecia a cidade.
O Prefeito que assim agiu - desconheço a razão, porque o articulista não revela, - chegou a provocar a perda do acervo literário de oitenta e cinco por cento das obras da Biblioteca Ferreira de Castro.
Espero que tudo seja passado, já que o recorte que possuo, não está datado.

Creio que os responsáveis que se seguiram ao médico, que governou Humaitá, sejam mais cultos e compreendam que sem Ferreira de Castro, a cidade é povoação desconhecida, perdida na imensa selva amazónica.

SOLILÓQUIOS COM O MEU EU

Por Humberto Pinho da Silva (Vila Nova de Gaia, Portugal)

Dos prazeres peculiares do avô Alberto, um, era viajar só, para o litoral paulista.
Ia sozinho, sem mulher, sem filhos, sem netos e quase sem bagagem.
Ficava na casinha pitoresca de Itanhaém: entre a praia dos Sonhos e a secular Pedra do Anchieta.
Sentado à sombra refrescante do imponente alpendre ou na luxuriante vegetação do jardinzinho: lia, escrevia, reflectia e mantinha eruditos solilóquios.
Não eram bem solilóquios, mas conversações, travadas animadamente com o outro eu. Era espiritista – chegou a ser director de jornal exotérico, – mas abandonara há muito as sessões espíritas.
Asseverava que só personalidades fortes deviam assistir e participar; os outros correm sérios riscos de contraírem medos ou graves perturbações psicológicas. Nunca levou familiares ao Centro Espírita. Excepto uma neta.
Nas interessantes conversas com o outro eu, não havia espíritos nem mensagens do Além. Eram diálogos em que cavaqueava com ele próprio, em voz baixa ou em pensamento.
Comentava o que estava a ler. Dialogava pareceres Criticava opiniões. Discorria sobre vários temas, que podiam ir da educação à violência no lar ou na via publica.
Nessas palestras, no intimo sossego da casa de praia – que as filhas adquiriram., – passava, enlevado, horas sem fim.
Ele próprio cozinhava. Quase sempre batatas cozidas com bacalhau. Prato que aprendera, na mocidade, com a mãe, em Portugal.
Por vezes – segundo dizia, – se as conversas descambavam para a política e temas prosaicos. Logo as interrompia.
O outro eu era condescendente. Aceitava sem discutir, sem contrariar…
Desses curiosos colóquios saiam interessantes ideias e meditações de elevada espiritualidade.
Certa tarde de Janeiro, na casa de Alto de Pinheiros, confessou-me à puridade:
- Infelizmente não posso contar, a todos, o prazer que sinto nesses dias que passo sozinho. Não compreenderiam…Chamar-me-iam: doido. Mas é exercício salutar e enriquecedor…
Sei que o é. Quantas vezes surpreendo-me a dialogar com o outro eu.
Sempre que acontece, fico a compreender melhor o que é a vida, e o porquê de muitas coisas…

Só o isolamento e o silêncio podem dar esse sublime prazer.

PODER

Por Pedro Du Bois (Balneário Camboriú, SC)

Posso indicar o mar como consolo
a vista como alcance e a companhia
como distração. Mentir amizades
e razões. Dialogar palavras
de desengano.

Posso ficar no silêncio
de escuros quartos. Desdenhar
o esquecimento e omitir
fatos desenhados.

Posso refazer as paredes
e entre tábuas enxergar
o lado de fora.


SOLIDÃO

Por Pedro Du Bois (Balneário Camboriú, SC)

Estar só – sensação física
da dor – e ter ao lado
a face amiga voltada ao acaso
- conversação interrompida
em recados: finalizar.

Ser só e procurar no espaço
o vazio acompanhado (saber-se
único e definitivo): desencontrar.

Sonho desfeito em solidão

no destino irreconhecível de si mesmo.

PASSOS

Por Pedro Du Bois (Balneário Camboriú, SC)

Falo de passos cadenciados
na dança. Dos pares.
                 Digo do peso
                 das botas
                 desfilando
                 forças.

Evito a leveza em sapatilhas
de pés deformados na graça
entranhada em dores e saltos.

                  Conservo a imagem
                  singela da mulher
                  se fazendo eterna:
                              o descompasso
                              como tema.


VIVER

Por Pedro Du Bois (Balneário Camboriú, SC)

Acordado.
Assustado.
Condenado: o barulho
                     nos aparelhos
                             (a eletricidade
                              é fonte: enérgica
                              mão sobre o rosto).

Revejo o instante em que
a metafísica se faz corpo e mente.

Aparelhos circunscritos
em órgãos no funcionamento
                   do entrelaçamento
                   entre vida
                   e morte.



FELÍDEA (LUA EM SANGUE)

Por Samuel da Costa (ALB, Anápolis, GO)

Para Fáh Butler Rodríguez

Garras felinas
Unhas retrateis
Que ciciam
Que rasgam a carne nua
Em pelo
***
Coração felino
Faminto 
Na noite de lua cheia
 Na lua encarnada
***
Prantos
Soluços
Gemidos de prazer
***
Olhos felinos
Em chamas
Que devoram a corpo incorpóreo
Teu
***
Coração felino
Em um sono inquieto
Na perdida noite outonal 
***
Choro felino
Dos amantes clandestinos
Em fuga
***
Alma felina peregrina
Que percorre o prado
A charneca em flor
***
Corpo felino 
Que corre livremente pela planície
Vai à caça
Circunda e abate
A presa por fim


PANTERA NEGRA

Por Samuel da Costa (ALB, Anápolis, GO)
Para Fá Butler
Corpo felino
São olhos verdes em chamas
Um convite escarlate
Para trespassar seculares mistérios
***
Alma felina
Que adentra na floreta negra
Em chamas
***
Mente felina
Despida
De milenares puderes
***
Femme fatale
Que margeia a realidade
Liquefeita contemporânea
Que incendeia
O estro meu


NA EVITERNA NOITE (UM NEGRO ALJÔFAR NO SIBILINO ROSTO TEU)

Por Samuel da Costa (ALB, Anápolis, GO)

Para Victória Butler Rodríguez

Sou eu menina
Sou eu mulher
Toda orvalhada pelo negro luar
Coberta por todos
Os cósmicos mistérios infindos
***
São suspiros felinos noturnos
São sussurros murmurejantes
Que se esvaecem na eviterna noite
***
Um negro aljôfar que escore
No sibilino rosto teu
E de repente
Um lascivo desejo vagueia
No corpo incorpóreo meu
***
Um desejo hialino
Vem amado meu
Faz-me de uma menina
A tua mulher
É um simples pedido meu


NO CAMINHO BIFURCADO TEM UMA ALMA EM CONFLITO

Por Samuel da Costa (ALB, Anápolis, GO)
Para Fá Butler
Agora é muito tarde amor!
E eu não consigo mais dormir.
***
Ao longe...
Escuto uma musselinosa melodia...
 Que inunda o meu frágil ser...
Mais que imperfeito!
***
Nessa hora de desespero e dor...
 Eu descido não cair!
E ficar de pé...
Enfrentar todas as consequências!
De amar-te tanto...
Enquanto isto lá fora...
Na noite eviterna...
A cidade arde em chamas.
***
Mas agora é tarde amor...
É muito tarde para nós dois!
Pois o nosso tempo passou,
E não sobrou mais nada...
Para nenhum de nós!
***
É muito tarde minha querida.
O sono não veio!
O sonho não chega!
E o aquele beijo não aconteceu.
***
Agora é tarde para nos dois!
Amor da minha vida!
O abraço não veio...
O beijo mágico não aconteceu...
***
  Restou-me encontrar...
O exílio mais que prefeito.
No pelágio mais profundo em mim!
São quilômetros...
E mais quilômetros de distância.
Da realidade liquefeita contemporânea,
 Que me devora e me flagela.
 ***
Agora é tarde demais...
Meu anjo negro!
Pois o sono não vem!
E o sonho não chega.
 E sibilina bruma nos abraça...
 E nos afoga...


VEM AMADO MEU

Por Samuel da Costa (ALB, Anápolis, GO)
Para Victória Butler Rodríguez

Descortina-te para mim
Vem descobrir
Que ama somente a mim
E a mais ninguém
***
Vem amado meu
Para junto de mim
Abraça-me bem forte
Pois quero recitar poemas de amor
Para ti
***
Descortinar-te
Descobrir-te
Amar-te para todo o sempre


MADONNA BUTLER

Por Samuel da Costa (ALB, Anápolis, GO)

O meu universo infindo
Orbita em torno do teu
Exíguo microcosmo
***
O meu vasto universo de dor
Gravita em torno do teu
Mundo de erotismo e puro prazer
***
Quando o sacrossanto manto
Da noite mais escura,
Cair sobre nós dois
Minha querida
Vou abraçar-te por inteiro
Em meio à escuridão eviterna
Vou trespassar
O teu felino coração em chamas
***
Quando a negra noite
Abater sobre nós dois
Quero ficar a sós contigo
E ouvir as tuas suplicas nevoentas
As tuas juras de amor eterno
Que não vais embora
 Se dissipar
Em meio à solidão e dor
***
Quero ouvir da delicada boca tua
Que não consegue mais viver sem mim


LUA NOVA (MADONA DE ÉBANO EM ANUNCIAÇÃO)

Por Samuel da Costa (ALB, Anápolis, GO)

                                                                           Para Negra Valquíria

És a beleza eternizada na escuridão!!!
És tua a Deusa de Ébano envolta
Na mística bruma
Que me seduz e me encanta
***
Na hora extrema de dor e desespero
Vem à icônica quimera
De uma lágrima furtiva
Que escore no sibilino rosto teu
***
Ao longe escuto um pranto
Uma perdida brisa saturna
Na sidérea distância ouso
O vago lamento teu
Um lancinante grito de dor
***
Pois és tu a minha Deusa de Ébano
Quem em horas mortas se lamenta
Da negra solidão a dois
***
És tu mulher negra a portadora
Da etérea beleza
Minha Madona de Ébano
Que pranteia a icônica
Negra dor


EU SOU UM JAGUAR

Por Samuel da Costa (ALB, Anápolis, GO)
Para Fáh Butler Rodríguez

Faminta... Lasciva... Ousada
Eu vou te caçar
Porque eu sou um jaguar
***
Meu corpo felino urra
Ruge... Cicia... Delicia-se
Sacia-se
Com o corpo teu
Que é só meu
Porque eu sou um jaguar
***
Meu corpo felino invade
A floresta negra em chamas
***
Minhas unhas em arco
Minhas garras retrateis
Rasgam-te por inteiro
Por que eu sou um jaguar
***
Sou eu que adentro na alcova tua
Invado-te
Possuo-te
O teu desprotegido
O teu frágil ser

Porque eu sou um jaguar

EVAPORAR (EM TRANSCENDÊNCIA)

Por Samuel da Costa (ALB, Anápolis, GO)
                                                                                                                                                             Para Fá Butler
Vem amada minha...
Vem minha deusa celestial
Vem para a nossa alcova
À meia luz...
***
Recebo com bom grado
Um pedido teu
Fico eu completamente rendida
Pelo sorriso teu
***
Enclausurada... não consigo fugir
Dos braços teu
Perdida... no labirinto lascivo
Dos beijos teus
***
Vem amado meu...
Domine-me!
Possua-me!
Absorva-me!
Eleva-me!
Com o simples toque teu


TODAS AS MANHÃS DO MUNDO

Por Samuel da Costa (ALB, Anápolis, GO)
  Para Luana D'Oliveira
Pela manhã
Tu vens sem pedir licença
Aos deuses e deusas
 Como os teus inebriantes beijos
 Em um doce e breve despertar
***
Pela manhã
Na nossa aurora vermelha
São as tuas juras de amor eterno
Em belos versos
Dizer-me:
- Para sempre vou te amar! 
***
São flores brancas e diáfanas
Vagas
Nevoentas
Nas tuas mãos
Que vens me ofertar
Elas simplesmente sussurram-me:
- Não chores, pois nunca vou te abandonar!
*** 
Depois me vem à lasciva lembrança
Da noite passada!
São os nossos corpos nus
Na nossa sacrossanta alcova
Em um belo valsar
   ***
Pela manhã vens tão belo
Dizer-me
- Não ficaras sozinha...
Para sempre vou te amar


DÁ-ME A TUA DELICADA MÃO

Por Samuel da Costa (ALB, Anápolis, GO)

Para Fá Butler
Dá-me a tua sacrossanta mão
Minha divina musa encantada
Ouçamos juntos
As sinfonias noturnas
Ousamos juntos atravessar!
A sibilina bruma outonal
***
Dá-me a tua delicada mão
E o teu corpo incorpóreo
Por inteiro
Dona de todos os meus desejos
Mais que secretos
***
Dá-me a tua ignota mão
Trespassamos juntos
A perdida noite sem fim
Abrigarmos no Éden encantado
Por fim