terça-feira, 1 de março de 2016

SER DO “CONTRA”

Por Humberto Pinho da Silva (Vila Nova de Gaia, Portugal)

Ouvi ou li, não me recordo onde, nem quando, que Aquilino Ribeiro, certa vez asseverou: que era “ Contra tudo e contra todos”.
Desconheço se o foi; mas há episódios, na sua vida, que levam a crer que sim.
Todavia, sabemos, que nada: seja doutrina política ou filosófica; seja Arte ou Literatura, consegue reunir audiência “respeitável”, se não for: “contra”, anti, “ contra tudo, contra todos”.
Por regra, o intelectual é do “ contra”; não que haja, muitas vezes, motivos para o ser, mas porque conhece: ser do “contra”, aumenta a venda de livros, e é eficaz para arrebanhar “fans”.
Também é do “ contra” o operário oportunista; desse modo, sem esforço, em regra, alça-se na hierarquia sindical ou na hierarquia da empresa. Certo, que esta, apressasse a entregar-lhe o cargo pretendido, para emudecê-lo.
Mas ser do “contra” não basta para ter sucesso na vida: é preciso dar nas vistas; pôr-se em bicos de pés, como vulgarmente se diz, e principalmente: bradar.
Bradar, fazer barulho, é imprescindível, para ser famoso.
Com brados, os judeus, conseguiram que o procurador romano condenasse O inocente, sabendo que O era; e,  bradando, xingando, berrando,  a ala esquerdista e direitista do parlamento, consegue fazer-se ouvir e ganhar simpatia.
O humilde, o respeitador, o honesto,  que pesa seus atos, pela razão e pela Moral, dificilmente vai longe…Porque os que labutam nas trevas são mais unidos, mais camaradas…Já Cristo o dizia.
A conversa conciliadora. A cavaqueira delicada, que fazia a delicia de muitos, quase desapareceu da nossa coletividade. Agora, discute-se… Ser do “contra”, discutir, ser polemista, dá prestigio e até: “ inteligência”.
O povo, que não consegue raciocinar - grande manada acéfala, que em democracia ordena, - acredita sempre no que ouve: aos gritos, aos berros, aos brados…; e reconhece sempre autoridade e sapiência, à voz atrevida, que se eleva.
Mas ser do “contra”, discutir, bradar, ainda não é suficiente para o medíocre alcançar o desejado Olimpo.
É - lhe necessário: o escândalo.
A mass-media – que devia viver de notícias e opiniões, – só aumenta a audiência, com o escândalo.
O ambicioso, o falho de talento, precisa, é-lhe imprescindível, recorrer ao escândalo, para ser conhecido.
Escandaliza: no modo de trajar, com gestos e atitudes, fora do vulgar, desnudando-se, e exprimindo conceitos chocantes…que chocam cada vez menos.
Já poucos se escandalizam, seja com o que for: se o artista plástico apresenta “bezerro”, a crítica - para não parecer ignorante, - admira, e o público, repete, para dar ar de entendido. - Diz Unamuno, em: “Solilóquios y Conversaciones”, que: “ A crítica, costuma ser, de ordinário, o comentário da moda”… e raros são os que não querem estar com a moda…
Em matéria Moral e bons costumes, poucos se aventuram a comentar; receiam cair no ridículo; receosos de serem taxados de retrógrados; de velhos caducos… de ignorantes…
Ser do “contra”, bradar, e escandalizar, é o meio seguro do “Zé-ninguém” parecer ser “alguém”; ter acesso aos meios de comunicação e tornar-se conhecido nas Artes, e quantas vezes, até, na ciência! …


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