sábado, 1 de julho de 2017

PROF. ERNESTO WAYNE (MEMÓRIAS)


Por Paccelli José Maracci Zahler, Brasília, DF

O Prof. Ernesto Wayne foi nosso professor de Literatura em 1974. Por essa época, as minhas notas não eram lá essas coisas em Língua Portuguesa. Eu passava raspando e não gostava muito da matéria, pois não conseguia entender os conceitos, e a Gramática era uma tortura.
Quando o Prof. Ernesto Wayne entrou pela primeira vez na sala de aula, eu senti  um frio na espinha.  Seria mais um professor chato, a fazer exercícios com frases difíceis para análise sintática. E depois, chamar aluno por aluno e dar a nota baixa com expressão de triunfo. Puro preconceito!
Já na primeira semana, ele nos ditou umas regras básicas de pontuação e uso de preposições e regência verbal. Creio que dava umas dez folhas de arquivo, escritas com caneta tinteiro Parker 51, abastecida com a tinta Parker Quink azul, comprada na Livraria e Papelaria Previtalli, onde meu pai mantinha uma conta há muito tempo, desde o tempo em que estudara no Colégio Estadual “Carlos Kluwe”, que funcionava no atual Palacete Pedro Osório.
Depois, ele nos mandou ler “O Guarani”, de José de Alencar, e fazer uma resenha. Comprei um caderno de papel almaço pautado e fiz a tarefa. Entreguei-a na aula seguinte, morrendo de medo de levar nota baixa.
Para minha surpresa, o Prof. Ernesto Wayne leu e me deu 10. Foi o primeiro 10 em Português da minha vida.
A tarefa seguinte foi ler “Memórias de Um Sargento de Milícias”, de Manuel Antônio de Almeida; “Iracema”, de José de Alencar;  “Memórias Póstumas de Brás Cubas” e “O Alienista”, de Machado de Assis; e poesias de Castro Alves, do que eu me lembro.
No caso de Castro Alves, ele propôs um desafio – fazer um trabalho sobre o mais belo verso do poeta baiano.
Eu me lembro de ter pesquisado bastante e encontrei, em um livro editado pela Biblioteca do Exército – Bibliex, cujo título o tempo apagou, mas tratava-se de uma análise da vida e da obra de Castro Alves, que o verso mais belo verso era: “Auriverde pendão da minha terra”, do poema “O Navio Negreiro”.
Levei feliz o trabalho para o Prof. Ernesto Wayne, na certeza de receber mais uma nota alta. Para minha frustração, ele leu e me disse que estava errado, que o mais belo verso de Castro Alves era “Que a brisa do Brasil beija e balança”. Levei nota baixa. Tentei argumentar, mostrei o capítulo do livro que pesquisei, mas o Prof. Ernesto Wayne foi irredutível – o autor estava errado. E a nota continuou baixa.
Apesar da frustração, isso não me desestimulou,  muito pelo contrário. Graças às aulas do Prof. Ernesto Wayne, eu adquiri gosto pela leitura e pela Literatura nacional. Após 1974, eu passei a ser um leitor voraz. Acabei lendo toda a obra de José de Alencar, todas as poesias do Castro Alves, todos os livros do Fernando Sabino e muitos outros, e comecei a escrever contos, crônicas e poesias, guardados a sete chaves em meus diários.
Como passei a tirar notas boas em Português, que era a pedra no meu sapato, pois me saía bem nas outras matérias, acabei recebendo o Troféu “Aluno Distinção - 1976” do Colégio Nossa Senhora Auxiliadora, conferido pelo Círculo de Pais e Mestres daquele educandário, no final do Segundo Grau, em 29 de novembro de 1976.
Quando vim para Brasília, DF, em 1982, embora não escrevesse diariamente como de hábito, eu não parei.
Em 1991, participei de um Concurso Nacional de Poesias do Grupo Brasília de Comunicação e ganhei uma Medalha de Prata. Veio um Concurso Nacional de Contos e ganhei uma Medalha de Bronze, seguidas de muitas outras em poesias, contos e crônicas. A partir daí, passei a desenvolver uma atividade paralela – a literária.
Em 1997, fiquei muito triste com a notícia do passamento do Prof. Ernesto Wayne pelo jornal Minuano, via internet. Desde 1974 eu não o via, mas tinha notícias da sua atividade literária por meio de algumas edições antigas do jornal Correio do Sul, que amigos e parentes me mandavam. Eu estava radicado em Brasília, DF, e não conseguira expressar o meu agradecimento a ele.  
Graças ao Prof. Ernesto Wayne e ao gosto pela leitura e pela escrita que ele, com a sua didática, incorporou em mim, acabei sendo convidado a integrar associações e academias literárias, dentre elas a Academia de Letras do Brasil, Seccional Distrito Federal – ALB/DF, Cadeira nº 09. Na hora de indicar o Patrono, não tive dúvidas – o Prof. Ernesto Wayne, com a minha eterna gratidão por desenvolver em mim o gosto pelas Letras.

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