terça-feira, 1 de agosto de 2017

DO PIOR POEMA

Por Ernesto Wayne (Bagé, RS)

(À maneira de Joaquim Osório Duque Estrada e Chico Buarque de Hollanda}

Um bom poema só se escreve lúcido
Um mau poema só se escreve bêbado

Um bom poema só se escreve sóbrio
Um mau poema só se escreve ébrio

Um bom poema se se é doméstico
Um mau poema só se escreve trêmulo

Um bom poema é uma coisa sólida
Um mau poema é uma coisa líquida

Um bom poema é comunitário
Um mau poema é de um solitário

Um bom poema pra quem a vida é boa
Um mau poema pra quem a vida é má

Um bom poema é pra professor
Um mau poema não tem profissão

Um bom poema pra quem a vida é canto
Um mau poema pra quem a vida é pranto

O bom poema é o que a gente mostra
O mau poema é o que a gente esconde

Um bom poema qualquer um o faz
Um mau poema é o que se desfaz

Um bom poema é pra ser estudado
Um mau poema é pra ser decorado

Um bom poema é nosso filho plácido
Um mau poema é nosso filho fúlgido

Um bom poema é nosso filho íntegro
Um mau poema é nosso filho pândego

Um bom poema é nossa maquilagem
Um mau poema é nossa mesma imagem

Uma mesma coisa é o seu contrário
O contrário de uma coisa é a própria coisa

Se fiz, esqueçam os meus bons poemas
Melhor de mim é meu pior poema


(Nota: Ernesto Wayne é patrono da Cadeira n° 09 da ALB/DF)

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