quinta-feira, 1 de fevereiro de 2018

A VIDA COM ALEGRIA É OUTRA COISA

 Por Urda Alice Klueger (Enseada de Brito, SC)


                                                           Para Nelson Rosembrock[1]

                                    Tinha alguém que dizia isto, todos os dias, enquanto eu era criança, lá na década de sessenta. Era um radialista que viera anonimamente para Blumenau lá por volta de 1960, e que, meses depois, em 1961, acabara sendo o herói da cidade, quando perversa enchente tomou conta do nosso vale, deixando gregos e troianos ou submersos, ou ilhados e sem comunicação. Foi aí que entrou em cena o nosso radialista: ele permaneceu 72 horas ininterruptas no ar, transmitindo recados, achando gente perdida, organizando uma campanha de ajuda aos flagelados – enfim, era a única voz que o rádio nos trazia, uma voz que transmitia esperança. O nome desse radialista era Nelson Rosembrock.
                                    Ele chegara anonimamente em Blumenau, pouco antes – depois da enchente, passou a ser a pessoa mais conhecida da cidade. Ninguém esquecia do serviço que prestara à comunidade, daquelas 72 horas no ar, da “língua endurecida” que resultou daquelas 72 horas, conforme ele mesmo me contou. As homenagens foram muitas, e seus programas diários transformaram-se em sucesso. Quem não se lembra do “Pick-up da frigideira”, de “Conversando com o turista”, de “ A vida com alegria é outra coisa”? Ele me contou detalhadamente sobre cada programa desses, ano passado, quando tive a felicidade de gravar longa entrevista com ele, para os arquivos de História do município e da FURB.                                   Eu, criança, era contemporânea dos programas dele, e trouxe para a minha vida uma coisa que ele sempre afirmou: ”A vida com alegria é outra coisa”. Mais tarde, adulta, passei a classificá-lo como o nosso filósofo blumenauense (embora tenha nascido em Brusque) – quem mais ficara afirmando publicamente, por anos e anos, que a vida com alegria é outra coisa?
                                    Obrigada, seu Nelson Rosembrock, por ter me ensinado isso! Garanto-lhe que ouvi-lo por tantos anos, sempre a repetir tal verdade, fez-me absorvê-la, e tornou muita coisa diferente na minha vida.
                                    E se alguém não conhece esse nosso filósofo caseiro, e pensa que ele já dependurou as chuteiras (afinal, ele começou em rádio em 1948), vou dar o mapa da mina: Nelson Rosembrock continua no ar, aos domingos, a partir das cinco da manhã, na Rádio Nereu Ramos. Se você acordar cedo, dê uma ligadinha no programa dele. Quem sabe, como eu, você aprenda que a vida com alegria é outra coisa.

                                             
                                              


[1] Seu Nelson Rosembrock faleceu antes da publicação deste texto, em outubro de 2005.

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