domingo, 1 de abril de 2018

DUETTO BUFFO DI DUE GATTI ( Gioachino Rossini (1792-1868))



Executado por "Les Petits Chanteurs de la Croix de Bois"(França).

Página: www.pccb.fr

Fonte: YouTube.

BAILARINA

Por Gustavo Dourado (Taguatinga, DF)

Suaveluz a bailarina voa sutil
Estrelúcida pulsa a dançarina
Em seu movimento ilumina-se
Mulher-diva de alma cristalina

Balança em seu ritmo saltitante
Nas ondas do palco trafega
A plateia su-suspira atônita
Ante a deusa que circunavega

Sereia-cisne, passos de gazela
Inspira-nos com a sua sinfonia
Encanta com o olhar luminoso
Germinamor e floresce poesia...

MULTIVERSOS PARA MARIELLE

Por Gustavo Dourado (Taguatinga, DF)

Marielle ecoa na gente
Tombou pela resistência
Como Lorca assassinado
Como Luther a consciência
Vitimada pelo fascismo
É dura a sobrevivência

Veio da Favela da Maré
Formou-se em Sociologia
Mestra em Administração
Deu o grito de rebeldia
Assustou a Casa Grande
Deu voz à cidadania

Milicianos do mal
De um sistema opressor
Feitores do velho tempo
Da escravidão e da dor
Que acorrentam o pensamento
Com a mídia do desamor

Que acabe a opressão
Que haja soberania
Que a voz de Marielle
Desperte nossa poesia
Que brote paz e amor
Liberdade em sinfonia

ONÇAS


Por Pedro Du Bois (Balneário Camboriú, SC)

A onça sai entre
os arbustos
salta sobre mim

Pergunta
o que faço
na beira do mato
na beira do rio

De paletó e gravata
e sapatos pretos de verniz
não sei dizer
o que faço
na beira do mato
na beira do rio 

Nada respondo
e a onça some entre as árvores.


JAGUAR


By Pedro Du Bois (Balneário Camboriú, SC)

(Marina Du Bois, English version)

The jaguar comes out
from the bushes
jumps over me

Asks
what do I do
at the bush border
at the riverfront

In jacket and tie
and black patent leather shoes
I don’t know what to say
at the bush border
at the riverfront

I answer nothing
and the jaguar desappears among the trees.


PÃO


Por Pedro Du Bois (Balneário Camboriú, SC)

Distante a palavra não dita

árvore não plantada
planta não florida
flor não frutificada
fruta não colhida

o silêncio assusta
os desavisados: perturba
                      em espanto


no cesto o pão percorre o último 
trajeto entre a planta e a fome saciada
no que dizem e acrescentam.



BREAD


Por Pedro Du Bois (Balneário Camboriú, SC)
(Marina Du Bois, English version)
  
Far is the unsaid word

unplanted tree
non-flowering plant
unfertilized flower
uncollected fruit

silence scares
the ususpecting: it disturbs
                               in awe

in the bread’s basket goes the last
path between the plant and the satiated hunger 
in what they say and add.

TROCARAM DEUS PELOS DEUSES


Por Humberto Pinho da Silva (Porto, Portugal)

Diz a Bíblia, que depois de Moisés ter libertado da escravidão, os filhos de Israel, levou-os, através do deserto, para a terra Prometida.

Durante a longa e árdua viagem, o povo, seguiu-o, e Deus acompanhou-os. Por intermédio de Moisés, Jeové realizou numerosos milagres – sendo o maior de todos, a passassem do Mar Vermelho.

Mas, ao chegarem ao Sinai ou montes Horeb, como Moisés se demorasse a falar com Deus e a adorá-Lo, pediram a Aarão, para construir o “ Bezerro de Oiro”, para adorarem, semelhante ao touro Ápis.

E por que queriam o “ Bezerro”?

Porque, como todo o ser humano (que é um animal religioso,) necessitavam de ver, de possuir algo para adorar, já que deixaram de confiar no Deus de Moisés.

Também nós – quando escrevo “ nós”, refiro-me à Civilização Ocidental, dita cristã, – depois de termos “ saneado” o Deus de Moisés : do Lar, do Estado, da Escola, do Parlamento, da Sociedade,  andamos em demanda do Seu sucedâneo.

Quais são os sucedâneos de Deus?

São os deuses, os ídolos, criados pelo intelecto humano, e alimentados pela mass-media.

Em lugar destacado, surge o “ Sexo”, que não é um mal, mas pode tornar-se pernicioso para a alma e para o corpo. Depende do uso que se lhe dá.

Segue-se o “ Dinheiro”, que sendo um bem – se é racionalmente usado, – pode ser um mal. Depende da forma como é ganho e gasto.

Seguem-se “ídolos” menores, que o povo – que abandonou o Deus Verdadeiro, – busca para poder adorar, na precisão de preencher o vazio em que vive:

O “ Estado”, com todos os órgãos e departamentos. Aflitos, viram-se para o governo da nação, na esperança que este consiga resolver preocupações e problemas, que os atormentam, como se o “Estado” tivesse varinha de condão.

Outros “adoram” a Ciência. Julgam que Deus, se existiu, morreu, e a técnica substitui-O

A Medicina está muito adiantada – dizem e com razão, – faz verdadeiros “milagres”, mas não pode, nem sabe, resolver todas as enfermidades do corpo, e muito menos as do espírito.

Acreditam, sinceramente, que a tecnologia encontra-se de tal forma desenvolvida, que se pode afirmar, sem receio: que consegue solucionar todos os problemas. - Mas não sabe resolver o flagelo da fome; nem evita calamidades, como: tremores de terra, furacões, tempestades destruidoras.

Há ainda outros “Bezerros de Oiro”: são deusas menores, de pés de barro, semelhantes ao fogo de artifício, que alegra as romarias.

São eles, o: “ Sucesso”; “ Fama”; “Ascensão Social”.

Erguem-se; iluminam; encantam; arrastam multidões desvairadas… e morrem.

São “adorados” pelos fãs, que vivem para eles, mas não passam de foguetes de lágrimas: duram momentos…décadas; e caiem no esquecimento, logo que morrem.

Não são os ídolos, por mais que busquem os prazeres, os divertimentos, que encherão de felicidade os corações, mas o Pai, o Criador.

Procura-se, agora, afadigadamente, um deus, que não imponha leis; que aceite as ideias e desejos do homem actual; que faça a nossa vontade, e não a Dele, e há até “profetas” que o apregoam...

Mas esse deus não é o de Moisés. Não é o Deus bíblico.

Ao trocar Deus pelos “ídolos”, a humanidade só encontrará: guerras, doenças mentais, violências aterradoras, remorsos e angustias…; porque os “ídolos” só lhe dão centelhas de falsa felicidade.

Até quando o Ocidente andará cego?



A EMIGRAÇÃO PARA O BRASIL


Por Humberto Pinho da Silva (Porto, Portugal) 

 Penso que é do vosso conhecimento, pelo menos dos meus leitores – se os tiver, – que sou casado, há mais de quarenta anos, com paulistana.

          O avô de minha mulher, emigrou para o Brasil, no início do século XX, após concluir o curso de “Comércio”, numa escola que ficava junto ao Palácio da Bolsa, no Porto.

Emigrou, porque lhe disseram: que nesse país, era fácil enriquecer. Embarcou num velho navio, juntamente com outros, que buscavam vida melhor, com destino a Santos.

          Rapidamente verificou, que a terra de Santa Cruz, não era o paraíso esperado; mesmo assim, chegou a industrial. Azares e infortúnios, levaram-no a perder parte do que conseguiu, o que não admira, porque era intelectual, e dedicava-se às “ Letras “; caminho certo para empobrecer alegremente.

          Estando a conversar, com ele, no “jardim-de-inverno”, na confortável casa de Vila Mariana, narrou-me, a traços largos, a sua história.

           Perguntei-lhe, a razão de nunca ter vindo a Portugal:

         Olhou-me fixamente, com os inquietos e paternais olhos verdes, e, após segundos de silêncio, disse-me, em doce voz, levemente cantada e conselheira:

        - “ Estou velho! …Já não vale a pena! … Depois, já não vivem os que conheci. Estive sempre à espera de dias melhores… assim fiquei por aqui, pensando nos que deixei…”

          Camilo – considerado Mestre dos mestres da literatura portuguesa por Vasco Botelho de Amaral (*) – incluía, nos seus romances, quase sempre, o “ brasileiro”, que regressava à terra natal, abastado de bens e de anos. Em regra, casava com jovem, por vezes, fidalga, filha de ilustres nobres arruinados.

          Mas a maioria dos que partiam e partem, nunca regressavam, nem regressam, porque não queriam, nem querem, que se saiba, que não alcançaram o sucesso desejado.

Silva Pinto, narra, com azedume: “No Brasil”, as tristes desventuras de muitos que desembarcaram no Rio: Ao famoso Ator Justiniano Nobre de Faria, foi encontrá-lo como humilde carregador; e ao professor Franco (que introduziu, no Brasil, o método de leitura de João de Deus,) segundo escreveu: “ Só pedia, aos cafres, em troca da luz que lhes levava, o pão de casa dia.”

          Há anos, indo eu, do Tua para Vila Flor, em tarde de calor tórrido (com o asfalto da estrada, a ferver,) na traquitana da Carreira. Sentou-se, ao meu lado “brasileiro”, de meia-idade, trajado de claro e chapéu panamá; ostentava, entre os grossos e ásperos dedos, várias notas de mil escudos! …

         Saiu em Carrazeda de Ansiães, muito hirto, muito sério, muito emproado… com as notas bem visíveis! …

       A vida da maioria dos emigrantes não foi fácil (basta ler a “ Selva” e os “Emigrantes”, de Ferreira de Castro,) e ainda não é, apesar de agora, serem mais cultos, e haver leis que os protegem.

          Muitos, após ásperas e humilhantes desventuras, terminam na miséria; e é, muitas vezes,  em extremava miséria, que morrem, longe da família e dos que lhe querem bem.

          Nos anos noventa, amigo meu, sabendo que ia em viagem para São Paulo, pediu-me para entregar certa quantia, a irmão, que vivia no Rio.

           Prontamente aceitei, acrescentando: que me deslocaria lá, para entregar-lhe pessoalmente.

         Muito retraído, quase em cochicho, disse-me: que enviasse, o dinheiro, pelo correio. “ É que vive numa favela, em grande miséria…”

          Assim fiz.

       Todavia, há, quem conseguiu e consiga, singrar, em terra estranha, tornando-se: importante empresário, político influente, e comerciante de sucesso.

Infelizmente, são exceções. A maioria, já se sente feliz, poder vegetar de cabeça erguida.

        Tudo depende de sorte… e espírito de iniciava…; e de outras coisas, que, por decoro, não devo revelar...



(*) “ Glossário Critico de Dificuldades da Língua Portuguesa”

INTER-LOCUÇÕES A SOMBRA DA PÓS-MODERNIDADE

Por Samuel da Costa (Itajaí, SC)

Como é bom acordar
E sonhar contigo minha Ninféia-Alba
Em horas estéreis
Fluidas
Cristalinas
Puras
Hialinas
***
Como é bom acordar
E sentir o frescor olor
Que vem com junto
Com o novíssimo dia
E as suas infindas possibilidades
***
Como é bom acordar
E sentir a tua equidistância
Mais que perfeita
Os verdes dos olhos teu
Postados em mim
***
Como é bom vagar
Flutuar pela infinitude
Do descobri-me
Em cada continuo ato
De ser eu mesmo e mais ninguém
Viver a margem de tudo
E de todos
No meio do nada
Existir e existir apenas
No deserto no real
***
Ser confundido
Vez ou outra
Com outra pessoa
Que sequer existe
No meio da rua congestionada
Por um desconhecido que passa
***
Como é bom ser multifacetado
Em tempos da realidade líquida
Ser todo mundo
E mesmo assim
Não ser pessoa alguma
***
Como é bom Magnificient Alba
Deitar-me sozinho
No vazio do quarto meu
E na solidão abissal
De ser eu mesmo
Ter-te como fiel companhia
Mais-que-prefeita
A sombra da pós-modernidade



NOSSO FAMOSO FUTEBOL

Por Urda Alice Klueger (Enseada de Brito, SC)


Recém voltei de viagem a países como o Equador e a Colômbia, e fiquei espantada em como o nosso futebol é famoso por lá. As pessoas perguntam de onde somos, e quando sabem que somos brasileiros, na maioria das vezes vem a exclamação:
- Oh! Do Brasil? Es el mejor fútbol del mun­do!
Custei um pouco a entender que aquela palavra pronunciada com apenas duas sílabas significava futebol, mas en­tendi bem depressa a admiração que os povos daqueles países irmãos têm pelo nosso esporte maior.
Quando estive na Europa, descobri que Pelé, sem dúvida nenhuma, era o nosso grande embaixador lá fora, conhe­cido por oito entre dez europeus, mas sua figura popularíssima é mais a de um grande desportista, e não exatamente o símbolo do futebol brasileiro. Nosso Rei tem incontestável majestade no Ve­lho Continente, mas isto não significa que o europeu fique baban­do em cima do nosso futebol e dizendo que é o melhor do mundo.
Já a coisa muda muito, aqui no Noroeste da América do Sul. Nossos irmãos americanos são todos loucos por fu­tebol, e têm uma grande curtição a respeito do futebol brasilei­ro. Não encontrei nenhum que dissesse que torcia pela Argentina - vi foi um colombiano jovem, que dizia e repetia que torcia pelo Brasil em qualquer circunstância, mesmo quando o Brasil jogava com a Colômbia. O irmão dele, que estava junto, não se conformava com aquilo e chegou a lhe dar uns pescoções, mas o rapaz conti­nuava repetindo que até contra a Colômbia torcia, a favor do nos­so futebol.
Eles têm uma curiosidade muito grande a res­peito de tudo que se relaciona com o nosso esporte do coração, e sabem coisas que não se sabe na Europa, como os nomes dos nossos jogadores, por exemplo: falaram em Pelé, mas também em Zico, em Marcelinho Carioca, em Túlio, em outros - estão ligadíssimos no que acontece no Brasil.
Em animado papo na praia de Taganga, no Caribe Colombiano, um homem me perguntou:
- É verdade que, quando o Brasil perde, vocês choram?
Se choramos? Contei-lhe como choramos, de tristeza nas derrotas, de alegria nas vitórias, choro para todos os lados quando se trata da nossa Seleção Brasileira. O colombiano ficou me olhando e refletindo - vi que acreditava, mas que não conseguia entender. Aquilo era demais para ser compreendido por quem não é brasileiro!
E continuamos nossa viagem, sempre a ouvir en­tusiasmados elogios ao nosso fútbol, elogios que a gente via serem espontâneos, nascidos da alegria que os nossos jogadores têm distribuído pelo mundo inteiro, com a sua leveza, a sua téc­nica e a sua criatividade.
Grande embaixador, o nosso futebol! Nossos irmãos do terceiro mundo não nos perguntam sobre as crianças abandonadas, sobre a destruição da Amazônia, sobre nossos 32 milhões de miseráveis - eles têm problemas parecidos com os nossos, sendo que a Colômbia, de quebra, tem diversas guerrilhas que lutam contra o capitalismo e forças paramilitares que assassinam em no­me do capitalismo. Nossos irmãos do terceiro mundo estão sequio­sos de alegria, e pude ver bem de perto o quanto curtem a alegria linda do futebol brasileiro. Nossa América Latina, com todos os seus problemas, está intensamente viva, grávida de sonhos, e tem muito, mas muito mais vida que o primeiro mundo. Há os problemas, é claro, mas algum dia eles serão resolvidos. Nosso mundo dito lati­no-americano não se permite viver triste esta única vida que tem, ficar parado na angústia dos problemas: é necessário ser feliz aqui e agora. E então, quando conhecem um brasileiro, nossos vi­zinhos sentem-no irmão porque o Brasil tem um grande futebol. E sorriem seus mais lindos sorrisos quando falam de Zico, ou de Dunga, pequenos deuses da sua mais límpida alegria, gente que não é estranha apesar de usar outra língua, pequenos deuses que guardam no coração como coisas preciosas!
E então, depois do entusiasmo do futebol, eles acabam perguntando:
- E o Rio de Janeiro? E o Carnaval?
Mas, sem dúvida, o futebol vem em primeiro lugar nos seus corações!

Blumenau, 20 de outubro de 1996.

O NOVO E O ANTIGO

Por Clarisse da Costa (Biguaçu, SC)
                                       

            Samuel e Vivaldo além de grandes amigos e escritores são grandes parceiros e contribuintes no cenário literário catarinense. Santa Catarina tem espaços muitos disputados e ser escritor nesse estado no Sul do Brasil não é nada fácil. Exige muita dedicação e responsabilidade do indivíduo. Os dois chegam com ousadia e mesmo com tão pouco marcam a literatura brasileira catarinense tão forte em Itajaí.                    
            Os poemas de Samuel da Costa e seus emblemáticos personagens em suas prosas fazem da sua obra uma escrita única. Uma vertente de vários cenários e sensações. O que mais marca na sua escrita são as diversas mulheres escritas por ele.
            Já Vivaldo Terres, o romântico a moda antiga, como diz a canção, traz o amor puro e forte que um homem pode sentir. Ao mesmo tempo com o seu romantismo ele retrata o cotidiano simples em suas prosas. Outras horas tem o olhar voltado à pátria e retrata um país que ninguém quer ver. O novo e o antigo, duas gerações que trazem brilhantismo ao cenário sulista.