Márcia Duro Mello (Bagé, RS)
Revista literária virtual de divulgação de escritores, poetas e amantes das letras e artes. Editor: Paccelli José Maracci Zahler Todas as opiniões aqui expressas são de responsabilidade dos autores. Aceitam-se colaborações. Contato: cerrado.cultural@gmail.com
quinta-feira, 12 de fevereiro de 2015
quarta-feira, 4 de fevereiro de 2015
MOSTRUÁRIO DAS RUAS
Por Ernesto Wayne (patrono da cadeira nº 09 da ALB/DF)
No mostruário das ruas,
Das praças e dos cafés,
Dos bares e dos hotéis,
Eram, por assim dizer,
Uns requebrados painéis,
Reclames e chamariscos
A levá-las pros bordéis
Pras “repúblicas” que havia
E são chateaux, cabarets,
São rendez-vous, garçonnières,
E são pensões de soubrettes
São michés e matinées
(Essas coisas se diziam,
Naquele tempo, em francês
E tout três chiquement...)
Datilografam sentidos
Nas vitrinas ao comprido
Dos lençóis sobre os colchões...
(do livro "Damas da Noite", Bagé, RS, 2013).
TOALHA DE MESA
Por Ernesto Wayne (patrono da cadeira nº 09 da ALB/DF)
A toalha desta mesa
Em xadrez vermelho e branco
As minhas vestes são brancas
Rubras as de minha amiga
Eu serei o vinho branco
Ela será o vinho tinto
Embora tão diferentes
Como a água o é do vinho,
Nós as duas somos como
Um vinho da mesma pipa
Uma branca, outra vermelha,
Somos vinho vagabundo:
Foi o mundo, foi o mundo
E foi poço muito fundo,
Foi salário pelo ovário,
Foi otário e salafrário:
Fizeram de nós ser borra
De vinho muito ordinário...
(do livro "Damas da Noite", Bagé, RS, 2013)
PAZ
Por Pedro Du Bois (Balneário Camboriú, SC)
Precisa a paz
tem a guerra
precisa ver
tem a escuridão
precisa falar
tem a mudez declarada
em lei no alterado sentido
do saber: precisa punir
tem a
absolvição
do
esquecimento.
ANTEPASSAR
Por Pedro Du Bois (Balneário Camboriú, SC)
em
frente. Alardeio o futuro em progressos
No antepassado o silêncio sepulcral
do desinteresse com que me debruço
ao destino. O passar dos anos
amiúda a inconsequência de seguir
e não aprendo a exteriorizar sentimentos
- em laboratórios tentam
novo paradigma humano
feito gesto e
plástico.
Aos antepassados rendo glórias
em datas pré-fixadas. Denomino
ruas. Fixo placas.
- no fim do corredor
chora o passado:
triste
rosto à
imagem.
ESCUTAR
Por Pedro Du Bois (Balneário Camboriú, SC)
Escuto o barulho dos tambores
no som dos homens trabalhando
escuto o silêncio reservado do poeta
no alarido das crianças
escuto o sentimento extravasado
no discurso do profeta
escuto o anoitecer no cão que late
ao pássaro no voo indelével
escuto o raspar da pedra sobre a pedra
ao escutar você e não escuto nada
ESPAÇAR
Por Pedro Du Bois (Balneário Camboriú, SC)
em
desencantos. A palavra precisa
Espaçar: fazer com que outros
se apresentem ao futuro.
Descarregar a pressa (não expressar).
Deixar a presa se distanciar
e soltar a fera restrita
de espaço para ser entendida
como tal
e ares montanhosos
retornam sibilinas
avalanches.
O SUCESSO DE UMA MENINA RICA
Por Humberto Pinho da Silva (Vila Nova de Gaia, Portugal)
No
início do presente século, conheci senhora, viúva, que pertencia a ilustre
família lisboeta.
Dedicava-se
às Letras. Tinha vários livros publicados, que oferecia aos amigos. Desconheço
se alguma vez chegou a colocá-los nas livrarias.
Já
bastante doente, mas muito lúcida, colaborava no blogue luso-brasileiro “PAZ”,
com poemas e textos, bem escritos e bem curiosos.
Nesse
tempo, o blogue, era publicado na comunidade do jornal “SOL”; mais tarde, por
motivos técnicos, deixou o “SOL” e sofreu algumas alterações.
Mas,
não era intenção abordar o blogue luso-brasileiro, mas sim minha querida amiga,
já falecida.
Contou-me,
a poetisa, que quando era nova, gostava de escrever poesia. Eram poemas
incipientes de quem começa a versejar.
O pai,
pessoa influente, conhece-os, e para lhe ser agradável, disse-lhe que iria
publicá-los.
Escusado
é dizer, que a menina ficou radiante, e não se conteve enquanto não contou, a
façanha, às amigas mais íntimas.
O
que não esperava, é que o pai fosse solicitar o apoio de conhecido escritor,
homem, de nome feito, e autor de romances conhecidíssimos.
Para
ser simpático ao amigo – amigo rico e influente, – o escritor pediu a
jornalistas e homens de letras, seus conhecidos, que escrevessem palavrinhas
amáveis, sobre os poemas, se possível na mass-media.
O
livro, quando saiu, vinha com abas e contracapa recheadas de pareceres de nomes
pomposos. A menina delirou ao ver o livro nos escaparates, e ainda mais, quando
a televisão a convidou para curta entrevista.
Outras
obras foram entretanto publicadas, muito mais estruturadas e com textos e
poemas de melhor quilate, mas não obtiveram o sucesso da primeira.
Dizia-me,
então, minha querida amiga: ”falecido meu pai, nunca mais a critica se
preocupou com os meus escritos…”
O
êxito não estava na obra, mas no dinheiro paterno, e na influência que este
tinha.
Moral
da história: O mérito não reside no que se diz, mas de quem o diz. Neste caso, na
carteira e relacionamentos paternos.