segunda-feira, 1 de junho de 2015

VOSSA SOU, PARA VÓS NASCI

Por Santa Teresa de Ávila (1515-1582), carmelita e doutora da Igreja

Vossa sou, para Vós nasci,
Que quereis fazer de mim?

Soberana Majestade,
Eterna Sabedoria,
Bondade tão boa para a minha alma,
Vós, Deus, Alteza, Ser Único, Bondade,
Olhai para a minha baixeza,
Para mim que hoje Vos canto o meu amor.
Que quereis fazer de mim?

Vossa sou, pois me criastes,
Vossa, pois me resgatastes,
Vossa, pois me suportais,
Vossa, pois me chamastes,
Vossa, pois me esperais,
Vossa pois não estou perdida,
Que quereis fazer de mim?

Que quereis então, Senhor tão bom,
Que faça tão vil servidor?
Que missão destes a este escravo pecador?

Eis-me aqui, meu doce amor,
Meu doce amor, eis-me aqui.
Que quereis fazer de mim?

Eis o meu coração,
Que coloco em vossas mãos,
Com o meu corpo, minha vida, minha alma,
Minhas entranhas e todo o meu amor.
Doce Esposo, meu Redentor,
Para ser vossa me ofereci,
Que quereis fazer de mim?

Dai-me a morte, dai-me a vida,
A saúde ou a doença
Dai-me honra ou desonra,
A guerra, ou a maior paz,
A fraqueza ou a paz plena,
A tudo isso, digo sim:
Que quereis fazer de mim?

Vossa sou, para Vós nasci,

Que quereis fazer de mim?

POR QUE HÁ TANTOS DIVÓRCIOS?

Por Humberto Pinho da Silva (Vila Nova de Gaia, Portugal)

Após ter deambulado, pelas velhas ruas da cidade do Porto, esperei na Trindade, o “metro”, com destino a Santo Ovídio.
Diante mim sentou-se casal, mais a filha – mocinha esbelta de seus quinze anos. Conversavam animadamente, a meia voz.
Mal entrou a composição na ponte de D. Luís I, a rapariguinha soltou um grito de admiração, e voltando-se para a mãe, exclamou estonteada:
- “Mãe! Olha que lindo! …Nunca vi paisagem tão bela! …”
Olhei pela vidraça – de um lado o casario de Gaia, do outro a cascata da cidade do Porto, encimada pela vetusta Sé. Entalado entre margens, o rio Douro, doirado pelo Sol do crepúsculo, reluzia em escamas fosforescentes, que iam do azul-lóio ao verde vivo.
Para o Candal, o azul do céu tornava-se carmíneo, com leves pinceladas de vermelho, desmaiando para violeta. E sobre a majestosa apoteose de cor, o disco doirado do Sol, como hóstia de luz manchada a sanguínea.
Era realmente espectáculo maravilhoso, digno de ser pintado ou fotografado por mão de mestre.
Essa beleza deslumbrante repete-se diariamente nas tardes quentes de Verão. De tanto a ter visto e apreciado, olho-a quase sem a ver.
Também por viveremos, durante anos, com as nossas companheiras, deixamos de ver as qualidades que possuem. Por isso, muitos casamentos se desfazem.
Certamente, se não tivéssemos observado predicados, que apreciamos, não teríamos casado.

Verdade é que o trato diário desvenda vícios e humor camuflados no noivado, mas a razão principal das desavenças é de termos deixado de ver o que nos levou a escolher a nossa companheira de jornada.

DOUTORES, ENGENHEIROS & COMPANHIA...

Por Humberto Pinho da Silva (Vila Nova de Gaia, Portugal)

Quando minha mãe era adolescente, frequentou o Carolina Michaelis, então na Praça Coronel Pacheco. Nessa ocasião, muitas vezes, visitava a tia Teresa, que morava na Travessa de Cedofeita.
Vinha pelo passeio. Descia na pedra do estiquete – laje temida pelas alunas, porque era certo: a que a pisasse, tinha péssima nota, – e entrava na estreita rua que entestava com a de Cedofeita.
Certa vez, indo visita-la, esta disse-lhe que esperasse um pouco, porque o filho Artur ia chamar táxi para o levar à estação de S. Bento, e dava-lhe boleia.
Chegou o táxi. Carregaram as malas, e sentados no banco de trás, conversaram animadamente.
Já na estação ferroviária, quando esperava que o primo embarcasse, aproximou-se carregador – nessa época havia homens que ajudavam a transportar as malas, – e perguntou-lhe:
- O Senhor doutor quer auxílio?
Admirou-se minha mãe que o homem soubesse que o primo frequentava a Escola Médica, e virando-se, disse-lhe:
- Não sabia que eras tão conhecido…”
Ao que este respondeu:
- Não sabes que estes homens tratam todos por doutor? Se acertam tudo bem; se erram, o freguês fica contente…
Vem o episódio a propósito de todos quererem ser doutores. Em Portugal é quase título nobiliárquico…
Com o ensino obrigatório, o número de licenciados aumentou, assim como mestrados e doutorados, o que retirou, um pouco, o prestígio que tinham, mas mesmo assim, ser doutor ou engenheiro ainda abre muitas portas…
Quando realizei série de entrevistas para o “ Notícias de Gaia”, a maioria das personalidades com quem falei, na dúvida, chamavam-me sempre de doutor.
João Adelino, da RTP, conta, que estando nos estúdios para iniciar debate eleitoral, um dos convidados recusou entrar, porque não o tinham tratado por doutor! E acrescenta: “ Não há convidado, na televisão, que não seja apelidado, invariavelmente de “doutor” ou “ engenheiro” – JN – 14/04/2012.
Teresa de Mello escreveu um dia no “ Jornal de Abrantes”, então dirigido pelo notável jornalista Fernando Martins Velez, que conhecia muitos que nunca frequentaram a Universidade, e era todos tratados por doutores, enquanto seu pai, que possuía dois cursos superiores, foi sempre conhecido pelo nome.
Certa ocasião o Sr. Fernando Figueirinhas – da livraria Figueirinhas, – apresentou a meu pai o cineasta António Lopes Ribeiro.
Como o tratasse por doutor, disse-lhe:
- “ Sr. Pinho da Silva: eu tenho nome e orgulho-me dele! …”
Na verdade as grandes figuras da Literatura, da Arte, da Ciência, do Cinema ou da Política, nunca são tratados por doutores, apenas pelo nome.
Mas qual o jovem, que acabe de se licenciar, que não goste de ser chamado de doutor?
Amigo meu contou-me, que o filho, após ter defendido tese, virou-se para o pai e com tristeza, disse-lhe:
- Papá: ainda ninguém me chamou por doutor…
Ao que o pai respondeu, sorrindo:
- Não seja por isso, eu vou tratar-te por Senhor Doutor!
Se vendessem títulos académicos, como se venderam outrora os nobiliárquicos, os cofres das Universidades estariam cheios…

IGUALAR

Por Pedro Du Bois (Balneário Camboriú, SC)

Desperto
o homem
e o convoco
à luta: inglória hora
dos acertos.

A paz decomposta
em negócios: trâmite findo.

Não há conquista
      nem combate: a igualdade

                          exala derrotas.


CORDEL PARA MÁRIO DE ANDRADE

Por Gustavo Dourado (Brasília, DF)

Mário Raul de Morais Andrade:
Mestre da Modernidade
Multiartista pensador
Arte e musicalidade
Diversos gêneros praticou
Com sua genialidade
1893
O ano do nascimento
Dia 9 de outubro
Surge Mário em movimento
Na cidade de São Paulo
Respira ao sabor do vento
Carlos Augusto e Maria Luísa:
Pais do grande escritor
Seu irmão Renato Andrade
Morreu jovem, trouxe dor
Mário amava o Brasil
Gostava do interior
Rua Aurora, 320
Em São Paulo, capital
Um pianista prodígio
Leu Rimbaud no original
Dos simbolistas franceses
Fez leitura fulgural
Músico e romancista
Jornalista e professor
Líder do “grupo dos cinco”
Mestre catalisador
Na cultura em São Paulo
Foi dirigente precursor
Foi estudante de música
Fundador do modernismo
Erudito e engajado
Vate do brasileirismo
Inquieto, irreverente
A verve do futurismo
Música popular brasileira
Artista pesquisador
Crítico dos governantes
Erudito pensador
Alquimista da escrita
Um vate transmutador
Foi professor de música:
Colunista de jornal...
Romanceou Macunaíma
Sua obra essencial
Modernidade artística
De um poeta magistral
Foi estudante de canto
E de teoria musical
Estudo no conservatório
Com educação formal
“Gota de sangue em cada poema”
Alcunhou Mário Sobral
Documentou a história
Nosso povo e a cultura
Viagens pelo Nordeste
Uma intensa leitura
Morou em Araraquara
Terra, campo, mãe natura
Do poeta Venceslau de Queirós
Foi aluno e sucessor
Estudante de estética
Foi grande conhecedor
Depois da morte do mestre
Foi regente professor
Compôs “Viola Quebrada”
Com Ary Kerner parceria
Identidade brasileira
Para além da fantasia
Publicações em jornais
E toques de fotografia
Pesquisador do folclore
E da cultura nacional
Parceria com Oswald
E Tarsila do Amaral.
Anita Malfatti e Menotti
Com expressão literal
Semana de Arte Moderna
No Teatro Municipal
Em 1922
Mário foi fundamental
11 a 18 de fevereiro
Movimento cultural
Durante a Semana de Arte
Exposições de pintura
Palestras, arte e música
E ampla literatura
A audiência foi grande
Deu-se asas à leitura
Semana de Arte Moderna:
Mário, figura central
O motor do movimento
Polímata nacional
Literatura e música
Pensador estrutural
Fez inovações estéticas
No campo da poesia
Com Oswald de Andrade
Revista de Antropofagia
Investigação cultural
Pesquisa e demografia
Na prefeitura de São Paulo
Foi diretor cultural
Músicas do Norte-Nordeste
Catálogo fundamental
Divulgação da cultura
Foi o mote principal
Exposições e conferências
Música e folclore popular
Vídeo, áudio e imagens
Soube bem documentar
Multimedia da cultura
Referência ao pesquisar
Missão de pesquisas folclóricas
Várias manifestações
Fonografia diversa
Arte e concepções
Discoteca municipal
De boas composições
Contato com Lévi-Strauss
Mestre da Antropologia
Que foi professor da USP
Referência em teoria
Mário na linha de frente
Na etnomusicologia
Autoridade em arte
História e poesia
Educação musical
Na práxis e teoria
Fotógrafo e pianista
Muito bom no que fazia
Poeta, escritor, crítico
Ensaísta brasileiro
Folclorista, musicólogo
Ativista pioneiro
Vanguardista criativo

Da arte foi um luzeiro...

TEMA

Por Pedro Du Bois (Balneário Camboriú, SC)

 Repasso o tema: amanhã serei cobrado
                sobre o assunto.
              Esqueço o momento. O devaneio
            intervém no tema. Tremo
        o saber inexistente.

Apresado ao sábio: sei o tempo

represado em redundâncias.

POR QUE SOMOS CASTIGADOS?

Por Humberto Pinho da Silva (Vila Nova de Gaia, Portugal)

Nos últimos anos do século passado, escrevi contareco, que alguns leitores consideraram verídico, porque localizei-o em Vila Nova de Gaia, mais precisamente no Mosteiro da serra do Pilar.
Como o considero de proveito espiritual, vou reconta-lo, revestido de outros trajos:
Residia no ano da graça de 1676, no Mosteiro de Santo Agostinho da Serra, frade, que passava o dia em santa contemplação.
O Prior, Dom Jerónimo, bem lhe recomendava que fosse até à cerca ou deambulasse pela quinta, mas o pobre monge mais parecia emparedada de S. Nicolau, do que filho de santo Agostinho.
Acertou de vir o imaginário Domingos da Costa armar o retábulo da igreja, que fora traça de Felipe Tércio, e o prior achou por bem, que a tarefa quotidiana de levar a refeição ao artista, fosse do cenobita.
Constrangido, por obediência, aceitou.
Andava o frade no passeio que o incumbiram, quando topa em pequeno arbusto, alegre chilreada de passarinho, que fabricava aconchegante ninho.
Observou o frade que o local era de fácil acesso a felinos, e tentou brandamente assustá-lo; mas renitente, o pardalito, não compreendeu a boa intenção do monge.
Na manhã seguinte, indo examinar os preparos do altar, ao perpassar pelo ninho, verificou, com angústia, que o passarinho tinha sido cruelmente morto.
Havia acontecido a tragédia que tanto receara.
Ao recolher-se em oração, meditando na funesta tragédia que presenciara, reflectiu que, por vezes, por piedade, causamos graves prejuízos aos que amamos.
Deus, em certas ocasiões, castiga-nos drasticamente, todavia a razão de tanta severidade é para nosso bem.
Se o frade tivesse destruído o ninho violentamente, o pardalito teria fugido e iria construí-lo em local mais seguro.

É que Deus, como bem diz o povo: escreve direito por linhas tortas…

DIREITOS

Por Pedro Du Bois (Balneário Camboriú, SC)

A você é dado o direito de desconfiar
das flores coloridas. Nos muros altos
é permitido colocar cacos de vidros:
              sofrer angústias e insônias.

A você é induzido o espírito ao estranho
gesto de despedida e ao corpo o sentido
imaginário da entrega. O direito de privilegiar
o supérfluo e esquecer entre páginas a razão.
Irracional. O direito concedido abomina
a aventura de ser a pessoa em busca

                                        da irrealidade.

IMITAR

Por Pedro Du Bois (Balneário Camboriú, SC)

Ouve o matraquear das armas:
constrói casamatas
          foge de casa no horror da noite
          iluminada:

olha em volta
         vizinhos: não há
         revolta. Há medo.

Apático menino se volta ao som

automático: sua voz imita a morte.

APONTAMENTOS SOBRE O BERÇO DA CABO-VERDIANIDADE

Por Pedro Silva (Portugal)

Após vários anos de afastamento literário, nada melhor para retomar o labor do que abordar um encantamento. Longínquo, mas próximo do coração. Distante, mas perto da alma. Cidade Velha, o berço de onde brotou Cabo Verde!
Fixemos a nossa mente em 1460 ou 1462 como o momento mais importante da sua história, nada consegue disfarçar a questão principal: mais de cinco séculos de vivência quotidiana, repleta de factos, feitos e figuras. A começar pelos navegadores Diogo Gomes e António da Noli, este último com origens em Génova, cidade-estado italiana que deu ao mundo alguns dos melhores marinheiros do passado. Cabem, aqui, também referências a Vasco da Gama, Cristóvão Colombo ou Américo Vespúcio que, algures no período dos Descobrimentos Portugueses, por ali passaram, na qualidade de porto de escala crucial para a navegação atlântica.
Anglófonos como Francis Drake ou o naturalista Charles Darwin aqui deixaram a sua marca. O primeiro, com cariz destrutivo (conforme escreve um dos maiores especialistas da história local, Nuno Rebocho, no seu texto, disponível em: http://cidadevelha1462.blogspot.pt/2014/01/0487-dois-seculos-de-historias-de.html, Dois séculos de história de corsários na Ribeira Grande de Santiago, Cidade Velha), em “1585, Francis Drake, com uma força de cerca de 1000 homens, desembarca em S. Martinho, durante a noite percorre a distância que separa da Ribeira Grande, atacada na madrugada de 17 de Novembro. A população já abandonara a cidade e o saque não terá sido o que os corsários esperavam: por desforra, tudo rapinam, até os sinos das igrejas, e incendeiam Ribeira Grande.” Já o segundo, teve o condão de, ali, dar início à sua Origem das Espécies, título que o catapultou para a fama – independentemente dos detractores – e que por arrastamento histórico deveria colocar a Cidade Velha no topo das enciclopédias universais.
Quiçá mais importante ainda foi a presença do Padre António Vieira, já no século XVII (Natal de 1652). Não apenas defende, de forma acérrima, a ideia de uma escola como também critica a horrenda prática da escravatura. Algum tempo depois, naquela que é a primeira cidade fundada por portugueses em África, nasceria também a primeira escola missionária portuguesa. A sua voz foi menos escutada no que ao comércio de seres humanos diz respeito, pois só em 1869 foi abolida a escravatura no império português.
Todas estas informações históricas, e muitas mais, poderão ser encontradas na obra Cidade Velha, Ribeira Grande de Santiago, com edição da Fundação João Lopes e da Publicom e organização de João Lopes Filho, douto historiador de Cabo Verde.
Não é, porém, a História que aqui nos traz. Ou pelo menos, não é “apenas” a História. Se foi ela que aqui nos trouxe, tornar-se-ia o sentimento na principal razão da confecção deste texto.
No momento em que pousámos no aeroporto da Praia, iniciado estava um dos momentos mais importantes da nossa vida. Pisar o mesmo solo que tais figuras históricas haviam prestigiado com a sua presença. Temperatura amena. Um doce cheiro no ar. Ainda assim, o mítico vento local por vezes teimava em fazer-nos sentir, na pele, a sua preponderância. Meses antes, a Natureza voltara a ser cruel, destruindo a povoação de Chã das Caldeiras e, agora, o vento mostrava que é ela, e não o Homem, que manda.
O trajecto foi tranquilo. Tal como é apanágio de tudo em Cabo Verde. Paz. Sossego. Tranquilidade. Sinónimos de um país. Âmago de um povo. E, finalmente, a Cidade Velha chegava, aos nossos (já) encantados olhos. Casas simples e tradicionais, mas cuidadas, fugindo ao desgostoso aspecto visual das cidades modernas europeias repletas de caixões gigantes, uniformizados numa volumetria excessiva e gritando de forma aberrante aos nossos sentidos. Pessoas simples, mas educadas, atentas e informadas. Beleza natural. Beleza histórica. Monumentos. Maravilhas da Natureza. Vestígios do passado, legados pelo Homem, comprovando que o ser humano não tem, apenas, capacidade para destruir mas pode – se assim o entender – colocar o seu intelecto ao serviço da Humanidade e criar obras tão impactantes como o Convento de São Francisco (século XVII) ou a Fortaleza Real (do século XVI) – mais informações em http://www.cmrgs.com/.
Porém, a título meramente particular, nada nos tocou mais, em termos arquitectónicos, que a Igreja de Santa Teresinha (São Martinho Grande - povoação pertencente ao município, onde mora grande parte da nossa pessoa), a Rua Banana e o Largo do Pelourinho. Pequenos espaços, pequenos momentos, memórias gigantes e eternizadas no nosso coração e alma. E as pessoas, claro, sempre as pessoas: acima de tudo estas pessoas humanas – pese o pleonasmo – como raramente se encontra nos dias de hoje. Porque, por mais que o capital tente escorraçar o sentimento, nada se consegue fazer sem humanidade e sem a Humanidade.
Não foi o dinheiro que tornou a Cidade Velha naquilo que ela é hoje: um espaço onde a morabeza se sente indelével. Foram os seus habitantes. Em períodos de maior ou menor sofrimento - fruto de ataques e invasões externas ou, por outro lado, mercê das intempéries – jamais esta povoação deixou de contar com a entreajuda de todos e com a presença de um sorriso natural. Nos momentos que foram para chorar, deixaram-se as emoções fluir. Sabendo, porém, que o futuro poderia ser risonho. Como acreditamos piamente que possa ser após esta atenta – ainda que curta – visita in loco.
Um pouco de nós ficou ali, plasmado nas ruas que calcorreámos; nas pessoas que conhecemos; no conhecimento que absorvemos. Nada será igual na nossa vida. Aquela que nasceu, historicamente, Ribeira Grande, tornar-se-ia eternamente Cidade Velha e que, agora, tem a denominação oficial de Ribeira Grande de Santiago. Pese embora a toponímia, para nós será – para todo o sempre – conhecida como o Paraíso.