ÁRVORE CRIANÇA VIDA

Por Fátima Paraguassú (ALB, Santa Cruz de Goiás, GO)

Nasce, cresce, multiplica:
Sementes, carinho, germinar.
Útero, trompas, terra, ar...
Semente fortalecida: Sopro de vida.
Brota um raminho frágil. Criança: Árvore que cresce!
O desenvolver de ambas, envoltas em cuidados.
O desenrolar da vida; o primeiro pontapé; o primeiro galho.

Folhas, cabelos, bailam ao vento.
Sombra, choro, riso, burburinho,
Galhos, ninho, passarinho.

Passa-se o tempo. Ambas florescem.
Verão, outono, inverno, primavera:
Caminhos incertos.
Buscam um lugar ao sol. Rumos variados
a vida lhes oferece.
Machado, drogas: Instrumentos de poda:
Um, a árvore perece. Sonhos, o outro desvanece.

Amparadas pelo zelo de quem as plantou;
Guiadas pela luz do criador;
Não há instrumento de poda.
Não há tristeza.
Felicidade ilusória.
Não há sol que murche folha pura,
Não há caminhos tortos a desviar a criatura.
Há apenas alforria, algazarra, passarada;
Alegria emaranhada.

Nasce, cresce, frutifica:
Árvore, criança: Vida!
Fixa à terra, livre ao vento.

Solta pelo chão, presa no tempo.

O BEIJA-FLOR, AS PLANTAS E EU

Por Fátima Paraguassú (ALB, Santa Cruz de Goiás, GO)

Sei que poesia não se explica, mas, houve um tempo, eu era pontual no horário de jogar água nas plantas, pela manhã. Assim que abria a porta da sala, vislumbrava no fio de energia elétrica, próximo ao poste, um beija-flor. Bastava esguichar água nas plantas e lá vinha ele. Sobrevoava uma (trepadeira), em especial, ao lado da piscina. Durante o tempo em que eu ficava ali, ele também ficava. Parecíamos cumplices: o beija-flor, as plantas e eu. Hoje devido a minha inconstância de horário, infelizmente o pássaro sumiu, as plantas continuam no mesmo lugar. Daqueles momentos nasceu este poema.

Pela manhã bem cedinho, um altivo passarinho,
Espreita-me por um fio.
Olha-me sorrateiro,
Como quem chega primeiro, propondo um desafio.

As plantas olham-me, aflitas,
como quem água cogita,
Numa sede sagaz.
O beija-flor comovido, quando a minha imagem vê;
Desce todo encantado, sobrevoa as plantas, ao meu lado;
Dou-lhe água a beber.

Enquanto abebero o jardim florido,
Desce e sobe altiveiro, o pequeno, sorrateiro:
Um voar tão delicado. Não faz nem um ruído.

Ficamos ali, alguns minutos:
O beija-flor, as plantas e eu.
Conversamos animados:
As plantas choram a devastação das matas,
Falo, eu, das bravatas,
O pássaro lamenta a falta da flor.

Quando acaba o ritual
Cada qual seu rumo segue.
Nossos corações batem fortes,
Esperando com euforia,
O reencontro matinal.

A cada nova manhã, tudo recomeça,
Para nós três é uma festa,
Esta cumplicidade de amigos.

Nosso encontro é interessante:
Asas, folhas e línguas soltas.
Falamos de tudo um pouco:
Política, meio ambiente, música,
Esporte. Um bla- bla- bla total!

E, assim, nossas vidas se esvaem.
Cada dia um pouquinho:

As plantas, eu e o passarinho!

LUA, LUZ: CAMINHO.

Por Fátima Paraguassú (ALB, Santa Cruz de Goiás, GO)

Crescente, nova, minguante,
Cheia, lua – encanto!
Insigne companhia!
Inspiração!

Por ti, o cantor, entoa um hino;
O poeta eloquente fala da vida;
O enamorado entrega-se ao amor,
Debruçado em fantasia.

Cada uma de suas fases
É prenúncio de um novo tempo.
Em ti, São Jorge, defende-se do dragão;
Ou não?

Em ti, ó lua,
Vejo minha imagem refletida.
Vejo minha história feliz ou sofrida,
Insidiada pela ilusão.

Sua influência impele-me à realização da quimera;
Ofusca o furor da cratera;
Elucida o clamor do coração.
Lua branca, encantada,
Fogosa, fulgurosa.
Aquece minh ‘alma. Enaltece meu canto. 
Imagem lasciva!
Preenche o vazio entre o céu e a terra.

Insípido o homem, que não admira insofismável maravilha.
Azafamado, nem um instante para,
No intuito de vislumbrar tamanho prodígio.

Raios refletidos: claridade, saudade.
Um convite à serenata...
Quando eu estiver da campa, à beira,
Quero a tua luz fazendo um facho,
Guiando-me às alturas!

SE EU PUDESSE..

Por Fátima Paraguassú (ALB, Santa Cruz de Goiás, GO)

Se eu pudesse compor a partitura da vida,
Construiria muitas pautas,
Em cada uma, um tema de amor.
Comporia canções que alentam.
Cirandas, que a alma alimenta.
Jamais entoaria cânticos de despedidas.

Da primeira à última linha da pauta,
Teceria notas naturais, sem acidentes drásticos:
Menores intervalos para dor;
Maiores para alegria;
Diminutos para tristeza;
Aumentados para o amor.

Se eu pudesse compor a partitura da vida;
Definir os ritmos,
Elaborar os arranjos...
As melodias seriam compostas de
Notas enriquecidas de oportunidades, para que
Velhos, jovens, crianças; qualquer idade,
Pudessem usufruir o tempo; preencher lacunas,
Espaços
Tivessem espaço para amar, em qualquer tempo!

STRENGTH AND POWER

By Pedro Du Bois (Balneário Camboriú, SC)

(Marina Du Bois, English version)

In strenght
the contempt
by the alliance arc

I have in power
the strength I use
in benefit

I enjoy the splendor
and highlight myself before
cheap and fragile enemies

in contempt
the strenght from the arc
without alliance

the blurred view to reaching
the power transferred in pieces.


FORÇA E PODER

Por Pedro Du Bois (Balneário Camboriú, SC)

Na força
o desprezo
pelo arco em aliança

tenho no poder
a força que utilizo
em proveito

aproveito o esplendor
e me destaco perante
inimigos baratos e frágeis

no desprezo
a força do arco
sem aliança

a vista turva o alcance
do poder transferido em pedaços.


RECALL

By Pedro Du Bois (Balneário Camboriú, SC)

(Marina Du Bois, English version)

The remembrance
exceeds the space
granted in gesture
I grant the opportunity
devoid from fallings
            from courts
from impressionists paintings
in outdated modernities

I recall how we were humiliated
on stay and go paradoxes
if we were not glad
in so much denied to the soul
in minor strifes where
equal men are differenciate
and do not realize the inequalities
that move them away in beings
lacking of remembrances.



RELEMBRAR

Por Pedro Du Bois (Balneário Camboriú, SC)

A relembrança
ultrapassa o espaço
concedido no gesto
concedo a oportunidade
desprovida de quedas
                   de quadras
dos quadros impressionistas
em modernidades ultrapassadas

relembro como fomos humilhados
nos paradoxos de ficar e sair
se não estivéssemos contentes
no tanto negado ao espírito
em contendas menores onde
homens iguais se diferenciam
e não notam as desigualdades
que os afastam em seres
desprovidos de lembranças.


LATEST

By Pedro Du Bois (Balneário Camboriú, SC)

(Marina Du Bois, English version)

In the latest shape
I wait for deposits
- fast cars
drive loudspeakers –
from my history’s vestige:

calmed soul
I watch the resto of the burning
Incense and I mismatch myself
in the form’s simplification

                     large uncultivated areas
                 of overlapped layers of sand.


ÚLTIMAS

Por Pedro Du Bois (Balneário Camboriú, SC)

Na última forma
aguardo depósitos
- rápidos carros
conduzem alto-falantes –
do resquício da minha história:

acalmado espírito
observo o resto do incenso
queimado e me desencontro
na simplificação das formas

     extensas áreas não cultivadas
de areias sobrepostas em camadas.

CLARISSE, A CIDADÃ DAS NUVENS

Por Samuel da Costa (ALB, Anápolis, GO)

Agora é oficial, Clarisse é a mais nova cidadã das nuvens, pois passou aquela manhã cinzenta e sonolenta de outono sem sol, com a cabeça flutuando em brancas nuvens. Naquela hora de extrema dor e desespero o pensava de Clarisse pairava na jovem mãe que acabara de se matricular em uma acadêmia de musculação só para mulheres, era a novíssima fixação da jovem mulher naquele momento, como o clube do livro foi no mês passado, a redecoração completa da casa na mês anterior a este e outros objetos de desejos efêmeros de quem não tem preocupações mais sérias na vida. Sempre tinha uma novidade premente e urgente. E a cada efemeridade premente e urgente trazia junto como subproduto o pouco tempo para se dedicar a filha única. Já o pai de Clarisse era todo e só trabalho, o executivo regozijava falando a toda hora em qualquer lugar de planilhas, relatórios, projeções futuras, mercado internacional, retração da bolsa e uma séria de burocratismos entediantes para meros mortais.
Agora parada diante da estante de livros, usava um pesado avental de couro cru, camisa vermelha berrante, cabelo presos, meias multicores que brotavam na palma dos pés e iam terminar acima do joelhos e um par de tênis surrados vestidos nos pés. Parada diante da estante de madeira repletas de livros a mais nova cidadã das nuvens pensou em tudo isso e indo parar de forma rápida no seu amor platônico pelo o motoboy da livraria. Talvez o estilo de vida dele era de fato a real paixão derradeira, a suas idas e vindas, com o vento beijando o rosto, sem horários definidos ou mesmo itinerários preestabelecidos. Foi em olhada rápida nas redes sociais do moço que Clarisse pode se deliciar e passar a amar mais ainda aquela figura ideal, com os gostos daquele homem um pouco mais velho que ela. O amor por fotografia, jardinagem, viagens sem destinos certos, tatuagens, música romântica e poesia por fim. Logo ele uma pessoa tão calada no ambiente de trabalho. Isso tudo se passou num estante na cabeça de Clarisse a nova cidadã das nuvens. Até uma voz estridente a trouxe de volta para a realidade em que vivia, e adeus mundo das nuvens ou melhor até breve.
— Astride... Astride... desce dai e vem cá sua sonsa. Olha pra mim mulher...
Não tinha jeito, fingir estar ocupada já não dava mais. Agora era descer da pequena escada de madeira, se virar e sorrir, escutar aquela criatura como se importasse com ela e a vida mediocreira da criatura. E a palavra cavalgadura brotou instantaneamente na mente de Clarisse de forma natural e espontânea. Ela pensou no fato de trabalhar no lugar a quase um ano e do enorme e chamativo crachá em seu peito escrito com letras garrafais a nome Clarisse. E foi quase vinte minutos de um relato monocórdio, sem sal e muito chato, onde Anna Victória contou em pormenores seu fim de semana com a família que teve a felicidade de conhecer o novo namorado da Anna Victória.
— Nossa amiga que interessante... meu deus que bom amiga...
E vontade de sair dali correndo é outro clichê que Clarisse tentava evitar. E o terraço era uma opção a ser considerado em momentos como aquele. E a cena insólita de ver do alto do prédio o próprio corpo espatifado no asfalto e com pessoas passando ao lado do seu corpo em pedaços a deixou com dor de cabeça. E entre a nova cidadania, família, clichês ela vivia vida na espera de algo novo, não melhor, mas novo e diferente daquela rotina claustrofóbica.

COMPLETAMENTE PURA

Por Samuel da Costa (ALB, Anápolis, GO)

(Para Rute Margarida Rita)

Em êxtase absoluto
Um ignoto convite teu
E mais nada
Para além disso
***
Vem comigo
É um pedido meu
Pegue na minha mão
Eleva-me ao céu
Em um perdido voo sidéreo
 E vamos irmanados navegar
Em meio às estrelas
No cosmo infindo
Ir até a super-nova
***
 Pegou na minha frágil mão
Entre beijos hialinos
E juras de amor eviterno
Tem um pedido teu
Vem! Nós percamos irmanados
Para além do infinito

CORAÇÕES PARTIDOS

Por Samuel da Costa (ALB, Anápolis, GO)

Amoras vermelhas
Flores no jardim
Morangos maduros
Um alento
Um renascer
Algo novo por fim
***
É primavera
No meu coração
Um amor que chegou
Uma saudade que partiu
Esperança enfim
***
Amoras vermelhas
Morangos maduros
***
Uma tragédia
Uma despedida
Laços desfeitos
Um amor que se foi
Dois corações que se se partiram
Em mil nanospedaços

CRUZANDO A FRONTEIRA

Por Samuel da Costa (ALB, Anápolis, GO)

(Para Liege Vicentthe)

Disse de forma indolente
Que queria me ver no domingo
Retruquei que não poderia ser
Não no domingo
***
Mesmo assim insistiu
Pois queria me ver
No domingo
***
Disse que queria me ver
No domingo
Sei lá
Que com intenções
***
Queria porque queria
Ver-me
No domingo
***
Disse lhe
Que no domingo
É um péssimo dia
Para mim
Pois queria ver pela milésima vez
Nove canções
Tendo a solidão tediosa
Como única companhia
***
Disse me
Que tinha uma vontade enorme
De me ver
No domingo
***
Com um fio de voz
Disse que era mais uma
Na multidão
E nada mais para além disso
Uma criança apenas
Sem sal
E sem um pingo de malícia sequer
***
Mesmo assim
Quis me ver no domingo
Como todo a fluidez
Que nova era liquefeita pós-moderna
Exige!
***
Quis me conhecer
Mesmo que fosse no domingo

TÍADES PERDIDAS EM ÊXTASE ABSOLUTO

Por Samuel da Costa (ALB, Anápolis, GO)

(Para Liege Vicentthe)

 O negro vinho 
Que corre
 Percorre
 Escorre
 O corpo incorpóreo
Da suprema deusa mênades
Pronta para me amar
Em êxtase absoluto
***
Tomo-te de súbito
E intempestivamente
Pelos hialinos
E frágeis braços meu
***
 Enclausuro-te
Para todo o sempre
No imaginário
No estro meu
Concubina despudorada
Que me seduz
 Conduz-me pelo universo quântico
Infinito teu
***
Minha negra Valquíria
Sou o teu servo
Minha titânica rainha
Vulcão em erupção
De puro prazer
Ledice encarnada
***
É no cair da mais negra noite
Que se relevas
Somente para mim
E mais ninguém
Oh sacrossanta bassárida
Minha vaporosa nubente

CATHEDRAL (NOIVA DE ÉBANO)

Por Samuel da Costa (ALB, Anápolis, GO)

(Para Liege Vicentthe)

És terra nua
Oceano negro intempestivo
Um universo quântico
Infindo
Um paraíso perdido
Um estrondoso clamor
Um chamado para o além vida
Para o novo Eden
***
És o dia esplendorosamente claro
Um sonho primaveril
E a magnificência obscura
Da profunda e abissal negra noite
Sem fim
 ***
És dona mística
És o sol
És a lua
Encarnas o sol e a chuva
***
És um continente
A muito esquecido
Vagando livremente no estro
Do imortal aedo
Para além do infinito
Do imaginário meu