Revista literária virtual de divulgação de escritores, poetas e amantes das letras e artes. Editor: Paccelli José Maracci Zahler Todas as opiniões aqui expressas são de responsabilidade dos autores. Aceitam-se colaborações. Contato: cerrado.cultural@gmail.com
segunda-feira, 1 de agosto de 2016
ÁRVORE CRIANÇA VIDA
Por Fátima Paraguassú (ALB, Santa Cruz de Goiás, GO)
Nasce,
cresce, multiplica:
Sementes,
carinho, germinar.
Útero,
trompas, terra, ar...
Semente
fortalecida: Sopro de vida.
Brota
um raminho frágil. Criança: Árvore que cresce!
O
desenvolver de ambas, envoltas em cuidados.
O
desenrolar da vida; o primeiro pontapé; o primeiro galho.
Folhas,
cabelos, bailam ao vento.
Sombra,
choro, riso, burburinho,
Galhos,
ninho, passarinho.
Passa-se
o tempo. Ambas florescem.
Verão,
outono, inverno, primavera:
Caminhos
incertos.
Buscam
um lugar ao sol. Rumos variados
a
vida lhes oferece.
Machado,
drogas: Instrumentos de poda:
Um,
a árvore perece. Sonhos, o outro desvanece.
Amparadas
pelo zelo de quem as plantou;
Guiadas
pela luz do criador;
Não
há instrumento de poda.
Não
há tristeza.
Felicidade
ilusória.
Não
há sol que murche folha pura,
Não
há caminhos tortos a desviar a criatura.
Há
apenas alforria, algazarra, passarada;
Alegria
emaranhada.
Nasce,
cresce, frutifica:
Árvore,
criança: Vida!
Fixa
à terra, livre ao vento.
Solta
pelo chão, presa no tempo.
O BEIJA-FLOR, AS PLANTAS E EU
Por Fátima Paraguassú (ALB, Santa Cruz de Goiás, GO)
Sei que poesia não se
explica, mas, houve um tempo, eu era pontual no horário de jogar água nas
plantas, pela manhã. Assim que abria a porta da sala, vislumbrava no fio de
energia elétrica, próximo ao poste, um beija-flor. Bastava esguichar água nas
plantas e lá vinha ele. Sobrevoava uma (trepadeira), em especial, ao lado da
piscina. Durante o tempo em que eu ficava ali, ele também ficava. Parecíamos
cumplices: o beija-flor, as plantas e eu. Hoje devido a minha inconstância de
horário, infelizmente o pássaro sumiu, as plantas continuam no mesmo lugar.
Daqueles momentos nasceu este poema.
Pela
manhã bem cedinho, um altivo passarinho,
Espreita-me
por um fio.
Olha-me
sorrateiro,
Como
quem chega primeiro, propondo um desafio.
As
plantas olham-me, aflitas,
como
quem água cogita,
Numa
sede sagaz.
O
beija-flor comovido, quando a minha imagem vê;
Desce
todo encantado, sobrevoa as plantas, ao meu lado;
Dou-lhe
água a beber.
Enquanto
abebero o jardim florido,
Desce
e sobe altiveiro, o pequeno, sorrateiro:
Um
voar tão delicado. Não faz nem um ruído.
Ficamos
ali, alguns minutos:
O
beija-flor, as plantas e eu.
Conversamos
animados:
As
plantas choram a devastação das matas,
Falo,
eu, das bravatas,
O
pássaro lamenta a falta da flor.
Quando
acaba o ritual
Cada
qual seu rumo segue.
Nossos
corações batem fortes,
Esperando
com euforia,
O
reencontro matinal.
A
cada nova manhã, tudo recomeça,
Para
nós três é uma festa,
Esta
cumplicidade de amigos.
Nosso
encontro é interessante:
Asas,
folhas e línguas soltas.
Falamos
de tudo um pouco:
Política,
meio ambiente, música,
Esporte.
Um bla- bla- bla total!
E,
assim, nossas vidas se esvaem.
Cada
dia um pouquinho:
As
plantas, eu e o passarinho!
LUA, LUZ: CAMINHO.
Por Fátima Paraguassú (ALB, Santa Cruz de Goiás, GO)
Crescente,
nova, minguante,
Cheia,
lua – encanto!
Insigne
companhia!
Inspiração!
Por
ti, o cantor, entoa um hino;
O
poeta eloquente fala da vida;
O
enamorado entrega-se ao amor,
Debruçado
em fantasia.
Cada
uma de suas fases
É
prenúncio de um novo tempo.
Em
ti, São Jorge, defende-se do dragão;
Ou
não?
Em
ti, ó lua,
Vejo
minha imagem refletida.
Vejo
minha história feliz ou sofrida,
Insidiada
pela ilusão.
Sua
influência impele-me à realização da quimera;
Ofusca
o furor da cratera;
Elucida
o clamor do coração.
Lua
branca, encantada,
Fogosa,
fulgurosa.
Aquece
minh ‘alma. Enaltece meu canto.
Imagem
lasciva!
Preenche
o vazio entre o céu e a terra.
Insípido
o homem, que não admira insofismável maravilha.
Azafamado,
nem um instante para,
No
intuito de vislumbrar tamanho prodígio.
Raios
refletidos: claridade, saudade.
Um
convite à serenata...
Quando
eu estiver da campa, à beira,
Quero
a tua luz fazendo um facho,
Guiando-me
às alturas!
SE EU PUDESSE..
Por Fátima
Paraguassú (ALB, Santa Cruz de Goiás, GO)
Se
eu pudesse compor a partitura da vida,
Construiria
muitas pautas,
Em
cada uma, um tema de amor.
Comporia
canções que alentam.
Cirandas,
que a alma alimenta.
Jamais
entoaria cânticos de despedidas.
Da
primeira à última linha da pauta,
Teceria
notas naturais, sem acidentes drásticos:
Menores
intervalos para dor;
Maiores
para alegria;
Diminutos
para tristeza;
Aumentados
para o amor.
Se
eu pudesse compor a partitura da vida;
Definir
os ritmos,
Elaborar
os arranjos...
As
melodias seriam compostas de
Notas
enriquecidas de oportunidades, para que
Velhos,
jovens, crianças; qualquer idade,
Pudessem
usufruir o tempo; preencher lacunas,
Espaços
Tivessem
espaço para amar, em qualquer tempo!
STRENGTH AND POWER
By Pedro Du Bois (Balneário Camboriú, SC)
(Marina Du
Bois, English version)
In strenght
the contempt
by the alliance arc
I have in power
the strength I use
in benefit
I enjoy the splendor
and highlight myself before
cheap and fragile enemies
in contempt
the strenght from the arc
without alliance
the blurred view to
reaching
the power transferred in
pieces.
FORÇA E PODER
Por Pedro Du Bois (Balneário Camboriú, SC)
Na força
o desprezo
pelo arco em aliança
tenho no poder
a força que utilizo
em proveito
aproveito o esplendor
e me destaco perante
inimigos baratos e frágeis
no desprezo
a força do arco
sem aliança
a vista turva o alcance
do poder transferido em pedaços.
RECALL
By Pedro
Du Bois (Balneário Camboriú, SC)
(Marina
Du Bois, English version)
The remembrance
exceeds the space
granted in gesture
I grant the opportunity
devoid from fallings
from
courts
from impressionists
paintings
in outdated modernities
I recall how we were
humiliated
on stay and go paradoxes
if we were not glad
in so much denied to the
soul
in minor strifes where
equal men are differenciate
and do not realize the
inequalities
that move them away in
beings
lacking of remembrances.
RELEMBRAR
Por Pedro
Du Bois (Balneário Camboriú, SC)
A
relembrança
ultrapassa
o espaço
concedido
no gesto
concedo a
oportunidade
desprovida
de quedas
de
quadras
dos
quadros impressionistas
em
modernidades ultrapassadas
relembro
como fomos humilhados
nos
paradoxos de ficar e sair
se não
estivéssemos contentes
no tanto
negado ao espírito
em
contendas menores onde
homens
iguais se diferenciam
e não
notam as desigualdades
que os
afastam em seres
desprovidos de
lembranças.
LATEST
By Pedro Du Bois
(Balneário Camboriú, SC)
(Marina Du Bois, English version)
In the latest shape
I wait for deposits
- fast cars
drive loudspeakers –
from my history’s vestige:
calmed soul
I watch the resto of the burning
Incense and I mismatch myself
in the form’s simplification
large uncultivated areas
of overlapped layers of sand.
ÚLTIMAS
Por Pedro Du Bois
(Balneário Camboriú, SC)
Na última forma
aguardo depósitos
- rápidos carros
conduzem alto-falantes
–
do resquício da minha
história:
acalmado espírito
observo o resto do
incenso
queimado e me desencontro
na simplificação das
formas
extensas áreas não cultivadas
de areias sobrepostas em camadas.
CLARISSE, A CIDADÃ DAS NUVENS
Por Samuel da Costa (ALB, Anápolis, GO)
Agora é oficial,
Clarisse é a mais nova cidadã das nuvens, pois passou aquela manhã cinzenta e
sonolenta de outono sem sol, com a cabeça flutuando em brancas nuvens. Naquela
hora de extrema dor e desespero o pensava de Clarisse pairava na jovem mãe que
acabara de se matricular em uma acadêmia de musculação só para mulheres, era a
novíssima fixação da jovem mulher naquele momento, como o clube do livro foi no
mês passado, a redecoração completa da casa na mês anterior a este e outros
objetos de desejos efêmeros de quem não tem preocupações mais sérias na vida.
Sempre tinha uma novidade premente e urgente. E a cada efemeridade premente e
urgente trazia junto como subproduto o pouco tempo para se dedicar a filha
única. Já o pai de Clarisse era todo e só trabalho, o executivo regozijava
falando a toda hora em qualquer lugar de planilhas, relatórios, projeções
futuras, mercado internacional, retração da bolsa e uma séria de burocratismos
entediantes para meros mortais.
Agora parada diante da
estante de livros, usava um pesado avental de couro cru, camisa vermelha
berrante, cabelo presos, meias multicores que brotavam na palma dos pés e iam
terminar acima do joelhos e um par de tênis surrados vestidos nos pés. Parada
diante da estante de madeira repletas de livros a mais nova cidadã das nuvens
pensou em tudo isso e indo parar de forma rápida no seu amor platônico pelo o
motoboy da livraria. Talvez o estilo de vida dele era de fato a real paixão
derradeira, a suas idas e vindas, com o vento beijando o rosto, sem horários
definidos ou mesmo itinerários preestabelecidos. Foi em olhada rápida nas redes
sociais do moço que Clarisse pode se deliciar e passar a amar mais ainda aquela
figura ideal, com os gostos daquele homem um pouco mais velho que ela. O amor
por fotografia, jardinagem, viagens sem destinos certos, tatuagens, música
romântica e poesia por fim. Logo ele uma pessoa tão calada no ambiente de
trabalho. Isso tudo se passou num estante na cabeça de Clarisse a nova cidadã
das nuvens. Até uma voz estridente a trouxe de volta para a realidade em que
vivia, e adeus mundo das nuvens ou melhor até breve.
— Astride... Astride...
desce dai e vem cá sua sonsa. Olha pra mim mulher...
Não tinha jeito, fingir
estar ocupada já não dava mais. Agora era descer da pequena escada de madeira,
se virar e sorrir, escutar aquela criatura como se importasse com ela e a vida
mediocreira da criatura. E a palavra cavalgadura brotou instantaneamente na
mente de Clarisse de forma natural e espontânea. Ela pensou no fato de
trabalhar no lugar a quase um ano e do enorme e chamativo crachá em seu peito
escrito com letras garrafais a nome Clarisse. E foi quase vinte minutos de um
relato monocórdio, sem sal e muito chato, onde Anna Victória contou em
pormenores seu fim de semana com a família que teve a felicidade de conhecer o
novo namorado da Anna Victória.
— Nossa amiga que
interessante... meu deus que bom amiga...
E vontade de sair dali
correndo é outro clichê que Clarisse tentava evitar. E o terraço era uma opção
a ser considerado em momentos como aquele. E a cena insólita de ver do alto do
prédio o próprio corpo espatifado no asfalto e com pessoas passando ao lado do
seu corpo em pedaços a deixou com dor de cabeça. E entre a nova cidadania,
família, clichês ela vivia vida na espera de algo novo, não melhor, mas novo e
diferente daquela rotina claustrofóbica.
COMPLETAMENTE PURA
Por
Samuel da Costa (ALB, Anápolis, GO)
(Para
Rute Margarida Rita)
Em
êxtase absoluto
Um
ignoto convite teu
E
mais nada
Para
além disso
***
Vem
comigo
É
um pedido meu
Pegue
na minha mão
Eleva-me
ao céu
Em
um perdido voo sidéreo
E vamos irmanados navegar
Em
meio às estrelas
No
cosmo infindo
Ir
até a super-nova
***
Pegou na minha frágil mão
Entre
beijos hialinos
E
juras de amor eviterno
Tem
um pedido teu
Vem!
Nós percamos irmanados
Para
além do infinito
CORAÇÕES PARTIDOS
Por
Samuel da Costa (ALB, Anápolis, GO)
Amoras
vermelhas
Flores
no jardim
Morangos
maduros
Um
alento
Um
renascer
Algo
novo por fim
***
É
primavera
No
meu coração
Um
amor que chegou
Uma
saudade que partiu
Esperança
enfim
***
Amoras
vermelhas
Morangos
maduros
***
Uma
tragédia
Uma
despedida
Laços
desfeitos
Um
amor que se foi
Dois
corações que se se partiram
Em
mil nanospedaços
CRUZANDO A FRONTEIRA
Por
Samuel da Costa (ALB, Anápolis, GO)
(Para
Liege Vicentthe)
Disse
de forma indolente
Que
queria me ver no domingo
Retruquei
que não poderia ser
Não
no domingo
***
Mesmo
assim insistiu
Pois
queria me ver
No
domingo
***
Disse
que queria me ver
No
domingo
Sei
lá
Que
com intenções
***
Queria
porque queria
Ver-me
No
domingo
***
Disse
lhe
Que
no domingo
É
um péssimo dia
Para
mim
Pois
queria ver pela milésima vez
Nove
canções
Tendo
a solidão tediosa
Como
única companhia
***
Disse
me
Que
tinha uma vontade enorme
De
me ver
No
domingo
***
Com
um fio de voz
Disse
que era mais uma
Na
multidão
E
nada mais para além disso
Uma
criança apenas
Sem
sal
E
sem um pingo de malícia sequer
***
Mesmo
assim
Quis
me ver no domingo
Como
todo a fluidez
Que
nova era liquefeita pós-moderna
Exige!
***
Quis
me conhecer
Mesmo
que fosse no domingo
TÍADES PERDIDAS EM ÊXTASE ABSOLUTO
Por
Samuel da Costa (ALB, Anápolis, GO)
(Para
Liege Vicentthe)
O negro vinho
Que
corre
Percorre
Escorre
O corpo incorpóreo
Da
suprema deusa mênades
Pronta
para me amar
Em
êxtase absoluto
***
Tomo-te
de súbito
E
intempestivamente
Pelos
hialinos
E
frágeis braços meu
***
Enclausuro-te
Para
todo o sempre
No
imaginário
No
estro meu
Concubina
despudorada
Que
me seduz
Conduz-me pelo universo quântico
Infinito
teu
***
Minha
negra Valquíria
Sou
o teu servo
Minha
titânica rainha
Vulcão
em erupção
De
puro prazer
Ledice
encarnada
***
É
no cair da mais negra noite
Que
se relevas
Somente
para mim
E
mais ninguém
Oh
sacrossanta bassárida
Minha
vaporosa nubente
CATHEDRAL (NOIVA DE ÉBANO)
Por
Samuel da Costa (ALB, Anápolis, GO)
(Para
Liege Vicentthe)
És
terra nua
Oceano
negro intempestivo
Um
universo quântico
Infindo
Um
paraíso perdido
Um
estrondoso clamor
Um
chamado para o além vida
Para
o novo Eden
***
És
o dia esplendorosamente claro
Um
sonho primaveril
E
a magnificência obscura
Da
profunda e abissal negra noite
Sem
fim
***
És
dona mística
És
o sol
És
a lua
Encarnas
o sol e a chuva
***
És
um continente
A
muito esquecido
Vagando
livremente no estro
Do
imortal aedo
Para
além do infinito
Do
imaginário meu