CECÍLIA MEIRELES (1901-1964)


(Arte computacional por Paccelli M. Zahler)

Cecília Meireles (1910-1964) destacou-se como jornalista, pintora, poetisa, escritora e professora. É patrona da Cadeira nº 08 da Academia de Letras do Brasil, Seccional Distrito Federal – ALB/DF, ocupada pela nossa confreira Meireluce Fernandes da Silva. 


AO PÉ DO RÁDIO

Por Napoleão Valadares (Brasília, DF)

            Não é bom falar sobre coisas tristes. Mas os fatos são tão antigos que talvez nem causem muita tristeza. E vamos a eles.
Quando nos chegou o primeiro rádio, ficamos encantados. Era um aparelho bonito, de jacarandá, com uma seda alvinha na frente, medindo quase dois palmos de comprimento e pouco menos de largura. As pessoas grandes gostavam das novelas, O Direito de Nascer e outras. Nós, meninos, nos interessávamos por músicas. E de noite todo mundo estava ao pé do rádio.
            As coisas tristes a que me refiro eram notícias que ouvíamos nos programas de reportagens. O Repórter Esso era um deles. Notícias de longe, mas que nos deixavam meio chocados e penalizados.        Duas delas foram o incêndio de um circo em Niterói e a queda de uma ponte no município de João Pinheiro. Elas nunca me saíram da memória.
            O caso do circo foi um horror de gente queimada e pisoteada. Um sujeito não tinha dinheiro para comprar o ingresso, pediu que o deixassem entrar sem pagar e, como não consentiram, ele arranjou um pouco de gasolina e botou fogo na lona do circo. Muita morte e muito ferimento. Ouvindo a notícia pelo rádio, imaginávamos o desespero do povo morrendo queimado. E menino ouvindo essas coisas...
            Muito depois, lendo o livro Diário de um Candango, de José Marques da Silva, deparei-me novamente com o caso, pois o autor faz uma referência ao tal incêndio do circo: “Soube que em Niterói ocorrera uma tragédia brutal! Fazia lembrar Herculano e Pompeia, quando o Vesúvio, implacável, soterrou milhares e milhares de pessoas. Mas fora no Brasil, onde temos bombeiros bem equipados, sem que com isso pudéssemos evitar um acontecimento tão funesto. Nada menos de 200 crianças, vidas em flor, conheceram a morte num circo que se incendiara!” E mais adiante: “Que absurdo! 330 pessoas já perderam a vida, apesar da luta que movem os médicos para que esse número não aumente!”
            O outro fato, a queda da ponte, igualmente chocante, deu-se num 13 de dezembro, dia de Santa Luzia. A ponte sobre o Rio da Prata desabou e os carros foram caindo e o povo morrendo, até que um lavrador daquelas beiras, Luiz Goiano, colocou galhos de árvores na estrada, como aviso, impedindo que mais carros caíssem no rio.
            Conversando com Célia, esposa do amigo Anderson Braga Horta, ela me disse que uma sua irmã, Clesi Santos, foi vítima desse acidente. Estava em Brasília e resolveu passar o Natal com os pais, no Rio de Janeiro. E o ônibus em que ela viajava foi um dos veículos que caíram no Rio da Prata.
            Mas nem tudo são tristezas. Ao pé do rádio, meu pai pegava um programa chamado Seu Criado Obrigado. O programa era muito instrutivo e agradável. Consistia em perguntas que os ouvintes faziam por cartas, e em respostas que o locutor dava, com tudo bem explicado. A gente aprendia muito com isso.
            Passaram-se anos. Um dia, vasculhando livrarias, encontrei o livro Seu Criado Obrigado, de Lourival Marques. O locutor tinha feito do conteúdo daquele programa, ao longo do tempo, um livro, contendo as perguntas e as respostas, com nomes e endereços das pessoas. Ali encontrei o nome de um amigo que, naquela época, tinha escrito ao programa. Nada menos do que o escritor Jacinto Guerra, que perguntava: “Por que os Estados Unidos são conhecidos como Tio Sam?” Pergunta assim respondida: “Várias histórias são conhecidas, cada uma explicando a seu modo, a origem da expressão “Tio Sam”. A mais aceita, nos Estados Unidos, é a seguinte: durante a guerra de 1812, um homem de Troy, Nova York, viu as letras U. S. estampadas num grande volume e não sabendo que eram as iniciais de United States, perguntou o que significavam. Por essa época havia em Troy um certo Mr. Wilson a quem todos chamavam de Uncle Sam (tio Sam). A pessoa a quem a pergunta fora feita, querendo divertir-se à custa do outro, respondeu que U. S. eram as iniciais de Uncle Sam, isto é: de Mr. Wilson. A brincadeira logo circulou e em breve se confundiam, permanentemente, Uncle Sam e United States.”
            Telefonei a Jacinto informando-o sobre o achado e lhe dei o livro. E ele, numa crônica de O Gato de Curitiba, trata do telefonema em que lhe ofereci o presente.
Vi mais uma vez que o mundo é pequeno. Aliás, o rádio fez o mundo menor ainda.

Sobre ao autor:Napoleão Valadares é escritor,pertence à Academia Brasiliense de Letras e ao Instituto Histórico e Geográfico do Distrito Federal.

            

DOCUMENTADO

Por Napoleão Valadares (Brasília, DF)

            Fui ao lançamento do livro Filhos da Batina, de Nonato Silva. O livro trata dos padres que tiveram filhos no exercício da missão de padre. E ali se vê que figuras importantes da nossa história e homens famosos são filhos ou descendentes de padres.
 Um deles é José de Alencar, filho do padre que tinha o mesmo nome e que, por sua vez, era filho do padre Miguel Carlos da Silva Saldanha. Portanto, o grande romancista era filho e neto de padres. José do Patrocínio, o abolicionista, era filho do padre João Carlos Monteiro. Clóvis Bevilácqua, autor do Projeto do Código Civil, era filho do padre José Bevilácqua. O escritor Rodrigo Otávio Filho era neto do cônego Rodrigo Inácio de Sousa Meneses. Dom Aquino Correia, arcebispo de Cuiabá, presidente do Estado do Mato Grosso e membro da Academia Brasileira de Letras, era neto do padre Joaquim Gonçalves Dias Goulão. Em Paracatu, o padre Joaquim de Melo Franco deixou descendentes ilustres, entre os quais o neto Virgílio de Melo Franco e os bisnetos Afonso Arinos (autor de Pelo Sertão) e Afrânio de Melo Franco. Apenas para citar alguns exemplos, pois o número é muito grande.
Nada tenho contra os padres que tiveram filhos, tampouco contra os filhos de padres. Ao contrário, sou admirador de alguns deles. Mas, conversando com Nonato Silva sobre seu livro, ele me dá outras informações e acaba por me entregar um jornal contendo um documento. O documento é de 1898 e relata que o padre Fernando da Costa, prior de Trancoso, Portugal, teve duzentos e noventa e nove filhos. Esse padre foi condenado à morte, e o rei Dom João II o perdoou, por achar que ele tinha que ficar vivo para criar os filhos.
            Não se espantem com o número de filhos nem com a sentença de morte nem com o perdão concedido ao padre português. Vai aqui mais um detalhe: ele teve duas filhas com a própria mãe.
O rei mandou pôr o prior de Trancoso em liberdade a 17 de março de 1491 e mandou também guardar o processo na Torre do Tombo, onde se encontra no armário 5, maço 7. O documento, extraído desse processo, é de 25 de março de 1898 e foi reproduzido no jornal “Horizontes Novos”, Ano XIX, Nº 184.

Sobre ao autor: Napoleão Valadares é escritor, membro da Academia Brasiliense de Letras e do Instituto Histórico e Geográfico do Distrito Federal.


DE PESCADOR

Por Napoleão Valadares (Brasília, DF)

            No barco, os três conversavam mais do que pescavam. Mas Ananias, além de conversar, bebia. Os outros tomaram uns tragos e foram parando. Ananias, não. Bebia. Devagar e sempre. A ponto de os companheiros se preocuparem. Vamos ver se pára. Bebendo demais. Aí, de repente, você vai é cair n’água e dar trabalho pra gente. Mas ele nem ligava. Contava suas potocas e virava.
            O sol já baixo e quase nada pegavam. Alguns mandins, um ou outro piau. Mas a prosa animada, gostoso aquele paradeiro, e o rio com sua beleza. Ananias é que foi desanimando devagarinho, encostou-se no fundo do barco e dormiu. Dormiu que roncava. Os companheiros acharam até bom, que pelo menos ele não caía n’água.
            Começou a escurecer e resolveram parar de pescar para fazer a comida. Deixa Ananias aí. Ele não vai dar conta mesmo de subir o barranco. Quando a bóia estiver pronta a gente vem e chama.
            Foram. Por perto da barraca toparam um tatu. Uma idéia: iscar o tatu no anzol de Ananias, que quando ele acordar, vai pensar que está delirando... Assim fizeram. Desceram o barranco, entraram no barco, puxaram a linha dele, iscaram o tatu e jogaram n’água.
            Com a comida pronta, foram chamá-lo. Nada. Nem se mexeu. Dormia a sono solto. Acabaram largando. Se não acordava, como é que ia jantar? Era estender uma coberta em riba e deixar que passasse a noite ali mesmo.
            No outro dia, logo ao amanhecer, foram lá. Ananias, vamos tomar café. Ele acordou assim com um olhar pedrês, olhou para o rio, olhou para o céu, olhou para a garrafa. É, dormi um bocado. Dormiu... agora vamos tomar café, que ontem você nem jantou. É, vamos, mas espera aí, que vou tirar meu anzol primeiro.
            Puxou a linha, estava pesada. Opa! peguei. Puxou, foi tirando, levantou o tatu, olhou para os dois e lascou esta: É até bom vocês aqui pra testemunhar, porque o povo diz que pescador é mentiroso, mas este já é o terceiro que eu pego.

Sobre o autor: Napoleão Valadares é escritor. Autor dos romances “Urucuia” e “Remanso”, entre outros livros. É membro da Academia Brasiliense de Letras e do Instituto Histórico e Geográfico do Distrito Federal..


UNCERTAINTIES

By Pedro Du Bois (Balneário Camboriú, SC)

(Marina Du Bois, English version)

Devoid of uncertainty
I threat the national
pride: to be from here
involves the consequence
to be in the impotence
of the limit

I demonstrate anger
in the open air hours
where I catch hold of myself
when I offer myself

perhaps I will wait
to the feet of the messenger
the uncertainty in threat
of rational diving

in songs.

INCERTEZAS

Por Pedro Du Bois (Balneário Camboriú, SC)

Desprovido da incerteza
ameaço o orgulho
nacional: ser daqui
envolve a consequência
de estar na impotência
do limite

demonstro raiva
no relento da hora
onde me apodero
quando me ofereço

talvez espere
aos pés do mensageiro
a incerteza na ameaça
do mergulho racional

nas canções.

THE CONFESSION

By Konstantinos Spiliotis (Nafplio, Greece)

Wrapped in starlight
Cradled by nymphs in the trees
Whose branches become veins
That stretch across the sky
Like unending prayers to the unknown.
Then you appeared in my dream,
Tangible proof
Of a welcoming embrace
That Fate insists will last
Till the moment it is withdrawn.
And prayers are forever etched
In their totality on the sky
Like a sacred oath
Spelt out by the lips of love
Your own lips.
Now my dream’s embrace
Fills with syllables
That take the shape of my body
And embody the words
“I love you”.


WOMAN

By Konstantinos Spiliotis (Nafplio, Greece)

I become the wind

And before I touch the sun,

I caress the forests,

I’m free!

I have a soul,

I am the soul of beauty.

What I know well is how to feel,

even in the embrace of loneliness.

If you hurt me I will leave you.

If you seduce me I will belong to you.

But remember this :

Always I'm free !


THE SECRET

By Konstantinos Spiliotis (Nafplio, Greece)
  
If you can keep a secret, learn this:
The night, the stars and your passion
brought my magic.
You are cursed by loving me,
Absolutely, truly.
Since you tore my heart with your glance
I hold in my hands your fragrance
but loneliness touches my lips.
and on my body I feel your invisible touch.
So, you are cursed , by loving me,
Slavishly, forever.
I am in your thoughts, every moment that Time marks,
In your eyes I’m like a god,
In your body desire for me dances like fire
like flames that caress the limits of the sky.
Your mind is flooded with adoration
while I live in my dreams.
Your mouth must not abandon the taste of me.
Your lips become dry and find freshness
only on my lips
Never will you forsake my warm embrace.
Find your pleasure, only in me
and in the breathing of my body,
The sound of your rousing,
the climax of your orgasm.
That’s why you are cursed to love me,
emotionally, oppressively.
Whenever you hear nostalgic songs
You will feel my hand caressing your hair.
And when dusk is scented by the fragrance of lilac flowers
Like before, you will be reminded of my eyes.
I'll be the breath inside you, as life goes on.
I’ll be the earth you tread , the trees, the water.
And only this way, will your world be beautified,
Because I’m the mother’s cradling and you are the infant.
Because you have already cursed me for loving you.


BASTARÍA SOLAMENTE CREER

Por Michella Zanarella (Pádua, Itália)

Bastaría solamente creer
en este cielo
que se refleja en el mar
para sentirse parte del mundo.
Tenemos necesidad de la ola
como de la vida
y  en el agua que sigue el viento
está nuestro encuentro hacia las cosas
como la noche que sigue al día.
Entonces tratemos de hallar el azul
que sea horizonte o límite
y dejemos que el alba nos responda
despues de haber sonreído a las estrellas.

(traducciòn de Ana Caliyuri)

Sobre a autora: Michela Zanarella es nacida en Cittadella (Padua), Italia. Comienza a escribir poemas en 2004 y su poesìa ha sido traducida al Inglès, francès, español, rumano, arabe. Ha publicado diez libros de poesìa, ha ganados varios premios nacionales e internacionales. Ella es una periodista independiente de la prensa

internacional.

TO HEAR

By Pedro Du Bois (Balneário Camboriú, SC)

(Marina Du Bois, English version)

Hear in the certainty cry
unsaid truths
at the animal flow
which bursts
against the stone built
in windows and bedrooms

          brings the uncomfortable feeling
          of the meeting: animal
          in the secret of avarice
          body closed to evil

talks uncertain truths: on the windowsill
realizes the tree out of place

          rents thought to mistery
          and consider the opportunity
          of making herself a woman: disappoints
          the lover. Grants to doubt
          the indistinct covered in powder
          of the bright star of morning

                                    complaints.

OUVIR

Por Pedro Du Bois (Balneário Camboriú, SC)

Ouve no grito da certeza
verdades desditas
no caudal do animal
que se arrebenta
contra a pedra construída
em janelas e quartos

          traz a sensação incômoda
          do encontro: animal
          no recôndito da avareza
          do corpo fechado ao mal

conversa verdades incertas: no peitoril
da janela percebe a árvore fora do lugar

            aluga o pensamento ao mistério
            e pondera a oportunidade
            de se fazer mulher: desaponta
            o amante. Concede à dúvida
            o indistinto encoberto no pó
            da estrela radiosa das queixas

                                          matutinas.

DESMERECER

Por Pedro Du Bois (Balneário Camboriú , SC)

Não merece
a insignificância
do dinheiro contado
                 em lendas
                 pelo tempo

negligenciado
no corpo estremecido
              pela idade

não me oferece a face
(áspera) das descobertas
             sob cobertas
             entreabertas
             no verão que surge
                           desabado em chuvas

                           torrenciais de afogados.

OCEANO INFINDO

Por Samuel da Costa (Itajaí, SC)

(Para Bel Lopes)

Negra alma em prantos
Negra dor
Negro choro
***
Em negras lágrimas
Da negra mulher
Da negra dama
***
Um oceano profundo
Sonhos infindos
Infinitos desejos
***
Alma matter
Um desejo secreto
De ter nos braços teu
Um rebento
***
É o vermelho
Que cobre
A divina deusa de ébano
A magnânima
Sacrossanta negra musa

NAS PROFUNDEZAS DO PELÁGIO SEM FIM

Por Samuel da Costa (Itajaí, SC)

Pensei em compor
Um poema abstrato
Com poesia
Que coubesse todos
Os meus profanos abissais sentimentos
Guardados dentro de mim
Afro-diva
***
Ainda ontem
Na infinda noite outonal
Pensei ter ouvido
Ao longe
Em horas impróprias
A tua sinfônica e sonolenta voz
Em um desespero difuso
Clamando por mim
***
Pensei em compor
Para magnânima negra rainha
Que vive nas alturas
Uma écloga surreal
Serão hialinos versos
Como se fossem
Pássaros silvestres
Livres a voar
No celestial céu azul
Da charneca em flor
***
Pensei em compor
Negros versos em chamas
Somente para ti
Minha negra escorpiana

SOU EU DE NOVO

Por Samuel da Costa (Itajaí, SC)

(Para Vivaldo Terres)

Se um dia eu nascer
Novamente
Que eu venha
Com gana
***
Que na minha arte
Nasce no cosmo infindo
Encontre abrigo eviterno
No imaginário
Ganhe as páginas em branco
do livro da vida
***
Se um dia eu nascer de novo
Que eu renasça
Em um mundo melhor
Que a minha negra arte
Se espraie mundo afora
Ecoe na humanidade
E na morada dos deuses e deuses
Possa repousar

MADONNA MINHA

Por Samuel da Costa (Itajaí, SC)

(Para Bel Lopes)

Um desejo lascivo
Ter os turbilhões tétricos
Da ignota lua em sangue
E o cânticos lôbregos
De agonizantes cenobitas
Como testemunhas atrozes
***
Um desejo lânguido
Ter-te diluída ao lado meu
Negra ninfa dos bosques
Para me perder
No tropel cabalístico
Dos cabelos teu
***
És tu
Minha negra rainha
Dilacerando-me
***
És tu minha negra rainha africana
Trespassando o estro meu
Seminua
Inefável
Magnânima
Soberana
Lívida
***
Romani encantada
A dançar a Cabística
Enredada da flor negra halfeti
***
Dou-te um vítreo cristalino
Do imaculado negro vinho
Beba comigo deusa africana
Em virginal pecado
Minha magnificência
Afra imperatriz
***
E um pudico níveo beijo teu
Pecado?
Desejo?
Redenção?
Não sei
***
Criei asas
Em um sidéreo voo notívago
Rumo ao infindo do cosmo profundo
Ao nirvana
Ao lado teu
Arrebatado pelo desejo infindo
Pela negra rainha

ÉS TU SACROSSANTA NINFA

Por Samuel da Costa (Itajaí, SC)

(Para Bel Lopes)

Um clarão negro
Em meio da noite mais escura
***
Quem me deu a mão?
Quando eu perdido estava!
Na languidez profunda!
***
És tu
Sacrossanta negra ninfa
Do bosque encantado
Que conduz a minha mão
Que guia a pena minha
Pelo labirinto do fauno
***
És tu
Dona mística que em chamas
Povoa a minha etérea imaginação
***
És tu minha Nebulosa galáxia
Arcangélica
Negra imperatriz
Que reina absoluta
Suprema
Soberana do estro meu
***
Um clarão negro
Em meio a bruma sidéria
***
Quem me deu a mão?
Quando eu perdido estava!
Na languidez profunda!
***
És tu minha gótica Prima-donna
Que entoa o Bel canto
Que guia a pena minha
***
És tu negra madresilva
Do meu vergel chamas
***
És tu mítica negra rainha
Em perigosas curvas
Embriaga-me
Mata-me de desejo

ENTREGUE NOS BRAÇOS TEUS

Por Samuel da Costa (Itajaí, SC)

(Para Bel Lopes)

Vem minha negra rainha
Abraça-me bem forte
Com o corpo incorpóreo teu
***
Abriga-me no reino
Encantado teu
Não me deixe aqui
Sozinho
***
Faz de mim o eleito
O consorte teu
Eleva-me as alturas
Ao paraíso no lado teu
***
Abriga-me
No reino encantado teu
Minha negra rainha
Negra ninfa dos bosques
Dos sonhos meus

SALVE NEGRA RAINHA

Por Samuel da Costa (Itajaí, SC)

(Para Bel Lopes)

Um hialino desperta!!!!
Pelo sorriso teu
E mais nada
Para além disto…
***
Um brevíssimo momento
No novo mundo
***
Na pós-modernidade liquefeita
No paraíso perdido
Artificialmente fabricado
***
Sou o aedo teu
Venerando minha
A saudar-te em negras linhas
Dispersas para todo o sempre
No mundo virtual
***
Sou eu sagrar-te
A consagraste-te
Por fim
Em éclogas pós-modernas:
- Salve minha edênica rainha!
- Salve minha afro-deusa imortal…
Salve sacrossanta musa
Postada majestosamente
Ad aeternum no trono de marfim
***
Sou o menestrel teu
A saudar-te:
- Salve minha negra rainha
- Salve deusa de ébano
***
Criastes asas magnificência minha
Em um voo sidéreo
A trespassar
O cosmo infindo
Abrigar-te no perdido templo
Na morada deuses e deusas

NEGRA NINFA

Por Samuel da Costa (Itajaí, SC)

(Para Bel Lopes)

Quem dera ser
O vermelho manto
Que em um místico abraço
Enlaça o sacrossanto
O Corpo incorpóreo teu
***
Quem dera
Em um quimérico sonho
Eu possa assenhorar-se
Da morada dos deuses e deusas imortais
E ficar equidistante ao lado teu
***
Tomar o alaúde
A lira
Para se tornar o teu rapsodo
Para compor o Bel canto
Para a minha
Divinal Urânia encantada

O DESPERTAR DA DEUSA DE ÉBANO

Por Samuel da Costa (Itajaí, SC)

Acorde
Desperte
Pois se passaram
Mais de dois mil anos
Luz negra da minha vida
E ainda estou aqui
De pé
Ao lado teu
***
Acorde
Desperte
Erguar-se do sono eterno
Por favor
Eu te imploro
Minha vaporosa negra ninfa
Que habita
O sacrossanto estro meu
Pois a mítica floreste negra
Arde em chamas
***
E daqui a pouco
O aedo teu
Tem que partir
Vai se dissipar
No além do infinito
***
Acorde
Desperte
Rainha de ébano
Pois se passaram
Mais de dois mil anos
O bardo ainda se encontra aqui
De pé ao lado teu
Morrendo de amores
Por ti