Por Paccelli José Maracci Zahler (Brasília, DF)
Revista literária virtual de divulgação de escritores, poetas e amantes das letras e artes. Editor: Paccelli José Maracci Zahler Todas as opiniões aqui expressas são de responsabilidade dos autores. Aceitam-se colaborações. Contato: cerrado.cultural@gmail.com
segunda-feira, 1 de outubro de 2018
CARTÓRIO DO TEMPO
Por Paccelli José Maracci Zahler ( Brasília, DF)
eras tu, minha ilusão também,
sinais dos tempos e das velhices,
das continuidades, e das estultices,
incertezas de mil e uma etapas
ao que era
antigamente,
duração eterna de um passado,
ao tempo que era sentimento
de juventude, amor calado!
no ano de uma década bonita,
repentinamente, tua boca inaudita
ficou em amargo silêncio.
nossa vida mudou, tomando outros rumos...
perdemos tempo e continuidades,
perdemos tempo e cumplicidades.
O MAR DO SENHOR DOS ANÉIS
Por Maria Félix Fontele
(Brasília, DF)
Quando o mar está de ressaca,
tudo pode acontecer. Com o ventre inchado de rajadas de vento, o gigante
embriagado vomita turbulentas e enormes ondas e quem estiver por perto pode ser
arrastado pelo refluxo selvagem de sua náusea. É preciso ter paciência com o
mar nesses dias atípicos, de pura voracidade, a engolir e a ejetar turbilhões
de coisas, a se livrar do mal-estar da viração.
Receosa, toquei de leve suas
águas, ali em Copacabana, e pedi calma porque queria mergulhar nele sem ser
puxada ferozmente. Tive a leve sensação de que me comunicava com aquele
espírito colossal, pois, em alguns instantes, apareceu-me pacífico, e pude
imergir deliciosamente.
Em seguida, voltei tremendo para
o abrigo da areia e naquele momento vi um homem com roupas coloridas. Carregava
detector de metais e escavadeira. Seu nome: Francisco dos Santos ou
simplesmente Kiko, mais conhecido como Senhor dos Anéis do Mar, lenda das
praias do Rio de Janeiro, sempre em busca de bens em dias de ressaca marítima.
Nessa fase, as ondas titânicas também podem expelir opulência. Kiko disse-me
com olhar obcecado: o mar é rico, tem tesouros escondidos. Aos trinta e quatro
anos de idade, quatorze naquela tarefa, gabava-se de ter recolhido dezenas de
alianças, anéis, correntes de ouro, além de muitas moedas. Tudo afanado pelo
mar daqueles que inocentemente entregam-se às suas águas. Mas, naquela manhã, o
Senhor dos Anéis conseguiu achar poucas moedas.
Como ele, há inúmeros desses
garimpeiros no Rio, principalmente agora em época de crise e de desemprego em
massa. Após a “pescaria”, vendem as peças e assim sustentam suas famílias.
Todos sonham em encontrar a fortuna de Eike Batista, ofertada em 2016 a
Iemanjá: 700 barras em ouro, cada uma no valor de 1 mil reais. Eike teria sido
aconselhado por videntes a devolver ao mar o que tirou dele durante anos de
exploração, para que voltasse a ser milionário!
No outro dia, era só calmaria. O
sol expulsou o vento e o frio. Que belo é o encontro da luz com a superfície do
oceano! Eu pedi tanto ao sol que se abrisse, mas sabia, lá no fundo, que Kiko e
seus colegas de ofício queriam tempo fechado e mar bravio. E assim caminha a humanidade,
cada qual, e ao seu modo, em busca de tesouros e de felicidade.
Na foto, Kiko, o garimpeiro em
busca de ouro.
O LAMENTO DO POVEIRO
Por Humberto Pinho da Silva (Porto, Portugal)
Naquela
luminosa e limpa manhã de Agosto, destes dias tórridos de verão, estava lendo
sonetos de Florbela Espanca, na praia dos Beijinhos, na Póvoa do Varzim;
quando, atónito, reparei, que era espiado, por alguém, que revirava,
dissimuladamente, os olhos, sobre o jornal, que lia.
Era
homem entrado em anos. Mal escavacado; magro; olhos frios e tristonhos. Nariz
levemente adunco; cabelos ralos e brancos.
Encarei-o:
olhos nos olhos; e sorri.
Voltou-se,
afável, acercando-se; e em voz branda e velada, disse-me:
-
“ Já não se lê versos de Florbela! …Nem dela, nem nenhuns… Já não há
romantismo…nem gratidão!”
Murmurei,
em surdina, um “ acha”, interrogativo.
Então,
o homem, prosseguiu:
-
“ Quando era rapazelho, cheguei a decorar versos de
Florbela…Depois…emigrei. (Era moço da terra, pobre.) Deixei-me de literatice.
Minha senhora, até, costumava dizer: “ Letras, são tretas…”; mas tenho pena… –
Desabafou, com pontinha de tristeza, bailando nos olhos inexpressivos.
Sorri;
perguntando para onde emigrara, para alimentar conversa:
-
“ Para França. Empreguei-me, “atão”, como guarda numa fábrica de
cerâmica. Ai conheci a “patroa”, que fazia limpezas. Casei…Alugamos modesta
casita, nos subúrbios de Paris. Aforramos quanto podíamos. Graças a Deus nunca
passei fome. Ajuntei pé-de-meia, e regressei. Com “francês”, da minha criação,
montei casa de pasto.”
Depus
o livro sobre os joelhos, e picado pela curiosidade, escutei-o atentamente.
-
“ Minha esposa – continuou, – tem dedo para cozinha.
Preparava, que era de ver, os pratos. Eu andava numa roda-viva: “ João!: mais
cerveja; João!:café e bagaço; João!: traz-me cigarros; João, para aqui!; João
para ali!…” Chegava à noite estouradinho. Até os pés formigavam!…
Leve
nuvem de tristeza, anoiteceu-lhe o rosto macerado.
-”
Aposentou-se? – Atalhei.
-”
Canté! Começou, aqui na Póvoa, a febre da construção. Era um Deus nos acuda.
Meti-me no negócio. Coisa pequena…Mas as pernas pesavam-me…Ficaram uns cepos!;
e “atão”, a mulher, coitadinha, estava
chupadinha de tanto trabalhar…”
-
“ Reformou-se?” – Interroguei; aguardando a continuação da história, que
começara a interessar-me:
-
“ Sim. Construí mansão, que se vê. Tem quatro quartos, com banheiro,
completo. Um para cada filho…Mal sabia eu, que transcorrido meses, partiam cada
um para seu lado. Até a princesazinha se foi! …para a terra do marido! Fiquei
eu e a velha…Sempre na esperança que nos venham visitar…”
-
“ “ Certamente, que sim…” – interrompi, a medo.
-”Canté!
Passam meses que nem telefonam! …Andam nas lidas…Dizem que é bom ter filhos.
Com filhos ou sem filhos, o destino é sempre o mesmo: ficarmos sós. Trabalhei a
vida toda. Para quê?! Diga: para quê?! … A cada passo ouço: Fulano faleceu! … Sicrano
- era tão bom rapaz! - lá se foi… Tinha tantos sonhos!…Mas tudo deu nisto, no
que vê!… “ - Abriu os braços, em
gesto de desanimo
Calou-se
de repente, desalentado. E ficou, de olhos vazios, mirando as ondas azuis,
lambendo, suavemente, a areia morena da praia. Procurando, quiçá, na imensidão
do mar, resposta para a desilusão.
E
enquanto escutava o desabafo, recordava, meditando, a parábola do homem rico
(Luc12:16,21): “ O campo dum homem rico tinha dado abundantes frutos… e
disse à sua alma: tens muitos bens em depósito, para largos anos: descansa,
come, bebe e regala-te…”
E
o Homem de Nazaré, concluiu: “ Néscio!: esta noite te virão demandar a tua
alma; e as coisas que ajuntaste, para quem será?”
Pergunto,
agora: Para quê tantas canseiras? Tantos sofrimentos? Tantos desejos e invejas?
Tanta vaidade e orgulho? Tanta ambição desmedida?! Morre o homem, nada leva…
Com tão pouco se pode ser feliz! …
Chegava,
abafado, com o murmúrio do mar azul, o ciciar confuso de vozes; e sobre tudo,
flutuava a voz longínqua e arrastada, do vendedor da praia: “ Chora, chora, que
a mamã dá! …”
Asas
brancas, de brancas gaivotas, executavam graciosos arabescos, sobre a areia,
pejada de gente. Depois…num voo ascendente, perderam-se, diluídas na névoa dos
céus de A-Ver-o-Mar…
Silêncio…Serenidade
convidativa ao repouso e à meditação.
(João,
é nome fictício, para não ser fácil identificar o meu interlocutor.)
VIDA
Por Pedro Du Bois (Balneário Camboriú, SC)
Não digo a vida me basta
no pouco que me serve
tonto de prazer
olhares trocados
de amor e ódio
remanescentes
dos predadores
nos caminhos
descaminhos
onde nos tornamos
humanos implacáveis
a vida me basta
e tola me serve
em desprazer.
LIFE
By Pedro Du Bois (Balneário Camboriú, SC)
(Marina
Du Bois, English version)
I
do not say life is enough for me
in
the little that serves me
dizzy
with pleasure
exchanged
stares
of
love and hate
remnant
of
the predators
on
the paths
misdirections
where we became
ruthless humans
life
is enough for me
and
foolishly serves me
in
displeasure.
FRIO
Por Pedro Du Bois (Balneário Camboriú, SC)
Inútil fazer de conta
as bruxas podem
estar soltas
nesta noite
seus risos de escárnio
seus dentes faltantes
seus olhares tortos
em dissimulações
presentes na oração
em que o coração confessa
o dia: a noite chega
no gargalhar que nos faz
medo e desgraça
inútil fechar as portas:
cobertas não protegem
do frio na solidão do corpo.
COLD
By Pedro Du Bois (Balneário Camboríú,SC)
(Marina
Du Bois, English Version)
No
use pretending
witches
may be
loose
tonight
their
mocking laugh
their
missing teeth
their
crooked stares
in
concealment
present
in prayers
in
which the heart confesses
the
day: the night arrives
in
the laughter that makes us
afraid and disgrace
useless
close the doors:
blankets
do not protect
from
the cold in the solitude of the body.
TIA FRIEDA
Por Urda Alice Klueger (Enseada de Brito, SC)
(Para tia Frieda Klueger Klein)
Sei que tia Wanda nasceu em 1909 e tio Erich era um
recém-nascido na grande enchente de 1911. Em algum momento entre essas datas e
1922, que foi quando nasceu meu pai, veio ao mundo tia Frieda, uma das 3 filhas
mulheres dos meus avós Klueger.
Ela era quase que como uma lenda da minha infância:
morava no Rio de Janeiro e vinha uma vez por ano, normalmente em dezembro. Num
país ainda sem estradas, tenho lembrança do tempo em que vinha de navio, mas
depois vinha de avião, que era um grande luxo para aquela época (vou me omitir
de falar na década em que viajar de avião deixou de ser luxo, para não ferir
suscetibilidades). Sua chegada era uma festa, por seu sotaque diferente, seus
lindos sapatos feitos sob medida num sapateiro para comportar seus pés grandes
e magros e também pelos presentes que trazia para as sobrinhas, as últimas
novidades da moda, como anáguas de pele de ovo recobertas de renda de nylon,
coisa mais linda, como ninguém aqui pela província ainda não tinha, sem contar
umas inteiramente diferentes balas de coco que se derretiam na boca,
inigualável iguaria. Uma vez quis inovar, comprou chocolates suíços, mas viu
meninas pequenas reclamando:
- Tia Frieda, e as balas de coco?
Nunca mais se esqueceu de trazê-las.
No decorrer da minha vida fui aprendendo a dela:
estimulada pela minha avó, que na juventude vivera experiência semelhante, aos
15 anos respondeu a um anúncio de jornal, que procurava moças distintas e
trabalhadeiras para serem governantas na então capital do país, e de Blumenau
foi para o Rio de Janeiro, via Itajaí, onde viveu uma aventura que me
encantava: como havia que esperar alguns dias pela saída do navio em que
viajaria, ficou numa hospedagem onde também estava uma Fraulein Schossland,
jovem como ela, e as duas aprontaram uma arte: quando o cervejeiro parou sua
carroça diante da hospedagem e entrou para saber se se precisava de mercadoria,
elas subiram à carroça e manobraram a mesma até uma outra rua, onde a abandonaram.
Voltaram andando calmamente, a tempo de verem o cervejeiro em desespero pelo
sumiço do seu veículo. Nunca ninguém desconfiou delas.
Não
deve ter sido fácil seus primeiros tempos no Rio, e ela contava do seu choro de
tristeza nos domingos solitários numa cidade desconhecida. Mas em algum momento
apareceu o príncipe encantado, o namorado, tio Sebastião Klein, simpático
cavalheiro que foi seu companheiro o resto da vida.
Viviam-se tempos atrozes, no entanto. Na Europa
grassavam as loucuras de Hitler e o antissemitismo, e o tio Sebastião era
judeu, coisa que até então não me dizia nada, e eles viviam com muito medo do
que poderia vir a acontecer. Quanto mais aprendo a História desse período, mas
vejo que eles tinham razão.
Assim, esperaram o final da Segunda Guerra para
casar-se – ela tinha, então, 30 anos, e ele, 45. Devido à instabilidade
histórica em que viviam, decidiram não ter filhos. Na casa dos meus pais havia
uma bela fotografia desse casamento, bem como cartões postais e outras fotografias
do Rio e da vida que levavam num lugar chamado Cosme Velho, que sempre soube
que era perto dos Arcos da Lapa, mas aonde nunca fui: quando, afinal, conheci o
Rio, tia Frieda e tio Sebastião tinham vindo morar em Joinville/SC. As fotos lá
de Cosme Velho a mostram sempre muito elegante, cuidando de uma pequena horta e
um pequeno galinheiro. Sei que ela recebia pedidos para fazer esmeradas tortas
que deve ter sido daquelas que aprendeu na casa da minha avó, e que tinha seu
pé de meia por conta disso.
Tio Sebastião partiu antes dela, e ela o seguiu um
pouco depois, morrendo daquelas mortes ímpares, quando se sente um primeiro mal-estar
e, sem sofrimento, sai-se voando para outras plagas.
Tenho dela uma foto que minha mãe usava sobre a mesinha
da sala. Acabei de ver, no entanto, que o tempo e a umidade estão fazendo seu
trabalho, e que já há danos na foto. Achei que era tempo de fotografar a mesma
e escrever isto – como ela era linda! É como uma despedida, e choro um pouco,
aqui, porque o tempo não volta. Nunca poderei esquecer a emoção das chegadas dela, a cada ano, com suas balas de coco e suas
anáguas de nylon!
Herdei uma pequena biblioteca que ela tinha, e foi
através dela que conheci Jane Eyre! Quem diria que uma das minhas tias lia
romances de tal quilate!
Sertão da Enseada de Brito, 25 de agosto de 2018.
ESTÁ NO YOUTUBE
Por Urda Alice Klueger (Palhoça, SC)
No ano passado eu fiz
duas cirurgias de catarata. Como se faz uma hoje e outra dentro de 15 dias, e
há que esperar a cicatrização e depois um óculos complicado (meus olhos é que
eram complicados), tive que ficar 75 dias sem ler, o que, para mim, é uma coisa
terrível. Não podia ler mas podia ver vídeos - e foi–aí que mergulhei no
youtube e fui vendo as mais diversas coisas. Em algum momento, bati no assunto
“Segunda Guerra Mundial”, e comecei a ver as coisas sobre as quais tinha lido
em criança (fui alfabetizada em 1960, exatamente quando estavam a sair os mais
diversos livros sobre a Segunda Guerra).
Se muitos daqueles livros me deixaram sem dormir na
infância, os vídeos, então, me colocaram num espaço de horror ainda não
imaginado. E há que pensar que os livros de 1960 traziam uma realidade muitas
vezes veladas, e que os vídeos de 2017 deixavam de ocultar muito do que
acontecera 70 anos antes, e muitos tinham até certificado de cartórios como se
tratavam de vídeos verdadeiros, registrados pelo general tal ou tal, tantos
estadunidenses quanto soviéticos. Com o Brasil descendo a ladeira
aceleradamente e o mal grassando à solta pelo nosso país, aproveitei para fazer
um estudo sobre a Segunda Guerra Mundial, mergulhando naquela loucura
fotografada ou filmada (o cinema já era realidade forte, então, e cineastas de
qualidade acompanharam as tropas por todos os lados, sem contar os amadores).
Não era uma procura mórbida. Eu tentava entender até onde podia ir a maldade do
ser humano, para tentar entender o Brasil. Foi terrível chegar a conclusão: a
maldade do ser humano não tem limites.
Penso que você já ouviu falar do holocausto judeu, mas
imagino que não ouviu falar do holocausto ucraniano ou holocausto lituano, ou a
dizimação inexorável de populações inteiras, como as deficientes mentais
(físicos também – e olhe lá, usar óculos é ser deficiente físico, caso você
ainda não se antenou), homossexuais, ciganos, testemunhas de Jeová, inimigos
políticos, grandes pensadores, grandes historiadores... e a lista segue.
Penso que você já ouviu falar em Auschwitz, mas não faz
ideia de que campos de extermínio e de trabalho escravo chegavam a quase mil –
isso aí, MIL. Talvez você já tenha ido à Europa e tenha passeado pelos caminhos
bem ajardinados de Auschwitz e até chorado diante das montanhas de óculos e de
sapatos e de cabelos que lá estão em um museu – e os outros quase MIL campos,
onde as pessoas eram sumariamente mortas ou colocadas em trabalho escravo e
mortas por inanição? Meu amigo, esses vídeos estão ao alcance de qualquer um no
www.youtube.com, e eu o aconselho a ir
conhece-los o quanto antes – só vai fazer bem para a sua vida, torna-lo mais
humilde por pertencer a uma espécie tão nojenta quanto a nossa, capaz de
enlouquecer coletivamente, como aconteceu com o povo alemão naqueles anos
anteriores à guerra e no decorrer da guerra – pois muitos campos eram rodeados
de residências onde as pessoas viviam normalmente com suas crianças e seus
cachorrinhos de estimação, SABENDO o que se passava do outro lado do muro da
sua casa, pois não havia como não ver, não ouvir e não sentir o cheiro de
churrasco que tomava conta dos espaços enquanto se queimavam milhares de
corpos, e por aí vai. Sim, o povo alemão estava enlouquecido e foi conivente
com a terrível barbárie que aconteceu do lado de lá das suas cercas, e o meu
horror, agora, é ver uma boa parte do povo brasileiro enlouquecida também, prestes
a apoiar barbaridade semelhante. O que aconteceu naquela ocasião é o que se
chama de fascismo, e agora ele está batendo bem forte nas nossas portas.
Dentro de alguns dias teremos eleição para presidente
da república, e um dos candidatos posiciona-se abertamente como fascista, e
fico horrorizada quando vejo que aquele candidato tem a simpatia, quiçá a
idolatria de uma boa parcela dos brasileiros. Por favor, antes da eleição, vá
ao www.youtube.com e veja aqueles vídeos.
Não se pode admitir que tal fascismo venha a tomar conta do Brasil como um dia
dominou a Alemanha.
Palhoça, 18 de setembro
de 2018.
O EVITERNO E O EFÊMERO
Por Samuel da Costa (Itajaí, SC)
Eu
penso na longa marcha que os movimentos sociais das minorias de poder fizeram
até aqui. No que a dita oficialidade, o Brasil oficial para alguns, abriu de
espaços para as minorias de poder, o Brasil real para os outros. Os espaços em
câmaras setoriais nas municipalidades Brasil afora. Eu penso nos muitos
encontros, foros, fóruns de debates, nas grandes mobilizações de rua nos
grandes em centros urbanos, nas capitais estaduais e na capital da federação.
Eu penso nos espaços que os partidos concederam nas suas estruturas de
internas, setoriais das mulheres, negros, LGBT, indígenas, sindicais,
estudantis e por ai a fora.
Eu
penso e penso muito nos debates nas academias, defesas de teses e estudos
afins. E nos enormes avanços, nas últimas décadas, com governos progressistas
municipais, estaduais eleitos e na tomada do governo central por forças
progressistas via voto popular. Nos muitos prefeitos, governadores e
parlamentares eleitos gays, lésbicas, negros, mulheres, indígenas, operários e
por a fora eleitos via voto popular.
Para
que serviram e para quer servem agora diante do avanço de um caboclo
neofascismo brasileiro. Liderado por uma figura controversa, para dizer o
mínimo. Um neofascismo à brasileira, sem líderes, sem organização, sem partido,
um movimento de extrema direita espontâneo por fim. Com uma agenda grotesca,
até para os padrões dos seus similares europeus.
Penso
se não foi por brincadeira, ou foi de verdade os nacos de espaços de poder
ofertado para as minorias de poder até aqui. Se foram espelhos dados como
presentes para a gente carregar o pau Brasil para os galeões rumo as metrópolis
para enriquecer o rei e a rainha.
Por Samuel da Costa cidadão
brasileiro
É MIMIMI?
Por Clarisse da Costa (Biguaçu, SC)
As
advogadas negras nesse país têm nome, VALÉRIA SANTOS. A população está se
sentindo injustiçada com tamanho absurdo e vendo toda a notícia repercutir e
com as imagens, não tem como não pensar o contrário, que nisso tudo a cor da
pele pesou. Vi em várias redes sociais comentários absurdos. E mais uma vez nós
negros somos colocados como pessoas que só falam mimimi. Até quando vamos ter
que aturar isso?
O que mais me chamou atenção foi o contrário em que dizia que O RACISMO SÓ EXISTE PORQUE CENAS COMO ESTAS SÃO VISTAS COMO RACISMO.
Nossa, somos poucos, nós negros vemos racismo onde não há!! Imagine, o Brasil é terra da democracia e igualdade!
O que mais me chamou atenção foi o contrário em que dizia que O RACISMO SÓ EXISTE PORQUE CENAS COMO ESTAS SÃO VISTAS COMO RACISMO.
Nossa, somos poucos, nós negros vemos racismo onde não há!! Imagine, o Brasil é terra da democracia e igualdade!
É
muito lindo tudo que eu li nos comentários quando se trata de um país onde a
sociedade é machista e racista. Os dados oficiais do IBGE mostram-nos todos os
dias as desigualdades sociais, abusos acometidos para com os negros e negras, a
taxa baixa de salário, o desemprego,... Só falta todos dizerem que foi
coincidência da advogada presa em questão ser negra.
É mais cômodo. Pois a população branca neste
Brasil insiste em dizer que vivemos num país democrático, igualitário e sem
racismo. Ela foi mais uma mulher injustiçada. Para você ter uma noção em média
são 54% de mulheres negras mortas por homicídios no Brasil em relação à 10% de
mulheres brancas. É mimimi do negro? Ou coisas de um país desigual?