Revista literária virtual de divulgação de escritores, poetas e amantes das letras e artes. Editor: Paccelli José Maracci Zahler Todas as opiniões aqui expressas são de responsabilidade dos autores. Aceitam-se colaborações. Contato: cerrado.cultural@gmail.com
segunda-feira, 1 de março de 2021
NINHOS
Constrói o ninho
aninha os filhos
- sustenta o vento
sobre o nada
civilizado –
sonha a refeição diária
entre galhos: vê o alimento
ser transportado
- sustenta o acaso
da conquista –
desconstrói a vida
em pequenos pedaços
(torna opaca a sensação
de saciedade ao ver
os filhos irem embora).
DOM PEDRO II E A CIDADE DO PORTO
Por Humberto Pinho da Silva (Porto, Portugal)
Sempre existiu
amizade, entre os Imperadores e a população da cidade da Virgem; e desta, pelas
terras de Vera Cruz, pois muitos foram os portuenses, que fizeram fortuna no
Brasil.
Seu pai, D.
Pedro I, chegou mesmo a legar, ao burgo tripeiro, o coração, grato pela forma
como sempre foi recebido nessa cidade.
D. Pedro II
realizou duas visitas à cidade do Porto.
Na primeira,
foi recebido apoteoticamente pelo povo, que com entusiasmo O aplaudiu ao longo
do trajecto, entre a estação ferroviária das Devesas, em Gaia, e a cidade do
Porto.
Na segunda, o
Imperador, viu falecer, no burgo portuense, a Mulher (filha do Rei Francisco I,)
o que agravou, ainda mais, a aflitiva angustia em que vivia, pela afronta que
lhe fizeram ao destrona-Lo. Ele, que sempre foi correcto, justo, pronto a
perdoar a todos mesmo aos antagonistas.
Acerca de D.
Pedro II, Ramalho Ortigão, escreveu, em Junho de 1971, nas “Farpas”,Vol. XII:
“O Sr.
D. Pedro II cultivou o seu talento: é filólogo, é naturalista, conhece a
história, a filosofia, a química, a medicina. De sorte que, quando um grande
homem faz um discurso ao imperador, o imperador remunera-o fazendo um discurso
ao grande homem”
Existe
interessante livrinho, impresso em Coimbra, no ano de 1872, intitulado: “
Viagem dos Imperadores do Brasil em Portugal”, que minuciosamente descreve
a primeira estadia do Soberano:
Desembarcou, o
Imperador, no dia 1 de Março de 1872, pelas seis e meia da manhã, vindo de
comboio, na estação das Devesas (Gaia), sendo recebido pelas autoridades e
muito povo. A banda de música do Palácio de Cristal, animou a recepção.
Seguiram os
Soberanos, para o Porto, atravessando a bela Ponte Pênsil, que fora engalanada
de vistosas bandeiras, assim como todas as artérias, por onde passava o
Imperador, com: galhardetes, arcos e bandeiras.
Nesse mesmo
dia, visitou, na Igreja da Lapa, o mausoléu, que contem o coração de D. Pedro –
Seu Pai.
Deslocou-se
depois: à Igreja de S. Francisco, à Igreja da Misericórdia, ao antigo Convento
de S. António, em S. Lázaro e à Academia de Belas Artes.
À noite D.
Pedro II concedeu, no Hotel do Louvre – que ficava na esquina da Rua do Rosário
e a Rua do Triunfo (actual D. Manuel II) – recepção, a numerosos convidados,
que durou cerca de duas horas.
Assistiu, de
seguida, no teatro Baquet, à comédia de Machado de Assis: “ O
Caminho da porta”.
No dia
seguinte, o Imperador, aguardava, no hotel, a visita do romancista Camilo
Castelo Branco, mas este desculpou-se de não estar presente, invocando motivo
de saúde.
Sem vaidade,
simples, como sempre foi, D. Pedro II, resolveu deslocar-se à casa do escritor.
Luiz
Oliveira Guimarães, em: “ O
Espírito e a Graça de Camilo” – Edição Romano Torres – 1952, – conta-nos
o curioso encontro:
“ Em
1872, Camilo que morava, então, no Porto, na Rua de S. Lazaro, foi visitado
pelo Imperador do Brasil, que o condecorou com a Ordem da Rosa. Na pequena sala
do romancista, havia, pendurados na parede, além de vários retratos dos Braganças
, o retrato do poeta Béranger. O Imperador detinha-se a examinar a pequena
galeria, quando Camilo observou:
“ -
Vossa Majestade está a contemplar os retratos dos seus avós…
“-Mal
imagina, meu amigo, em que eu estou a reparar! Estou a reparar que Béranger tem
expressão muito mais feliz do que os meus antepassados…
“ - E
sabe Vossa Majestade porquê?
“ Porque
é menos perigoso fazer versos, do que decretos!”
Mais tarde o
escritor dedicar-lhe-ia o romance: “ Livro de Consolação”.
A segunda
visita e última à cidade, pelo D. Pedro II, foi, como disse, angustiosa e
dramática:
D. Pedro II
hospedou-se no Hotel do Porto, na Rua de Santa Catarina. A Imperatriz, muito
doente, faleceu, a 28 de Dezembro de 1889, dizendo angustiosas palavras de
tristeza: “Ó Brasil… minha terra tão linda e não me deixam
lá voltar!...”
Era preciso
translada-La para o Panteão de S. Vicente (de Fora) em Lisboa. O Imperador não
possuía a quantia necessária.
O médico, Mota
Maia, condoeu-se da atroz aflição, e foi contar ao Cônsul, o embaraço de sua
Majestade. Este, movido de compaixão, lembrou-se do Visconde de Alvares
Machado, homem rico, que fizera fortuna no Brasil.
Avisado pelo
Cônsul, o Visconde, prontamente emprestou a quantia solicitada – vinte contos
fortes.
Deste modo
evitou-se o constrangimento de se pedir empréstimo bancário, e que a noticia caísse
no domínio publico.
Doente, amargurado,
triste, o Imperador (e Família,) partiu para o exílio, onde faleceu, a 5 de
Dezembro de 1891 – com 66 anos de idade, – no hotel Berdford, em Paris.
D. Pedro II
era um homem culto, inteligente, notável intelectual, admirado e respeitado em
todo o mundo.
O prestígio
granjeado pelo Imperador, levou o governo republicano de França a realizar as
exéquias só prestadas a Chefes de Estado, na igreja Madeleine.
A urna, que
continha terra brasileira, terminada a cerimonia, foi transportada, de comboio,
para Lisboa, onde foi sepultado no mausoléu Real de São Vicente de Fora, ao
lado de Sua Mulher, a Imperatriz Tereza Cristina Maria.
Trinta anos
depois da sua morte, era proclamada a lei do banimento, que permitiu, que os
restos mortais do Imperador e Sua Mulher – a 8 de Janeiro de 1921, – fossem
trasladados para Petrópolis, Brasil.
DEIXEM EÇA EM PAZ, JUNTO DA FILHA MARIA
Por
Humberto Pinho da Silva (Porto, Portugal)
Por proposta de ilustre
deputado, Eça de Queirós, vai ser transladado do jazigo de família, para o
Panteão Nacional. Honra merecidíssima, que só peca por tardia.
Agora pergunto: se o romancista
pudesse ser consultado, o que diria? Ele, que sempre foi tão avesso à sociedade
lisboeta, e severo critico dos políticos de seu tempo.
A transladação irá efectuar-se após 120 anos
da sua morte. Porquê?
Talvez a explicação seja pelo
facto dos filhos e esposa, do romancista, terem professado ideologia diferente
ao regime da sua época.
Para exemplificar o que disse,
lembro, que no dia seguinte ao nascimento de Dona Maria das Dores – neta de
Eça, – seu tio, dirigiu-se ao registo Civil, de chapéu.
Lembraram-lhe que devia
descobrir-se, em respeito à estátua da República, que existia na sala.
Respondeu
com sobranceria: “ Não conheço essa senhora!”
Foi expulso da repartição, e a
menina só foi registada, a 19 de Julho de 1918. Por essa e outras atitudes
semelhantes, dos filhos, principalmente do José Maria, Dona Emília, mulher de
Eça, foi avisada: se a família não quisesse servir o regime, o Estado seria
obrigado a retirar-lhe a pensão, que tinha direito, como viúva de diplomata.
A família não gostou da
advertência, e expatriou-se, juntamente com outros membros da família do Conde
de Resende.
Seria essa a razão, do
romancista, não ter ido, até agora, para o Panteão?
Não sei. Certo é que 120 anos
depois da sua morte, ser-lhe-á feito justiça.
Presentemente repousa junto de
“Serra”, que imortalizou, no romance: “A Cidade e as Serras”, que
Fidelino de Figueiredo admirava e Dona Maria das Dores – Marquesa de Ficalho, –
conheceu quando leu as obras do avô.
Os livros de Eça, admiráveis no
estilo, encontram-se salpicados de passagens de mau gosto moral. Talvez porque
assim queriam os editores.
Sua neta, a Marquesa de Ficalho
confessa: que não teve coragem de terminar “ O Crime de Padre Amaro”, e
acrescenta na entrevista concedida ao: “Jornal de Gaia” – 19/Set. / 2003:
“ Sempre fui um bocado
respeitadora, pelo menos numas coisas, enquanto noutras talvez não seja.”
Dona Emília Cabral – neta do
escritor, – declarou numa entrevista que realizei, que o avô não queria que os
filhos, mormente a Maria, lessem os romances.
Em carta dirigida a Rodrigues
de Freitas, Eça, escrevia: “ Os meus romances importam pouco: está claro
que são medíocres; o que importa é o triunfo do Realismo.”
Estou de acordo que o lugar de
Eça é o Panteão, ao lado de outros ilustres (serão todos ilustres?); mas
arrancá-lo, 120 anos depois, da sepultura de família, da região que tanto amava
e sempre foi acarinhado, não será violência a ele, e à terra que o acolheu?
Depois, o grande Camilo –
Mestre dos Mestres, – segundo António Feliciano de Castilho e Vasco Botelho de
Amaral, e que o grande Unamuno, considerou “ O Amor de Perdição” um dos
livros fundamentais da Literatura Ibérica, não se encontra, igualmente,
esquecido na capela de amigo, na cidade do Porto?
E tantos e tantos ilustres figuras,
de maior grandeza, não estão “abandonados” nos cemitérios deste Portugal?
A homenagem é bonita e justa,
mas chega demasiadamente tarde.
Deixem Eça em paz, na sua
“Serra”, na tranquilidade do cemitério de Santa Cruz do Douro, junto da querida
filha Maria ,que tanto amava, do neto D. Manuel de Castro e de Dona Maria da
Graça Salemo. Será essa – a meu ver, – a maior homenagem que se pode fazer ao
ilustre escritor e diplomata.
TARDE DE JANEIRO
Por Vivaldo Terres (Itajaí, SC)
Numa tarde eu me lembro
Era janeiro
Ela sempre acostumava
A se aproximar de mim
Feliz e sorridente
Com aquele jeito de adolescente
Que a deixava
Cada vez mais bela
Eu falo a verdade era segredo
Mas querendo ou não
Eu já sentia amor por ela
***
Naquela tarde foi diferente
Ela se aproximou de mim
Triste e abalada
Ela estava só
Sem seu sorriso e a alegria
Que sempre fizeram parte
Da sua linda vida
****
Eu a perguntei
O que estava acontecendo
Ele me disse em tom tristonho:
̶̶̶ Eu falei para minha mãe
O que estava sentido!
E o que ele me respondeu
Me causou tristeza
E desengano
O que sinto não são coisas simples
São coisas do coração
Até porque estou amando alguém
E se for me declarar
Com certeza zombara de mim
E me dirá o não
***
Eu disse quem sabe
Poderás estar enganada
E esse alguém que estás apaixonada
Pode te amar em segredo
E por timidez não te dizer nada
***
Ela sem que eu esperasse
De mim se aproximou
E colando seus lábios
Aos meus
Após esse belo instante
Ela se declarou
E eu me declarei
E ali começou entre nós
A mais bela história de amor
***
Falei com seus pais
Que consentiram no nosso namoro
Nós nos casamos
E somos felizes
E não foi por um dia
Pois já faz muitos anos
PARA A MÃE ÁFRICA (EU ME REBATIZO)
Por Samuel da Costa (Itajaí, SC)
Em memória a Miguel
Maria da Costa
Ao som
de todos
Os
sagrados tambores...
Para
arte profana...
Para o
povo que sofre…
A dor
eviterna da diáspora!
Eu me
rebatizo!
***
Vou me
rebatizar.
Para
ti oh Mãe África!
***
Dos ridículos
da vida...
Volto
para ti!
Para a
minha sacrossanta
Mãe
África,
***
Volto
para ti…
Com
todo o rigor.
Para
música profana!
***
Eu me
rebatizo.
Para
toda a música profana...
Do
batuque e para dança!
Para
toda a música profana...
O
batuque...
Eu
volto somente para ti
Oh
minha divina Mãe África...
Samuel da Costa é poeta em Itajaí SC
OS RISCOS QUE A MULHER PRETA ENFRENTA
Por Clarisse da Costa (Biguaçu, SC)
Às vezes paro e penso em tudo. Custo a crê na
mulher que floresceu em mim. Foi tanta opressão de todos os lados que eu pensei
que a sociedade fosse me moldar. Pensei como seria o meu cabelo liso, se eu
seria bem aceita. Tive um período de raiva, não queria saber mais do meu
cabelo, estava difícil cuidar. Eu me sentia sozinha sem os amigos. A solidão
parecia bater na minha porta. Primeiro que namorar estava difícil.
E continua sendo. Trançar o cabelo foi a melhor
forma, preso era como se eu me escondesse e ninguém mais pudesse me ver. Eu
queria ser invisível, pelo menos a cor da pele não ia fazer a diferença, o meu
corpo fora dos padrões não ia ser julgado.
Nossa, até parece um exagero meu! Mas não é
exagero e nem lamento, a mulher preta já nasce oprimida. A boneca é branca, nos
comerciais 5 crianças brancas e uma preta como atestado de que não existe
racismo no Brasil, e sim uma democracia forte.
Nas minhas lembranças ter um diário era coisa
para menina branca. O que uma menina preta tinha para escrever de tão
importante? Eu ouvi inúmeros questionamentos quando ganhei o meu primeiro
diário. E eu só queria escrever. Acho que já ali nascia em mim essa escritora
que eu sou.
Mas quando você começa você começa sem apoio e
literalmente sozinha. É um mundo estranho para muitos principalmente para a
família. Eles entendem como trabalho aquilo que dá estabilidade e carteira
assinada para receber o seu dinheiro todo fim do mês.
Fazer a sua própria escolha seguir o seu caminho
requer coragem. Algumas vezes vem a rejeição. Aí você tem que aprender a ser
forte mais do que o normal. O tempo todo temos que nos posicionar e jamais
abaixar a cabeça pra sociedade.
Clarisse
da Costa é militante do movimento negro e poetisa em Biguaçu SC.
Contato:
clarissedacosta81@gmail.com
COLORISMO
Por Clarisse da Costa (Biguaçu, SC)
Vamos falar sobre colorismo. Eu
confesso que desconhecia esse termo,até mesmo porque para mim é algo natural
essa variante de tons de pele na comunidade negra. Eu mesma sou negra de pele
clara.
Mas o assunto está aí e não é tão
difícil de entender.
Eu dei uma pesquisada e pelo meu
entendimento colorismo é o termo muito usado para diferenciar as tonalidades da
pele negra. Vai do tom mais claro ao tom mais escuro.
E como bem sabemos essas
tonalidades podem permitir a inclusão ou exclusão do indivíduo na sociedade.
E como surgiu esse termo? Surgiu em
1982, fora usado pela escritora Alice Walker em um dos seus livros. O nome é
"The Present Looks Like?".
Traduzido em português seu nome é "Se o presente se parece com o passado,
como será o futuro?".
Eu vejo o colorismo como algo ruim.
Primeiro que ele crua tonalidades de pele como se a gente fosse uma cartela de
cores desde os tons mais claros aos tons mais escuros. O que pode facilitar a
vida de alguns e dificultar a vida de outros.
Quando me refiro a isto estou me
colocando no papel da sociedade. Porque ao
me ver basta ser da raça negra para sofrer discriminação racial e isso não se
pesa na balança, não se calcula quem sofreu menos ou quem sofreu mais. Dói na
alma do mesmo jeito.
Segundo que o colorismo vem para nós
anular querendo diferenciar tonalidades de pele como se isso fizesse com que a
gente se tornasse menos negro, o que nos tornaria aceitável para a sociedade.
Resumindo o colorismo é uma forma
de discriminação com base na cor da pele.
Clarisse da Costa
POESIA NOS PÉS
Por Clarisse da Costa (Biguaçu, SC)
Eu poderia estar pisando numa poça d'água se
não fosse tão tarde. A chuva que cai esta noite me traz tantas recordações. Eu
consigo me ver com os meus barquinhos de papel e os meus pés pisando no barro
vermelho em frente à minha casa. De alguma forma eu tinha uma liberdade mesmo
que limitada. Os tempos eram outros. Dá para acreditar que o céu era mais azul?
Falando assim até parece que alguém andou dando um retoque na cor como se o céu
fosse a tela de um pintor famoso.
Mas é que as perspectivas daquele período eram
outras. A gente sonhava sem ter a certeza de alguma coisa. É como se a gente
sonhasse apenas por sonhar. Vai que por acaso acontecesse. Desculpa. Esqueci
que o acaso não existe.
Mas também não dá pra dizer que o destino tem
data marcada para acontecer. O calendário é mero figurante! Pisar na terra onde
a gente morava sempre foi a certeza de que tínhamos um lugar para onde voltar.
A hora mais esperada era o fim de aula. Pelo caminho eu via flores, copo leite,
boca de leão, Maria sem vergonha e rosas vermelhas.
O barato era sentir e ver a vida se
transformando diante dos meus olhos. Nada de pressa. Correr era só na hora da
brincadeira. Por que na infância tudo parece tão mais fácil e leve? Um grão de
areia fora do lugar não tinha importância. A gente só fazia questão de ri.
Tudo tinha graça. Dona Maria cantando era
poesia. O sol na janela era sinal de que já era dia. E tudo começava outra vez num
pulo só você saia da brincadeira de corda. Com um pulo só você não conseguia
que São Loguinho atendesse o seu pedido. Crendice? Não sei. O santo nunca
falhou comigo.
Eu sempre dei três pulinhos. O engraçado é que
a gente cresce e algumas coisas vão com a gente. Eu ainda acordo e vejo flores,
o sol clareia o meu quarto mesmo com a janela fechada. O barro é o mesmo barro
vermelho, mas agora piso em concreto. Não é mais possível pisar no chão. A vida
continua indecifrável.
Acho que é assim para todo ser humano. Não dá
para saber tudo nem entender de tudo. É mais provável que a vida queira que a
gente apenas viva. Viver até o último sopro de vida. A morte também é mero
figurante! E nós somos passageiros. É muita ingenuidade achar que somos
imortais.
Somos eternos nas memórias de algumas pessoas e
nas fotografias coladas em álbuns. No meu tempo fotografia era sinônimo de quem
tinha dinheiro. Pobre e preto tinha as suas lembranças gravadas na mente.
Se você pensar bem as lembranças mais fortes
nós temos com os pés descalços. Seja na areia da praia, na escola correndo,
brincando no nosso quintal ou no colo da mãe. Lembro de mim ralando o joelho e
a mãe cuidando de mim, o remédio ardia, mas isso não tirava o meu olhar do seu.
Era o meu segundo lar aqueles olhos.
Não sei como tem gente que não curte poesia, a
vida mesmo é um traçado poético! Mas é compreensível, às vezes a gente só gosta
daquilo que entendemos. Acho que é mais cômodo para o ser humano. A tendência é
que o ser humano queira que tudo venha fácil, sem obstáculo, sem luta. Bem
sabemos que um pouco de esforço não faz mal a ninguém.
Eu bem que queria saber como seria o mundo se
ele fosse sempre o mundo lúdico de uma criança. Será que os adultos seriam tão
chatos e julgadores uns dos outros? Acho que a resposta nunca terei. Até porque
não cabe ter todas as respostas.
A vida mesmo não é para ter respostas prontas.
Existem coisas na vida que levam tempo para acontecer. É como o despertar de
uma flor, os primeiros passos de uma criança e o sol que se põe no horizonte.
Dá até para perceber as transformações das
passagens do tempo conforme a nossa longa caminhada. Eu nunca pisei firme. Eu
sempre tive a instabilidade na ponta dos dedos. Mas eu nunca parei de tentar.
Clarisse
da Costa é cronista e poetisa em Biguaçu Santa Catarina.
Contato:
clarissedacosta81@gmail.com