sexta-feira, 1 de outubro de 2021

FARAÓ DO CERRADO



Von Steisloff (Brasília, DF)


(homenagem ao amigo Alberto Fernando Monteiro do Nascimento)

 

De tanto ver crescer as mansões de Brasília, de tanto ver agigantar-se o número das piscinas nessas vivendas e de tanto ver multiplicarem-se as churrasqueiras, o observador chega a desanimar-se diante da própria insignificância e rir-se da sua pobreza pessoal.  O atrevido pobretão imagina – filosofando –, que vive entre uma multidão de faraós que habitam por ali. São os faraós de inusitadas condições, pois que, sobrevivem muito antes de morrer em suas sonhadas pirâmides maiores ou menores.

Naquele longo e humilde trajeto diário, o homem sente-se, às vezes, como um pária social. Não é para menos: a visão daquelas mansões dá para despertar um sentimento de inferioridade no pobre carroceiro no interminável vaivém catando restos de papel no bairro chique. Às vezes feliz, às vezes jubiloso, na sua resignação com o “Destino que Deus lhe deu”. “Ora!” – imagina com otimismo compensatório – “Não tenho nada com que mepreocupar!”. Por certo o pobre pária do século XXI refere-se às angústias dos promitentes compradores das Mercedes-Benz, das Bentley ou BMW. Os ostensivos e confortáveis desperdícios paralisados nas garagens tal como tentadores bibelôs nas vitrines de luxo. Será o medo da perda material que ronda os poderosos faraós do Lago Sul ou do Lago Norte da capital federal?

 Mas o pária continua com sua mente bipolarizante: Esses carrões de 200 cavalos estão limitados; não podem mesmo ultrapassar dos 70 quilômetros e eu, com o matungo emprestado, vou ganhando a minha boa vida livre; bem devagar e sem os receios dos faraós. Não tenho qualquer medo porque, tal como uma lesma, na lentidão, não provoco a inveja!”.

É isso mesmo, as mansões dos lagos sul e norte são, na fértil imaginação do catador-de-papel, como formidáveis pirâmides erigidas na dura realidade nos limites máximos dos financiamentos bancários, vigiadas nos rigores das ameaçadoras cartas de hipotecas.

 Os horizontes financeiros regulam a imponência, a metragem, a altura e o conforto das pirâmides. Mas todas têm de ter obrigatoriamente uma churrasqueira e, pelo menos, uma piscininha. Sauna?  Algumas têm, mesmo sem uso, para não ficar por baixo do faraó-vizinho É costume manter-se uma espécie de competição e igualdade de status com a vizinhança das outras pirâmides faraônicas.

 Uma sinalização típica do poder do faraó-do-cerrado é a frota de carros importados ou mesmo nacionais, mas do ano. As garagens, propositalmente devassadas, exibem, sem pudor, através dos portões automáticos, as lustrosas máquinas maravilhosas. Esses locais destinados às dúzias de carrões são, vergonhosamente, bem maiores que os tugúrios. Aquelas casas miseráveis de papelão dos incômodos dos vizinhos Os párias-vizinhos sem bens ou sem as nobrezas e origens misteriosas desses faraós sem conta que dominam o cerrado  devastado. Faraó-do-Cerrado é aquele ricaço dos papeluchos bancários, meio escondido; propositalmente quase anônimo, por trás das sebes sempre verdes e protetoras.  Afinal”– deve imaginar o faraó-do-cerrado Nessa merda de deserto tenho que marcar minha presença e passagem por Brasília”.  

E lá vai, todo dia, o catador-pária olhando, discreto para as centenas de hectolitros das azuladas águas das hiper-piscinas ladrilhadas. Ele não consegue conter a comparação com as suas escassas latinhas do mesmo líquido juntado para o gasto da família amontoada no seu barraco quase ao lado da imponente pirâmide.

“Ô vidinha infeliz!” – deveria estar maldizendo o pária – “Cadê a Justiça deDeus?!”.Imprecaria o pária?!  Nada disso! O pária, não exibe o passado, não sabe nem o que seja um currículo de vida e não tem os temores do futuro. Nem mesmo a mísera carroça mambembe da caixotaria descartada lhe pertence. Outro pária-catador passou-lhe, por empréstimo forçado, aquele veículo e junto o matungo de tração. O compadre – também pária – estava detido pela Polícia de Brasília por ter sido flagrado circulado com o citado “veículo” antiestético em local proibido do Plano Piloto do Distrito Federal.

“Um homem sem bens nada tem a temer”. Máxima tirada filosófica tanto deste herói em foco como de todos os párias conscientes e assumidos.

Aliás, por falar em temer, o que mais teme um faraó-do-cerrado não é propriamente a morte. Por serem, na mais das vezes, profundamente religiosos são, por convicção filosófica, crente da gratificação de Deus. Acham que levarão para a eternidade as indulgências plenárias. Graças alcançadas porque doaram migalhas; aquelas incomodativas sobras que abarrotavam por gastanças: as velharias dos tênis, das roupas em trapos e outras tralhas que entupiam os quartos de despejos ou as preciosas vagas das garagens ladrilhadas.

Na verdade, o que teme o faraó-fajuto são as consequências da pós-morte: a briga de foice da parentela famélica digladiando ansiosa pós-velório do de cujus pranteado. Os seus bens transformados em butim. Todos os juntados pelo faraó falecido. Preocupa-lhe e tira-lhe o sono, ainda em vida, os problemas do dispendioso inventário a seguir quando for transposto para condição ex.

Ah! Os espertíssimos advogados a garimpar-lhe a história, até íntima, na busca dos direitos de todos os sucessores visíveis e ignotos, até mesmo do contra-parente parasita! Isso sim causa temor em vida ao faraó-do-cerrado.  Atormenta-lhe a aparente falsa tranquilidade que rodeia os seus dias e noites em festas e comemorações caras e infindáveis. Se bem que o faraó-do-cerrado tudo pode proporcionar, ainda em vida, para sua enorme prole. Família bem planejada, mas desregrada no mundo das exigências. São felizes enquanto tudo podem e tudo têm.

Às madrugadas, quando o faraó volta costumeiramente bêbado para sua confortabilíssima pirâmide, encontra-a vazia, silenciosa, carente de aconchego sincero. Onde estão os seus? Será que vagam pela noite de Brasília em busca de outros prazeres maiores que os disponíveis na pirâmide zelosamente planejada? Onde estão seus filhos, os herdeiros dos bens materiais amealhados?

Pobre faraó-do-cerrado! Periga até esborrachar-se enfartado nos litros do generoso wiskey.  Ninguém lhe poderá socorrer. Nem a circunstancial e bela esposa, chique e perfumada lhe espera para um carinho sincero de boas-vindas. Outrora era tão diferente! Agora? Ora, agora ela também dorme encharcada no azedume de outros porres. Curte um significativo ronco noturno para não testemunhar e nem ceder às abordagens noturnas do repugnante faraó alcoolizado sem amor.

Essa imaginação da vida depravada típica do faraó-do-cerrado povoa a mente do pária que passa, em silêncio, sempre por perto do portão de fecho eletrônico. Quanta diferença entre o pobre carroceiro e o faraó! Aquele não necessita dissimular para os seus iguais: gente simples sem a fortuna do Destino não carece nem mentir.  Este, o faraó, pobre de amizades, vive de mentiras por necessidade social. Por conveniência busca ser sedutor, fascinar e, às vezes, diz SIM quando quer dizer NÃO. E – coitado! –, diz NÃO quando a vontade é dizer SIM. Coisas de gente fina da sociedade hipócrita.

O faraó-do-cerrado não vive dilemas morais. Está acima das convenções das regras inventadas pelos moralistas. Quando ultrapassa limites, mesmo graves, acode-lhe um batalhão de causídicos eficientes e ávidos nas justificativas do procedimento antissocial.

O autêntico faraó-do-cerrado afoga-se, quase naufragante, no trabalho a que se dedica por inteiro desde as onze da manhã varando, na mais das vezes, até madrugada. O antigo calor do lar agora vazio, não lhe atrai mais cedo. Ninguém lhe espera. Quando entra na segura e sólida pirâmide solitária, já vem farto dos bons restaurantes das rodadas de compromissos dos iguais da sua corte: os outros assemelhados faraós-do-cerrado.

Ah! Que diferença de sorte e de vida! O pária levanta antes do sol para não perder na competição diária. Os seus pares – outros párias – estarão todos muito cedo, ainda na escuridão, chafurdando, respeitosamente, as latas dos lixos piramidais e os contêineres ministeriais na busca do papelão e dos restos preciosos de papel malbaratado.

Pela noite volta o pária cansado para os braços da amorosa companheira que o espera para juntos, sorver com imenso prazer, um bule inteiro de café de eflúvios contagiantes! Naquela simplicidade e aconchego do alegre barraco, confessam e podem praticar o gratificante amor carnal de todas  as noites. Este pobre homem feliz agora pode dormir quase bem ao lado de faraó desgraçadamente rico, infeliz, trancado e seguro, mas insone e sem ninguém na bela pirâmide soturna.

A suposta diferença dos seres humanos que dormem quase ao lado, reside nos seus potenciais de sonhos. O faraó-do-cerrado vive e sustenta o comportamento onírico pelos padrões da desastrada economia ocidental. Ele quer consumir desbragadamente. Às vezes na sua mania de exibição, acelera com o pé no fundo os doze cilindros da Mercedes saturando, sem piedade ou pudor ecológico, o ar, queimando a gasolina de cem octanas!   O seu pretenso gigantismo econômico não passa, por fim, de um miserável caçapo: os compromissos, as dívidas, o apego aos bens ao peso de ouro torna sua existência acachapante.

 Veja que grandiosidade de contraste! Enquanto o faraó acelera o carrão de 200 cavalos com violência irracional, o pária compraz – às noites – em jogar um balde de refrescante água no lombo suado do valioso matungo. Veja que ironia: um único cavalo que lhe garante o pão de cada dia!  O pária, em contrapartida, na sua modéstia do viver, não depreda os parcos recursos ao seu dispor. O seu trabalho honrado é apenas de busca e gratificação para um sustento mais que adequado ao Ser Humano. Sonha, quando muito na extravagância, em um domingo ensolarado banhar-se, sem gastos no, Lago Paranoá. É, por isso, o contraponto do “inteligente” e portentoso vizinho com a sua economia ocidental moderna, avassaladora e escravizadora tecnologia ilimitada e sem rumo. O pária, talvez sem dar-se conta, desfruta uma existência sábia nos padrões da economia budista...             

 

NOTA DO AUTOR:

Alberto Fernando Monteiro do Nascimento se mostrava cioso das origens da sua Caruaru, Pernambuco. Mesmo com sua ascensão profissional não descuidou de cultuar os detalhes da gostosa (no dizer dele) música popular brasileira. Conseguiu, só Deus sabe como-, compatibilizar a carreira com os compromissos inadiáveis. Granjeou o mestrado em Economia Rural pela Universidade Federal de Viçosa/MG e juntou-se à fechada equipe de professores nas alterações políticas, estratégicas e táticas da ciência do ensinar. Sem alarde tornou-se um luminar responsável no mar de Gestão complexa da Universidade Católica de Brasília. Representou a sua instituição perante um seminário na Harvard University, nos Estados Unidos. Pressões poderosas da vida levaram-no ao infarto fatal. A família enorme e os chegados, sabia do seu desejo simples, mas apoteótico pós morte: no instante da cremação o deslizar do seu caixão à fornalha final ao som mavioso de adeus do cavaquinho dedilhado pelo garoto Ian Coury. Palmas, sem lágrimas e adeus querido Alberto! 

DIA DA ÁRVORE

Por Marcelo de Oliveira Souza, IWA (Salvador, BA)


Ceifada !

Crescida  e desamparada

Na rua ou na estrada

Representando muito

Ilusoriamente estagnada .


Na luta diária 

Está sempre desamparada

Nos fornece sombra 

Vida, alimentos  de jornada.


Todos motivos inventam

Cupins, projetos, queimada...

Tudo para  árvores ser predada.


Nosso conforto 

É seu sofrimento, ceifada

Nossa vida mais bonita

Com você bem plantada.


Entretanto só uma fagulha

De ideia mal plantada... 

Consome sua vida

Atormenta  a nossa vida 

Nesse fim pensamento 

Com prática desvairada.


DESDOBRAMENTO NA ÁFRICA

Por Marcelo de Oliveira Souza, IWA (Salvador, BA)

Estávamos numa estrada seguindo para o hotel, perto de uma estação de trem, não sei por que veio o nome de Madagascar. 

Quando no caminho vi à minha direita um vasto oceano, resolvendo descer e adentrar uma avenida com a pista sem asfaltamento, até chegar à praia. 

De repente já estava descendo uma escada em forma de espiral e atrás de mim tinha um homem também descendo essa escada, falando comigo em francês, imaginei que estivesse apressado pedindo licença. Eu o deixei passar, seguindo  o meu caminho, onde tinha uma senhora carregando um monte de sacola, que  me ofereci para ajudá-la a carregar as suas compras. Ela sorriu e aceitou, onde seguimos até sua casa. Ao chegar lá, a mulher apresentou-me o dono de um mercadinho, pareceu que era esposo dela ou alguém íntimo, onde o mesmo apresentou-me aos seus funcionários. Segui o meu caminho até a tão esperada praia - que não era muito grande, com uma rocha enorme no seu caminho -  quando cheguei lá, tinha um rapaz que foi logo empurrando uma espécie de cartão onde abriu três garrafas que tinha o aspecto de cerveja,  colocou dentro desse cartão as três tampas, dando a entender que tinha sido a minha consumação obrigatória. Eu falei que não bebia e logo ele fez uma cara insatisfeita com a minha opção, foi onde ele logo tratou de oferecer água, onde fui levado a aceitar; um menino encaminhou-se a uma garrafa muito grande e encheu a garrafinha. Foi quando eu disse que já estava bom, ele entregou a mesma para mim e o dono fez as contas numa máquina, usando-a inclusive para transformar o valor em dólar e os cento e poucos valores, ficaram exatamente dois dólares. Com a garrafa na mão, continuei a passear pela areia da praia, percebendo um grupo de pessoas intrigadas com algo que estava no mar, como sou curioso, fui logo ver,  era um enorme crocodilo de água salgada, que de repente deu um bote encima da gente, assustando todo mundo. E mais de repente ainda o celular tocou e a nossa viagem à África, ficou por conta de um jacaré de água salgada e um celular estraga viagem. 

 

  

O DEUS QUE ILUMINA

Por Marcelo de Oliveira Souza, IWA (Salvador, BA)


O Deus que ilumina
Guiando meu caminho.
Quando estou sozinho,
Está a me acompanhar
Abrindo e protegendo os meus passos,
Projetando-me para o alto.

Quando estou cabisbaixo,
Põe-me numa redoma,
Salvando-me dos incautos
Que tem por finalidade
O sofrimento alheio,
Através da briga e incompreensão.

Por isso seguro forte a sua mão
Para que não me perca
Em meio ao desespero,
Encostando o meu corpo
Na sombra da árvore da tranquilidade.

DOR DE ONZE DE SETEMBRO

Por Marcelo de Oliveira Souza, IWA (Salvador, BA)


Lá de cima, no céu vem aquele imenso clarão
Acompanhado de um grande trovão
Colocando em desespero a população,
O povo correndo em comoção
Gritos de horror, salvem a multidão!

Tá tudo caindo, o mundo se destruindo
Terremoto se esvaindo
A torre se diluindo...
Aquele arranha céu lindo !
Agredido por monstros alados.

O fio dos desesperados
Pobres coitados !
Dentro dos dois paus gigantes viraram nada !
Esse nada que hoje é tudo
Que sobrou do fim do mundo...

A Torre de Babel bendita
Caiu na armadilha maldita,
Deixando como herança setembrina
Mais um exemplo que alucina...

A dor cravada no peito
Não cessou direito
E todo ano tem o mesmo efeito
De quem morre, sofre e carrega para sempre
A dor do luto no peito...

(Homenagem às vitimas da tragédia de 11 de setembro)

SONHO DE SETE DE SETEMBRO

Por Marcelo de Oliveira Souza, IWA (Salvador, BA)


Glorifiquemos a Independência
com orgulho e satisfação
Um País gigante, de influência
Formador de opinião.

Políticos de sapiência
Que ama o povo e a educação
Exaltando nossa bandeira
Símbolo da Nação!

A virtude da igualdade
Em cada segmento
A saúde com recorde de desenvolvimento.
Curando a ferida aberta sem sofrimento.

Respeito mútuo e contentamento
Uma grande virada
no nível de vida
Bloqueando os ressentimentos.

O Brasil que é campeão
Não só no futebol
Que era homenageado e gritado
Por desempregados e desdentados.

Celeiro do mundo
Exportador de Tecnologia
O Brasil potente
Cheio de alegria.

Acorde !
É só hoje que podemos sonhar...
Amanhã tudo permanecerá igual!

SETEMBRO AMARELO

Por Marcelo de Oliveira Souza, IWA (Salvador,BA)


Da independência,
Fez-se nação,
Na alegria da comunhão,
Da sociedade,
Vem logo a pressão,
Todo mundo uniforme,
Não é humano, não.

Dentro desse aspecto,
A tecnologia, é comunhão.
Todo mundo feliz,
Na rede do seu coração.

E lá no íntimo,
Não é verdade, não.
Só depois de tanta angústia,
Alguns não suportam não,
Culminando na autodestruição.

Nesse dilema,
Prestemos atenção,
Que às vezes
Os mais " felizes"
Escondem uma profunda
Depressão.

MEMENTO MORI

Por Fabiane Braga Lima (Rio Claro, SP) e Samuel da Costa (Itajaí, SC) 

Memento mori primeira parte (Entenda meu amor)

 

Preciso desta saudade p’ra viver,

Do silêncio n’alma, me refazer.

Mesmo sofrendo, ouça meu amor,

Preciso continuar a minha jornada...

Mesmo com minh’alma abatida

Preciso de um tempo, logo voltarei.

Para os braços teus

Despeço-me, estou de partida,

Ferida, levando as nossas lembranças!

Mas deixo a porta sempre aberta, entenda!

Será necessário morrer, tenha calma,

Levo nosso amor guardado n’alma...

Amo-te tanto, não nego meu anjo negro.

Mas preciso recomeçar, reinventar,

Assim, ficarei forte p’ra poder amar…!

(Fabiane de Braga Lima)

 

 

Memento mori segunda parte (O nós dois nas infinitudes cósmicas)

 

Recorda poetisa ebúrnea

Excelsa árdea encantada

A flanar livremente

Nos meus cardos estribilhos

***

Recorda da nossa celeste jornada

Divinal alva

Do meu sacrossanto amor

Por ti 

***

Recorda de nós dois

Literatos inexatos esparsos

 No nosso milenar flóreo vergel místico

***

Simplesmente recorda benfazeja minha

Do nós dois de mãos dadas

Na alvorada rubra

No nosso arrebol 

De nós dois corpos incorpóreos  

Em eviterna dispersão 

No nosso tempo que é atemporal

(Samuel da Costa) 

 

Duas lágrimas, duas vidas e dois sorrisos

 

‘’Ontem eu fiz uma faxina dentro de mim...

 Eu preciso mudar, ter amor-próprio...

E me respeitar e crescer’’

Fabiane Braga Lima

O que nos aguardará o amanhã?

E o que há de vir?

No depois do amanhã?

O que há de porvir?

***

Recorda sacrossanto amor meu

Neste dia surreal

E nesta hora inexata

Neste tempo atemporal

Marcada pela clepsidra irreal

Recordo-te que aqui jazeu

A vasta infinda solitude

Dos estros meus

O meu estribilho que andava sozinho

Aqui morreu

***

A minha eviterna alma

Aqui não adia

Pois hoje é dia

De confessar diante do sacrário

Eu amo você

***

As nossas breves vidas

Aqui não adiam

***

Os nossos cósmicos medos

As nossas ilusórias alegrias

As nossas sintécticas quimeras

As nossas bocas famintas

Aqui não adiam

***

São duas doridas negras lágrimas,

São duas celestes vidas

E dois ebúrneos sorrisos

Em eternas agonias

Em eviternas alegrias

(Samuel da Costa)


A mais bela de todas as poesias tuas

 

Minha escrita sem nexo algum,

Hoje grita bem alto

Há uma certa repetição de palavras

Poemas incoerentes, sem lucidez...

Palavras aglomeradas, infindas rimas.

***

Ausculto o teu sibilino coração 

E te convido para adentrares

No meu nevoento vergel encantado

***

Leio um livro qualquer, talvez tenha inspiração

Mas, a saudade me faz companhia

***

Sempre presentes as tuas

Belas-letras sintécticas 

Sempre ausentes as minhas

Belas-letras mortas

***

Sempre presente, me faz melancólica

Onde tu se escondeu... !? Não te vejo!

***

Ousamos ouvir maviosas

E tranquilas citaras

Ebúrnea poetisa minha 

*** 

Leal e afável. De repente, me deixou

Palavras belas, tua essência incógnita 

Formoso, não sei!  Vasto de encanto...

Tento decifra, não consigo, não te ouço

Preciso recomeçar, viver. Largo tua mão!

Cativou-me, seremos a mais bela poesia...

***

Serena e tranquila

Formosa e benfazeja

Despida de todos os milenares pudores

Quero-te enclausurada no alvor rubro 

A tarde... ao final do dia 

Escrita no estribilho meu 

PROSAS

Por Clarisse da Costa (Biguaçu, SC)

Nada de romântico

Antes de mais nada, finais felizes duram o tempo que tiverem que durar. Agora sim, aos amantes da literatura peço que me perdoem, mas os clássicos contos de princesas não têm nada de romântico. Primeiro que o amor ali não passa de uma fantasia onde a mulher acredita que está sendo salva. Na verdade, ela está indo para outra prisão, a de mulher submissa. Todas as princesas fazem tudo que seus príncipes mandam. Não existe liberdade de escolha e nem amor próprio.

As histórias fazem com que a mulher pense que precisa ter alguém para ser feliz, ou até mesmo cuidar dela ao ponto de ela não pensar sequer na sua independência. Outra coisa que podemos notar, os contos foram feitos para todos pensarem que a mulher ideal é branca e de cabelos bem lisos, assim como também eram representados os homens.

E se todos pararem para pensar essas histórias são histórias de sacrifícios não de amor, assim como muitos clássicos da literatura. Por isso eu prefiro a vida real e seus desafios, é cruel, mas eu tenho a minha liberdade. E o meu cabelo não precisa passar pelo teste de qualidade. Como eu já disse é o meu cabelo, não o seu cabelo.

 

Difícil ser mulher preta nesse país

 

É difícil ser mulher preta nesse país. Estar em lugar de destaque é algo incomum. Você sempre será a louca da família, ou a vagabunda para algum homem. A gente cresce com vergonha do cabelo, tenta se encaixar nesse mundo de brancos. Sofremos rejeições e ouvimos sempre que o cabelo é duro. As bonecas são loiras de cabelos bem lisos. As princesas são brancas. Onde nos encaixamos nessa história toda?

Então muitas de nós crescemos lutando contra tudo isso. Algumas de nós dizem que não vale a pena. Para que lutar se não temos quem lute pela gente? Aí fica aquele misto de incertezas, por qual caminho seguir. Eu escolhi lutar. Talvez porque eu achei que podia. E eu posso. A sociedade oprime a mulher preta, mas somos fortes.

Às vezes a solidão bate. Porque a mulher preta nesse país sempre terá dificuldades para se relacionar. Ou ela é escolhida ou ela é excluída. Mas eu acredito que podemos superar tudo isso. Eu pretendo seguir em frente mesmo que tudo me leve a desistir.

 

Nada é perfeito

Os retratos da vida são diversos, a gente sempre vai encontrar de tudo. O mais clichê são cenários antigos em contraste com a realidade. A janela de madeira fechada com tramela deixa entrar pela fresta um ar gelado à noite. E já estamos quase na primavera, tempo de flores e paixões.

Eu não me apaixono, particularmente acho que a paixão é traiçoeira. Mas não vou desestimular quem acredite nela. Cada ser humano precisa acreditar em alguma coisa para se manter vivo, não é mesmo?  E como dizia Cássia Eller, mudaram as estações. O sol é da cor do girassol.

E o nobre poeta tenta descobrir o segredo para a felicidade. Acho que quando ele encontrar vou pedir para ele falar pra todo mundo o tal segredo.

Mas entre doses de café, a cara debruçada nos livros e papéis rabiscados ele nada descobre além de suas frustrações. Como qualquer pessoa, o poeta também se sente incompleto às vezes.

 

Amor não é contos de fada

 

Se amor é contos de fada esqueceram de me avisar. Eu nunca vi o príncipe em um cavalo branco e muito menos fui convidada para o baile da realeza. E já me falaram de amor inúmeras vezes e nada do que foi dito tinha haver com a realidade.

 Parecia mais uma filosofia barata sem sentido que bastava Rapunzel ouvir "Eu te amo" para se derreter toda e jogar as suas tranças. E esse romance deu certo porque foi escrito para dar certo, para desgosto da bruxa má a história termina em "eles viveram felizes para sempre". O que eu tenho a dizer é que a trilha sonora poderia ser um pouco mais agradável, ou um tanto bem romântica.

Mas amor não é algo que dá para se explicar em um dia. Ou viver uma vida inteira fingindo amar alguém por interesses. Às vezes o corpo fala pela gente desmascarando as mentiras, deixando clareza nas coisas. Também não dá para achar que a pessoa vai te esperar a vida inteira, amor também cansa. Sonhos morrem.

Talvez eu não terei nessa vida aquele amor real que lute por mim, mas sempre levarei comigo a certeza do amor livre que nada espera além de respeito e reciprocidade. Porque esse amor não se vende por meia dúzia de palavras soltas e seus elogios fofos.

 

 

 

 

 


MULHERES NEGRAS

 Por Clarisse da Costa (Biguaçu, SC)


Zacimba Gaba 

O poder de uma mulher não está só na beleza, mas na vontade de vencer todos os obstáculos que são dados a ela.

Digamos que a mulher é uma guerreira o que na mitologia não existia. E a mulher negra tem essa representatividade. Muitas foram às mulheres negras guerreiras.   Zacimba Gaba foi uma delas. Zacimba Gaba além de guerreira era uma princesa. E dizem que princesas negras não existem. Mas há relatos na história do mundo que no Brasil existiu mesmo essa princesa. O cenário dessa história se inicia pela África.

 Tempo em que prosperidade e riqueza não passavam de uma realidade por lá. O continente africano sem a colonização era outro mundo.

 A princesa ao lado de seus pais governava sua tribo numa tranquilidade. Livre podia cantar sem o medo de lhe ouvirem e ter que fugir.

 Ali no seu reino tinha a sua liberdade. Mas para a sua má sorte veio à colonização. A sua existência lhe tirou a liberdade e sua alegria.

 Zacimba Gaba, princesa da Angola, fora capturada e assim, levada para o navio com destino ao Brasil.

 No Brasil foi escravizada e comprada por um Barão no norte do Espírito Santo. Nessas terras ela foi parar no ano de 1690.

 Chegando a casa grande encontra outros africanos e estes a recebem como princesa que sempre foi na Angola. Fato que lhe trouxe castigos severos pelo Senhor de escravos. O Barão proibiu sua saída da casa e começou a lhe castigar.

 No entanto ela resistiu até o fim. Em nenhum momento desistiu da luta, tinha que libertar seu povo. O plano era acabar com o Barão e fugir com todos daquele lugar. E isso aconteceu de fato com a ajuda dos outros negros. Ela durante anos envenenou o Barão com um veneno feito a partir da cabeça de uma cobra, a jararaca. Assim que o Barão, o conhecido José Troncoso, morreu essa guerreira liderou a fuga de seu povo.  Juntos formaram um quilombo, num lugar onde hoje fica Itaúnas. Este serviu de refúgio para negros da região.

 Mas para a princesa a libertação de seu povo não era o suficiente, queria fazer muito mais, ajudar aqueles que chegavam dos navios no Porto de São Mateus em precárias condições. Zacimba lutou até o fim. Sobre sua morte não há relatos, mas acredito que ela morreu em combate como uma guerrilheira que foi.

 

Maria Firmina dos Reis 

Ao longo do tempo procurando saber mais sobre nossas origens descobrimos que não sabemos nem a metade de nossa história e por fim acabamos descobrindo muito mais coisas sobre nós negros.

 Por muitas vezes escrevi sobre Maria Firmina dos Reis e não pensei que agora fosse encontrar particularidades sobre ela. Uma mulher guerreira que tanto fez pelo seu povo na época da escravatura.

 Lendo alguns artigos, pesquisando aqui e ali veio até a minha pessoa a fascinante história do primeiro romance brasileiro escrito por ela, contrariando o sistema machista deste país. Como se não bastasse isso contrariando o sistema racista.

 Lançado em 1859, Úrsula é uma obra escrita por Maria Firmina dos Reis. Uma revolução para a literatura brasileira naquela época. Esta obra também é considerada o primeiro romance abolicionista no Brasil.

 Esse romance, conta com uma história de amor ultrarromântica de Úrsula e Tancredo. O livro é considerado uma obra polêmica, pois traz uma narrativa onde tem como tese a falta de um romance negro. A narrativa traz um ponto de vista interno sobre a escravidão.

 Em seu relato de vida sobre a escravidão Maria Firmina diz: ‘’Meteram-me a mim e a mais trezentos companheiros de infortúnio e de cativeiro no estreito e infecto porão de um navio’’. Trinta dias de cruéis tormentos e de falta absoluta de tudo quanto é mais necessário à vida passamos nessa sepultura até que abordamos as praias brasileiras. Para caber a mercadoria humana no porão, fomos amarrados em pé e, para que não houvesse receio de revolta, acorrentados como animais ferozes das nossas matas, que se levam para recreio dos potentados da Europa.

 Maria Firmina dos Reis, Úrsula fora filha de mãe branca e pai negro, nascida em São Luís no dia 11 de agosto de 1860 no estado de Maranhão. Na sua escrita havia uma particularidade, os escravos eram sempre nobres e generosos. Provavelmente um desejo imenso por igualdade.

 Mas sua genialidade não parou na escrita, ela foi a primeira mulher aprovada em um concurso público no Maranhão.

 Não pensem que foi fácil para ela, afinal de contas Maria Firmina era mulher negra. Por vezes passou pelo silenciamento de sua obra. Houve um período que sua obra ficou esquecida por décadas sendo recuperada em 1962.


Carta de uma Poetisa

Olá. Eu sou poetisa, mas também humana. Choro as dores como também sorrio as alegrias. Todo o meu amor não cabe somente em palavras floridas de versos poéticos e sim num universo paralelo entre o céu e a terra, o meu coração.

 Vi o tempo passar diante de mim, os números da minha idade cresceram e relataram os quilômetros que andei. Esse mesmo tempo não teve piedade de mim, queria correr sem olhar para trás.

 Do nada perdi meu maior tesouro e tive que ser forte de qualquer jeito. E mesmo assim não tive o reconhecimento. Sou questionada o tempo todo. De repente me vi a amar... Um amor sem pressa, sem cobrança... Apenas um amor querendo estar o tempo todo ao lado deste que me faz sentir.

 Mas sem dó de mim me iludiu. E não era ilusão de criança crendo que do outro lado do arco-íris tem um pote de ouro. Uma ilusão que gerou rachaduras no meu coração.

 Hoje, com tantas rachaduras não sei no que mais acreditar e o que sentir. Porém sigo sem pensar em olhar pro tempo, ou em algo que perdi. Sigo pra ser vitorioso.

 Se não querem o meu amor, a mulher que sou, o problema não é meu, tenho mais a dar a vida do que eles a mim.

 Vitória é o que será assinalado quando eu chegar no topo.


 

Pátria Amada de Sangue

 

Falou mais alto

O choro do Nêgo,

O canto da dor

Cravado no peito

 

Como espinhos da flor.

Ergue a bandeira

O lutador

Na esperança 

De um dia ver

O nascer da igualdade.

 

Pátria Amada 

Esse teu filho

Não foge da luta,

Mas morre

Sobre o teu solo

Crivado de bala

Sem nenhuma piedade.

 

Chora de fome,

Grita por igualdade.

Clama por justiça,

Sufoca suas dores,

Pouco sabe o que é felicidade.

 

Tá na pele a marca

Do teu passado,

O traço da história

Que deu início a sua trajetória.

Sua luta é manchada de sangue.

Não negue

Ao teu filho

O direito de viver com dignidade.

Ele tenta todos os dias aqui

Sobreviver com um pingo

De humanidade.

  

Fim

Eu não

Tenho mais

Para quem

Escrever.

 

Tem um

Vazio

De palavras

E sentimentos

Que deixaram

De fazer sentido.

 

O ninho

Foi desfeito

A dor

Sumiu do peito?

Não sei.

 

Às vezes

As incertezas

Nos colocam

Em páginas brancas

De histórias

Sem respostas.

 

(do livro "Oceanos")

DUETOS POÉTICOS

 Por Fabiane Braga Lima (Rio Claro, SP) e Samuel da Costa (Itajaí, SC)

Ouça-me meu sacrossanto amor

‘’De dias e noites, de cores e valores,

Um horizonte às vezes obscuro,

Um pedaço do céu caído,

Mas ainda com esperança.’’

José Luiz P. Grando 

Meu amor, escuta meu coração.

Palpita de amor de tanta paixão.

Minha boca anseia teus beijos,

Sem medo, veja, como desejo.

***

Anseio a tua boca faminta

A circum-navegar

No corpo-incorpóreo meu

***

Anseio tua benfazeja 

A circum-navegar

No corpo-incorpóreo meu

***

Eterno! Fez-se morada aqui.

Como posso lhe amar e te querer?!

***

Quero-te ignota poetisa

Afloria magnólia casta  

Postada arcangelicamente

Na nevoenta torre de marfim

***

Meu corpo trêmulo lhe pede,

Ao mesmo tempo, se despede.

Deslumbro-me, ao vê-lo! Fica, amor meu?

***

Evolva-me

Na volúpia mítica nevoa

Outonal que te rodeia

***

És o homem que me domina,

Acalenta-me em teu corpo!

Decifro, te busco em desvarios.

Quero! Sou vasta de sentimento,

Minh’alma clama, todo momento...!

 

Cubra-me do divinal amor

 

‘’Eu passeio nas tuas lembranças...

Minhas curvas, minhas linhas efervesceram

Por anos em tua mente.

Cada ângulo, cada detalhe meu,

Você já conhecia, tão bem quanto eu’’

Geane Masago

 

Cubra-me de carícias e beijos

Grande é o meu amor e o desejo

Sem tua presença, fico muda,

***

Cubro-te maviosa árdea

Com no meu nível amor hialino

Arcangélica poetisa minha

Ama-me no rubro arrebol

Bem antes que o dia acabe 

***

Teu amor, me faz fazer loucura.

Grite em voz alta que me ama

Grite em versos, em devaneios

Bendito o amor, a eterna chama,

***

Guardo todos os bem-fadados

Versos teus

No cósmico palácio

Das minhas memórias perdidas

***

Pulsa o meu coração, sem receio.

Não solte a minha mão, jamais!

Preciso da tua presença, aqui

Teu amor singelo, me satisfaz.

***

Amo-te ninfeia alva

Do meu nevoento vergel

Amo-te o teu ser mais-que-perfeito

Dá-me a tua floria mão de bacante

Conduza-me em inexatas horas vazias

Pelo labirinto do Fauno

Até o níveo altar dos deuses e deusas

Em um tempo que não passou

***

Acredite amor, veja os meus versos

Hão tantas saudades e esperanças,

Lágrimas de amor e lembranças...!

 

Não é adeus, é apenas amor

‘’Eu preciso estar em meu mundo!

Para poder encontrar o que procuro

Vivo os momentos que me cabe fazer

Entre sonhar e amadurecer’’

Patrícia Raphael

 

Olhe bem fundo em meus olhos!

Notou? São lágrimas de dor.

De repente, fez-se desamor!

Maduro! Diz-me, cadê o amor!?

***

Guardo junto a mim

Todas as tuas milenares dores

E dos teus infindáveis dessabores

Magnificente alva

Postada na aurora rubra de Era

Que somente começou 

***

E sofro, tentei te fazer feliz.

Veja! Minh’alma hoje, tão infeliz,

Não nego, choro de desgosto,

***

Dos inefáveis estros teus

Este é o mais dorido

Não é desamor

É apenas um adeus

 ***

Sofro! amo-te, mas tenho que partir.

Foi mistério, desígnio da alma.

Felicitei-me com teu flanar,

Mas, meu amor, teve afeto!?

***

No meu livre flanar

Entres as eviternas estrelas da noite 

Só sobrou para o nós dois

 Uma sintética e breve álgida quimera

***

Notou! Como amei e te aceitei.

Diga-me, onde foi que errei!?

Se tudo que quis, foi te quere...!

***

Benfazeja

Magnificente alva

Trago-te resguardada soberana minha

Deusa imperatriz floria

 No diamantino estro meu

  

Toque-me com ternura

Pode ser loucura! Mas dê-me tua mão

Extasiado, chega aqui, sussurre baixinho

Agora! Diga que ama, venho sem medo

Chama-me de menina levada e ousada.

***

Amo-te magnificente alva

Este ebúrneo corpo incorpóreo

De bacante

***

Deixe-me ser tua fúria, delírio, calmaria...

Deslize sob meu corpo! Sinta-me! Desvenda-me

Exagere nas preliminares! solte-se, m’beija

Sinta o gosto dos meus beijos! Sacia-me.

***

São as minhas mãos impossíveis

A singrar a infinitude do teu ser

Mais-que-perfeito

***

Meu amor, sem receio, dispa-me toda....

Toque em minha pele, sinta meu perfume

Com carinho, beije-me toda, assim nua.

                                                                     ***         

Sinto-te por inteiro

Sinto-te por completo

O teu frágil corpo de bacante

***

Toca- me nua, quero ser toda tua, tua musa

Há tempos procuro, minha estranha loucura,

Com ternura, entre lençóis! Venha, excita-me...!