segunda-feira, 1 de abril de 2024

BORBOLETA (curta-metragem)

Por Paccelli José Maracci Zahler (Brasília, DF)


SENTADA DE TRADIÇÃO

Por N'Dom Calumbombo (Luanda, Angola)

 

Numa tarde amena com os amigos, em Luanda, sentados sob os olhares de estranhas cevadas, continha duas mesas em torno do cerco que se fazia dourados, por dentro, atenuava-se os alaridos, todavia, os insinuosos gritos em cada sentada faziam-se ritos de tradição. No início, José Machado tencionava pôr um basta com pretensão de se voltar à normalidade. Na medida que as horas passavam, colocava-se sobre os pés a caminho de volta a casa, quando tentasse, flagrava-se sob o impulso à parede vendo os seus braços dobrados.

Carlos Jorge, um dos amigos angustiado com a situação, chegou perto e disse; não é preciso entrar em desuso, sendo que, passa apenas a partir de hoje abrir-se uma exceção, mas que se saia de livre vontade. Ofereceu-lhe uma taça contendo álcool como tradição dos velhos tempos, foi, então, disparido com a queda de se ver perdido, porque das vastas sentadas, o copo com ou sem álcool, fora sentidas de alegria e de melancólicos sorrisos.

Voltou à casa fustigado pela aurora da noite, olhou com suavidade nos retratos, sentindo à medida larga das sentadas vividas, rondava-se sobre os cantos do quarto, com um canto místico relembrando à tradição dos tendenciosos ventos clarões do dia, rio sem foz, com um cigarro à ponta da língua. Duas horas depois, quando à chegada dos amigos, vindo saber sobre sua chegada, saio pela porta dos fundos, nostálgico, arremessou-se para o ombro de um de seus amigos, distraído, avistou os outros pela frente. Disfarçado, aparentava estar suado, mas ainda assim, abraçou-lhe fortemente dizendo: vim porque de nós está os sacrifícios, história que renasce em cada sentada que tivemos juntos.

Tinha vinte e três anos de idade, mas nunca conseguira explicar tudo o que  sentia. Exaltado pela brisa das chamas do dia, aconchega a cabeça a uma tábua sob o pouso duma pedra, na espera que os demais saíssem, o que causara de tal forma, minutos depois, num inchaço manifestado pela demora.

Numa manhã fria, batendo a saudade no âmago entre lágrimas jazidas, de desejos internos, abriu as janelas, sentindo o aroma das paisagens, dos passeios que, às vezes, desejando não mais voltar em casa. Como não passara de tradição, com cervejas, cigarro e petiscos, a mãe, na distração, assustou-se com medo de vê-lo a jogar-se pela janela. A mãe, em sua volta, amarfanha e colocava-se a sorrir. Quando o pai chegou, despiu-se da escuridão do efecto e da razão cintilante que pairava no cerne do seu interior. Ficou com a marca na memória, chocado ao vê-lo pendurado na janela, que ambos o vinham como esperança. Ficaram dois dias sem se ver, no terceiro dia, quando o pai saio do trabalho, o pai entrara  com os seus tios, com a missão de pôr um basta nas atitudes vedadas de tradição, onde o fim é a perdição que não se sonhara.

Assustado com o pôr-do-sol, fundo como um furacão, ajustou-se à porta estreita, como se não visse a família a entrar, mordeu-se os dentes, saciava sair dali e jogar-se pelo quintal. A mãe saira do quarto abatida, com estranhas sensações de febril. Foi à varanda com os sentidos penosos, sem tido tempo para poder lavar o rosto de lágrimas de rio caído. O corpo da mãe exaltara, de certa forma, uma frieza, embora os aromas dos ventos abafados pelas estranhezas em vê-lo ladeado no meio da família, com o bolo alimentar pela boca, via no íntimo de seu filho os pedidos de desculpas, esplêndido, concordava com cada palavra que, verdadeiramente, tatuado na sua alma, relembrava dos momentos antagónicos que passara com os amigos em cada sentada de tradição.

 

 Sobre o autor:

N'Dom Calumbombo, pseudônimo literário de Domingos Félix Calumbombo, nasceu em Luanda. Identifica-se como cronista, contista e poeta da nova geração, tendo participado na Obra "Antologia da Minha Infância", publicado em 2021 pela Editora Mundo da Leitura, e seus textos são divulgados na rádio Megaweb Portugal, em Portugal. É licenciado em Secretariado Executivo e Comunicação Empresarial pela Faculdade de Humanidades da Universidade Agostinho. Actualmente, escreve para o Jornal OPaís.

 

 

 

HAICAI A ARTE DA POESIA - UM GUIA PASSO A PASSO

Por Leandro Bertoldo Silva (Padre Paraíso, MG)




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VOCÊ PENSA OU PENSA QUE PENSA?

Por Humberto Pinho da Silva (Porto, Portugal)

Durante longos anos ouvi diariamente: comentários e pareceres de amigos e conhecidos e, frequentemente escuto na cafetaria, onde todas as tardes tomo o reconfortante cafezinho, conversas sobre os mais diversos assuntos.

De tudo que ouvi e escuto, conclui: a maioria das pessoas são como dizia o mendigo de Joracy Camargo: " Pensam que pensam, mas não pensam".

São simples repetidores do que ouvem ou leem dos fazedores de opinião.

Os pareceres variam, em norma, consoante a posição que se encontram no xadrez da vida: alteram-se com a situação económica do momento.

Poucos são os que possuem convicções e certezas fundamentadas – ainda que asseverem que as têm...

Se perguntarmos a ferrenho torcedor a razão de ter aderido a certo clube desportivo, não saberá, por certo, responder.

" Sou, porque sou." - Argumenta; ou porque o pai já o era; ou simplesmente para ser do contra: a família torcia por outro clube.

Acontece, igualmente, na política. Poucos militantes conhecem a ideologia e os estatutos. Basta-lhes repetirem o que diz o líder; os mais fanáticos, mesmo reconhecendo o erro, são incapazes de o reconhecerem.

Infelizmente o que se passa no desporto e na política, ocorre algumas vezes, na religião:

Se perguntarmos a crente, porque permanece nesta ou naquela denominação, por certo não saberá responder. Talvez declare: Que é a Igreja da maioria; porque gosta do sacerdote; ou era a da sua meninice.

Também na Igreja, como na política, há infelizmente, quem busque interesses financeiros ou projeção social:

Conheci homem que frequentava Igreja Evangélica, porque recebia, algumas vezes um queijo flamengo!...

Conheci, igualmente, escritor, amigo de meu pai, cujas obras alcançaram importantes prémios. Uma vez confidenciou-lhe:" No início da carreira tive que aderir a partido político de esquerda, para conseguir editor!..."

O mesmo aconteceu a intelectuais, na época da ditadura...que mais tarde inscreveram-se em partidos de esquerda, após haverem recebido benesses do antigo regime.

Tenho, portanto, sempre reservas quando ouço ou leio comentários na média, porque é raro ser-se imparcial. Todos sofremos influencias. Poucos são verticais e honestos. Mas ai de quem lhes diga isso!...

O RECADO

Por Dias Campos (São Paulo, SP)

 

            Quando se pensava que o maior diamante do mundo já tinha sido encontrado, a África a todos surpreenderia, fazendo com que os olhos dos cobiçosos rebrilhassem mais uma vez.

            E se havia quem se maravilhasse a cada novo achado, esse alguém era o engenheiro chefe, David Johnson, idólatra dessas preciosidades e amante do dinheiro que elas proporcionam; tanto que alardeava aos quatro ventos que só Deus poderia afastá-lo dessas duas paixões.

Desta vez, porém, não seriam os 1.112 quilates da nova descoberta – três a mais do que os da sua antecessora – os únicos responsáveis pelos holofotes a serem direcionados para as minas de Botsuana, mas, sim, algo que havia em seu interior...

Por força disso, à medida que o engenheiro de plantão lavava a pedra, ele e os mineiros que o rodeavam, ao invés de se manterem em júbilo, deixavam transparecer um quê de desapontamento, pois o seu valor comercial transmudava de extraordinário para aproveitável.

David foi logo avisado, e correu ao ponto onde acharam a gema. Vinha, é claro, com um misto de euforia e decepção, pois se não deixaram de repassar a boa notícia, também não ocultaram a má.

Antes mesmo de pôr as mãos na novidade, os olhos do perito ofuscaram! Mas foi só observá-la para que o deslumbre diminuísse. – Eram desenhos dispostos em um veio retilíneo que cruzavam a gema de ponta a ponta, sendo que pareciam ter sido esculpidos por uma impressora a laser de última geração, haja vista a perfeição com que se repetiam.

Depois de examinar a novidade o mais que podia, David a levou para sua sala, onde aconteceria uma reunião a portas fechadas com toda a sua equipe. Não saiu, contudo, sem advertir os funcionários que a admiravam de que estavam terminantemente proibidos de fazerem comentários; quem o fizesse, seria demitido sem direito à contradita.

David não tomou essa decisão por medo de que a notícia vazasse. Até porque, seus empregados não só estavam acostumados com o sigilo que deve imperar nesse ramo de atividade, como, também, não ousaram maculá-lo quando encontraram o diamante anterior.

Eram, na verdade, aqueles desenhos – riscos horizontais em que se pendiam outros verticais e formas curvilíneas – que o incomodavam sobremaneira.

Já em seu gabinete, ladeado por toda a equipe, o achado seria passado de mão em mão. David queria que cada um opinasse sobre aqueles desenhos, como se necessitasse de uma justificativa para o seu incômodo.

Se bem que as opiniões começassem científicas, não faltaram criatividade e gracejos a tentarem explicar aquele estranhíssimo fenômeno; a exemplo da hipótese levantada pelo palhaço-mor da equipe, que afirmou serem hieróglifos entalhados por Micrômegas (de Voltaire), aduzindo que, por ter o viajante intergaláctico se apaixonado por uma terráquea, não lhe restou alternativa senão a de rabiscar o seu endereço e o contato telefônico no primeiro “guardanapo” que encontrou, já que sua nave espacial estava na iminência de decolar em direção à sua morada na estrela Sirius.

Todos riram, incluindo David. Mas essa brincadeira causou-lhe forte impressão, mesmo que não a tivesse demonstrado.

Terminada a reunião, o engenheiro chefe permaneceu em seu gabinete. Era preciso debruçar-se sobre aqueles desenhos, e sobre o mal-estar que eles provocavam. Na realidade, mesmo não conseguindo definir o que sentia, para David, eles nada tinham de naturais. E, coisa singular, até pareciam... familiares!

David, então, escaneou como pôde aqueles desenhos, e guardou a pedra a sete chaves. Em seguida, deitou-se sobre a cama. Precisava pensar, rememorar... Sentou-se novamente, e ficou observando as imagens na tela do seu celular. E ora ampliava-as, ora girara-as. E olhava para o teto... e nada lhe vinha à mente.

 Levantou-se, andou pelo quarto; foi à janela, mirou o horizonte... e jogou o celular sobre a cama, como se a comichão que o afligia não tivesse passado de uma grande tolice.

E como o pensamento voltava-se para a milionária quantia que deixariam de lucrar graças à desgraça imposta pela mãe natureza, David desenterrou alguns palavrões e tornou a se deitar. Talvez no sono encontrasse a maneira mais dócil de repassar a notícia para o poderoso e nada compreensível CEO da mineradora.

Mas o sonho traria uma reviravolta...

Súbito, acordou. Estava ofegante e suava frio.

Com o passar dos segundos, em que inspirava e expirava lenta e profundamente, David retomava o prumo. E o nevoeiro que lhe encobria a memória começou a dispersar-se.

Quando a bruma foi de todo afastada, determinadas lembranças acerca de um erudito reavivaram-se em sua mente como se assistisse a um filme de altíssima definição.

David pôs as mãos sobre a cabeça, avocou os céus, e levantou-se de um pulo. Era preciso reencontrar aquele velho amigo, e o mais rápido possível!

Com a ajuda do Google, não foi difícil achar o do Dr. Elliott Moore e obter o seu contato.

Não abusando dos rapapés, e sem entrar em detalhes, David enviou uma mensagem por e-mail para o seu antigo professor, suplicando que o contatasse com urgência. E para justificar tamanha pressa, anexou fotos daqueles desenhos, mas editadas, de modo que permitiam ser razoavelmente examinadas, mas dificultavam deduzir onde estavam incrustradas.

Como estivesse aflito, não se lembrou que Botsuana está 6 horas à frente de Ottawa, lar do Dr. Moore. Quando percebeu a diferença, e olhou paro o relógio – eram 4 da madrugada –, imaginou que o septuagenário já adentrava o limiar do quinto sono. E praguejou.

No entanto, e para sua felicidade, Dr. Moore estava com insônia, e navegava pela internet.

A surpresa foi tão grande, que o PhD em linguística logo clicou na mensagem.

Ora, como David era o seu aluno preferido no colégio, aquele que afirmava seria o seu discípulo, jurando aprofundar-se no fascinante mundo das letras mortas, ensinamentos que recebia após o término das aulas regulares, Dr. Moore ficou muito feliz ao constatar que ele buscava reavivar a amizade, usando mão, justamente, daquilo que aprendera.

O bate-papo inicial – “Mas que surpresa!”; “Como vão as coisas?”; “Casou com aquela garota de quem gostava?”; “E como vai a família?” – impunha a David uma agonia insuportável, como a que sente uma criança que está diante de seu pai, prestes a receber o presente que há tempos cobiçava, mas cuja entrega ele retarda por pura diversão.

Quando o assunto enfim migrou para aqueles desenhos, a frequência cardíaca de David disparou. E quando o Dr. Moore disse ter achado bastante criativa a forma que usara para chamar-lhe a atenção, o coração de David quase saiu pela boca!

O problema é que nem o seu ex-professor expressamente lhe confirmava as suspeitas, nem David tinha coragem de perguntar o que de fato representavam aqueles desenhos.

Até que chegou um momento em que o Dr. Moore questinou o porquê de David ter preferido o sânscrito ao invés do latim, já que esta última língua era a que mais o atraía.

David petrificou-se!...

De repente, uma chusma de perguntas acotovelavam-se em seu cérebro. Dr. Moore falava a verdade, ou, por força da idade, via naqueles desenhos o que gostaria de ver? Seria possível que o tempo e a pressão tivessem sido tão caprichosos, ou não foram eles os autores daquelas palavras? Mas se não foi a natureza quem os escrevera, por que em sânscrito e com qual objetivo? E quais as consequências que esse fato imporia à ciência, à religião, ao mundo?...

David sentia-se como se lhe tivessem arrancado o chão. E porque estivesse atordoado, esquecia-se de perguntar o significado daquela escrita e resolvia contar onde estava contida.

Desta vez, foi o Dr. Moore quem perdeu a voz ante o pasmo da revelação.

E como continuasse mudo, coube ao ex-aluno retomar a conversa. E indagou sobre a tradução.

Dr. Moore demorou um pouco para reequilibrar-se. E tão assombrado estava, que disse só revelaria o significado daquelas palavras se pudesse reexaminá-las, tendo nas mãos a gema.

Como havia muito em jogo, e porque não vislumbrasse alternativa, David acabou cedendo. E para que o Dr. Moore não alegasse inconvenientes que pudessem atrasar a sua chegada a Botsuana, o engenheiro chefe garantiu que a empresa providenciaria a passagem aérea (primeira classe) para o primeiro voo que houvesse, e bancaria a sua estada. Pedia, no entanto, segredo absoluto sobre o assunto. Ele aceitou.

A viagem do Canadá até o continente africano demoraria pouco mais de 24h. Essa duração, David deveria passá-la com certa tranquilidade. No entanto, alguém caiu em tentação, e a notícia sobre a gigantesca novidade vazou.

Foi um pandemônio! De um momento para o outro, David viu-se cercado pela imprensa internacional, pelos acionistas, e pelo CEO da mineradora, que determinou enviasse-lhe algumas fotos, que mantivesse o diamante longe de tudo e de todos, e afirmou iria encontrá-lo assim que se recuperasse da crise de gota que o acometia.

No dia seguinte, David já estava no aeroporto uma hora antes do horário previsto para o pouso. Recebeu o mestre com a devida formalidade, que foi logo abandonada ao entrarem no veículo que os levaria para a área de exploração.

Dr. Moore bem que tentou perguntar sobre aqueles desenhos, mas David meneou a cabeça em negativas, indicando com os olhos que o motorista não poderia ouvi-los.

Assim que chegaram, David o conduziu ao seu gabinete, cômodo onde guardara o achado, e determinou que ninguém viesse importuná-los. E para justificar a presença de um estranho, alegou ser outro especialista em lapidação.

No exato instante que viu a pedra, os olhos do Dr. Moore arregalaram-se; menos pelo seu tamanho descomunal do que pelos desenhos que já entrevia.

E um silêncio sepulcral imperava naquela sala enquanto o expert, usando da sua preciosa lente de aumento e tremendo de emoção, perscrutava caractere por caractere, palavra por palavra.

Ao terminar a análise, Dr. Moore colocou a gema sobre a bancada, inspirou profusamente, fixou os olhos no anfitrião, e certificou tratar-se do sânscrito.

David sorriu. Ato contínuo, perguntou o que significavam.

Dr. Moore passou a falar, já com a voz entrecortada: “Vós não podeis servir a Deus e a Mamon”. – nome por que era conhecido o deus das riquezas.

E se a fisionomia do Dr. Moore denotava um amálgama em que se debatiam aturdimento, incompreensão, pequenez, incredulidade, não haveria palavras que pudessem descrever o semblante de David...

Passados alguns dias, e mesmo diante do atestado pelo Dr. Moore, o CEO da empresa, mais propenso ao pragmatismo do que predisposto à verdade, além de zombar do que ouviu, ameaçou processar a ambos, caso essa tolice fosse parar nos jornais.

Dr. Moore retornou para Ottawa, onde o tédio da aposentadoria seria para sempre minorado pela mesmíssima convicção com que Hamlet se dirigiu a Horácio. – “Há mais coisas entre o céu e a terra do que supõe sua vã filosofia.”

David, por seu turno, pediu demissão e viajou para o Tibet. Se vira naqueles desenhos a mão de Deus a afastá-lo de suas grandes paixões, também não descria que o isolamento provisório e a meditação seriam imprescindíveis à sua reeducação.

E quando se sentisse forte o bastante para retomar a vida de relação, regressaria à sua pátria, abraçaria a carreira acadêmica, pediria sua namorada em casamento, e, se o Dr. Moore ainda tivesse disposição, ficaria muito feliz e honrado em se tornar o seu mais novo discípulo.

TRIBUTO À MULHER

Por Gustavo Dourado (Taguatinga, DF)

 

Homenagem pelo Dia Internacional da Mulher

Homenagem especial a Maria Félix Fontele

 

Mulher é mãe natureza

Floresce o encantamento

Mulher que amor inspira

Ilumina o pensamento

Mulher é árvore da vida

Frutifica o sentimento

 

Mulher é vivacidade

Natureza em sintonia

Soma da vitalidade

Sementeira de alegria

A mulher reluz na noite

Que germina a sinfonia

 

Mulher é constelação

Galáxia da infinitude

Estreluz voz libertária

Sabedoria, atitude

Floresce na madrugada

Pelas noites da virtude

 

Mulher é eternidádiva

Navegante atemporal

É saudade transmutante

Fraternidade vital

Poesia que nos nutre

Com o leite essencial

 

Mulher é hierofanta

Ternura-epifania

É lâmpada tāo radiante

É estrela que nos guia

Amor em prosa e verso

Quintessência da poesia

 

Mulher é sol plenitude

É gênese que alimenta

Criativa, luminosa

É vida que amamenta

Mãeterna que nos procria

Natura que sapienta

 

Mulher é flor q concebe

Artesã do movimento

É deusave em harmonia

É nave que voa no vento

Na sintonia da ternura

Estrelua do firmamento

 

Mulher lume diamante

Constelação magistral

Nas lutas de cada dia

Divindade maternal

A mulher na eternidade

Luz infinitesimal...

 

A mulher faz o caminho

Arte-vida, nascimento

É mãe de Jesus.Gandhi

Einsteiniano talento

É dela q nascem homens

As luzes do pensamento

 

A mulher é gen.semente

Germina a humanidade

Mulher a brotar a vida

A nova sociedade

Toda mulher tem a graça

Com mulher há liberdade

 

Das mulheres nasceram

Cristo, Lennon e Maomé

Luther, Dumont, JK

Castro Alves e Pelé

A mulher faz a história

Com amor, trabalho-fé

 

Da mulher tudo provém

Até mesmo a divindade

Des.confio q nos deuses

Haja flor, feminil.idade

Nas costelas da mulher

Transmuta a felicidade

 

Foi no umbigo da mulher

Que germinou a panaceia

Bem no olhar da pitonisa

E na boca de Almathea

No coração do planeta

O palpitar de mãe Rhea

 

Mulher em prosa e verso

Multiversos, poesia

Despetala o sentimento

Coração pulsa alegria

No mês março brota flor

Despertar da fantasia

 

Salve sempre a mulher

Minuto-hora, dia e ano

Mulher q o amor inspira

Nas mulheres do oceano

As amazonas das águas

Mulher em primeiro plano

 

Mulheres homenageio

Com amor e sentimento

A mulher que nos guia

Estrela do pensamento

Multiversa infinieterna

Nas luzes do firmamento

 

Mil flores às mulheres

Com amor e dedicação

Mulheres na natureza

São mais beleza em ação

A eternidade é mulher

Num infinitom coração

POESIA: CONFISSÕES

Por Luan Souza Poesias (Luan Araújo de Souza, Salvador, BA)

É meio irônico e engraçado o que eu vou falar para você, eu deveria ter guardado. Mas o meu coração é como um cartão clonado que em meio as situações passa todo o crédito em emoções que foi involuntariamente liberado, talvez eu seja um abestalhado que está apaixonado... Entregando todas as cartas na mesa como um aprendiz que nunca tinha jogado, estou me sentindo meio frágil, meu pensamento não tem sido comportado, vou confessar agora para você, só espero que lá na frente eu não seja consumado, por favor não conte pra ninguém... Pois já estou desesperado, não posso guardar isso somente comigo e sentir que com você isso deveria ser brevemente compartilhado, é que por você eu sou capaz de aceitar tudo calado, por você eu sou capaz de comprar tudo que você precisa e deixar o meu saldo zerado, por você eu resolvo todas as suas situações só para ficar despreocupado. Até entregaria a minha vida por você diante de um assalto, eu veria você dançar na avenida diante de muitos aplausos. Se a sua sapatilha arrebentasse eu lhe entregaria o meu calçado e voltaria para a minha casinha muito feliz com os pés descalços, eu relembraria o nosso passado mesmo após de 10 anos terminado, mesmo que isso não tenha mais nenhum significado, mesmo sabendo que o nosso caso tenha me prejudicado, eu sou capaz de ter você novamente na minha vida e acabar de vez com o meu humilde legado, não sei o que você fez comigo mas tenho a certeza que não foi trabalho, acho que foi a maneira diferente que você tinha me tocado, acho que foi por isso que fiquei encantado. Deixa-me tirar a prova disso, fica novamente ao meu lado, por você eu sou capaz de destrancar aquele sentimento que já estava vedado, por você eu desmarco a data do casamento que eu já havia marcado, eu perdoei a sua traição com o meu advogado. Foi pura desfaçatez, mas vocês dois haviam negado, por você eu posso refazer tudo mesmo estando cansado, pago a sua faculdade independente do resultado, posso comprar para você aquele sonhado carro? Independente se o valor estiver muito elevado? Eu não estou nadando em dinheiro, mas para você eu me transformo em um mágico... Ver você muito feliz sempre foi o que eu tinha sonhado, você é um sonho Mal-acabado, eu me sentia abençoado, vivíamos tão felizes... O que será que em mim tinha faltado? Mesmo com o coração em pedaços eu sinto que a gente ainda pode refazer tudo pelo contrário. Esquecendo as decepções e principalmente o que tinha me frustrado, meu coração ainda te chama de amor, ele sempre foi seu esse ordinário, mesmo depois que a gente já havia conversado... Ele nunca superou você, ele nunca o havia abandonado.

 

MEUS ÚLTIMOS MOMENTOS

Por Liécifran Borges Martins (Cariacica, ES)


A morte vem para todos.

Para alguns vem de surpresa.

Outros já sabem que vai partir.

Ninguém está pronto.

 

Os últimos momentos

antes de partir.

É difícil descrever.

Pois a morte vem de surpresa.

 

Chega e pega como

a chuva inesperada.

Tempestades não planejadas.

E risos indesejados.

 

Assim pode ser meus últimos momentos.

A morte vem um dia vem.

Eu vou morrer.

E meus últimos momentos melhor vai ser.

SEJA VOCÊ MESMO (A)

Por Liécifran Borges Martins (Cariacica, ES)


Não importa o que

fizeram contra você.

Seja você mesmo e não mude.

Permaneça a sua essência.

 

Viva sempre com resiliência.

Tenha em mente a ciência.

E no coração a persistência.

Não desista você é capaz.

 

Nem desanime você consegue.

Não viola a sua fé.

Nem mesmo seus princípios.

Seja firme na fé.

 

Seja você aonde entrei.

Não mude por nada.

Nem mesmo se abala.

Seja sempre você.

NÃO FORÇAR, APENAS SAIA!

Por Liécifran Borges Martins (Cariacica, ES)


Não forçar uma amizade.

Nem mesmo cobra consideração.

Fiquem em paz com tudo

que entra e sai.

 

Reciprocidade não se vende.

Lealdade não se cobra.

Fidelidade nem se pede.

Amor não se implora.

 

Não forçar mais nada.

Nem cobra nada.

Apenas saia em paz.

Cuida de você.

 

Saia não forçar.

Nem cobra.

Saia  e se cuida.

Saia e se ama.

 

 

 

 

 

 

A PÁSCOA ECOA

Por Marcelo de Oliveira Souza, IWA (Salvador, BA)

 

Todo mundo reunido

Numa Boa

Os ovinhos com a criançada

Chocolates de todo tipo e modalidade

Todos com seus ovinhos consumindo

A meninada adora!

Mas no consumismo exacerbado,

Muito menino fica agoniado

Saem desesperados

À procura do seu ovinho

Procurando qualquer dinheirinho...

Na impossibilidade de realizar

O seu sonho...

Ele fica encolhidinho

Acompanhado o amiguinho

Com os ovos na mão

Recebendo mais uma quantidade...

Os guris comem todos num só dia

Que eles esperam com alegria

Mas o menininho encolhidinho

Não compreende que esse coelhinho

Nunca traz nenhum ovinho

Para o humilde que está ali sentadinho

Tentando compreender

Como nesse dia santificado

Uns têm tanto que comem até ficar inchado

E outros não recebem nenhum ovinho

E passam a Páscoa no canto intrigado

Que nesse mundo imaginário

Ele não passa da entrada

Olhando a vitrine do mundo encantado!

 


PONTO NULO NO CÉU: NÓS CELEBRAMOS A NEGRA RAINHA

Por Clarisse Cristal (Balneário Camboriú, SC)

 

— Chega? Já se deu por satisfeita por hoje, senhora Fá Rodrigues Butler? — Sibelly Lopez soprou no ouvido de Fá, ambas estavam no outro lado da rua, contemplando os cinco corpos sem vida no chão, enquanto três homens, que trôpegos, que corriam em desespero pela rua abaixo.

— Por hoje sim! Tenho uma festa para dar, bons amigos para receber e uma filha pequena para pôr na cama. No mais, não fiz nada de errado, estas pobres criaturas são nada mais, que reles joguetes, nas mãos do destino. Há está hora, pessoas boas estão dormindo, ou pelo menos, deveriam estar penso eu. — Fá sorriu por dentro enquanto falava e olhava para os corpos, sem vida há poucos metros delas. — A caçada terminou, já peguei o que bem queria, depois negra ninfa, acertamos as nossas diferenças, em outra hora e em outro lugar. Não aqui bem no meio da rua.

— Verdade anjo negro! Na rua, não é mesmo um bom lugar para darmos espetáculos, mais tarde falamo-nos. Mas, saiba que temos muito o que conversar!

***

Fá Rodrigues Butler não andou muito para chegar em casa e, deixar a cena trágica que se desenrolou a pouco e deixar a figura trágica Sibelly Lopez para trás. A paisagista parou por poucos segundos apenas, entre as duas piras em chamas eviterna, na entrada conjugada, das imponentes torres gêmeas Fiote e Xoclengue, ela respirou profundamente e adentrou. Ao passar pelas piras, as chamas se intensificaram, uma chama azul na pira a esquerda e uma chama amarela na direita subiram aos céus, pareciam querer transcender ao cosmo. Fá sentiu seu negro arco-íris despontar no seu cerne, com todas as forças do universo, era a glória dos celestes deuses e deusas imortais eclodido. Enfim o gosto da liberdade, mesmo que efêmera, teve o seu devido efeito, na dama da noite, depois ela bem sabia, que iria arcar com as consequências, que inevitavelmente viriam e não tardariam. Mas, ela não pensou muito nisso, por diante tinha uma festa para dar e sagrar a deusa de ébano era premente, pelo menos um pouco.

Ela adentrou no hall do prédio, de forma imponente, passou por três seguranças bem-vestidos com ternos à italiana, duas zeladoras limpavam o chão de mármore Nero Marquina, com seus tons escuros e abundantes veios brancos. Passou pelo velho porteiro decrépito sentado por detrás do balcão imponente e seus telefones decorativos. Todos sequer pensaram em olhar para a moradora ilustre, ou mesmo dar-lhe um boa noite. Todos simplesmente evitaram olhar nos olhos famintos da paisagista. Ela parou entre os dois elevadores privativos que estavam separados por alguns metros. Um levaria a dama da noite para casa, agora o outro iria direto para o salão de festas. Ela decidiu tomar o elevador de acesso ao salão de festa da torre Fiote, ela não queria ver a velha mãe, mais tarde a veria, mas não agora, Fá queria evitar as perturbações de sempre. Ela parou diante do elevador, o aparelho de portas de mogno, ricamente detalhado, com seus entalhes da escola barroca e a porta em ferro e bronze se abriu sozinha. O aparelho parecia estar mais que faminto, para capturar a negra alma torturada de Fá. Ela adentrou no elevador e ele subiu automaticamente para fazer ruídos, um forte olor floral tomou conta do elevador, um arrepio correu pela alma imortal dela, o alarme de Fá disparou naquela hora extrema.

Ao chegar até o último andar da torre Fiote, Fá saiu do elevador com um peso enorme nas costas, ela pressentiu nuvens negras se formando no horizonte não muito distante. A paisagista percorreu o corredor na semiescuridão e no limiar do salão de festas, duas estátuas vivas completamente nuas, davam o tom do que estaria por vir, cada uma em uma ponte da entrada e entreolhando-se no desespero da equidistância. Eram duas transexuais recobertas com uma leve pintura corporal branca, olhos pintados de negro, grinaldas brancas, unhas pintadas de vermelho vinho e completamente idênticas. Elas estavam em cima de colunas jônicas de mármore Ebony Crystal, que mediam meio metro, estavam completamente imóveis e pareciam sem vida. Fá passou por elas, como se elas não existissem, como se fossem meros enfeites, peças decorativas, um prelúdio de um tétrico teatro de horror que se avizinhava. A imagem da negra imperatriz Sibelly Lopez veio na mente da paisagista.

Fá ficou parada diante das duas monumentais portas de madeira Lignum Vitae, ricamente decoradas com entalhes com simbolismo pagã do norte da Europa central. Ela ficou ali parada esperando-as que fossem abertas, e os segundos se arrastaram e se transformaram em minutos, até elas se abrirem lentamente. Ela, um tanto nervosa, adentrou no salão de festas, com os passos comedidos, e logo avistou um trono vazio, ao fundo e ao centro do amplo salão de festas, em cima de uma pequena plataforma e com duas pequenas escadarias de acesso nas laterais, a imponente peça não deveria estar ali, mas estava. Do piso até a o fim das escadarias era recoberto com uma manta vermelha vívida e viscosa. O cheiro putrefato de cobre chegou até Fá como um aviso que estava por vir.

— Por onde andava a nossa mais que querida anfitriã? — A voz metálica, cravou nos ouvidos de Fá como se fosse punhais. Ela virou para a esquerda e viu o coronel Moreira César sentado em uma poltrona, usando um uniforme de gala militar do início do século XIX. No colo dele uma criança de dois anos dormia complacentemente.

— Tire estas tuas mãos imundas dela, seu animal sujo e nojento! — Gritou bem alto Fá, a plenos pulmões, em nano-segundos ela se projetou na frente do coronel e tirou a criança dos braços do coronel. — Nunca! Nunca mais mesmo, coloque as tuas mãos sujas, nela novamente seu animal. Valentina, minha querida, venha até aqui agora mesmo. — Era calma o tom de voz da dona da festa, mas cheio de força.

— Chamou, madame? — Disse a governanta a pouco metros de Fá.

— Valentina! Leve Agnes até os meus aposentos, na torre Xoclengue, leve-a agora mesmo. — Ordenou a paisagista e passou a criança, que ainda dormia, para as mãos da governanta — Fique com ela, até a festa terminar e não quero que mais ninguém chegue perto dela hoje e também que você não saia perto dela hoje à noite, nem por um só minuto. Fique ao lado dela a noite toda, não saia do lado dela um segundo que seja. Me ouviu? — Falou incisiva para a governanta.

— Mas senhora e a festa? Tenho tantas coisas para providenciar ainda...

— Vá! E agora mesmo! É uma ordem! — A voz de Fá ecoou pelo salão de festas como um estrondo.

A governanta saiu com a criança no colo, em direção a saída lateral do salão de festas, enquanto a dona da festa a seguia com os olhos atentos.

— Moreira César agora é com a gente — Falou a paisagista, com fúria assassina ao se voltar os ferinos olhos verdes para o militar de alta patente, esse que parecia se divertir com a coisa toda. O homem deixou a postura debochada de lado e ergueu e postou como um militar graduado que era.

— Espero que não tenhas aprontado das suas hoje de noite. Espero que não tenhas recoberto as ruas da minha cidade, com sangue de novo. Custa muito caro apagar as suas pegadas, os seus rastros pela cidade afora, toda vez que tu resolves passear ou dar uma festa deste tipo. Este pulso magnético chama muita atenção de muita gente. — Falou o coronel como que dá instruções para os subalternos.

— Baixe o tom da tua voz coronel, estás na minha casa e não lhe devo satisfações dos meus atos. Pelo que sei, estou fazendo um bom trabalho, que aliás deveria ser teu, eu faço um bom trabalho por sinal. E vai acabar quando tiver que acabar, estes como é que vocês chamam mesmo…

— Pontos nulos no céu! — Disse Moreira César sem esconder a irritação.

— Isto mesmo, são provas contundentes das insignificâncias de vocês. Chega coronel, não vou debater amenidades com você, não hoje. Chega, tenho mais o que fazer. — Disse a paisagista enfurecida e deu as costas para o coronel, mas no fundo ela sabia do terreno pantanoso que estava se metendo, e ela intuiu, se uma peça insignificante como aquela ousou enfrentá-la é porque havia coisas ruins por vir.

Ao caminhar pelo salão de festas, Fá tinha esquecido da manta vermelha vívida e viscosa, e ela sentiu uma viscosidade no chão, ela olhou para baixo e viu uma camada fina de sangue fresco e um forte olor de cobre se intensificou, era um presságio, que denunciava que a rainha de ébano estava por chegar ao recinto. O alarme de Fá estava ligado em alerta total. Ela olhou para o enorme salão vazio e de repente não muito longe estava uma banda de jazz que se aprontava para tocar no pequeno palco, estavam afinando os instrumentos. Fá reconheceu as figuras, que outrora estavam esquálidas na viela escura, que ela deixou no chão há poucos minutos passados. A banda estava usando ternos brancos e com gel no cabelo e sapatos lustrosos, um guitarrista, um contrabaixista, um baterista e por fim duas mulheres vestidas elegantemente dividiam o posto de vocalista da banda. Em um instante os músicos ficaram estáticos, mudos, como se fossem estátuas vivas antes de começarem a tocar. Sim, era obra da imperatriz Sibelly Lopez, pensou Fá, assim como os dois seres andróginos postados na entrada do salão de festas. O sangue fresco no chão desapareceu por completo, sem deixar vestígio algum e um forte olor da negra flor halfeti tomou conta do ar. Era ela o tempo todo, e Fá bem sabia, mas não queria ver o óbvio, era a negra ninfa, operando nas sombras como de costume. E no desespero, Fá Rodrigues Butler desejou o impossível, naquela hora extrema. Ela desejou ardentemente, que a soberana deusa de ébano estivesse morta àquela hora. Ou simplesmente, desaparecesse no ar, que ela fosse chorar suas mágoas eviterna em algum canto escuro em uma outra dimensão qualquer. Que ela fosse para outro perdido e esquecido tecido do cosmo. Mas a realidade imposta era bem outra, e Fá procurou-a em toda a parte, em desespero, foi encontrá-la na janela leste do salão de festas e estava olhando para baixo. Muito apavorada, Fá Rodrigues Butler se aproximou furtivamente da deusa de ébano.

— Ponto nulo no céu! Que coisa mais ridícula, não acha minha cara? Fá minha querida amiga como estás? — Sibelly olhava pela janela no alto da torre Fiote, para os quatro corpos enfileirados, com os braços aberto, em cima de lanças de um muro, os quatro olhavam para o alto da torre Fiote. — O teu senso de humor é atroz, Fá minha querida, você passou de todos os limites, desta vez. Mesmo assim adoro o seu estilo, minha querida! — Disse Sibelly olhando perdidamente pela janela.

— Não me ameace Sibelly, não aqui na minha casa! — Fã levantou a voz, mas de repente se lembrou de quem estava na frente dela. A imagem de Sibelly elegante vestida e delicada é substituída na mente de Fá, em uma mulher trajada de uniforme militar surgiu empunhando uma AK-47 em uma mão e na outra uma pistola Tokarev TT-30 que olhava para com sede de sangue nos olhos. Depois ela estava semeando um campo com as mortíferas Mina-S, as temidas minas antipessoal terrestres alemãs, como se não fosse nada. Em outro quadro ela está mirando e disparando em um tanque Merkava, com um lança granadas RPG-7 e depois logo marchando pela neve na Sibéria. Depois no deserto de Gobi sempre à frente de uma coluna de soldados fortemente armados. Sibelly em uma cidade eslava em meio a bombas explodindo, colunas de fumaça, gritos de horror, choros desesperados e corpos ensanguentados. E por fim ela estava na frente de um enorme contingente de soldados, dando ordens unidas, passando a tropa em revista, no meio de um descampado, em uma região erma.

Fá dá um passo para trás com um medo abissal de Sibelly, Fá jamais tivera tanto medo antes, mas agora estava aterrada. O pavor impregnou todo o cerne, mais que profundo, ela levantou a mão esquerda e tentou apontar para a mulher na frente dela, mas não conseguiu. Uma força poderosa a fez abaixar a mão, e balbuciou algumas palavras incompreensíveis, que morriam na boca de Fá, em vez de falar, ela escutou a outra proferir tranquilamente.

— Nunca! Nunca mais mesmo, se esqueça de quem somos e do quem você é. Se nos desafiamos novamente, sua estúpida, não serás destroçada, pura e simplesmente sim em praça pública à moda antiga, te juro com todas as minhas forças. Será um pesadelo, bem pior do que a tua débil mente infantil poderia criar e acreditar.

Outra imagem foi projetada na mente de Fá, Agnes adulta, completamente nua, ela estava deitada em uma pira de sacrifícios. Agnes estava ornada com vestes brancas de puro linho. Homens com uniformes nazistas de alta patente, adentram no que parecia ser uma câmara de sacrifícios humano, eram cinco, estavam com os rostos cobertos por uma escuridão sobrenatural. Fá intuiu, com pesar no coração, que fossem os mesmos, que ela vira na rua a pouco menos de uma hora surrando os três moradores de rua. A sala é iluminada à meia luz, por primitivas tochas, mas Fá pode ver o sorriso de satisfação nos lábios de Agnes. E por mais que se tenta, Fá não conseguiu ver os olhos dos oficiais nazistas, só o que pareciam ser as bocas e narizes, eles não sorriam e nem falavam nada. O oficial de maior patente levantou no ar uma adaga athame, o objeto cortante emanou um feixe de luz que cegou Fá. Ela aterrada, voltou para a realidade presente, Sibelly Lopez havia desaparecido e na frente dela, só o vento frio da janela aberta, o céu encoberto por nuvens negras e raios que de instantes em instantes rasgavam o céu.

— Maldita! Malditos todos! — Fá gritou a plenos pulmões e jogou no chão uma taça de champanhe, que surgiu nas mãos dela sem ela o saber como. A fina peça, delicadamente entalhada artesanalmente, de cristal Bohemia se espatifou no chão de mármore, chamou a atenção de todos ali presentes. Fá não se espantou em ver o enorme salão de festas repleto com os convidados que se materializam do nada, outra obra de Lopez considerada a dona da festa. A jovem senhora calculando, o profundo mal-estar, causado pela desagradável cena, ensaio um sorriso e mil pedidos de desculpas. Ela sorriu e se voltou para os convidados, que olhava para ela atônitos. E ela levando as mãos ao alto bateu palmas.

— Vamos à festa, a banda! E a banda? Toquem meus caros, toquem! — Disse bem alto a dona da festa.

A fina flor da classe artística provinciana, da pequena cidade portuária, estava toda lá, uma pequena massa de rebeldes locais, de toda a ordem, estava presente na festa de Fá. Eram pintores, artistas plásticos, tatuadores de renome, editores de revistas de arte e literatura, escultores, donos de jornais independentes e portais de notícias, professores universitários progressistas, dançarinos e dançarinas, bailarinas e bailarinos, badalados disck jóqueis, web designers, escritores independentes, influenciadores digitais, produtores culturais e artistas de teatro, diretores e produtores de TVs e rádios, críticos literários, músicos de relevância local, designers de moda, donos de galerias de arte. E toda a sorte de espíritos livres que gravitam no meio artístico e cultural da pequena cidade e cercanias, pessoas toleradas pela velha elite conservadora.

Os garçons, garçonetes e todos os convidados formaram um corredor humano, diante de Fá, os poucos convidados desavisados acresceram ao corredor humano. A anfitriã viu no fim do corredor o trono, e lá estava ela, Sibelly Lopez, com um diadema de ouro cravejado de joias na cabeça, ela de trajes sumários, dona de si, segurava um respiro do narguilé na boca. No alto do trono, acima dos mortais, a deusa de ébano então sorriu para Fá. A negra imperatriz se elevou do trono e bateu palmas, todos ergueram as taças e os copos em suas mãos, olharam para Sibelly Lopez e em uníssono saudaram: — Salve a rainha da noite! Salve a deusa da escuridão!

Fá derrotada, não teve escolha, ela lentamente atravessou o corredor humano, olhava para belíssima mulher negra majestosa sentada em um trono. Sibelly Lopez evitou olhar para a outra que se aproximava, a mulher postada no trono de mármore era a expressão máxima do poder encarnado e tinhas os olhos frios de uma déspota cruel que iria proferir uma pena de morte. E quando Fá naquela hora queria que seu coração parasse ao se ajoelhar diante do trono.

 

Fragmento do livro Em dias de sol e calor, em noite de tempestades e frio, de Clarisse Cristal, poetisa, contista, novelista e bibliotecária e Balneário Camboriú, Santa Catarina.

 

 

O COMEÇO DE TUDO

Por Clarisse da Costa (Biguaçu, SC) 

 

Na infância eu rabiscava mundos através de desenhos. Quando aprendi a desenhar palavras comecei a construir novos mundos, lugares, sonhos, histórias e personagens. Eu só sabia escrever e tinha na mente cenários. A minha imaginação era infinita. Ousadia e coragem eu tinha de sobra para escrever. Mas com essas místicas, lendas e crendices humanas, eu não passava de jeito algum embaixo de um arco íris, os antigos diziam coisas de nos dar medo. Eu ouvia muito minha mãe falar dessas histórias. Talvez fosse uma forma que arrumaram de nós crianças não cometer travessuras na rua.

Quando eu aprendi a ler eu achava que o correto era falar bem declarado as palavras e pausadamente para ser entendido. Hoje eu posso dizer que tenho o dom da palavra. De tomei o gosto pela escrita, porque eu vi nesta arte a minha liberdade. O primeiro livro que me encantou me fez querer escrever histórias. Quando me perguntavam o que eu queria ser quando crescer eu já tinha uma resposta pronta: escritora.  Era visível a risada das pessoas. Muitos acham isso impossível e sem futuro financeiro.

Mas a minha determinação mostrou a todos quem eu sou. Não importa o que digam, não escrevo por dinheiro nem por fama, escrevo por amor. Quando estou com a caneta nas mãos o mundo se abre para mim. 

Além da escrita

Posso dizer que eu fui além da escrita aos quinze anos de idade, me apaixonei pelo personagem Benê e vi a sua luta para ser aceito, para ter amigos.

Uma criança negra no meio de tantas crianças brancas.

Eu era Benê e queria para mim a sua ousadia. Acho que é mais coragem que ousadia. Numa cidade cheia de tabus e preconceitos comecei a escrever histórias com assuntos até então censurados. Escrevi sobre o amor entre dois homens, me atrevi a escrever sobre sexo e o uso da camisinha. Enfatizei a doença HIV/AIDS, tão temida por todos na época, tal como o câncer que nem sequer poderia falar o seu nome.

Aí percebi ao escrever que em mim uma mulher queria florescer. Eu descobri o amor e formei ideia de amor ideal, o problema é que depois de muito tempo você descobre que não existe esse amor. Eu não digo perfeito porque não existem coisas perfeitas na vida. O próprio ser humano é imperfeito. E é nessa imperfeição que as coisas podem dar certo.

Naquela época sequer tinha máquina de escrever. Mas sempre tinha em mãos cadernos e canetas, e assim escrevi o meu primeiro romance chamado “Um Amor Eterno”, algo além da vida.

Uma particularidade minha é que esses cadernos eram dados por minha mãe. Ela comprava na ida ao mercado. Ninguém acreditava no meu sonho, no meu potencial e ela apesar de não ter a certeza se eu teria futuro nisso me apoiava. Escrevendo eu pude me conectar com as palavras e com elas eu tive a oportunidade de viajar por novos mundos, aprimorando a fala e indo para o caminho do bem sempre.

Às vezes as editoras são cruéis

Como eu já havia falado, comecei a escrever histórias a partir de romances. Entretanto a minha escrita veio muito antes dos romances, com doze anos eu escrevia em diários. Acho que a relação de muitas mulheres com a escrita surge a partir daí. Posso dizer que é como um refúgio, às vezes na falta de amigos, com quem puder confiar os seus segredos ou frustrações.

Eu fico ausente quando escrevo. Muitos não percebem. Eu chego a me desligar do mundo, o que não foi diferente com os diários.

Escrever era como uma diversão para mim e arrisco dizer que ainda é. Entre bonecas e brincadeiras na rua, a maior parte do tempo eu estava escrevendo. Ali eu tinha a possibilidade de ser quem eu quisesse, abraçar a minha imaginação e ir para lugares diferentes como a minha amada lua. A lua sempre foi uma fuga minha. Longe de tudo e de todos, um mundo particularmente meu.

Todo o processo dava-se de forma bem-organizada, eu escrevia nos cadernos e para cada um elaborava uma capa, era quase um livro, porém escrito a mão. E tudo que eu queria é que as pessoas lessem as minhas histórias. Mas como? Nem sequer existia internet. Nos dias atuais isso é possível.

Por falta de experiência eu mandava o meu material para as editoras através de correspondências. Com poucos recursos eu não fazia cópias dos escritos. Mandava sem tanta preocupação. Ansiosa, eu fiquei por semanas à espera de respostas.  Às vezes recebia uma carta em papel sulfite com a seguinte resposta:    -Não é o que estamos procurando no momento. Porém as histórias não retornavam com as cartas. Dentre 20 cartas em três meses, por exemplo, apenas uma editora me respondia. Então passei a crer que eles sequer tomavam a iniciativa de ler as minhas histórias, por fim as cartas acabavam indo para o lixo. No entanto continuei tentando e na minha última tentativa recebi algumas dicas de um editor e ele deixou bem claro que editora alguma não lê cartas, ainda mais as que forem escritas à mão. Então eu dei uma pausa.

Eu enxerguei o quanto as editoras podem ser cruéis. Cheguei a pensar em parar de vez, mas a escrita me impulsionava a continuar. Continuei escrevendo como se a minha vida dependesse disso.

De repente o meu mundo…

De repente virei a página e comecei a escrever poesias, muitas dessas poesias tinham como enredo o amor. Poesias bem melosas parecendo romances mexicanos! O estranho é que eu não tinha alguém sentindo algo por mim. Eu bem que tentei. Mas o preconceito dele falou mais alto. Eu tinha a minha vida em letras.  Algo muito bom para mim, ao mesmo tempo que eu aprendi a escrever, buscava aprender a lidar com o preconceito. As pessoas colocavam a cor da minha pele à cima da minha inteligência.  Para muitos eu nada significava.

Só que o poder da escrita me libertou. O preconceito é inevitável, vivemos num país onde a sociedade tem o seu conceito de pessoas perfeitas e belas, porém com o desenvolvimento da minha escrita, eu tive a oportunidade de lutar contra tudo isso.

Digamos que a poesia me dá asas. O único problema é quando ela surge ao você está limpando a casa. Muitas vezes parei o que estava fazendo para escrever poesia. É como o amor, ele surge de repente.

Mas nas minhas poesias iam além do amor, eu falava de tudo sobre a vida. Na verdade, tudo que me encantava.

No meu tempo de menina as flores eram simples e não tinham mistérios para nascer. Algumas nascem do nada, como num passe de mágica.

As flores de hibisco avermelhadas davam cor às luzes do sol sobre o vidro da janela. As rosas da vizinha nasciam até na beira da estrada, no entanto a gente só podia olhar.

Como se percebe, lembrando de muitos fatos, eu já estou escrevendo poesia. De alguma forma estranha a escrita é o meu silêncio falando por mim, como se minha alma se libertasse. Provavelmente será assim para sempre. Voz que fala através das palavras é livre de todo medo e das amarras das críticas e julgamentos.

Como se percebe, lembrando de muitos fatos, eu já estou escrevendo poesia. De alguma forma estranha a escrita é o meu silêncio falando por mim, como se minha alma se libertasse. Provavelmente será assim para sempre. Voz que fala através das palavras é livre de todo medo e das amarras das críticas e julgamentos.

Durante a jornada eu ouvia muitas risadas irônicas, debochadas. Ser eu mesma parecia algo errado e colocar isso no papel me fez buscar formas de que isso não me afetasse. Quando minha mãe vinha com aquele caderninho que atrás tinha o hino nacional o meu sorriso se abria. Era onde a minha felicidade se tornava real. Eu, as linhas e os sonhos em palavras, um único mundo sem muros!

 

Clarisse da Costa é poetisa, contista, cronista e designer gráfico em Biguaçu, Santa Catarina.

Contato: clarissedacosta81@gmail.com

 

 

EPÍLOGO IV - OPERA MUNDI (A TENENTE-CORONEL MADALENA AZUMI)

Por Samuel da Costa (Itajaí, SC)

 

Hoje silencio todos os meus versos e rimas

Minha alma pede paz

E necessita se distanciar

Das ardências, ânsias, fúrias

Calo-me, pois preciso do silêncio

Fabiane Braga Lima

 

 

Madalena Azumi, por fim, abriu os seus olhos cansados e demorou uma eternidade, para perceber onde estava. No alto, um imenso céu azul, sem nuvens, os grasnares de aves marinhas, uma brisa outonal e um forte cheiro de água salgada, anunciavam que estava no alto mar, ou perto dele pelo menos. Ela notou a presença de homens e mulheres uniformizados e caças de combate estacionados ao lado dela. Eram evidências concretas, que estava em um navio de guerra, um porta aviões.

Flashes contínuos, de uma vida remota, chegavam rápido e sem aviso algum. Era ela em um quarto, em uma cama enorme, com lençóis brancos de linho egípcio. Ela completamente despida, ao lado de uma bela mulher nua, uma negra corpulenta, de longos e bem tratados cabelos lisos dourados, olhos castanhos, pequenos e rasgados, vorazmente faminta por sexo e pelo prazer extremo.

Depois ela se viu criança, vagando a esmo por um vilarejo empobrecido, em um país, perdido em meia a montanhas. As pessoas do vilarejo, apontavam para ela com o dedo em riste, furiosos praguejavam em uma estranha língua, que ela não compreendia. No meio da rua, um homem idoso, de barbas longas e cabelos brancos, vestido como um sacerdote a pegando pelos braços e a entregou para um outro homem uniformizado, um militar.

Madalena se viu, um pouco mais crescida, em um prédio moderno, cheio de militares homens e mulheres e pessoas sisudas vestidas de branco usando máscaras cirúrgicas. Ela se viu em um enorme alojamento, com várias crianças, de várias etnias, eram crianças assustadas e chorosas. Uma senhora idosa vestida de branco, entrou no alojamento, bateu com força na face de uma menina negra, que não parava de chorar, as outras crianças para de chorar e se lamuriar. A mulher de branco, gritava alto, em um idioma, que Madalena não compreendia. Depois, Madalena estava em um pátio muito grande, ela estava perfilada com outras crianças um pouco mais velhas. E uma música tocava alto, era um hino marcial, um caça de combate, deu um voo rasante, um estrondo alto explodiu na mente de Madalena.

De volta ao tempo presente e de olhos bem abertos, Madalena Azumi estava de pé, na frente de duas colunas de militares, que estavam postados em posição de sentido. Madalena, reconheceu cada um dos homens e das mulheres de várias etnias e nacionalidades, eram todos oficiais de médias patentes e todos e todas ativos agentes de campo de vários serviços secretos. Madalena Azumi reconheceu todas e todos, ela sabia os nomes, as patentes e as origens de cada um deles.

Madalena ergueu a cabeça e olhou para frente, os oficiais de alta patente, eram comandantes de campos, que estavam sentados por detrás de uma mesa. Madalena Azumi os reconheceu, um era o Tenente-general Aristo Souza da Maia, estava vestido com seu uniforme hussardo angolano, o outro era o General da Divisão de infiltração Adérito Muteia com seu uniforme de gala moçambicano, o Major-general Aldo Maris com seu uniforme de gala russo e presidindo a mesa e por fim lá estava o Almirante de Esquadra Araquem Maximus com seu uniforme de gala russo. Todos experientes militares altamente condecorados e ativos em todo o globo.

Os militares de alta patente à mesa, estavam conversando muito baixo e animadamente. Madalena Azumi, contraiu o seu rosto, para poder escutar o que eles conversavam de forma tão amigável. Mas só fragmentos chegaram até ela, os nomes, Calibor, Yara e Marcus Wolf e as palavras, total triunfo e células nazistas dizimadas, chegam na mente de Madalena. O Almirante de Esquadra, se levantou e deu uma ordem unida para a tropa, em russo com um leve sotaque hispânico do caribe, os ocupantes da mesa se levantaram e ficaram em posição de sentido. E as duas filas de militares bateram os cascos e ficaram em posição de sentido.

Madalena não soube o porquê, mas caminhou no meio das duas colunas, os militares desembainharam e erguerem as suas espadas, conforme ela passava em revista à tropa. Madalena Azumi se aproximou da mesa e o condecorado almirante russo caminhou até ela. O Almirante de Esquadra Araquem Maximus, falou poucas palavras, que foram transmitidas em alto-falantes, dizeres que Madalena não entendeu, o Almirante de Esquadra, ergueu um estojo ricamente decorado, abriu, tirou uma medalha e pregou a medalha no peito de Madalena e deu um selo nos lábios de Madalena.

Madalena Azumi olhou para a reluzente medalha de ouro e percebeu que trajava um uniforme militar de gala, com a patente de Tenente-Coronel. A Tenente-Coronel Madalena Azumi, chegou os olhos e quis voltar a viver em uma outra realidade, mas não poderia.

Longe dali, para além de oceanos cósmicos, Calibor se regozijava.

 

 

Fragmento do livro Em Perpétuos Ciclos, de Samuel da Costa, poeta e contista em Itajaí, Santa Catarina

Contato: samueldeitajai@yahoo.com.br

Argumento de Clarisse Cristal é bibliotecária, contista, novelista e poetisa em Balneário Camboriú, Santa Catarina.

 

 

 

 

MUDANDO A ROTINA (1ª PARTE)

Por Fabiane Braga Lima (Rio Claro, SP)

 

Preciso respirar profundamente, pois detesto ficar em casa e hoje vou me esbanjar, conhecer lugares novos. Ficar presa ao passado, não dá. Tomei um banho demorado, passei uma maquiagem natural, nada superficial. Hoje, quero conhecer lugares novos, ao ar livre, cachoeiras, trilhas, lugares diferentes. Ir até o guarda-roupas e escolher o que melhor estava guardado e em desuso há séculos.

Enfim, cheguei onde eu queria estar! O som das águas, em movimento, me causa inquietação, já que não sou habilidosa: — Será que alguém já se jogou daqui, ou tropeçou em alguma pedra e caiu nessa imensa cachoeira? Preciso me sentar, assim, me sinto protegida…

Basta! Este lugar não faz parte da minha rotina, preciso voltar, ir à academia, convidar as amigas para ir ao shopping, ver gente estranha ao meu convívio, indo e vindo. Como posso me esquecer de treinar, passar protetor solar, e sair sem direção!

No caminho eu me perco, parece um labirinto. As pedras parecem estar escorregadias e o medo me dominou. Mas, não posso parar, continuo subindo.

De repente, chega um homem e pega minha mão e diz: Calma! Eu sou o guia turístico, vejo que não está acostumada, vou tirá-la daqui, confie.

É minha única salvação, não vejo mais ninguém! Pensei na mesma hora.

— Me chamo Christian, subo trilhas há mais de dez anos! — Disse ele, com calma e me olhando nos olhos.

— Prazer, me chamo Luana, não estou acostumada com tanto verde. Eu vivo isolada em Copacabana, isolada! — Eu disse sem pensar no que falava e sem freios continue — Eu frequento academias, salões e frequentemente vou ao shopping com as minhas amigas.

Olhei fixo para o rosto de Christian e disse para mim mesma: — Céus, ele é lindo, pele bronzeada, olhos azuis e corpo torneado, pensando bem, mudar a rotina e conhecer lugares novos, não foi nada mal...

 

Contato: debragafabiane1@gmail.com

 

 

 

MARGO

Por Fabiane Braga Lima (Rio Claro, SP)

 

Margo, mãe de três meninas, ela a caminho da meia idade, trabalhava muito para dar sustento para as filhas ainda pequenas. A família há pouco tinha se mudado do interior para a capital, Margo, mãe solteira, pretendia dar uma vida melhor para as filhas.

As pequenas gêmeas Lara e Clara, de oito anos, eram alheias às muitas dificuldades em que viviam, que as circundavam. Mas Luci, a filha mais velha de doze anos de idade, era rebelde e não se conformava com aquela situação, com a penúria da família. Entristecendo o coração ferido, da exausta Margo quando chegava do trabalho tarde da noite. Luci perguntava com arrogância, o que a mãe tinha trazido para o jantar. Tendo como resposta com poucas variações que aquilo era que se tinha para comer graças a Deus! A mãe respondia para a Luci com os olhos rasos de lágrimas. Logo depois, cansada, tomava um banho rápido e preparava o jantar para as filhas.

Assim eram os dias de Margo se passavam, de muita tristeza pois, a sua filha mais velha, não perdia as oportunidades de demonstrar que não suportava a situação da família. Então um dia, a mãe de Luci, decidiu dar um basta na situação! Estava mais do que na hora de mostrar para a filha tudo o que passa nas ruas e no serviço. No outro dia chamou a filha mais velha, Luci.

— Sabe filha! Tenho um dinheiro guardado, quero te levar pra comprar roupas novas.

— Lógico que quero mãe, vamos se divertir muito.

— Claro que vamos! — Mal sabia a pobre garota o que a mãe estava preparando.

— Escuta filha, logo depois, vou lhe contar um segredo que é só meu. E você verá com os teus próprios olhos.

— Então, vamos mamãe, estou louca para escolher roupas novas.

E assim pegaram o ônibus bem cedo, partiram rumo ao centro comercial da cidade e foram a um shopping. Luci se espantou ao ver o ônibus enchendo de gente em cada parada. A jovem também notou que alguns falavam rápido e outras línguas estrangeiras e vestiam roupas estranhas. Algumas pessoas com cara de sono bocejavam, outras dormiam e outras falavam sozinhos. Barulhos, sussurros, risos e cheiros que se misturaram

O ônibus parou ao lado do shopping...


Contato: debragafabiane1@gmail.com