Por Humberto Pinho da Silva (Vila Nova de
Gaia, Portugal)
Entre o reduzido
número de amigos de meu pai, contava-se um frade.
Conhecera-o em
soalheira tarde de Verão, quando foi encarregado de realizar reportagem sobre
certo santo, de certa Ordem Religiosa.
E de tal modo
ficaram amigos, que durante longos anos, visitava-o no seu conventinho.
Chegaram a trocar
presentes e debater assuntos transcendentes, de interesse de ambos.
A amizade era
notada por todos, e de tal jeito, que aos poucos tornou-se conhecido e amigos
de quase todos os irmãos da comunidade, inclusivo o Superior e Provincial.
Um dia, a doença
que o levaria à morte, atirou-o para Casa de Saúde, onde permaneceu semanas
acamado e com poucas esperanças de vida.
Nas suas horas de
solidão e desespero, pedia para telefonarem aos amigos, para que o fossem
visitar, já que se sentia só, perdido e desanimado num quarto de hospital.
Apareceram
familiares, principalmente o primo Júlio – sempre prestável, sempre pronto a
fazer pequenos favores, e a visitar e animar doentes.
Além do Júlio,
poucos mais apareceram…Os inadiáveis afazeres não lhes permitiam….
Lastimoso, contava
aos filhos e à empregada, que, por tanto tempo haver servido a nossa casa,
tornou-se membro da família:
- “Parece impossível, nem o Frei X, que mora
tão perto, apareceu…”
Mais tarde – no
interregno que a doença lhe deu, – foi ao convento para visitar o amigo
“atarefado”.
Não estava. Atendeu
o porteiro, que prestimoso, foi chamar “um senhor padre”.
Ao abordar a
hospitalização, meu pai referiu-se ao facto de Frei X, não ter aparecido,
devido a não ter transporte disponível. (Desculpa que lhe deu, pelo telefone.)
Em resposta, ouviu:
- “Não tinha
transporte?! … A Casa tem carro. Eu próprio o levaria, com muito gosto, no meu
automóvel! …”
Uma das obras de
caridade do cristão é visitar presos e doentes.
Que haja receio de
confortar presos, compreende-se, mas que não se visite doentes, mormente
conhecidos e amigos, é falta de Amor cristão e humanamente imperdoável.
O desprezo. A
indiferença e principalmente a ingratidão, costuma doer mais que a doença,
mesmo quando é grave e mortífera.
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