Revista literária virtual de divulgação de escritores, poetas e amantes das letras e artes. Editor: Paccelli José Maracci Zahler Todas as opiniões aqui expressas são de responsabilidade dos autores. Aceitam-se colaborações. Contato: cerrado.cultural@gmail.com
quinta-feira, 2 de maio de 2019
MONTANHAS E PLANÍCIES
Por Vânia Moreira Diniz (Brasília, DF)
(A autora é presidente da Academia de Letras do Brasil, Seccional Distrito Federal - ALB/DF)
ARABESCO
Por Pedro Du Bois (Balneário Camboriú, SC)
O
arabesco ecoa trombetas
antigas
inimigas percorrem
muros
no estado do barulho
o
arabesco mudo
em
mudanças
na
trama não urde
o
tecido esgarçado
amigas
chegam
no
calor da noite
tocam
seus dedos
sobre
as feridas
o
arabesco desnudo
em
traços percorridos
no
silêncio do dia findo.
DETALHES
Por Pedro Du Bois (Balneário Camboriú, SC)
Busca
nos detalhes
o
ponto de apoio
anelo
anelado
dedo com que se defende dos oferecimentos
e
se esconde dos tormentos
detalhes
o mantém à salvo das estéreis horas
de
retornos fossem pedras carregadas nos bolsos
raivas
concentradas na incapacidade do espelho
enrola
o fio
o
anel cintila
no
dedo solto
em
sobressalto
não
há morte nos detalhes secos e ásperos
o
tempo ajustado
solta
as amarras
retira
o anel.
CORPOS E MARCAS
Por Pedro Du Bois (Balneário Camboriú, SC)
O
corpo marcado
no
que outros corpos
escondem
o
segredo da vida
posto
disposto
reposto
em
respostas
marcadas
palavras
silenciam
o
corpo esclarece
e
marca
o
medo cristaliza
mentiras
em verdades
e
o corpo
se
transubstancia
na
maldade
de
alguém cujo
corpo
marca.
FIM
Por Pedro Du Bois (Balneário Camboriú, SC)
Imagem
em que te enxerga
enquanto
o dia não chega
porque
o mundo acabou
antes
da alba
remoças
o corpo em que te vejo
na
idade vulgar: carinho
com
que te entrego
o
mundo antes que acabe
recomeças
a imagem
em
passado tempo
de
reflexo malfeito
e
na poça d’água pisas
o
barro molhado
de
que serias feita
refazes
o início
em
renovada imagem e reflexo
o
que vês te alucina: passas
pela
estrada em que não chegas
que
o mundo findou teu destino.
DEIXA O SOL ENTRAR...
Por Samuel da Costa (Itajaí, SC)
Para Rute Margarida Rita
Abra as janelas!
E puxe as cortinas.
Deixa o Sol entrar,
O Astro rei...
***
Chega de viver na escuridão...
Pois quero viver...
Ao teu lado!
***
Da me a tua delicada mão!
Vamos abrir as janelas...
E puxar as cortinas.
Deixar a vida entrar!
Vamos viver a vida...
Deixa a vida entrar
Vamos viver!
POETA EM NEGRO NA NEGRA DOR
Por Samuel da Costa (Itajaí, SC)
Para Aristides de Souza Maia
Minha pena não tem cor
Cor tenho eu...
Minha dor não tem cor!
Minha arte não tem cor
Tem dor
A minha poesia não tem cor
Tem dor...
***
O meu versejar
Muitas das vezes não tem rima
***
Minha poesia não é negra!
Como a cor da minha pele!
Minha arte não tem rima…
***
Sou eu que preencho!
A cor branca do papel...
Com a negra tinta!
Que tem a cor da minha pele!
Negra tinta que eu preencho
As páginas em branco...
De negra dor africana
Afro-americana...
Dor afro-brasileira!
Na pós-escravidão...
No pós-modernismo!
***
Minha arte não tem cor
Cor tenho eu...
Cor da noite
Cor de ébano
Dor negra...
A flor da pele
Negra flor...
Negra dor
Flor africana
Que nasceu no velho mundo
Mundo negro...
Que tem o tom da minha pele
Negra arte
Arte negra...profana!
Que tem origem no velho mundo
Mundo negro!
Minha não é negra
***
Negro sou eu...
Tenho a cor da noite
Que em negros prantos
Negras lágrimas de dor
Dor africana...
Afro-brasileira
ELA LINDA COMO A FLOR
Por Vivaldo Terres (Itajaí, SC)
Se
o amor que me dedicas é fingido...
E
sem valor!
Então
nunca, digas a alguém que me amas,
Porque
isso é desamor!
***
Se
quando pensares num carinho;
E
na mesma hora lembrares,
Que
não vale a pena!
Porque
esse alguém te feriu te maltratou...
***
Presta
atenção no que digo;
Porque
isso não é amor...
E
sim desamor!
***
Quando
tudo estiver pronto...
Ela
linda como a flor!
E
na ânsia do desejo.
Pronto
para fazer amor.
Se
ela te negar carinho,
Podes
crê que é desamor!
O QUE É CULTURA?
Por
Humberto pinho da Silva(Porto, Portugal)
Dizia, certa vez, alguém, cujo
nome já não me recordo, que: Cultura, é o que resta, depois de tudo se ter
esquecido.
É a essência, que permanece da:
educação, que recebemos; dos costumes; tradições e valores, que alicerçam a
sociedade, em que estamos inseridos.
Saber: é ter conhecimento de
certa matéria ou determinado assunto. Cultura: é o sumo de vários
conhecimentos, que foram “ esquecidos”, ao longo da vida e servem para: pensar,
criticar, raciocinar… e escrever.
Nem só o académico, que
frequentou a Universidade, se pode dizer que é culto; o ignorante, o humilde
trabalhador do campo, pode ser sábio, e ensinar-nos muito, que empiricamente
foi adquirindo, por experiência própria ou recebida dos seus maiores.
Muitas vezes, a gente rude, são
verdadeiros livros abertos, no modo como se exprime, e na vernaculidade dos
termos que emprega.
Cultura e liberdade, andam de
mãos dadas. Não pode sobreviver a cultura de um povo, se o invasor, impõe:
religião, língua, tradições, valores da sua civilização.
Antigos conquistadores,
conheciam que o modo eficaz de dominaram um povo, era inculcarem: costumes e
tradições alheias, ao longo dos anos.
A lavagem cultural, pode ser
pela violência (decreto); ou levá-lo a aceitar, por imitação ou complexo de
inferioridade.
Foi o método usado pelos
europeus, na época dos descobrimentos. Pelos romanos, ao expandirem o Império;
e, segundo parece, o processo, que certos lideres muçulmanos pretendiam fazer,
de modo pacífico, primeiro ao Ocidente, depois ao Oriente.
A globalização acelera o fim da
cultura característica dos povos, criando a mestiçagem da cultura, e fomentando
a mobilização, e a perda de identidade dos povos.
É, porém, verdade, que a
amálgama de tradições e costumes, enfim, da cultura de vários povos, enriquecem
os países; mas, também, é verdade, que os descaracteriza.
Cada povo tem sua cultura, seu
modo de pensar e agir, transmitidos de geração a geração. A globalização,
lentamente, vai igualando, impondo aos povos mais fracos, a perda de identidade;
acabando assimilados.
Perseverar a língua, é defender
a cultura de um povo.
Em “ A Correspondência de
Fradique Mendes”, Eça, depois de afirmar que :” Na língua verdadeiramente reside a nacionalidade”, exprime a opinião
sobre o poliglota: “Nunca é patriota. Com
cada idioma alheio que assimila, introduzem-se-lhe no organismo moral modos
alheios de pensar, modos alheios de sentir. O seu patriotismo desaparece,
diluído em estrangeirismo.” (*)
Infelizmente, a língua portuguesa,
tem sofrido tantos saltos de polé, enxertada de tantos estrangeirismos, tão
desprezada, pelas figuras públicas, inclusive a classe politica, que anda mais
remendada, que capa de pedinte, como dizia o nosso clássico.
Na época de Eça, éramos “
colonizados” pela França. Para se ser considerado culto, era necessário
conhecer a língua francesa.
Tudo vinha de Paris: a moda, a
ciência, a arte…e até os janotas da alta-sociedade, iam, à Capital da Luz,
buscar noiva! …
Agora, tudo nos chega da terra
do Tio Sam: os costumes, tradições, as ideias…; até a nossa língua sofre – e de
que maneira, – com a subserviência…
(*) – Edição de Lelo &
Irmão, Porto,1960 – Pág. 128
TER NOME, É O QUE INTERESSA
Por
Humberto Pinho da Silva (Porto, Portugal)
Naquele fim de tarde de Verão,
de 1971, estava na livraria Figueirinhas, na companhia de meu pai, folheando as
últimas novidades, expostas nos escaparates.
O Sr. Ferreira, chefe de
balcão, passou por nós, cumprimentando-nos efusivamente:
- “Lindo dia! …Hem!?” –
Perguntou, de semblante risonho.
Afirmativamente, respondemos:
De súbito, aproximou-se o Sr.
Fernando Figueirinhas – sócio da firma, – cumprimentando-nos apressadamente,
estendendo a mão:
- “ Sr. Pinho da Silva, gostava
de conhecer, pessoalmente, António Lopes Ribeiro?!”
Antes que meu pai respondesse, acrescentou:
- ” Está no meu gabinete. Venha
dai! …”
Meu pai acompanhou-o, e eu,
fiquei a conversar com o Sr. Ferreira, que me revelou: que o cineasta tinha
vindo negociar o seu novo livro: “ Anticoisas & Telecoisas”.
Em breve, caminhavam em minha
direcção; meu pai, e o apresentador do programa: “ Museu do Cinema” – popular
rubrica da RTP.
Pararam junto de mim.
Conversavam animadamente, sobre teatro e da obra que o realizador de cinema, ia
publicar.
A determinado passo da
conversa, meu pai, interrompe, para interroga-lo sobre o Maestro António de
Melo, tratando-o por Sr. doutor.
António Lopes Ribeiro,
recurvou-se ligeiramente, e pedindo desculpa, disse-lhe:
- Ó Sr. Pinho da Silva, vou-lhe
pedir um grande favor: não me trate por doutor! …Eu tenho nome! …Chame-me
António ou António Lopes Ribeiro. Sabe?: só é doutor, quem não tem nome…Já
reparou: aos grandes homens, ninguém os trata por doutor?! …”
Meu pai concordou, sacudindo
afirmativamente a cabeça. Quem chama de doutor: Egas Moniz ou Carrel?
A conversa terminara. O
cineasta estava com pressa. Tinha compromissos inadiáveis, e retirou-se,
desaparecendo entre a multidão dos transeuntes da Praça.
O Sr. Ferreira, que tudo
ouvira, ainda ficou a remoer nas palavras que escutara:
- “ Na verdade, ninguém trata
por doutor, os grandes homens da ciência! Não é verdade ?!…; Sr. Pinho
da Silva?…”
O PRECONCEITO NA INFÂNCIA
Por Clarisse da Costa (Biguaçu, SC)
Não sei ao certo dizer se o
preconceito começa já na infância. No meu caso tive de frente com ele a partir
dos sete anos de idade, no meu primeiro ano escolar. Sem noção exata do que era
o racismo. O preconceito veio por parte de crianças que foram crescendo
cometendo os mesmos atos. Está certo que crianças não têm noção exata das
coisas, mas de alguma forma aquilo me atingia. É sabido por mim que seus pais
eram preconceituosos, será que isso teve influência em seus atos de
preconceito?
Não sei se eu posso continuar
chamando tudo que aconteceu de preconceito. Eu era comparada ao macaco, meu
cabelo era comparado com uma palha de aço e eu sempre era a menina boba e feia.
Recordo-me do dia em que fui fazer o trabalho escolar na casa de uma colega,
antes mesmo de eu entregar na casa ela disse para eu esperar um pouco no pátio
da casa, o motivo é que sua mãe não gostava de pessoas negras.
Com toda firmeza em suas palavras
ela disse: a mãe não gosta de preto. A nossa educação na infância é de
responsabilidade dos pais. Com uma boa educação eu acredito que é possível se
formar adultos bons. Eu ouvi de tudo e tudo que pude fazer é chorar no meu
quarto. Fui ter noção de tudo que me aconteceu na fase adulta, quando parei
para pensar nos ocorridos. Antes disso,
na minha adolescência, aos quinze anos de idade, me vi representada em um
livro.
Ele seguia perdido e de certa
forma eu também. Aquele não era o seu mundo, tinha que se adaptar e ainda de
alguma forma ser aceito pelas crianças do bairro. A cor da sua pele parecia
fazer muita diferença naquele que seria seu novo lar. Um negro em meio há tantas crianças brancas,
perdido tal como eu mesma nos meus sete anos de idade sem uma amiga sequer na
primeira série do ensino fundamental.
Benê não quis aquela situação, mas
as condições da vida levaram para este novo lugar. O que a vida fez com ele fez
comigo também, me levando para a poesia e depois para todos os caminhos da
literatura. Eu era uma estranha na sala de aula com 29 alunos brancos. Eu
entrei na história de Benê e fui Benê.
Eu era feliz quando no meu mundo
particular não havia ofensas, preconceitos… Luiz Galdino nem imagina que eu fui
dantes, na infância, o personagem do seu livro ‘’Saudade da Vila’’. Essa
história eu quis ter escrito e foi a partir daí que a poetisa e negra Clarisse
da Costa nasceram. Aos 15 anos sem acesso a leitura.
Com o livro em mãos vi
possibilidades de vencer. Por essa razão te convido a encantar outras crianças
com um livro. Livros têm o dom de transformar pessoas do mesmo modo ele traz
boas coisas que podem fazer toda diferença em nossas vidas. E só para deixar
bem claro no país da desigualdade, somos todos Benê.
VOCÊ É VIOLADA DE TODAS AS FORMAS
Agora entro em outra questão, na
violação da mulher. O que está dentro do contexto da solidão da mulher negra e
todas as mulheres no Brasil. Ontem ele me falou de amor. Jurou amor ao ponto de
eu acreditar. Já hoje ele falou do meu
corpo. Tudo que ele queria sobre mim não passava de pele, de formas e desejos.
Não se iluda mulher, ele chega de mansinho como o homem da vida de uma mulher,
que vai tirar ela da escuridão e trazê-la a vida. Você é violada em todos os
sentidos e não percebe.
Violada no não ouvi-la. Violada na
falta de atenção quando você mais precisa. Violada com o seu machismo
deprimindo você. Violada no seu corpo depreciando algo que na sua idéia de
mulher perfeita ele não gostou. Melhor dizendo... Que ele não aprovou. Violada
ao pedir fotos. Violada em não ter o seu não respeitado. Violada em fazê-la
acreditar que é amor. Violada em exigir atenção somente para ele. Violada ao
sumir sem lhe dar respostas.
A mulher não é só agredida com
pancadas, tapas, sendo molestada e estuprada. A mulher é agredida, violada,
quando lhe roubam a sua liberdade de ser. Quando a tratam como lixo, quando
querem que ela seja submissa e cale a sua voz. Quando se trata da mulher negra
o contexto vem de muitos fatores, a cor da pele, o fator mulher, o baixo
salário, as condições sociais...
Na escravidão a vida da mulher era
por obrigação e sem escolha alguma servir o seu dono, o senhor de escravos.
Para ele, a mulher negra não passava de mais uma propriedade sua. O que de fato
era. A mulher era exposta e vendida, aquele que a comprava podia fazer o que
quisesse com ela. Cada escrava tinha uma função, as mais bonitas eram
escolhidas pelos seus senhores para serem concubinas e domésticas. Ou seja,
objeto sexual dos homens!
A violação da mulher negra já vem
desde esse período e por conseqüência a mulher atual carrega consigo o estigma
de objeto sexual e serviçal daquele que a deseja. Do período escravocrata a
mulher negra herdou os trabalhos dantes escravos, o doméstico e tantos outros.
Considerada inferior tem o menor salário no Brasil, abaixo do homem branco e o
homem negro e a mulher branca. Ela cresce violada nos seus direitos e na sua
identidade. Violada tendo que seguir os padrões de beleza regidos pela
sociedade brasileira.
Mas essa mulher atual abraça a sua
luta e não se permite perder suas raízes e identidade. Mesmo com toda essa
violação ela procura se encaixar na sociedade. A busca pela aceitação vai além
de ser aceita pela sociedade e sim da aceitação de si mesma. Até mesmo porque
mulher alguma nesse mundo é igual à outra, cada mulher tem a sua
particularidade. E qual delas não passou pelo processo de aceitação? Eu mesma
demorei a me aceitar. De certa forma eu não estava feliz. Tinha que me
posicionar como mulher e negra. Eu não era mais aquela menina e não podia ficar
a vida inteira achando que sou ‘’o patinho feio’’.
Sou poetisa e com a escrita dei voz
a muitas coisas que estavam em silêncio. E essa arte de escrever me trouxe a
chance de eu conhecer a minha própria pessoa. Então decidi fazer disso uma arma
de empoderamento na minha vida. Crescer e ter vida através do que eu mais gosto
de fazer. Com essa determinação passei a entender muitas fragilidades minha.
Eu não sou o rostinho bonito, ou o
corpo bonito que muitos homens me falam. Eu sou uma mulher com todos seus
defeitos e sentimentos. Para uns apenas o corpo, para outros apenas uma menina
deficiente. Mas aí eu olho para trás e vejo o quanto eu andei. Eu não tenho o
corpo perfeito, tenho minhas limitações físicas, não sigo as regras da
sociedade e seus padrões, nem por isso vou ficar me escondendo. Com as
fotografias quero mostrar o quão capaz é uma mulher e a sua infinita forma
feminina. Através das fotografias podemos ver as diversidades e belezas da
mulher brasileira.
No Brasil como já dito por mim a
mulher fica sempre em segundo plano, os piores salários e trabalho, o corpo
sempre usado como apelo sexual nas mídias, a exigência lhe dada do corpo
perfeito, levando em conta que para muitos da sociedade só existe um tipo de
mulher. Nesse contexto de um tipo só de mulher, a mulher negra fica de fora,
excluída sofre os piores preconceitos tanto por ser mulher como pela cor de sua
pele.
Dizem que sou feminista por lutar
pelas mulheres. Mas será? Eu luto por aquilo que acho merecedor para todas as
mulheres. Lutar pela igualdade e respeito de todas é ser feminista? Acredito
que os meus ideais não cabem em sistema algum.
Eu sou negra da pele clara, não
admito que me digam o contrário por causa desse detalhe. Temos que admitir que
ser mulher no Brasil não é nada fácil. O modo em que a mulher é tratada torna
tudo mais difícil.
Então
quando a mulher se descobre começa a buscar forças para ser bem mais do que
sempre foi. Vejamos o meu caso, quando o meu lado mulher começou aflorar eu
quis ser mais mulher e buscar todas as mulheres em mim através das fotografias.
Com um belo sorriso e um olhar sedutor vi bem mais de mim, uma entrega. De
repente com o simples gesto de olhar contemplando a mim mesma percebi a sedução
nascendo de dentro para fora. Nem precisei me despir ou usar decotes
extravagantes. Fui apenas eu na minha simplicidade.
É assim que acontece. Mesmo com a
baixa auto-estima relutando em nós buscamos sempre encontrar a nossa essência e
com objetividade seguimos em frente. Cedo ou tarde nos reconhecemos.
O
espelho em certas horas é o amigo que nos diz o quanto somos mulheres lindas.
Depois cada parte do nosso corpo liberta nossos extintos.
O
olhar é malicioso e despretensioso. Não temos motivos para a sedução. Só apenas
sentimos.
É a nossa liberdade quando olhamos
para nós. Às vezes aparece alguém para romper esse elo celestial. Mas a gente
segue na luta. Claro que muitas de nós fraquejam no meio do caminho. É natural
que isso aconteça. Não somos de ferro. O ser humano tem mais fragilidade que
ele mesmo próprio nem imagina.
A
baixa auto-estima nasce de julgamentos, preconceitos e fatores familiares e
sociais.
O indivíduo muitas vezes se julga
incapaz sendo criado com esse estigma de que é impossível e vai tentando lhe
convencer que você não vai conseguir. Em alguns casos isso se procede no núcleo
familiar e depois pela ausência de respeito no meio em que vive. Por isso nós
mulheres temos que ser fortes e mostrar para a sociedade que somos mais que
corpos. Que a nossa capacidade não acaba na cozinha. Até mesmo porque somos o
coração do mundo, aquela que gera a vida.
A NEBULOSA GALÁXIA DENTRO DE MIM - PRIMEIRA PARTE
Por Samuel da Costa (Itajaí, SC)
Para Vanessa Martins DA Maia
Para Vanessa Martins DA Maia
Para mim
Um simples sorriso
me basta
***
Acordar
Em uma bela amena manhã
E caminhar excelsa pelas ruas
Em um dia de sol hialino
Com um céu azul
E sem nuvens
***
E se o destino
Assim me conceber
Eu possa ganhar
Uma barra de chocolate
De um completo desconhecido
Que pela rua passa
***
Para mim
Um simples sorriso
me basta
Para viver a minha vida
Docemente
E experimentar calmante
À luz do dia
Ganhar as ruas apopléticas
E andar livremente
Com uma doce brisa no rosto
Um simples sorriso
me basta
***
Acordar
Em uma bela amena manhã
E caminhar excelsa pelas ruas
Em um dia de sol hialino
Com um céu azul
E sem nuvens
***
E se o destino
Assim me conceber
Eu possa ganhar
Uma barra de chocolate
De um completo desconhecido
Que pela rua passa
***
Para mim
Um simples sorriso
me basta
Para viver a minha vida
Docemente
E experimentar calmante
À luz do dia
Ganhar as ruas apopléticas
E andar livremente
Com uma doce brisa no rosto
AINHUM (NA FAVELA)
Para José Luis P. Grando
Fico pensando
Se da para
viver/sobreviver
Em meio a tiros, drogas
e pobreza extrema
Entre outras coisas
mais
Fico pensando se dá
para viver
Em meio a escolas
fechadas
Lixo nas ruas...
Penso nas muitas
possibilidades
E nas muitas
impossibilidades
Da tal meritocracia
Tão apregadas por
alguns
Em um país tão desigual
Reflito no populismo
barato!
Que emana de certos
líderes políticos
Que com seus
velhos hábitos...
De pensarem só em
si mesmos!
Penso nas muitas
possibilidades!
E nas muitas
impossibilidades!
Criar meu
filho...
De cor de ébano!
Em meio às siglas:
AK-47, AR-15 e UZI...
Sendo disparadas!
Penso nas sirenes das
polícias
A invadir o meu
cotidiano...
Tento anegrejar meus pensamentos
E me imagino um Nagô...
Penso em um Masai...
E nas línguas
Gestos
Dos sabores, cores
Dores e crenças
Quais me
obrigaram a esquecer
Penso também
Nos deuses pálidos e
esquálidos
Nas crenças pálidas
Que tiver que seguir
Penso na viagem
onírica!
Aonde posso visitar
O Chade
O Burundi
O Congo
Cortar o alicondo
Tomar a almadia
Como a arga
Castigo o biribíri
Danço o bangulê
Danço o lundum
Danço o caxambu
Usar o muje
Viver a minha vida
Avesso ao senso de
justiça
Avesso aos brilhos
Dos olhos famintos
Por lucro rápido &
fácil
Regado a sangue
negro!
Volta meus pensamentos
para o sul
Onde moro...
E como sou esmagado...
Por uma cultura que não
é minha...
São festas
Gestos
Roupas
Rostos
Pálidos
Esquálidos
Que tenho que suportar
Penso na carga
Que tenho
que suporta!
A invisibilidade que
tenho que suportar
DUAS VIOLAS ARTEIRAS
Por Urda Alice Klueger (Enseada de Brito, SC)
Confesso: nunca fui pessoa de ler
jornal. Mesmo na infância, tempo do Pato Donald e de A Manchete, já lia a ambas
mescladas com os livros recém-saídos sobre a Segunda Guerra Mundial ou com
romances em geral. O livro prevaleceu na minha vida. Foi através do livro que
me informei, aprendi, me formei. Foi assim que um dia descobri um livro chamado
“Água no pote”, de um certo Flávio José Cardozo, e aquilo foi amor à primeira
leitura. Flávio nunca mais saiu da minha vida, desde aqueles tempos em que
ainda éramos bastante jovens para experimentarmos uns 30 ou 40 tipos de cachaça
que apareciam numa barraca na Feira do Livro, quando ela acontecia à frente da
Catedral de Florianópolis, havendo desde cachaça com cobra até com pétalas de
rosa! No dia em que entrei na Academia Catarinense de Letras, faz quase uns 30
anos, entrei lá segurando o braço do Flávio (e do Silveira de Souza). Mas penso
que nunca li o Flávio em jornal, mas sempre em livro.
Conto esta comprida história para
me penitenciar diante de Sérgio da Costa Ramos por nunca havê-lo lido até agora
– com certeza tem livros, muitos, imagino, mas quis o destino que nunca um
deles chegasse às minhas mãos. Mas sempre há um dia, no entanto. Saiu em 2008
(Virge, que desgraça de águas que foi Blumenau naquele ano! Virge, minha mãe
doente, tão doente que em 2009 bateu as asas e voou para plagas mais amenas...
Virge, e aí começou o doutorado, e 4 anos depois, quando terminou, havia 300
livros esperando leitura...) um livro chamado “Duas violas arteiras” onde, como
duas crianças brincando na hora do recreio, Flávio José Cardozo e Sérgio da
Costa Ramos mesclam nele as excelentes crônicas que um dia publicaram em
jornal. Primor puro!
Na demolição da pilha dos 300
livros que ficaram de saldo do doutorado, agora cheguei nas Duas Violas
Arteiras e me deliciei com suas notas musicais como há tempos não me deliciava diante
de tantas crônicas maravilhosas. Fica difícil eleger uma para dizer que é
melhor que a outra, mas no caso do Flávio, atrevo-me a dizer que a que mais
gostei foi aquela onde ele pegou de pau o Juiz Lalau, famoso corrupto que
ocupou nossa imaginação por uns bons tempos – não tenho tal intimidade com
Sérgio da Costa Ramos, mas afianço a ele, na verdade um desconhecido até a
última semana, que li cada um dos seus textos como quem espia a vitrine de uma
joalheria, para ver como faíscam os diamantes!
Meninos, vocês são o máximo!
Recomendo “Duas violas arteiras” a todo o público que gosta de uma boa leitura.
É um verdadeiro primor!
Sertão da Enseada de
Brito, 23 de março de 2019.
DA SÉRIE AMOR EM VERMELHO:SONHOS SURREAIS
Por Samuel da Costa (Itajaí, SC)
Quando
os meus sonhos surreais
Não
te sonharem mais
Eu
te apagarei completamente
Da
quasimoda memória minha
***
Quando
os meus abissais desejos lascivos
Não
te desejarem mais
E
a mais escura das noites
Se
abaterem em mim
Eu
estarei morto para a vida
***
Quando
o astro rei
Se
por na alvorada negra
Vou
incinerar no arrebol
Todos
os versos meus
Que
compus para a divina Luna
Então
não sobrara mais nada de mim