quinta-feira, 2 de maio de 2019

O BEM E O MAL (FILME EXPERIMENTAL)

Por Paccelli José Maracci Zahler (Brasília, DF)

MONTANHAS E PLANÍCIES

Por Vânia Moreira Diniz (Brasília, DF)



(A autora é presidente da Academia de Letras do Brasil, Seccional Distrito Federal - ALB/DF)

ARABESCO


Por Pedro Du Bois (Balneário Camboriú, SC)

O arabesco ecoa trombetas

antigas inimigas percorrem

muros no estado do barulho


o arabesco mudo

em mudanças

na trama não urde

o tecido esgarçado


amigas chegam

no calor da noite

tocam seus dedos

sobre as feridas


o arabesco desnudo

em traços percorridos

no silêncio do dia findo.

DETALHES


Por Pedro Du Bois (Balneário Camboriú, SC) 

Busca nos detalhes

o ponto de apoio

anelo

anelado dedo com que se defende dos oferecimentos

e se esconde dos tormentos
  

detalhes o mantém à salvo das estéreis horas

de retornos fossem pedras carregadas nos bolsos

raivas concentradas na incapacidade do espelho



enrola o fio

o anel cintila

no dedo solto

em sobressalto


não há morte nos detalhes secos e ásperos


o tempo ajustado

solta as amarras

retira o anel.


CORPOS E MARCAS


Por Pedro Du Bois (Balneário Camboriú, SC)


O corpo marcado

no que outros corpos

escondem


o segredo da vida

posto

disposto

reposto

em respostas

marcadas
  

palavras silenciam

o corpo esclarece

e marca
  

o medo cristaliza

mentiras em verdades

e o corpo

se transubstancia

na maldade

de alguém cujo

corpo marca.

FIM


Por Pedro Du Bois (Balneário Camboriú, SC)



Imagem em que te enxerga

enquanto o dia não chega

porque o mundo acabou

antes da alba



remoças o corpo em que te vejo

na idade vulgar: carinho

com que te entrego

o mundo antes que acabe



recomeças a imagem

em passado tempo

de reflexo malfeito

e na poça d’água pisas

o barro molhado

de que serias feita



refazes o início


em renovada imagem e reflexo



o que vês te alucina: passas

pela estrada em que não chegas

que o mundo findou teu destino.


SEUS OLHOS

Por Ildefonso de Sambaíba (Brasília, DF)



O RELÓGIO

Por Ildefonso de Sambaíba (Brasília, DF)


SUOR

Por Ridamar Batista (Anápolis, GO)


SEU ROSTO


Por Ridamar Batista (Anápolis, GO)


DECLARO-TE MEU AMOR


Por Ildefonso de Sambaíba (Brasília, DF)


DEIXA O SOL ENTRAR...

Por Samuel da Costa (Itajaí, SC)
Para Rute Margarida Rita

Abra as janelas!
E puxe as cortinas.
 Deixa o Sol entrar,
O Astro rei...
***
Chega de viver na escuridão...
Pois quero viver...
Ao teu lado!
***
Da me a tua delicada mão!
Vamos abrir as janelas...
E puxar as cortinas.
Deixar a vida entrar!
Vamos viver a vida...
Deixa a vida entrar
Vamos viver! 



POETA EM NEGRO NA NEGRA DOR

Por Samuel da Costa (Itajaí, SC)
                                                                                                                  Para Aristides de Souza Maia

Minha pena não tem cor
Cor tenho eu...
Minha dor não tem cor!
Minha arte não tem cor
Tem dor
A minha poesia não tem cor
Tem dor... 
***
O meu versejar
Muitas das vezes não tem rima
***
Minha poesia não é negra!
Como a cor da minha pele!
Minha arte não tem rima…
***
Sou eu que preencho!
A cor branca do papel...
Com a negra tinta!
Que tem a cor da minha pele!
Negra tinta que eu preencho
As páginas em branco...
De negra dor africana
Afro-americana...
Dor afro-brasileira!
Na pós-escravidão...
No pós-modernismo!
***
Minha arte não tem cor
Cor tenho eu...
Cor da noite
Cor de ébano
Dor negra...
A flor da pele
Negra flor...
Negra dor
Flor africana
Que nasceu no velho mundo
Mundo negro...
  Que tem o tom da minha pele
Negra arte
Arte negra...profana!
Que tem origem no velho mundo
Mundo negro!
Minha não é negra
***
Negro sou eu...
Tenho a cor da noite
Que em negros prantos
Negras lágrimas de dor
Dor africana...
Afro-brasileira


ELA LINDA COMO A FLOR

Por Vivaldo Terres (Itajaí, SC)

Se o amor que me dedicas é fingido...
E sem valor!
Então nunca, digas a alguém que me amas,
Porque isso é desamor!
***
Se quando pensares num carinho;
E na mesma hora lembrares,
Que não vale a pena!
Porque esse alguém te feriu te maltratou...
***
Presta atenção no que digo;
Porque isso não é amor...
E sim desamor!
***
Quando tudo estiver pronto...
Ela linda como a flor!
E na ânsia do desejo.
Pronto para fazer amor.
Se ela te negar carinho,
Podes crê que é desamor!


O QUE É CULTURA?


Por Humberto pinho da Silva(Porto, Portugal)


Dizia, certa vez, alguém, cujo nome já não me recordo, que: Cultura, é o que resta, depois de tudo se ter esquecido.
É a essência, que permanece da: educação, que recebemos; dos costumes; tradições e valores, que alicerçam a sociedade, em que estamos inseridos.
Saber: é ter conhecimento de certa matéria ou determinado assunto. Cultura: é o sumo de vários conhecimentos, que foram “ esquecidos”, ao longo da vida e servem para: pensar, criticar, raciocinar… e escrever.
Nem só o académico, que frequentou a Universidade, se pode dizer que é culto; o ignorante, o humilde trabalhador do campo, pode ser sábio, e ensinar-nos muito, que empiricamente foi adquirindo, por experiência própria ou recebida dos seus maiores.
Muitas vezes, a gente rude, são verdadeiros livros abertos, no modo como se exprime, e na vernaculidade dos termos que emprega.
Cultura e liberdade, andam de mãos dadas. Não pode sobreviver a cultura de um povo, se o invasor, impõe: religião, língua, tradições, valores da sua civilização.
Antigos conquistadores, conheciam que o modo eficaz de dominaram um povo, era inculcarem: costumes e tradições alheias, ao longo dos anos.
A lavagem cultural, pode ser pela violência (decreto); ou levá-lo a aceitar, por imitação ou complexo de inferioridade.
Foi o método usado pelos europeus, na época dos descobrimentos. Pelos romanos, ao expandirem o Império; e, segundo parece, o processo, que certos lideres muçulmanos pretendiam fazer, de modo pacífico, primeiro ao Ocidente, depois ao Oriente.
A globalização acelera o fim da cultura característica dos povos, criando a mestiçagem da cultura, e fomentando a mobilização, e a perda de identidade dos povos.
É, porém, verdade, que a amálgama de tradições e costumes, enfim, da cultura de vários povos, enriquecem os países; mas, também, é verdade, que os descaracteriza.
Cada povo tem sua cultura, seu modo de pensar e agir, transmitidos de geração a geração. A globalização, lentamente, vai igualando, impondo aos povos mais fracos, a perda de identidade; acabando assimilados.
Perseverar a língua, é defender a cultura de um povo.
Em “ A Correspondência de Fradique Mendes”, Eça, depois de afirmar que :” Na língua verdadeiramente reside a nacionalidade”, exprime a opinião sobre o poliglota: “Nunca é patriota. Com cada idioma alheio que assimila, introduzem-se-lhe no organismo moral modos alheios de pensar, modos alheios de sentir. O seu patriotismo desaparece, diluído em estrangeirismo.” (*)
Infelizmente, a língua portuguesa, tem sofrido tantos saltos de polé, enxertada de tantos estrangeirismos, tão desprezada, pelas figuras públicas, inclusive a classe politica, que anda mais remendada, que capa de pedinte, como dizia o nosso clássico.
Na época de Eça, éramos “ colonizados” pela França. Para se ser considerado culto, era necessário conhecer a língua francesa.
Tudo vinha de Paris: a moda, a ciência, a arte…e até os janotas da alta-sociedade, iam, à Capital da Luz, buscar noiva! …
Agora, tudo nos chega da terra do Tio Sam: os costumes, tradições, as ideias…; até a nossa língua sofre – e de que maneira, – com a subserviência…


(*) – Edição de Lelo & Irmão, Porto,1960 – Pág. 128

TER NOME, É O QUE INTERESSA


Por Humberto Pinho da Silva (Porto, Portugal)
  

Naquele fim de tarde de Verão, de 1971, estava na livraria Figueirinhas, na companhia de meu pai, folheando as últimas novidades, expostas nos escaparates.
O Sr. Ferreira, chefe de balcão, passou por nós, cumprimentando-nos efusivamente:
- “Lindo dia! …Hem!?” – Perguntou, de semblante risonho.
Afirmativamente, respondemos:
De súbito, aproximou-se o Sr. Fernando Figueirinhas – sócio da firma, – cumprimentando-nos apressadamente, estendendo a mão:
- “ Sr. Pinho da Silva, gostava de conhecer, pessoalmente, António Lopes Ribeiro?!”
 Antes que meu pai respondesse, acrescentou:
- ” Está no meu gabinete. Venha dai! …”
Meu pai acompanhou-o, e eu, fiquei a conversar com o Sr. Ferreira, que me revelou: que o cineasta tinha vindo negociar o seu novo livro: “ Anticoisas & Telecoisas”.
Em breve, caminhavam em minha direcção; meu pai, e o apresentador do programa: “ Museu do Cinema” – popular rubrica da RTP.
Pararam junto de mim. Conversavam animadamente, sobre teatro e da obra que o realizador de cinema, ia publicar.
A determinado passo da conversa, meu pai, interrompe, para interroga-lo sobre o Maestro António de Melo, tratando-o por Sr. doutor.
António Lopes Ribeiro, recurvou-se ligeiramente, e pedindo desculpa, disse-lhe:
- Ó Sr. Pinho da Silva, vou-lhe pedir um grande favor: não me trate por doutor! …Eu tenho nome! …Chame-me António ou António Lopes Ribeiro. Sabe?: só é doutor, quem não tem nome…Já reparou: aos grandes homens, ninguém os trata por doutor?! …”
Meu pai concordou, sacudindo afirmativamente a cabeça. Quem chama de doutor: Egas Moniz ou Carrel?
A conversa terminara. O cineasta estava com pressa. Tinha compromissos inadiáveis, e retirou-se, desaparecendo entre a multidão dos transeuntes da Praça.
O Sr. Ferreira, que tudo ouvira, ainda ficou a remoer nas palavras que escutara:
- “ Na verdade, ninguém trata por doutor, os grandes homens da ciência! Não é verdade ?!…; Sr. Pinho da Silva?…”

O PRECONCEITO NA INFÂNCIA


Por Clarisse da Costa (Biguaçu, SC)

            Não sei ao certo dizer se o preconceito começa já na infância. No meu caso tive de frente com ele a partir dos sete anos de idade, no meu primeiro ano escolar. Sem noção exata do que era o racismo. O preconceito veio por parte de crianças que foram crescendo cometendo os mesmos atos. Está certo que crianças não têm noção exata das coisas, mas de alguma forma aquilo me atingia. É sabido por mim que seus pais eram preconceituosos, será que isso teve influência em seus atos de preconceito?
            Não sei se eu posso continuar chamando tudo que aconteceu de preconceito. Eu era comparada ao macaco, meu cabelo era comparado com uma palha de aço e eu sempre era a menina boba e feia. Recordo-me do dia em que fui fazer o trabalho escolar na casa de uma colega, antes mesmo de eu entregar na casa ela disse para eu esperar um pouco no pátio da casa, o motivo é que sua mãe não gostava de pessoas negras.
            Com toda firmeza em suas palavras ela disse: a mãe não gosta de preto. A nossa educação na infância é de responsabilidade dos pais. Com uma boa educação eu acredito que é possível se formar adultos bons. Eu ouvi de tudo e tudo que pude fazer é chorar no meu quarto. Fui ter noção de tudo que me aconteceu na fase adulta, quando parei para pensar nos ocorridos.  Antes disso, na minha adolescência, aos quinze anos de idade, me vi representada em um livro.
            Ele  seguia perdido e de certa forma eu também. Aquele não era o seu mundo, tinha que se adaptar e ainda de alguma forma ser aceito pelas crianças do bairro. A cor da sua pele parecia fazer muita diferença naquele que seria seu novo lar.  Um negro em meio há tantas crianças brancas, perdido tal como eu mesma nos meus sete anos de idade sem uma amiga sequer na primeira série do ensino fundamental.
            Benê não quis aquela situação, mas as condições da vida levaram para este novo lugar. O que a vida fez com ele fez comigo também, me levando para a poesia e depois para todos os caminhos da literatura. Eu era uma estranha na sala de aula com 29 alunos brancos. Eu entrei na história de Benê e fui Benê.
            Eu era feliz quando no meu mundo particular não havia ofensas, preconceitos… Luiz Galdino nem imagina que eu fui dantes, na infância, o personagem do seu livro ‘’Saudade da Vila’’. Essa história eu quis ter escrito e foi a partir daí que a poetisa e negra Clarisse da Costa nasceram. Aos 15 anos sem acesso a leitura.
            Com o livro em mãos vi possibilidades de vencer. Por essa razão te convido a encantar outras crianças com um livro. Livros têm o dom de transformar pessoas do mesmo modo ele traz boas coisas que podem fazer toda diferença em nossas vidas. E só para deixar bem claro no país da desigualdade, somos todos Benê.


VOCÊ É VIOLADA DE TODAS AS FORMAS


Por Clarisse da Costa (Biguaçu, SC)

            Agora entro em outra questão, na violação da mulher. O que está dentro do contexto da solidão da mulher negra e todas as mulheres no Brasil. Ontem ele me falou de amor. Jurou amor ao ponto de eu acreditar.  Já hoje ele falou do meu corpo. Tudo que ele queria sobre mim não passava de pele, de formas e desejos. Não se iluda mulher, ele chega de mansinho como o homem da vida de uma mulher, que vai tirar ela da escuridão e trazê-la a vida. Você é violada em todos os sentidos e não percebe.
            Violada no não ouvi-la. Violada na falta de atenção quando você mais precisa. Violada com o seu machismo deprimindo você. Violada no seu corpo depreciando algo que na sua idéia de mulher perfeita ele não gostou. Melhor dizendo... Que ele não aprovou. Violada ao pedir fotos. Violada em não ter o seu não respeitado. Violada em fazê-la acreditar que é amor. Violada em exigir atenção somente para ele. Violada ao sumir sem lhe dar respostas.
            A mulher não é só agredida com pancadas, tapas, sendo molestada e estuprada. A mulher é agredida, violada, quando lhe roubam a sua liberdade de ser. Quando a tratam como lixo, quando querem que ela seja submissa e cale a sua voz. Quando se trata da mulher negra o contexto vem de muitos fatores, a cor da pele, o fator mulher, o baixo salário, as condições sociais...
            Na escravidão a vida da mulher era por obrigação e sem escolha alguma servir o seu dono, o senhor de escravos. Para ele, a mulher negra não passava de mais uma propriedade sua. O que de fato era. A mulher era exposta e vendida, aquele que a comprava podia fazer o que quisesse com ela. Cada escrava tinha uma função, as mais bonitas eram escolhidas pelos seus senhores para serem concubinas e domésticas. Ou seja, objeto sexual dos homens!
            A violação da mulher negra já vem desde esse período e por conseqüência a mulher atual carrega consigo o estigma de objeto sexual e serviçal daquele que a deseja. Do período escravocrata a mulher negra herdou os trabalhos dantes escravos, o doméstico e tantos outros. Considerada inferior tem o menor salário no Brasil, abaixo do homem branco e o homem negro e a mulher branca. Ela cresce violada nos seus direitos e na sua identidade. Violada tendo que seguir os padrões de beleza regidos pela sociedade brasileira.
            Mas essa mulher atual abraça a sua luta e não se permite perder suas raízes e identidade. Mesmo com toda essa violação ela procura se encaixar na sociedade. A busca pela aceitação vai além de ser aceita pela sociedade e sim da aceitação de si mesma. Até mesmo porque mulher alguma nesse mundo é igual à outra, cada mulher tem a sua particularidade. E qual delas não passou pelo processo de aceitação? Eu mesma demorei a me aceitar. De certa forma eu não estava feliz. Tinha que me posicionar como mulher e negra. Eu não era mais aquela menina e não podia ficar a vida inteira achando que sou ‘’o patinho feio’’.
            Sou poetisa e com a escrita dei voz a muitas coisas que estavam em silêncio. E essa arte de escrever me trouxe a chance de eu conhecer a minha própria pessoa. Então decidi fazer disso uma arma de empoderamento na minha vida. Crescer e ter vida através do que eu mais gosto de fazer. Com essa determinação passei a entender muitas fragilidades minha.
            Eu não sou o rostinho bonito, ou o corpo bonito que muitos homens me falam. Eu sou uma mulher com todos seus defeitos e sentimentos. Para uns apenas o corpo, para outros apenas uma menina deficiente. Mas aí eu olho para trás e vejo o quanto eu andei. Eu não tenho o corpo perfeito, tenho minhas limitações físicas, não sigo as regras da sociedade e seus padrões, nem por isso vou ficar me escondendo. Com as fotografias quero mostrar o quão capaz é uma mulher e a sua infinita forma feminina. Através das fotografias podemos ver as diversidades e belezas da mulher brasileira.
            No Brasil como já dito por mim a mulher fica sempre em segundo plano, os piores salários e trabalho, o corpo sempre usado como apelo sexual nas mídias, a exigência lhe dada do corpo perfeito, levando em conta que para muitos da sociedade só existe um tipo de mulher. Nesse contexto de um tipo só de mulher, a mulher negra fica de fora, excluída sofre os piores preconceitos tanto por ser mulher como pela cor de sua pele.
            Dizem que sou feminista por lutar pelas mulheres. Mas será? Eu luto por aquilo que acho merecedor para todas as mulheres. Lutar pela igualdade e respeito de todas é ser feminista? Acredito que os meus ideais não cabem em sistema algum.
            Eu sou negra da pele clara, não admito que me digam o contrário por causa desse detalhe. Temos que admitir que ser mulher no Brasil não é nada fácil. O modo em que a mulher é tratada torna tudo mais difícil.
Então quando a mulher se descobre começa a buscar forças para ser bem mais do que sempre foi. Vejamos o meu caso, quando o meu lado mulher começou aflorar eu quis ser mais mulher e buscar todas as mulheres em mim através das fotografias. Com um belo sorriso e um olhar sedutor vi bem mais de mim, uma entrega. De repente com o simples gesto de olhar contemplando a mim mesma percebi a sedução nascendo de dentro para fora. Nem precisei me despir ou usar decotes extravagantes. Fui apenas eu na minha simplicidade.
            É assim que acontece. Mesmo com a baixa auto-estima relutando em nós buscamos sempre encontrar a nossa essência e com objetividade seguimos em frente. Cedo ou tarde nos reconhecemos.
O espelho em certas horas é o amigo que nos diz o quanto somos mulheres lindas. Depois cada parte do nosso corpo liberta nossos extintos.
O olhar é malicioso e despretensioso. Não temos motivos para a sedução. Só apenas sentimos.
            É a nossa liberdade quando olhamos para nós. Às vezes aparece alguém para romper esse elo celestial. Mas a gente segue na luta. Claro que muitas de nós fraquejam no meio do caminho. É natural que isso aconteça. Não somos de ferro. O ser humano tem mais fragilidade que ele mesmo próprio nem imagina.
A baixa auto-estima nasce de julgamentos, preconceitos e fatores familiares e sociais.
            O indivíduo muitas vezes se julga incapaz sendo criado com esse estigma de que é impossível e vai tentando lhe convencer que você não vai conseguir. Em alguns casos isso se procede no núcleo familiar e depois pela ausência de respeito no meio em que vive. Por isso nós mulheres temos que ser fortes e mostrar para a sociedade que somos mais que corpos. Que a nossa capacidade não acaba na cozinha. Até mesmo porque somos o coração do mundo, aquela que gera a vida.


A NEBULOSA GALÁXIA DENTRO DE MIM - PRIMEIRA PARTE

Por Samuel da Costa (Itajaí, SC)
                                                                                                       Para Vanessa Martins DA Maia
Para mim
Um simples sorriso
me basta
***
Acordar
Em uma bela amena manhã
E caminhar excelsa pelas ruas
Em um dia de sol hialino
Com um céu azul
E sem nuvens
***
E se o destino
Assim me conceber
Eu possa ganhar
Uma barra de chocolate
De um completo desconhecido
Que pela rua passa
***
Para mim
Um simples sorriso
me basta
Para viver a minha vida
Docemente
E experimentar calmante
À luz do dia
Ganhar as ruas apopléticas
E andar livremente
Com uma doce brisa no rosto

AINHUM (NA FAVELA)

Por Samuel da Costa (Itajaí, SC)
 Para José Luis P. Grando
Fico pensando
 Se da para viver/sobreviver
Em meio a tiros, drogas e pobreza extrema
Entre outras coisas mais
Fico pensando se dá para viver
Em meio a escolas fechadas
Lixo nas ruas...   
Penso nas muitas possibilidades
E nas muitas impossibilidades
Da tal meritocracia
Tão apregadas por alguns
Em um país tão desigual
Reflito no populismo barato!
Que emana de certos líderes políticos
 Que com seus velhos hábitos...
 De pensarem só em si mesmos!
Penso nas muitas possibilidades!
E nas muitas impossibilidades!    
 Criar meu filho...
De cor de ébano!
Em meio às siglas: AK-47, AR-15 e UZI...
Sendo disparadas!
Penso nas sirenes das polícias
A invadir o meu cotidiano...
Tento anegrejar meus pensamentos  
E me imagino um Nagô...
Penso em um Masai...
E nas línguas
Gestos
Dos sabores,  cores
Dores e crenças
 Quais me obrigaram a esquecer
Penso também
Nos deuses pálidos e esquálidos
Nas crenças pálidas
Que tiver que seguir
Penso na viagem onírica!
Aonde posso visitar
O Chade
O Burundi
O Congo
Cortar o alicondo
Tomar a almadia
Como a arga
Castigo o biribíri
Danço o bangulê
Danço o lundum
Danço o caxambu
Usar o muje
  Viver a minha vida
Avesso ao senso de justiça
Avesso aos brilhos
Dos olhos famintos
Por lucro rápido & fácil
 Regado a sangue negro!
Volta meus pensamentos para o sul
Onde moro...
E como sou esmagado...
Por uma cultura que não é minha...
São festas
Gestos
Roupas
Rostos
Pálidos
Esquálidos
Que tenho que suportar
Penso na carga
  Que tenho que suporta!
A invisibilidade que tenho que suportar 


DUAS VIOLAS ARTEIRAS


Por Urda Alice Klueger (Enseada de Brito, SC)

                                    Confesso: nunca fui pessoa de ler jornal. Mesmo na infância, tempo do Pato Donald e de A Manchete, já lia a ambas mescladas com os livros recém-saídos sobre a Segunda Guerra Mundial ou com romances em geral. O livro prevaleceu na minha vida. Foi através do livro que me informei, aprendi, me formei. Foi assim que um dia descobri um livro chamado “Água no pote”, de um certo Flávio José Cardozo, e aquilo foi amor à primeira leitura. Flávio nunca mais saiu da minha vida, desde aqueles tempos em que ainda éramos bastante jovens para experimentarmos uns 30 ou 40 tipos de cachaça que apareciam numa barraca na Feira do Livro, quando ela acontecia à frente da Catedral de Florianópolis, havendo desde cachaça com cobra até com pétalas de rosa! No dia em que entrei na Academia Catarinense de Letras, faz quase uns 30 anos, entrei lá segurando o braço do Flávio (e do Silveira de Souza). Mas penso que nunca li o Flávio em jornal, mas sempre em livro.
                                    Conto esta comprida história para me penitenciar diante de Sérgio da Costa Ramos por nunca havê-lo lido até agora – com certeza tem livros, muitos, imagino, mas quis o destino que nunca um deles chegasse às minhas mãos. Mas sempre há um dia, no entanto. Saiu em 2008 (Virge, que desgraça de águas que foi Blumenau naquele ano! Virge, minha mãe doente, tão doente que em 2009 bateu as asas e voou para plagas mais amenas... Virge, e aí começou o doutorado, e 4 anos depois, quando terminou, havia 300 livros esperando leitura...) um livro chamado “Duas violas arteiras” onde, como duas crianças brincando na hora do recreio, Flávio José Cardozo e Sérgio da Costa Ramos mesclam nele as excelentes crônicas que um dia publicaram em jornal. Primor puro!
                                    Na demolição da pilha dos 300 livros que ficaram de saldo do doutorado, agora cheguei nas Duas Violas Arteiras e me deliciei com suas notas musicais como há tempos não me deliciava diante de tantas crônicas maravilhosas. Fica difícil eleger uma para dizer que é melhor que a outra, mas no caso do Flávio, atrevo-me a dizer que a que mais gostei foi aquela onde ele pegou de pau o Juiz Lalau, famoso corrupto que ocupou nossa imaginação por uns bons tempos – não tenho tal intimidade com Sérgio da Costa Ramos, mas afianço a ele, na verdade um desconhecido até a última semana, que li cada um dos seus textos como quem espia a vitrine de uma joalheria, para ver como faíscam os diamantes!
                                    Meninos, vocês são o máximo! Recomendo “Duas violas arteiras” a todo o público que gosta de uma boa leitura. É um verdadeiro primor!

Sertão da Enseada de Brito, 23 de março de 2019.


DA SÉRIE AMOR EM VERMELHO:SONHOS SURREAIS

Por Samuel da Costa (Itajaí, SC)

Quando os meus sonhos surreais
Não te sonharem mais
Eu te apagarei completamente
Da quasimoda memória minha
***
Quando os meus abissais desejos lascivos
Não te desejarem mais
E a mais escura das noites
Se abaterem em mim
Eu estarei morto para a vida
***
Quando o astro rei
Se por na alvorada negra
Vou incinerar no arrebol
Todos os versos meus
Que compus para a divina Luna
Então não sobrara mais nada de mim