Revista literária virtual de divulgação de escritores, poetas e amantes das letras e artes. Editor: Paccelli José Maracci Zahler Todas as opiniões aqui expressas são de responsabilidade dos autores. Aceitam-se colaborações. Contato: cerrado.cultural@gmail.com
sexta-feira, 1 de julho de 2022
"Cobra Norato" (de Raul Bopp)
OS MALEFÍCIOS DA NOVELA
Por Humberto Pinho da Silva (Porto, Portugal)
" Na Carta de Guia",
escreve D. Francisco Manuel de Melo, que viajando por terras de Espanha,
foi parar a hospedaria, onde a dona e suas filhas, tão elevadas estavam numa
novela, que não foram capazes de o receber.
Não encontrou melhor remédio,
se não procurar outra estalagem.
De regresso de viajem,
perguntou pela leitora e ouvintes. Disseram-lhe: " Que poucos dias
depois, a novela foi tanto adiante, que cada uma das filhas daquela
estalajadeira fizeram sua novela, fugindo com seu mancebo do lugar, como boa
aprendizes da doutrina, que tão bem estudaram."
O mesmo vai acontecendo com as
telenovelas – versão moderna das novelas de outrora, – imbuídas das mesmas
peçonhas, que incutem, na juventude, o desejo de passarem da ficção à
realidade.
Os enredos, em geral, não são
planeados, apenas para divertir; mas, no firme propósito de inculcar:
ideologias ou condutas perversas.
O nosso genial Eça, costumava –
talvez a pedido do editor, – " apimentar" a prosa, para aumentar as
vendas. Todavia conhecedor da perversidade, não queria que os filhos lessem os
textos, mormente a querida Maria.
Asseveram – não sei se é com
sinceridade, – cineastas e produtores da TV, que somente mostram a sociedade,
tal qual é.
Para eles, o cinema e novelas,
apresentadas pela TV, são o espelho da sociedade. Mas – digo eu, – não será a
comunidade, o espelho da TV e do cinema?
O que se passa na má fadada TV,
ocorre, igualmente, com obras literárias – algumas de soberbo estilo, – mas
abordando temas asquerosos e torpes, rebaixando a dignidade humana, ofendendo a
mulher – mãe, irmã e esposa.
Refiro-me a obras de valor,
porque escritas em elevado estilo, tornam-se ainda mais perigosas do que as
outras.
Bem avisa o bom Heitor Pinto
in: " Imagem de Vida Cristã: " Como a espada, quanto mais
excelente, tanto é mais perigosa na mão do furioso; assim a linguagem quanto
mais elegante, tanto mais perigo traz consigo."
Não é de admirar, portanto, com
tantas imundices, tanta telenovela e livros perversos, convidando à
voluptuosidade, a nossa terra seja infestada de - estupros, violações e porca
pornografia, vendida sem o menor pejo.
GINETE POR ACASO (1º Lugar FESTILENDA)
Por Severino Moreira (Bagé, RS)
À tardinha, daquele quase final de dezembro ainda guardava o mormaço que
ficara depois de um “solaço véio” bagual que deixara a gauchada assoleada
durante todo o dia. São Pedro apesar de padroeiro do Rio Grande do Sul, ao que
parece, não estava colaborando muito com aquela festa artística e campeira que
acontecia na Chácara Bela Vista, em mais uma grande promoção do Grupo de Artes
Nativas Campo Aberto.
Eu, nessa ocasião dava andamento
às atividades artísticas com um festival de intérpretes amadores que arremataria
em uma apresentação do cantor Cristiano Quevedo, que na época estava em início
de carreira, pois essa era uma das atividades que sempre cabiam a mim e aos
amigos do Departamento Cultural organizar e, por consequência apresentar ao
público que, diga-se de passagem, já era numeroso e por ser uma apresentação ao
ar livre, essa gauchada se espalhava a campo fora, sentado no pasto, em
pelegos, nos troncos das árvores e até mesmo pelos alambrados.
Estava no palco improvisado o terceiro ou quarto concorrente, daquela
tarde, quando ouvi anunciarem nos alto-falantes da campeira o início de um
concurso de tiro de laço, onde o prêmio ao vencedor seria uma novilha gorda e
eu resolvi, de “supetão”, que ia ganhar essa novilha, afinal me criei na lida
de campo, embora haja algum tempo arrinconado aqui pelo povo, ainda, sei atirar
o laço e não sou dos mais maturrengos no lombo de um cavalo.
Passei minhas atividades de
apresentador ao meu amigo Sérgio Pires, e enveredei no rumo das mangueiras,
decidido a ganhar a prova.
Acontece que, na verdade, eu não viera “aprecatado” para tal atividade,
tanto que nem meu ruano trouxera, de maneira que consegui uma égua emprestada
com Eron Torales, na época o capataz da Invernada campeira da entidade
promotora da festa.
Era uma égua bueníssima, bicho
flor de campeiro, mas chegadinha a dar cria o pobre animal. Lhes digo, estava
amojadinha, e era para aqueles dias que o índio estaria aumentando a sua
cavalhada.
O dono ainda me gritou. Vai com jeito, a égua esta “prenha” e é uma
eguínha mimosa.
Me orquetei nessa égua, preparei o laço e esperei na saída do brete, mas
não sei se por maturrengueada de quem largou ou se por simples picardia, o que
refugou do brete, não foi nenhum terneirote e sim, um touro mocho que de tão
“munaia” que era, quando largava a pata no chão, sumiam os tuco-tuco a uma
légua em da volta e o pior é que por “brabo” já saiu atropelando.
A égua, conforme eu disse, era
flor de campeira, nem bem o touro refugou já saiu pateando no lado.
Galopeou não mais que uns vinte metros e depois abriu para a direita e
foi no justo momento que atirei o laço: Atirei e “pescociei o bicho” e para
ficar mais linda a pataquada chamei na cincha.
Meu Deus do céu... Foi só um estouro.
O laço aguentou, porque era do Deponti, mas a pobre égua partiu ao meio e
se foi o touro a campo fora, errando cabeça nas pessoas, pulando cerca e
levando de arrasto os arreios com pedaços da égua, enquanto o resto do animal
se debatia ali no pasto, deixando a gauchada de olhos arregalados com tudo o
que acontecia.
Mas eu não me apertei. Fiquei a cavalo no potrilho e “comendo na espora”.
Não ganhei a tal novilha, mas tirei primeiro lugar em gineteada.
Notaram que estou de bombacha nova?
Bueno. Eu explico, é que minha bombacha velha se inutilizou com os restos
da placenta daquele potro.
APESAR DO TEMPO, PAI!
Por Leandro Bertoldo Silva (Padre Paraíso, MG)
Desculpe, pai, mas desconfio que não lhe
obedeci. Nem ao senhor nem à mãe. Lembra aquele dia quando eu tinha 5 anos?
Tudo bem, faz muito tempo, mas o senhor há de lembrar. Foi aquele dia que eu vi
outras crianças pegando papel na rua e colocando dentro de um saco para levá-lo
a um depósito, onde era pesado e o seu peso pago em moedas. Pai do céu! O
senhor não imagina como os meus olhos brilharam. Não sei se pela oportunidade
de ganhar dinheiro, pois era muito bom quando o moço do depósito nos entregava
as moedas, ou pela própria ação de juntar-me às outras crianças no trabalho de
vender papéis. Acredito que eram as duas coisas, acrescido de ainda poder levar
recursos para casa, afinal eu já estava me tornando um homem! Lembro-me
bem da sensação… “Uau! Ganhar dinheiro é tão fácil e tão gostoso!” O senhor não
me reconheceu na rua. Tudo bem, pai, não há nenhum mal nisso. Não tinha mesmo
como me reconhecer, eu estava todo sujo. Lembra como foi? O senhor estava a
voltar do trabalho quando em uma das inúmeras idas e vindas minhas com o saco
às costas cheio de papel a caminhar até o depósito, passou por mim.
— Oi, pai.
— Oi, filho. Oi, filho?!
Pois é, naquele momento o senhor me
levou embora e junto com a mãe, depois dela ter me dado um banho daqueles,
sentaram para conversar comigo. Nossa! Como me lembro dos olhos da minha mãe,
olhos de ternura. Os do senhor também. Só não entendi muito bem o sorrisinho
que estava junto deles quando eu disse estar trabalhando para ajudar nas
despesas da casa. O quê? Eu não disse isso a vocês? Mas eu deveria. Então digo
agora, mais de 40 anos depois. Engraçado, eu sempre achei que tinha dito isso…
Porque lembro bem o senhor e a mãe — ah, os olhos da minha mãe… —, dizerem que
eu não precisava fazer aquilo, que nesse ponto eu era diferente das outras
crianças. Diferente como, pai? Porque elas eram pobres e a gente não? Sabe de
uma coisa, pai, descobri que na vida existem vários tipos de pobreza e de
riqueza, e aquelas crianças eram muito ricas. Puxa vida, como eram ricas em
liberdade e alegria. O senhor precisava ver como ficávamos alegres no meio da
rua, quando encontrávamos um papelão mais grosso que ia render boas moedas. As
risadas, pai… Quanta riqueza naquelas risadas! Mas o senhor tem razão em um
ponto… Pai, eu vou te contar um segredo que eu nunca contei para ninguém. Eu
fiz uma coisa errada. Senti-me tão mal, pai! Era como se o senhor e a mãe nunca
fossem me perdoar. Sabe, essa sensação era muito pior do que pensar no castigo
de Deus que falavam nas igrejas. Nesse ponto eu fui mesmo diferente das outras
crianças. Sabe o que elas faziam? Elas pegavam uma pedra bem grande e colocavam
dentro do saco no meio dos papéis que era para pesar mais na hora da balança.
Então… Eu fiz isso também. Mas foi uma tentativa só. Foi muito esquisito.
Porque enquanto os meninos riam lá fora eu achava que aquilo não estava certo.
Mas eles me chamavam de bobo. Ah, isso não! Aí fui provar que eu não era bobo.
Peguei uma pedra bem pesada e coloquei no saco. Ela era tão pesada que foi
parar lá no fundo. Bem, o moço do depósito logo achou algo estranho, porque eu
mal conseguia carregar o saco. Além disso, eu tremia igual vara verde, e os meus
olhos faltavam saltar do rosto de tanto medo. O meu coração batia de um jeito
que dava para ver no peito sem camisa. O moço fez uma cara desconfiada, pegou o
saco e pôs na balança. Pois é, deu para ouvir um “pléim” bem alto, o barulho da
pedra no fundo ao bater no ferro. Que vergonha! Ele pegou a pedra, olhou e
disse: “Ah, seu moleque…”. Ser chamado de moleque foi a pior coisa que já me
aconteceu na vida. Os meninos tinham razão. Eu fui mesmo muito bobo, mas não
por ter colocado a pedra no fundo e não no meio dos papéis, como eles disseram,
mas por ter cedido àquela manobra. Não se preocupe, pai, o senhor e a mãe
ensinaram direitinho, o erro foi todo meu. Mas valeu. Só não valeu o fato de
não ter lhe obedecido, e aí voltamos ao início. Sabe o que é, pai? O tempo
passou, não foi? E por mais que eu tenha estudado e formado no almejado curso
superior, graças a vocês, com tanto sacrifício, eu queria mesmo era vender
papéis. Desculpe, pai, mas aquele menino de 5 anos sempre cresceu dentro de
mim. Ou melhor, eu crescia e ele vinha junto. Aí, no lugar do saco fiz uma
prensa de madeira e nela colo e costuro papéis transformados em livros, que são
pesados em uma balança um tanto diferente daquela de antigamente e enviados
pelo Correio às pessoas. Está assim confessada a minha desobediência. Pois é,
pai, precisava dizer isso ao senhor. Apesar de tudo, sou um vendedor de papéis.
A diferença é que eles são escritos. Só não uso pedras; prefiro a poesia.
RIGOLBOCHE
Por Dias Campos (São Paulo, SP)
No
prefácio à 5ª edição do seu Amor de perdição, Camilo Castelo Branco mostrou-se
um visionário, visto que assim se manifestou, referindo-se ao século 21: “Como
a honestidade é a alma da vida civil, e o decoro é o nó dos liames que atam a
sociedade, lembra-me se vergonha e sociedade ruirão ao mesmo tempo por defeito
de uma grande evolução-rigolboche. A lógica diz isto; mas a Providência, que
usa mais da metafísica que da lógica, provavelmente fará outra coisa.”
Ora,
se relembrarmos que, segundo o dicionário, rigolboche significa devassidão no
comportamento, e se olharmos rapidamente para um passado pouco distante, é
inevitável a conclusão de que os alicerces sociais brasileiros foram bastante
abalados.
Isso
me faz lembrar a velha luta entre o bem e o mal, das virtudes contra os vícios,
o “‘Tudo me é permitido’, mas nem tudo convém”, conforme afirmou o apóstolo Paulo.
Com
efeito, até Ulisses seria classificado como café pequeno se comparássemos os
seus mil ardis com a variedade dos meios utilizados pelas legiões rigolboches!
É
claro que, faço questão de frisar, não se trata, aqui, de policiamento, de puritanismo,
ou de coisa que o valha. Mas como o que está em jogo é a base social, a
família, o que de fato importa será a nossa firmeza de posicionamento, a escolha
de um lado.
Neste sentido, se é verdade que
“Imaginar uma sociedade impenetrável às transformações das épocas é imaginar um
corpo sem porosidade.”, como registrou Joaquim Nabuco, não menos exata é a
afirmação de Lacordaire, para quem “A sociedade não é mais do que o
desenvolvimento da família; se o homem sai da família corrupto, corrupto
entrará na sociedade.”
Daí a nossa excessiva preocupação com os
temas espinhosos que volta e meia são oferecidos para as nossas crianças sob a
forma de irresistíveis maçãs do amor, mas cujo caramelo, reluzente e sedutor, só
tem a função de encobrir a ameaça contida nessa fruta podre.
E tanto isso é verdade, tão perigosa
pode ser uma única mordida, que este ensinamento de Richter deveria ser
impresso, emoldurado e colocado sobre os criados-mudos de cada pai e mãe do
nosso Brasil: “A época mais importante da vida é a infância, quando a criança
começa a modelar-se por aqueles em cuja companhia vive.”
Sendo assim, as perguntas que não podem
ficar sem respostas são estas: Que exemplos passamos para os nossos filhos?
temos consciência de que, dependendo da nossa conduta, eles caminharão sob o
aconchego do sol ou se arrastarão na gelidez das sombras?
De nossa parte, e graças a Deus, estamos
tranquilos quanto à qualidade do alimento moral que oferecemos todos os dias para
o nosso herdeiro, o que nos permite deitar a cabeça no travesseiro e dormir o
sono dos justos.
Mas, e quanto aos pais que deram ouvidos
às fascinantes melodias rigolboches? Devem necessariamente colher o que
plantaram ou será que ainda há esperanças no horizonte?
Apesar da legislação permissiva, da
linguagem cativante, dos raciocínios enganosos, e de uma infinidade de
artimanhas utilizadas por aquela “evolução” para destruir a família, é certo
que a Providência não se calou diante de tantas investidas.
E como é sabido que Ela também age por
nosso intermédio, muitas vozes se levantaram e outras tantas se erguem na
defesa dos bons valores e na recondução de quem ainda se acha desorientado.
Uma, em especial, faço questão de
recomendar. É a do conhecido e carismático Divaldo Pereira Franco, que no 34º
Congresso Espírita do Estado de Goiás, em 2018, abordou, entre outros temas, a
ideologia de gênero, e indicou os meios mais eficazes para nos imunizarmos e
aos nossos filhos. – esta e muitas outras palestras constam no YouTube.
Para aqueles, porém, que não
comprometeriam, sequer por curiosidade, alguns minutos de suas vidas para
ouvirem o citado médium baiano, saibam do nosso respeito e fiquem com o nosso fraternal
abraço.
No entanto, para finalizarmos esta
crônica serão necessárias uma advertência e uma interrogação: Se “Em matéria
social é o rótulo impresso na garrafa que determina a qualidade e o sabor do
vinho.”, segundo escreveu Eça de Queiroz, pensando em nossos filhos e na sociedade
em que viverão, você realmente teria coragem de beber uma taça do tinto Rigolboche?
SÃO PEDRO CRUCIFICADO!
Por Marcelo de Oliveira Souza, IWA (Salvador, BA)
Nossos dias atribulados
Vêm os anjos e os santificados
Os amigos iluminados,
Todos eles ao nosso lado.
Cada dia tem a sua provação
Para isso temos que ter superação
Cada dia tem a sua comemoração
Deus sempre ao nosso
lado!
Nessas provações Divinas
Nós meros humanos temos passado,
As grandes almas tiveram sua missão
Todas elas com problemas superados.
Pedro também teve seus problemas
Perdendo seu líder crucificado
Ficou totalmente atormentado
Na hora da pressão, Jesus foi negado.
Mas isso não o desabonou
Depois do arrependimento
Sua fé frutificou,
Sendo um grande
líder do passado.
Foi perseguido, arguido
Como Cristo foi crucificado
De ponta a cabeça, pendurado
Hoje virou Santo forte com dia comemorado!
ONDE O BEM NECESSITAR!
Por Marcelo de Oliveira Souza, IWA (Salvador, BA)
De repente estou no centro
Muita coisa a informar
Pessoas novas no
evento
A querer acompanhar.
Na fila, um lamento
Entidades agressivas estavam lá,
Mudei de ambiente
Vendo a sala de outro lugar.
Todo mundo mais
outro elemento,
Obsessores a reinar
Sendo chamado no intento
De liberar a maldade do lugar.
Em nome do amigo Santo
E de Jesus que veio
amparar,
Torno-me forte no intento,
Com as palmas da mão
Um luz sai e tudo faz clarear.
Uma paz reina
Naquele assustador lugar,
Voltando a tranquilidade
E o aprendizado ganha um lar.
Quando a noite vem novamente,
E está todo mundo ciente
Que a contribuição da gente
É sempre presente
Onde o bem necessitar.
Na hora que todos parecem dormir
A gente vai atrás
No lugar onde ninguém pensa ir
A gente resgata
almas e expurga o mal, vem o bem liderar.
Nas graças da divindade
Paz e bem é só amar
Na nossa existência e na existência espiritual.
A noite também é dia
Com o amigo santo vou trabalhar.
Corpus Christi
Por Marcelo de Oliveira Souza, IWA (Salvador, BA)
Um dia para
refletirmos
Para onde caminha a humanidade
Se existe humanidade...
Ela existe?
Um passando a perna no outro
Pernada para tudo quanto é lado,
Outro vai para a igreja rezar.
Depois de tanta maldade
Até que merece ...
Mas o dia de farra continua
Bebidas para todos os poros
Trânsito em todas as estradas...
O corpo está li estagnado
Ninguém lembra que o corpo existiu
A consciência ruiu
O povo ruim domina
A humanidade caiu...
Corpos nas estradas
A curiosidade reina
O acidente causado,
Coitado!
Não resistiu,
Mas o parceiro de viagem
Gravou e divulgou na “cidade”.
O corpo fez sucesso
Mas dois minutos depois,
Tem outro mal sucedido
Que foi agredido e vencido
pelas drogas e pelo crime.
Mais um corpo esquecido
Que será comido pelos bichos
Diferente do corpo de Cristo
Iluminado e bendito,
Virou tema de feriado
Onde tudo vai recomeçar.
Em prol do seu nome iluminado
Onde muitos irão novamente
v i a j a r...
E não voltam mais!
CLARISSE CRISTAL, A CIDADÃ DAS NUVENS
Por Samuel da Costa (Itajaí, SC)
Eu
prefiro frases feitas...
Adoro
lê-las… E pensar que são minhas!
Dizer:
- Vou te amar para todo o sempre!
Usando
velhos clichés.
***
Finjo
ser poeta! Às vezes contista...
Nessas
horas uso velhos clichés.
Porque
dizer: - Eu te amo, não é dizer bom dia!
***
Às
vezes leio velhas poesias.
Mas
só às vezes! E penso que são meus...
Aqueles
idílios de saudade...
***
Às
vezes penso ser poeta!
Na
pós-modernidade liquefeita!
A
usar velhos clichés!
Para
poder ousar dizer:
˗Te amo, não é bom dia!
Agora é oficial Clarisse Cristal é a
mais nova, das cidadã das nuvens, pois ela resolveu passar o começo daquela manhã,
o que seria para ela, uma chata fria manhã cinzenta e nevoenta, de um outono
sem sol, com a cabeça flanando em brancas nuvens. Àquela hora de evasão, extrema
dor e puro desespero, o pensamento de Clarisse Cristal pairava, na relapsa
jovem mãe dela que acabara de se se matricular, em uma academia de musculação,
somente para mulheres, era a novíssima moda da jovem mulher naquele exato
momento. Como o clube do livro, fora no mês passado, a redecoração completa da
casa no mês anterior e outros objetos de desejos efêmeros de quem não tem
preocupações mais sérias na vida.
Sempre
foi assim, a mãe de Clarisse Cristal sempre tinha uma novidade premente e mais
que urgente para resolver. Ede tempos em tempos, que nasciam e ardiam em
chamas, sempre no início do mês e dificilmente chegavam vivas, ao fim do mesmo.
E a cada, uma das efemeridades, sempre prementes e sempre mais que urgentes,
tinham em comum é que traziam junto de si, como subproduto, o pouco tempo para
se dedicar à filha única.
Quanto
ao jovem pai de Clarisse Cristal, ele era todo e somente entregue ao trabalho e
mais nada. O alto executivo, de meia idade, regozijava ao discursar a toda
hora, em qualquer lugar e para qualquer um, fosse quem fosse, gostasse ou não
de escutar sobre planilhas de custos, relatórios financeiros, projeções futuras
do mercado internacional de commodities, flutuações cambiais. E para não
esquecer das retrações e expansões das bolsas de valores mundo a fora, bolhas inflacionárias,
equilíbrios e desequilíbrios fiscais. Era um arsenal sem fim de palavrórios
burocratizados e entediantes para a grande maioria dos meros mortais alheios ao
mundo
corporativo.
Agora
estática e diante de uma estante de livros, usando um pesado avental de couro
cru, usando pesadas vestes negras, como a mais escura da noite mais negra, a
bota cano alto ornamentadas com as cinco fivelas cromadas, a veste nascia na
palma dos pés e ia esvanecer nos
joelhos. Também tinha a saia preta crazy-in-love, vinda diretamente de Portugal.
Um crucifixo que já tinha visto dias melhores, artesanalmente entalhado em
madeira Paolo Santo, envernizada, estava nada discreto no pescoço. Uma elegante
e diáfana blusa Lace de mangas compridas à moda do renascimento vitoriano, com
espartilho cor de vinho que emoldurava o tronco. E ela estática diante da
estante de madeira, repleta de livros antigos, caros e raros, a mais nova
cidadã das nuvens pensou profundamente em tudo e em todos e por fim indo parar
de forma intempestiva no seu amor platônico pelo motoboy da livraria. Talvez, e
somente talvez, o estilo de vida livre do moço fosse de fato a real paixão
derradeira de Clarisse. Ele corajosamente desafia o apoplético trânsito das
vias hiper- congestionadas em duas rodas. As idas e vindas, com o vento
beijando-lhe o rosto, sem horários pré-definidos ou mesmo itinerários pré-estabelecidos
por quem quer que fosse.
Foi em
uma olhada rápida nas redes sociais digitais do jovem rapaz proletário, que
Clarisse Cristal pôde se deliciar e passar a amá-lo ainda mais, aquela figura
surreal. Com os gostos daquele homem recoberto de doces mistérios, aquele homem,
um pouco mais velho que ela. A paixão dele pela fotografia, paisagismo, viagens
sem destino certo em duas rodas, tatuagens tribais, música romântica francesa e
poesia renascentista por fim. Logo ele, uma pessoa tão calada no ambiente de
trabalho, ser uma pessoa tão extrovertida e tão complexa na vida pessoal. Isso
tudo passou em um instante, pela cabeça sonhadora da bibliotecária Clarisse
Cristal, a mais nova cidadã das nuvens. Até uma voz estridente a trazê-la de
volta para a hirta realidade em que vivia: — Adeus mundo das brancas e leves
nuvens, ou melhor, até breve! — Falou uma voz sonolenta e distante dentro dela,
que Clarisse reconheceu sendo dela mesma, mas com muitas
dificuldades.
—
Astride... Astride… Astride desce daí guria... Vem cá, sua sonsa, sua tapada,
pata cega, cambacica de Deus. Olha…olha pra mim
mulher!
Não
tinha jeito, fingir estar ocupada já não dava mais tempo, agora era descer da
pequena escada de madeira, se virar e sorrir docilmente, escutar aquela criatura
enfadonha e fútil, como se importasse com a vida vazia de objetivos concretos,
que ela levava. E apalavra cavalgadura brotou instantaneamente na mente da
jovem bibliotecária, deforma natural e mais que espontânea. Ela pensou no fato
de trabalhar, no lugar, há mais de um ano e de usar um enorme e um chamativo
crachá em seu peito, escrito com letras garrafais a nome Clarisse Cristal, não
fazia diferença para a anencéfala. E foi quase vinte minutos, de um relato
monocórdio, sem sal, sem açúcar e muito chato, onde Anna Victória contou, em
minúcias atômicas, do fim de semana festivo dela em família, que teve a
grandiosa felicidade de conhecer o mais novo namorado da própria Anna Victória.
— Nossa amiga, que interessante! Meu Deus, que
bom pra tu amiga! Simplesmente fantástico mesmo! — Falava Clarisse em intervalos
em um monólogo e outro da colega de
trabalho.
E
a vontade de sair dali correndo, é outro clichê que Clarisse tentava evitar,
mas em vão, pois os sentimentos vinham sem perguntar se poderia vir ou não. E
se jogar do alto do terraço, mais próximo, era uma outra opção fatídica a ser
considerada, em momentos como aquele, era outro clichê a bem da verdade, que
também chegava sibilante e sem ela o querer. E a cena insólita, de ver do alto,
de um prédio qualquer, o próprio corpo espatifado no asfalto quente e as
pessoas simplesmente passando ao lado do seu corpo sem vida e em pedaços, sem
se importarem com ela, a deixou com dor de cabeça.
E entre a família problema e ausente, subemprego e vazios colegas de trabalho,
a paixonite adolescente pelo motoboy e repetidos clichês. Sim, ela vivia a vida
na espera de algo novo, não melhor, mas algo novo e totalmente diferente
daquela rotina claustrofóbica e mais que angustiante em que vivenciava.
Samuel
da Costa é contador e funcionário público em Itajaí, Santa Catarina.
Contato:
samueldeitajai@yahoo.com.br
NO CONTRATEMPO DA HISTÓRIA
Por Clarisse da Costa (Biguaçu, SC)
Eu conheço o medo
De não se entregar,
De se esconder através
De um sorriso,
De ficar ausente,
Preso em papéis velhos.
A vida até parece
Uma travessia difícil.
Eu vi os olhos de um homem
Desabar em lágrimas,
As palavras de amor
Voando na direção do vento
E no contratempo da história
A irônica forma de amar
Sem estarem juntos.
Clarisse da Costa é cronista e poetisa em Biguaçu, Santa Catarina.
Contato: clarissedacosta81@gmail.com
PARALELO 30
Por Clarisse Cristal (Balneário Camboriú, SC)
Submergir
nas turvas águas
Do Rio
Rudson em pleno dezembro
Como
quem furtivamente
Vai
encontrar
Um
amante clandestino
No
meio da tarde
No
meio da semana
***
Submerge in the murky waters
From the Rudson River
In the middle of December
Like who sneaked
You will find
A clandestine lover
In the afternoon
In the middle of the week
***
Sim! Eu assisti ao longe
Na
segurança mais que tranquila
Do
alto da minha torre de marfim
O povo
apoplético
Passar
em marcha no meio da rua
Com
cartazes
E a
bradar palavras de ordem
***
Eu emergi
das águas poluídas
Do Rio
Rudson em pleno dezembro
Como
quem escapa
Em
fuga desesperada do cárcere
De uma
gaiola dourada
***
Hey! Morgan Lander
Take your crazy electric guitar
And play something
Only for me
***
Sim!
Tenho o péssimo hábito
De
sofre na solitude
Da
Turris ebúrnea
E na
completa escuridão
***
Eu não
acredito no sofre coletivo
Eu não
acredito
Na
sofridão na coletividade.
Clarisse
Cristal é poetisa e bibliotecária em Balneário Camboriú, Santa Catarina.
ARROGÂNCIA...
Por Fabiane Braga Lima (Rio Claro, SP)
Viramos pedra, já não temos mais vozes! Sabíamos da
verdade, mas por vaidade nos calamos, pois sempre somos os donos das verdades.
E o que nos restou? Apenas se silenciar diante do real, da realidade!
Engana-se, aquele que vive fantasiando! Perde-se as razões,
e o tempo, que é o senhor de todas as razões, ele corre veloz e urge feroz.
Resta-nos apenas esperar, nos remendar, remendar os estilhaços caídos e
lançados ao chão duro e frio.
Hoje calados, intactos, cessamos os nossos sonhos e as
nossas fantasias e tudo virou piada. Resta-nos a verdade, mas a verdade não,
pois a verdade hoje gera a morte certa.
E agora? Agora é esperar o tempo passar, esperar sem
contradições. Pois cair em contradições, sobre o que defende é o maior ataque a
mim mesmo é pura arrogância....!
Fabiane Braga Lima é poetisa e contista em Rio claro São
Paulo
Contato: bragalimafabiane@gmail.com
SOLTA E LEVE
Por Clarisse da Costa (Biguaçu, SC)
Eu que tanto quis
Estar junto,
Agora quero estar solta,
Leve.
Na mesma leveza
Dos cabelos ao vento,
Das ondas batendo nas pedras,
Do sorriso frouxo
Ao ler o livro "Marley e Eu".
Acho até que
Eu nasci para ser flor,
Para sempre florescer na dor
E com sorrisos enfrentar a vida.
Eu escolhi me refazer
Olhar para mim
E sobreviver
Nesse caos dentro de mim.
Não me peça para ficar
Numa história de faz de conta,
Os fracos se prendem às fantasias
E fogem da realidade.
Clarisse da Costa é cronista e poetisa em Biguaçu, Santa Catarina.
Contato: clarissedacosta81@gmail.com
IN BLACK (ASHES OF THE HOURS)
Por Clarisse Cristal (Balneário Camboriú, SC)
In the
sunny morning I caught the ashes of the hours
On a
sunny Monday morning I went to get my holy grail.
I went to fetch the book the ashes of hours
Na renascença no novo mundo
No término do baixo medievo
No meu encontrar comigo mesma
No meu abrigo seguro
Na volátil torres de marfim
Onde tudo fazia sentido
Até a pouco
***
O eu recoberta de negras vestes
O eu noturna ave rara
O eu rutila monja neurastênica
O eu a assídua do campo santo
Em desoladas em noites soturnas
Que em tediosas horas
Entre estridentes Evoés
Profundas lágrimas, intensos prantos
E sorumbáticas companhias outonais
Eu quase morri uma noite por vez
***
Agora és tu
A minha mítica quimera
Meu etéreo mestre Adérito Muteia
Eu teu saúdo na alvorada
No início da minha manhã primaveril
És tu o meu idílico poema pastoril
O meu luminar ficcionista africano
O catedrático de ébano
Oriundo da sacrossanta mãe África
***
Eu te saúdo
Eu te saúdo festivamente
No inverossímil texto meu
No meu santificado altar imaginativo
E sensacionalista
No meu abrigo mais que seguro
Eu te saúdo
Imagético afro-literato Adérito Muteia.
Clarisse Cristal é poetisa e
bibliotecária em Balneário Camboriú, Santa Catarina.
OCEANO DE INCERTEZAS
Por Clarisse da Costa (Biguaçu, SC)
Esqueci das cores vivas
Das flores e suas vidas intensas.
Fechei olhos e fiquei pensando
Numa história que às vezes
Ecoa num vazio de palavras
Sem ações e reações.
São tantas histórias nessa vida…
Muitas histórias não são escritas
Nem sequer vividas,
Algumas são como um oceano
De incertezas.
Você se vê no espelho das águas
Quase que perdido,
Sem rumo, preso
Em um sentimento tóxico.
Se libertar de tudo isso
Às vezes parece difícil,
Mas a vida te conduz.
Clarisse da Costa é cronista e poetisa em Biguaçu, Santa Catarina.
Contato: clarissedacosta81@gmail.com
SÃO FLORES NO ASFALTO
Por Samuel da Costa ( Itajaí, SC)
De frente para a praia de São Miguel da Boa Vista, a poetisa olha com esplendor
a vastidão oceânica como se fosse a última vez que a apreciava ou como se fosse
pela primeira. De uns dois anos passados para até aquele momento, as coisas
mudaram por completo na vida dela. A bem da verdade, tudo mudou de forma
radical na vida das jovens artesãs das belas-letras. Um renascer depois de
anos, de sobrevida, na pequena cidade interiorana e praieira. As correntes por
fim se quebraram e mil pedaços, depois de há muito enferrujam. E aquela velha
vida limitada, de marasmos não cabia mais nela. Um novo livro iniciado e, ainda
com muitas páginas em brancos a serem preenchidas em negras linhas.
O olhar perdido de Clarisse Cristal, para a infinitude do oceano a faz ignorar
o enorme estrando das ondas quebrando, com fúria titânica, na orla na praia e
as aves marinhas que gorjeiam estridentemente a poucos metros acima da cabeça
efervescente da jovem escritora.
— Vamos embora amor! Está passando da hora — Antônio tinha colocado a mão no
ombro esquerdo da namorada, com terno carinho, na vã esperança de trazê-la de
volta para a realidade, em que ambos vivem, pois o tempo urge e ruge para o
jovem casal.
— Mais um pouco amor, mais um pouquinho e já vamos embora! Pode ir amorzinho!
Eu te encontro lá em cima, não demoro. Vai ligar a moto que eu já vou indo.
O rapaz assim o fez, deixou a jovem namorada sozinha na orla da praia. A moça
foi para mais próximo de onde as ondas quebram, se abaixa e pega um punhado de
grãos de areia. Olha para a areia molhada, aperta bem forte e jogo a areia de
volta para o mar. Era hora de voltar para a realidade e
enfrentar o mundo real na realidade liquefeita. Ao cruzar a areia morna da
praia, naquele começo da manhã, subir o pequeno elevado e encontrar o namorado.
Antônio a espera em cima da motocicleta e com os dois capacetes nas mãos
esperando por ela com um sorriso nos lábios. E ela não pensou duas vezes ao ver
cena e se adiantar e dar um beijo ardente no namorado para depois subir no
veículo, mas Clarisse excitou e desembarca lentamente da motocicleta importada
último modelo.
— Toninho,
quem vai pilotar a tua lata velha hoje vai ser eu mesmíssima da silva!
Antônio não gostava quando a
namorada chamava a novíssima motocicleta dele de lata velha. Espantado, o
jovem músico estranha o inusitado pedido da namorada, que aliás não se cansava
das muitas surpresas que ela vinha trazendo em turbilhões para a monótona vida
dele.
— Desde quando tu tens habilitação, para dirigir motos, minha querida lady
Cristal?
— Desde da semana passada, tirei carteira de moto e carro, agora é oficial, tu
não és mais o meu chofer pessoal, meu querido!
De fato, Antônio era o motorista oficial do jovem casal. Quando o jovem, branco
e classe média alta apareceu na luz do dia com a namorada negra e pobre, foi um
choque para ambas as alas da cidade. A elite, branca e teuta e para a
empobrecida e negra ala, não isto já não tenha acontecido antes, não há luz do
dia.
Jovens rebeldes faziam isso vez ou outra, para chocar a sociedade local, mas
geralmente são breves enlaces, pequenos flertes que não sobreviviam mais poucas
horas, ou um dia ou dois. Mas aquele encontro de jovens almas, livres e leves
que romperam as barreiras das horas e dos dois dias, desfilavam pelas ruas da
cidade como um casal, que apesar de ainda jovem, se comporta de forma madura,
integrado e mais que interligado.
— Não me olhe assim, meu vampirão lindo, me dá logo a chave da lata velha e
vamos correr as estradas, tenho fome de vida, temos muito o que fazer antes que
o dia termine!
O jovem Toninho não teve alternativa, senão repassar a chave do veículo para a
esfuziante Clarisse Cristal. Ele sai da possível de condutor da motocicleta
para dar espaço para ela. Dali foram os dois a ganharem as estradas para ver as
provas do livro Flores no asfalto, o mais novo Clarisse Cristal.
Samuel da Costa
é contador e funcionário público em Itajaí, Santa Catarina.
Contato:
samueldeitajai@yahoo.com.br