sábado, 1 de setembro de 2012

PERFIL: LUIZ CARLOS LEME FRANCO



Por Paccelli José Maracci Zahler

Luiz Carlos Leme Franco, médico e escritor paulista, tem colaborado assiduamente com a Revista Cerrado Cultural.   Prontamente, ele aceitou o convite para a coluna PERFIL deste mês de setembro de 2012, a que agradecemos.


RCC.Onde o senhor nasceu?

LC. Em um hospital em Marília, SP, há  muitos anos.

RCC. Como foi a sua infância ?

LC. Com  algumas mudanças de casa. Alegre e domiciliar, sem intercorrências dignas de nota.

RCC.Em que momento da sua vida o senhor sentiu que iria dedicar-se à literatura?

LC. Sempre li muito. Meu pai incentivava e fornecia sempre bons livros. Na escola sempre gostei de matérias dissertativas e,bem jovem, já colaborava com em jornal. Com dezesseis  anos construí minha primeira poesia. Foi neste ponto que senti que dedicar-me-ia a literatura, se não profissionalmente, amadoramente sim. Lecionei Português e Francês, ainda estudante.

RCC.Alguém ou algum autor o influenciou? Poderia falar sobre ele?

LC. Não especificamente. Li todos os autores, de todas as correntes. Gosto muito de José Maria Rilke, José de Alencar, Paulo Coelho, Gonçalves Dias e  Castro Alves. Devo ter um, pouco de Gonçalves Dias e José de Alencar.

RCC.A partir de 1966, o senhor passou a dedicar-se ao ensino. Que disciplina o senhor lecionava?

LC. Neste ano comecei a estudar Medicina e, para ajudar meu pai na minha manutenção na escola, comecei a lecionar Português, como suplementarista ( eu cursara o colegial - hoje curso médio -  e o magistério ao mesmo tempo e já havia lecionado alguns meses em escola primária, como professor que sou ). No ano seguinte, continuei lecionando Português em um ginásio (fundamental segundo grau de hoje) e dei aulas de Francês em outro estabelecimento. Dois anos após, deixei o Francês e dei aulas particulares de Química e Matemáticas e Português em um cursinho parta vestibulares. Depois lecionei em uma faculdade Educação Física: Biometria, Higiene e em uma Escola Normal, deixando as anteriores.

RCC. Em 1973, formado pela Universidade de Londrina, PR, o senhor iniciou a sua   vida profissional. Em que especialidade da medicina?

LC. Ginecologia e Obstetrícia.

RCC. Como foram os seus primeiros anos como médico?

Muito intensos. Dedicação exclusiva. Diurna e noturnamente. Foram gratificantes meus contactos com as gestantes. Para auxiliar as pacientes em suas perguntas sobre rugas, estrias, cursei Mesoterapia e assisti a uma clínica de estética.. Casei-me dois anos depois de formado.

RCC. O que o levou a fazer  pós-graduação em Fitoterapia, em Ribeirão Preto, em 1977?

LC. Minha passada pela Mesoterapia pôs-me em contato com  a Homeopatia, [Medicina] Ortomolecular e Fitoterapia e, em gostando destas filosofias, procurei conhecê-las. Sempre gostei destas técnicas mais naturais e hoje as pratico bastante.

RCC. Por que a Fitoterapia faz efeito em algumas pessoas em outras não ? 

LC.Porque estas medicinas não tratam as doenças, e sim os doentes e eles são diferentes uns dos outros e até  consigo mesmo, em momentos diferentes. Por isto o tratamento  médico ( até o alopático) deve ser individualizado.

 RCC.Pode-se dizer que o organismo se habitua com o tratamento alopático?

 LC. Não, em geral. Teoricamente todo distúrbio da saúde, doença ou moléstia  pode  ser tratada,   desde que se saiba a causa da injúria ao organismo e das condições dos dois no momento.

 RCC.Desde março de 2000, o senhor é diretor do Centro Brasileiro de Saúde Holística. A sua formação foi baseada na Alopatia, então , ao mudar o foco,o senhor percebeu que o tratamento das causas é mais eficaz que o tratamento dos sintomas?

 LC. Meu objetivo sempre foi a causa, na alopatia também. Resolvendo-se a causa a  patologia  se cura, o que nem sempre acontece quando se acaba com os sintomas só, mas é preciso que  se os ( sos? ) resolvam  que são incômodos ao portador .

 RCC.É possível fazer um tratamento holístico nesta vida agitada, conectada, plugada, rápida, dos dias de hoje ?

LC. O organismo sempre trabalha para se melhorar.

RCC. Como o senhor compartilha o trabalho profissional com o literário?

LC. O  nictêmero tem  vinte e quatro horas. Como sempre é possível aplicar o triângulo em todas as situações, divido  as vinte e quatro horas  em três e tenho  três momentos de oito horas cada: oito eu trabalho para o mundo onde vivo (no caso como médico), outras oito horas eu dedico a mim ( aqui entra os textos literários) e no último período eu descanso dos outros dois.

RCC. Machado de Assis admitiu que, no Brasil, o escritor precisa de outra profissão para sobreviver. O senhor concorda com isso?

LC. Concordo. Há uns poucos que conseguem viver dos escritos (pelo menos dizem). No mundo todo é assim, não só no Brasil. Em uns países isto vale mais, em outros menos, mas em todos  a literatura não é prioridade. E não deve ser mesmo, Há coisas mais importantes para a vida.

RCC. Qual a sua opinião sobre a profissionalização do escritor?

LC. Todo trabalho deve ser profissional. Os que não o são devem ser executados como se fossem. Penso que o escritor dever ser tratado como um professor, um jornalista, um desenhista, um cartunista ou outro que trabalha as letras. Por que não?


SANDUÍCHE

Por Luiz Carlos Leme Franco


Pão com pão com  queijo,
circo e pão para o povo,
pão  de forma com presunto
pão caseiro  com ovo,
pão francês com carne,
no bar entre qualquer assunto
Pão com tomate,
Pão e pão com banana,.
sanduíche com chá mate.
Sanduiche mata a fome,
Sanduíche de beicom,
e só com salada
 para quem não o come.
Mixto ou bauru ou de presunto,
sanduíche para todos os gostos.
O sanduba popular,
Com queijo ou sem,
com molho ou sem,
agrada o paladar.
Saúde? Aí é outro assunto.
O lanche não prima neste mister.
Sanduiche natural? Bá,
isto não existe.
A gente come toda esta mistura
para matar a fome somente,
até, alguém, com fartura.
Se é gostoso, o lanche, não sei.
Cada um com seu sabor.
Exótico clássico, diferente,
quente, frio, temperado,
há para toda gente,
de todo lugar e lado.
Sanduiche é dois pães com algo no meio.
Por que  não dois algos com pão entre eles?
O pão poderia ser centeio
e o algo poderia ser remédio.
Aí as crianças não teriam alimentos,
mas ao menos se curariam
e os medicamentos
seriam facilmente ministrados.

A LAVAGEM DO CRISTO (documentário, 1969)



"O filme tenciona relatar dois aspectos da vida turística do recanto conhecido por Corcovado: um deles, é um fato insólito - o dia da lavagem do Cristo, feita pelos irmãos Dilson e Floriano, que uma vez por ano, enfrentam, sem a mínima segurança, esta difícil tarefa - onde são retratados os promenores do trabalho, assim como o risco a que se submetem e a tenacidade com que galgam os mais altos pontos do famigerado monumento. O movimento das escovas, o silvar do vento e o precipício que se depara abaixo - A Cidade Maravilhosa - criam uma ação de suspense e uma contemplação quase que fantástica, como que se realmente estes seres estivessem numa locação celestial. O outro nos diz da poesia do cotidiano, no que ocorre diariamente com os homens que estão presos à terra, as particularidades da vida turística, os movimentos do trenzinho que escala a montanha, a perplexidade das pessoas quando deparam a paisagem, a criança eufórica, o casal de namorados, o ancião curioso, o vendedor de souvenir, o fotógrafo lambe-lambe e tantos outros momentos que criam uma atmosfera viva e mundana". (Embrafilme/Arquivo CGV)

Fonte: YouTube (texto e vídeo)

FALA SÉRIO (PETELECO DA VIOLA) (MANAUS, AM)



Música muito interessante de um músico amazonense que até agora não fez sucesso, apesar da boa letra de suas canções.Apesar da consciência política, digna de pessoas com nível de escolaridade mais avançado, ele é pedreiro.

Fonte: YouTube (texto e vídeo)

NEM

Por Luiz Carlos Leme Franco

NEM NASCIMENTO, NEM MORTE, EXISTIR.
NEM COMEÇO, NEM FIM: MEIO.
NEM VIOLETA NEM VERMELHO, VERDE.
NEM OITO, NEM OITENTA – TRINTA E SEIS E MEIO.
NEM ALTO, NEM  BAIXO,  SEMPRE MÉDIO.
NEM RICO. NEM POBRE,  REMEDIADO.
NEM LENTO, NEM RÁPIDO : SÓ REGRADO.
NEM JULGAR, NEM SER JULGADO - DEIXAR  OUTROS  FAZEREM.
NEM MATAR, NEM MORRER, MAS SIM VIVER.
NEM TANTO AO MAR, NEM  TANTO À PRIAIA.
NEM ISTO OU AQUILO, ISSO.
NEM ASSIM, NEM ASSADO, ACEITO.
NÃO AQUI, NÃO ACOLÁ, MAS AÍ.
NEM TENDO, NEM TIDO, TENTADO.
NEM BATISMO, MUITO MENOS CASAMENTO – NAMORO.
NEM TANTO, NEM POUCO. SUFICIENTE.
NEM NADA, NEM TUDO: TENHO.
NEM PAIXÃO, NEM ÓDIO.
NADA A CRUZ E NADA À ESPADA:
SE POSSÍVEL SEM UM E SEM OUTRO,
AGORA E SEMPRE.

TU, DEUS TU


Por Luiz Carlos Leme Franco

Não  tentes  ser  Deus.
Sente-O.
Não   tentes  ver  Deus.
Percebe-O.
Não  tentes  chegar  a  Deus.
Sabe-O  perto  de  ti.
Não  tentes  conhecer  Deus.
Ele  está  em ti.
Não  tentes  igualar-se  a  Deus.
Tu  és Deus.
Assume
 tua divindade.
Sê.

O CIRCO


Por Luiz Carlos Leme Franco

O circo divide-se em platéia e atores, animais ou não.
O público bate palmas, come pipoca desinteressadamente; os atores  aprumam-se, trabalham com afinco, mostram ou querem fazer o melhor que podem, usam o melhor paramento que têm.
Os atores esforçam-se, dedicam-se ao mister de tornar os outros interessados no que fazem. Querem impressionar bem. São profissionais adestrados, capazes, sérios, honestos.
O público  se descontraem uns, tensam-se outros, mas todos estão descompromissados com o próprio serviço e se dedicam a avaliar o trabalho dos outro:, do fogueiro, do equilibrista, do palhaço, que parece trabalhar mais tempo que os demais, posto ocuparem todos os intervalos das apresentações.
Os prezados assistentes  riem, ficam sérios de mentirinha, atentam-se em alguma mágica, prestam atenção no trapezista.
Outros prezados curtem  as ginastas, o número  na rede, os animais torturados para apresentarem algo que não são de sua índole e não lhes dão sensação agradáveis alguma.
Alguns conversam, outros se distraem com as palhaçadas daqueles que estão a tentar fazer todos rirem, nos que trabalham de verdade.
Os circenses se compenetram, mostram-se e executam seus trabalhosos e trabalhados números. Maravilhosos.
Dos que os miram, alguns nem prestam atenção no que  bem sucede nos picadeiros.
Os trabalhadores da lona suam, estressam-se, Os demais, sem empenho em nada a mão ser aplaudir, refrescam-se com beberagens algumas. Divertem.se. Os do circo trabalham, Os demais não.
Quando algo não está bem, está bagunçado, dizem que é um circo.
Só se for as cousas dos espectadores da vida, pois as dos outros funcionam. E bem. Palhaço trabalha.


SOBRE O PRANTO

Por Pedro Du Bois (Itapema, SC)




FABULAÇÕES

Por Pedro Du Bois (Itapema, SC)



SUBMISSÃO

Por Pedro Du Bois (Itapema, SC)



A CONCRETUDE DA CASA


Por Pedro Du Bois (Itapema, SC)

A casa se esforça em cumprimentos.
Mimética, esconde fissuras e a parede
desbotada do passado; reafirma cores
inexistentes, ilude; ouve as pessoas
dizerem da vida lá fora e lembra
sua construção: a edificação exige
equilíbrio e graça na modificação
dos materiais, na sobreposição
das lajes, no colocar tijolos e no cobrir
o corpo em telhado; a casa conhece
cada pedaço do seu todo: as junções
vitais dos encanamentos e a energia
referida ao uso das utilidades.