domingo, 1 de dezembro de 2024

ABC DO PRECONCEITO

Por Azagaia (Edson Amândio Maria Lopes da Luz, Namaacha, Província de Maputo, Moçambique, 06/05/1984 - Khongolote, Maputo, Moçambique, 09/03/2023; Rap e Hip Hop)

Crédito: Antonio Forjaz/YouTube.

SOU ETERNA ENLUARADA



Por Nauza Luza Martins (Brasília, DF)

 

Sou mulher de 60+ e ainda tenho a lua como cúmplice e companheira. Sou Enluarada. Ai de mim, que sofro de amores perdidos por aí nas curvas do tempo. Não me importa. Sei que meus lamentos românticos são como cada fio de luz da lua que brilha em meu rosto à espreita na janela. Em qualquer lugar do mundo onde você estiver podemos nos conectar em cada fase da lua.

Se ainda busca o rastro das estrelas te convido a frequentar a lua em cada fase dela. Nunca falha. A lua é constante. O calendário lunar é certo. Se liga, venha banhar-se comigo no mar em dias de lua cheia. Verá a real cor dos meus olhos.  Minha essência, o melhor da minha beleza de mulher dona de mim, apaixonada pela vida e por ti. Não me falte. Te espero na próxima lua cheia em nossa praia favorita.

Quero me abraçar a ti para me aquecer em nossos banhos de lua. Tocar teu corpo me dá choque elétrico. Temo morrer de amor. Teu cheiro me embriaga, tua voz soa longe me ressuscitando da experiência de quase morte por amor. O vento frio da noite de lua nos leva ao aconchego do nosso ninho de amor. Você criou nosso cantinho aconchegante. Lá somos um só. Os raios de lua irradiam nossas verdades contidas em nosso olhar. Queimam nossa pele que só encontra lenitivo no corpo a corpo, pele a pele, olhos nos olhos, boca faminta explorando os espaços de nossos corpos propícios ao desenrolar do nosso desejo, aos perigos do nosso olhar enluarado.

 

Nauza Luza Martins

Brasília, 19/08/24.

 

Sobre a autora: 

Autora é maranhense da cidade de Monção, reside em Brasília/DF desde 1982. Assistente Social graduada pela UFMA. Servidora pública aposentada do Governo do DF. Tem três filhos. Cursou Mestrado em Política Social na Universidade de Brasília/UnB; Docência na Educação Superior/IESB e Especialização em Violência Doméstica/USP. Escreve poemas e contos desde os 14 anos. Livros publicados: Jogo de Palavras/2017 e Interlúdio Poético/2020, Chiado Books; Além dos Seus Olhos/2021, Ed. AL; Despertar da Enluarada/2023, Ed. Versejar. Coautora em mais de 200 Antologias poéticas nacionais e internacionais. Organizou 20 Antologias Poéticas. Membro de várias Academias Literárias e Entidades culturais em Brasília e outros Estados. Detentora de Títulos, Comendas, Certificados, Menções Honrosas e Destaques Literários pelo seu trabalho como Poeta, Escritora, Ativista, Produtora Cultural e Antologista. Prefaciadora e Autora convidada de várias obras literárias.

 


 

SINFONIA INCENDIÁRIA

Por Eduardo Waak (Matão, SP)


“Sinfonia Incendiária” é ao mesmo tempo um poema e uma constatação. Uma percepção da realidade intangível e um lamento acuado de um filho da Luz neste planeta obscuro. Escrito de um fôlego só, busca exorcizar os fantasmas do século XXI, que num festim diabólico envolvem a população mundial. Se não temos forças para mudar a ordem das coisas, podemos ao menos transformar o nosso modo de ser e de sentir, ainda que tangidos feito gado rumo ao matadouro. Neste espectro econômico, bélico e imperialista, os seres humanos pouco a pouco perdem sua função, identidade e utilidade. Amealhar territórios, bens materiais e naturais é o que conta, ainda que milhões (ou mesmo bilhões) de vidas sejam sacrificadas. Para a produção deste filme contamos com as imagens de Silvia Izquierdo, chefe de fotografia da Associated Press (AP) no Brasil. Nascida no Peru e residente no Rio de Janeiro, seu combativo olhar tem repercussão mundial, expondo as chagas de uma sociedade brutalizada. Nascida no Chile e residente na França, a compositora Anita Tijoux participa com dois temas de sua autoria, “1977” e “Shock”. Aqui apresentados em versão instrumental, suas músicas trazem uma potente mensagem pela liberdade de expressão e defesa da natureza. Esta é nossa pequena contribuição, numa época caótica, para despertar as pessoas da letargia (auto)imposta pelo Sistema opressor e totalitário.

VERSOS DO NORDESTE

Por Henrique Lucas (Careiro, AM)


Peço licença com alegria ao nosso Pai Criador

Para descrever com humildade e sabedoria

Esta terra linda que a natureza consagrou

Batizando de Nordeste um sarau de poesias

A pátria Brasilis de bravos, da arte e do amor

 

Alagoas de Zumbi, o Palmares o sol da libertação

Vidas Secas de Graciliano, dos marechais do sertão

Em Maceió tem candomblé, fé, esperança e tradição

Rio Velho Chico, alimenta e sacia a sede da população

 

Bahia de Castro Alves e do nobre Jorge Amado

Terra de fé, dos tambores de um povo abençoado

Tem festas e praias o ano inteiro eita povo animado

Teu Pelourinho de cores coração de São Salvador

Estado do acarajé, és um romance-agreste de amor

 

Ceará meu coração, meu mar, meu torrão de Assaré

Da Jandaia, o berço de Iracema, de José de Alencar

Povo valente, cabra da peste, espaçosos e certezas

Canta na terra da poesia popular, o Cariri a Fortaleza

 

Maranhão de Gonçalves Dias “terra onde canta o sabiá”

Do Poema Sujo que gritava a liberdade de Ferreira Gullar,

Povo erudito e popular dos lençóis de areias e arroz de cuxá

Sob a lua de palha folcloreia o boi-bumbá, cultura e raiz

Cidade de São Luís a ilha do amor da poesia deste povo feliz

 

Paraíba de Augusto dos Anjos, terra leste tropical

Do Auto da Compadecida de Ariano Suassuna genial

Em tuas praias Manaíra e Tambaú dos verdes cacoais

Oh São Francisco, abençoe João Pessoa em seus faróis

Ao canto de tua natureza que dedilha tuas orquídeas e sóis

 

Pernambuco terra do sol de Cabral e Bandeira

Atlântico Marco Zero, linda Olinda brasileira

És um paraíso do nosso Deus Criador

Da cidade velha a Boa Viagem a gaivota a voar

Povo ordeiro de Recife no canto galo e frevo para amar

 

Piauí do delta Parnaíba, Frank Aguiar e Osmália Lira

Teus parques, arqueologia e pinturas históricas

Da Caatinga as mangueiras Terra de nossas memorias

Das palmeiras babaçu, marujada, reisado cultura que fascina

Das cascatas e praias banha-se a menina cajuína Teresina

 

 Rio Grande do Norte de Renata Mar a poesia de sal

Berçários de areias de prata que alimenta esta terra

O braço forte potiguar, na vela ao vento a surfar a bela Natal

Duna que espelham os olhos mundo, pau-brasil e jatobá

És Natal a rainha do litoral, a esperança do farto pescar

 

Sergipe de Fausto Cardoso de um soneto de amor

De Atalaia a São Cristóvão antiga Capital

A fé em São Francisco e a alegria do povo do forró

Biguá, acauã e beija-flor enfeitam este estado azul

É para viver a natureza na beleza da metrópole Aracaju

 

Obrigado meu Deus, meu poeta maior e Criador

Permita-me mais um pedido deste poeta e pecador

Não deixe a seca castigar este povo trabalhador

O Nordeste é poesia, é raça é o DNA deste país

Viva o Nordeste Brasileiro, o cordel da vida feliz!

 

 

 


OCEANOS ATLANTIZANTES

Por Paulo Henrique Medrado (Vitória da Conquista, BA)

 

Dialogar

Logar em outra dimensão

Usar a conta para contar um conto, um desencontro, um encontro de mentes...

 

Mentalizar, vasculhar e perscrutar sem ferir a mente do outro,

Deixar um aviso: piso em solo sagrado e saio eticamente.

 

E perceber que a realidade não mente e que o homo sapiens traz algo de aprendiz de feiticeiro e quiçá, mudar a rota da energia para outra matriz diligentemente,

 

Deixar o rio seguir seu curso, o corpo sentir seu pulso e a natureza naturando seu frondoso percurso,

Sobre outros modos, moldes e modelos modeláveis com a natureza e por ela, com ela e para ela reorientar o curso feito raiz...

 

Sentir o ar no pulmão

Sentir o sol na tez

Sentir o afeto na tempestade,

Diferenças, multiplicidades, singularidades nos oceanos atlântizantes de águas que adoçam mesmo quando salgam...

 

Subvertendo o saber, o sabor aceito, vendo nascer novas teorias sobre outros efeitos, consilientes, que promovam autocorreções conscientes.

 


EL DÍA D

Por María Vilalta (San Lorenzo, Prov. de Santa Fé, Argentina)


Por la orilla de la sombra

recorre el cuerpo

sus temblorosos agujeros.

Por la calle vienen

palabras ajenas.

Y entonces

una palabra sencilla

desprevenida

sutura

con remiendos de luz

los huesitos.

 

Sobre a autora: 

María Vilalta es profesora en Ciencias Económicas, post título en Lengua y Literatura (UNR); maestria en enseñanza del Latín y Cultura Clásica (Tech - Universidad Tecnológica); diplomada en Gerenciamiento Empresarial, título universitario otorgado por la UCA Córdoba y la sede de ciencias económicas UCA Rosario. Cursó el Segundo año aprobado en Licenciatura en Letras de la Universidad Nacional del Litoral, de la provincia de Santa Fe. 

Tiene dieciocho libros publicados, entre los que se cuentan como últimas novelas,“Tánger en los ojos de Drissi” , “Con permiso de hablar”, “Te buscaré un amante”, “La línea de tu mano” y “Las dos patas del perro” (Premio Escriduende a la mejor novela negra 2018 otorgado por la Editorial Sial Pigmalión), también el cuento infantil “Medias Perdidas”. Post Título en literatura infantil de la UNR (Universidad Nacional de Rosario). Obtuvo 15 premios internacionales, y 56 nacionales. Ha sido traducida en el corriente año 2019, al árabe en Marruecos, donde su novela “Te buscaré un amante” se encuentra en todas las librerías del país.

Algunos de sus premios:  Primer Premio de la SADE (Sociedad Argentina de Escritores) en Poesía 1993, Concurso Interprovincial, Chaco, Formosa, Misiones, Corrientes, Entre Ríos, Córdoba, Santiago del Estero, La Pampa, Santa Fe. Primer premio en poesía Concurso Internacional The Cove Rincón Internacional, Miami EEUU. Participó por selección de jurado en la muestra internacional de Poetas Iberoamericanos de la universidad St. Thomas University – Frederinton, New Brunswick. Canadá – Abril 2001 y en grabación en el programa radial “La voz y la palabra de poetas iberoamericanos contemporáneos” – Año 2001/2002/2003. Medalla de oro y Embajadora itinerante de La Casa del Poeta Peruano.

Participó en numerosos encuentros y congresos nacionales e internacionales como ponente y dictado de talleres en Paraguay, Perú, Puerto Rico, Ecuador, México, Uruguay, Colombia, Panamá, Canadá, España. Francia. Marruecos, Túnez y  California, EEUU.

 


TATUAJES

Por Maria Vilalta (San Lorenzo, Prov. de Santa Fé, Argentina)


El muchacho tenía un largo tatuaje en el cuello. La mujer esperaba su turno. El uniforme de trabajo parecía darle una pátina de orgullo.

La mujer cincuentona le preguntó ¿Qué es?  Ese cuello casi negro la había intrigado.

Una máquina, dijo él. ¿No te da miedo? Insistió ella. La miró con algo de desprecio.

Ella avanzó para completar el trámite en Aguas del Estado y se olvidó del asunto.

Por la noche no sabríamos si fue la pregunta ¿No te da miedo? O la casualidad que la máquina se activó. Trituró todo el cabello del joven que amaneció pelado. Sonambulismo, dijo él. Se preocupó recién a la segunda noche:  vio un charco de sangre junto a la almohada y media oreja arrancada.

Dicen que no tuvo tiempo, escuchó la mujer cuando regresó a completar su trámite a los cinco días.

¿Qué pasó? ¿El muchacho del tatuaje?

¡Señora, no pregunte! Tenemos suficiente con que haya caído aquí. Algo lo estaba comiendo.

¡Ah!

¿Quiere pasar de una vez?

No, gracias volveré en otro momento. Puede que la máquina siga su camino.

¿Qué máquina?

La mujer no llegó a contestar, sintió la punzada en su dedo gordo. Después vino lo de la sangre.

GAITINHA DE DUAS CONVERSAS

Por Severino Moreira (Bagé, RS)

Bueno. Se havia uma coisa que eu, sempre, tive vontade, era de ser gaiteiro. Mas de que jeito?

Nascido e criado nas grotas de Santaninha da Boa Vista e numa pobreza que até Deus tinha pena, como iria comprar uma gaita? Até que um dia, mexendo nuns cacarecos, lá, na tapera da minha avó, eu achei uma gaitinha de “duas conversas”. Tinha sido do meu tataravô, ficado para meu avô e, por fim, para meu tio Arancíbio. Achei e me adonei da gaitinha.

Gente de Deus! Me atraquei a treinar na tal gaita e, numa semana, já fazia uns floreios e, em poucos meses, já tocava um lote de marca. Até o xote laranjeira, eu já floreava!

Foi aí que me achei tocador. Então, convidei o Chico Fumaça, primo do João Forquilha, que arranhava mais ou menos um violão de cravelha, encilhamos os pingos e se “larguemo” no rumo de um bolicho, pra “mó” de mostrar que era gaiteiro e cantador.

Chegamos no bolicho! Eu, de gaita atada nos tentos; o Chico, com violão a meia espalda. Apeamos, palanqueamos os pingos e entramos arrastando esporas no piso de chão batido, já metendo gaita e violão e cantando uma milonga do “Gildo”.

De chegada, pedi dois lisos de canha, para calibrar a goela e “se abancamos” num canto. Eu, metendo gaita; e o parceiro, que não se fazia de rogado, seguiu dedilhando o pinho.

Por aí, as horas escorreram no tic-tac do despertador velho, que ficava num canto do balcão. A peonada de lotezitos atracada num carteio; uns, no truco; outros, no solo e, mais uns, na escova. Do lado de fora, uma cancha de bocha e mais uns “çoco” jogando osso...

E nós meta gaita e violão. Apareceu um borracho para batucar num couro seco e dê-lhe canha.

Bateu a sede. Pedi mais uma canha. Veio a fome. Pedi uma tripa de salame, meio quilo de gajeta e uma rapadura empalhada e, por aí, se foi a tarde; e adentrou a noite.

Foi quando me dei conta que o bolicho já estava quase vazio e, se não apurasse o tranco, não pegava pouso na pensão da Filoca. Então, resolvi pedir ao bolicheiro a soma do que havia consumido. “Um gaiteiro iniciante até paga para tocar!’

 --Bueno! – disse o bolicheiro – são quatro lisos de canha, um quilo de salame, meio quilo de bolacha, duas rapaduras e cinco pintos.

--Epa, seu! Mas os pintos, eu não comi! – respondi ao bolicheiro.

O bolicheiro, com toda a paciência do mundo, explicou:

--Não, seu!  Os pintos, o senhor não comeu! Mas é o seguinte, sabe como é... Os bichinhos com fome, os farelinhos de bolacha caindo no chão; e o senhor batendo com a sola da bota para marcar o compasso da gaitinha... E apontou para baixo da cadeira.

Quando olhei, devia ter sete ou oito pintinhos esmagados embaixo da cadeira... Então, resolvi pagar logo, e me fazer de “sonso”, antes que o “home” inventasse de contar direito.

 

 (Membro do Movimento dos Escritores Bageenses - MEB)

 

BRASIL DE MIL FACES

 Por Luiza Oliveira (Bagé, RS)

 

Nos braços vastos deste chão gigante,

cada estado é um mundo a revelar.

De norte a sul, em canto triunfante,

culturas mil vêm juntas celebrar.

 

No Amazonas, a dança do folclore;

no Pará, o Círio une multidões;

no Ceará, a poesia nunca morre;

na Bahia, axé move corações.

  

No Sul, a gaita canta a tradição;

em Goiás, as modas tocam a alma;

no Centro, o Pantanal é oração.

 

Cada estado é um verso que se espalma

do Acre à Paraíba; em comunhão,

faz do Brasil um hino que nos acalma.

  

  (Membro do Movimento dos Escritores Bageenses - MEB, Bagé, RS)                                        

 

 

 

PALAVRAS NAS DÚVIDAS

Por N’Dom Calumbombo (Luanda, Angola)

 

Às vezes, escrevo cansado em apuro, me aprumo com o tempo resguardado nas minhas noites sem brio. Traço ponto no silêncio, e os linhos que sobre a ranhura traz muitas vezes, aqui que teares cozem minha mente de estar partido. Parto-me em grão, como uma criança entre as pernas da mulher da ki'anda que tem a dor da manhã nas suas costas com o grau de bico em alta temperatura. Zungar com o fardo na cabeça é um mistério com a matriz desorientada. 

Ela vinha abrigo e eu concentrado no seu copo embriagado todos os dias. Mergulho no seu campo de festejo e fico fora de jogo. Taça aqui eu bebo, contido nele duas vezes seu corpo, pego-lhe entre dois dedos, pequenos na dimensão dos sonhos que tornam minhas noites molhadas. E eu, sempre no escuro, com meu escudo a tinta, a lápis, com as palavras em dúvidas de tecer o que sinto, muitas vezes fica no sentido despercebido em rascunho sempre que as duvido.

Duvidar no silêncio é um mistério, no escuro ainda mais, os dedos sentem-se substancial, e o corpo que liga a intercessão do real ao surreal. Faço-me esquema no labirinto da pátria para encontrar lugares que consente minhas dúvidas, meus prazeres, meu viver absolvido de amor que se reveste em palavras nas dúvidas, de sentir o desejo que nunca senti, mesmo quando os coloco sob orientação dos meus medos.

Fico com a poesia que amassa o meu coração, que quando o sangue bombeia, o corpo veste-se de pensamentos sã e saudável. Aprecio o vazio do belo que dizem estar nos vocês olhos. Ele que me contacta rapidamente quando as dúvidas alçam de voo os meus sentidos, sentindo a sensação do mal ardor, ou que o << OUVIR E FALAR >> faz parte de uma analogia única que tenciona encontrar as minhas próprias interrogações.

Quem sabe, se calhar um dia deste posso pontuar-me, um daqueles sem continuar, nem mudar o ensejo e a solidão vai se infiltrar bem no fundo do meu poço, e eu vou gritar sem fôlego, dando segmento aos gritos que se vai encher na medida que as palavras vão fluindo, encenado com flúor de que o melhor lugar para cogitar é; nada mais que se afogar num mar cheio de beira sobre os gritos de nossas dúvidas.

 

Sobre o autor:

 

N'Dom Calumbombo é o pseudónimo de Domingos Félix Calumbombo, natural de Luanda, aos 09 de Outubro. É licenciado em Secretariado Executivo e Comunicação Empresarial pela Faculdade de Humanidades da Universidade Agostinho Neto. Poeta, cronista, contista, activista social e Defensor dos Direitos Humanos. Tem poemas publicado na Antologia da “Minha Infância”, e seus textos são divulgados na Rádio Megaweb Portugal, em Portugal. Actualmente, é colunista residente do Jornal OPaís.

POEMAS

Por José Geraldo Magno Assis (Juiz de Fora, MG)


a noite é só um veio de ouro

que Vila Rica esqueceu

 

e no inverno os sois se encontram

a iluminarem igrejas e corais

 

a nossa ladeira nunca chega ao céu.

Minas não passa por lá

mas Minas é tudo.

 

 

( participação no Festival Cultural Anual de Inverno promovido pela Universidade Federal de Ouro Preto, Ouro Preto, MG)

 

 

 

 

AMOR NO CERRADO

Por Ezequiel Munhoz (Campinas, SP)

No cerrado vasto, em veredas que brilham,
Onde canta o sabiá e o vento encrespa a flor,
Nasceu um amor à sombra da paineira,
Entre o cheiro de pequi e a bruma que acalma a dor.

Ela era filha do campo, morena de riso largo,
Ele, andarilho do sertão, com olhos de perder-se no azul.
Seus passos se cruzaram na festa do Divino,
Lá onde o tambor ressoa e a fé se faz ritual.

Ela dançava na roda, saia rodopiando o chão,
Ele tocava a viola, seu peito aceso de paixão.
Mas o destino, ah, o destino sempre quis ser zombeteiro,
Ela prometida ao fazendeiro, ele livre como o ribeirão.

À noite se viam às margens da cascata,
Troca de olhares, confissões que o vento levava,
Como folhas de buriti na correnteza do rio,
Amavam-se à distância, sabiam-se sem guarida.

A lua cheia testemunhou seu último encontro,
O toque das mãos, as lágrimas sob a luz prata,
E na despedida, o som dos atabaques ao longe,
Como que marcando o fim, o adeus que o amor desata.

Ela ficou nos campos, nos olhos negros a saudade,
Ele seguiu pelo sertão, um céu estrelado como norte.
Dois corações atados por laços invisíveis,
Separados pelo destino, unidos pela sorte.

No cerrado as flores ainda brotam no verão,
E na festa do Divino, a viola ecoa saudade,
Dizem que na brisa das noites sem fim,
Os dois ainda se encontram, só no sutil da verdade.

 

Contatos do autor:

Fone: (19) 99817-1605

Instagram: @zecks.books

A VIDA NÃO É UMA DISPUTA

Por Liécifran Borges Martins (Cariacica, ES)


Ninguém é melhor que ninguém.

Apoiar não mata ninguém.

Dessa vida nada se leva.

Apenas terra na cara.

 

Seu carro vai ficar aqui.

Sua casa novos donos vão habitar.

Seus problemas não levarão com você.

Seus diplomas com você não vão descer.

 

Humildade porque somos

frágeis e pequenos.

A vida é um sopro

E é Deus que nos sustenta.

 

Não se perca em sua

arrogância e ignorância.

Nem modifique sua essência

pelos bens que você possui.

 

Apenas permaneça serena e

leve nessa vida.

Alegre-se pelo dom da vida.

Pois quando menos se espera, 

Adeus sua vida!

 

Instagram: @liecifranborgesmartins

SÓ ME RESTA

Por Liécifran Borges Martins (Cariacica, ES)


Só me resta em Ti confiar,

Nos seus caminhos de Amor.

Me abandonar no seu

querer, meu Senhor.

 

A minha alma está muito

aflita e também sentida.

Me vejo até saltando,

entre os belos montes.

 

Meu coração está angustiado.

O meu espirito abalado.

Meus olhares tecer decepções.

Ai, Senhor, meu coração!

 

Confiei nas coisas dessa terra

E não em Ti, meu Deus!

Me apoiei em mim mesma

E não no seu Amor.

 

Só me resta confiar,

Confiar no seu Amor,

Me abandonar no seu querer!

Só me resta...

APRENDA A DEIXAR IR

Por Liécifran Borges Martins (Cariacica, ES)


Não sofra porque a

amizade acabou.

Nem mesmo porque o

namoro desandou.

Ou até mesmo porque ao fim chegou.

 

Entenda que nessa vida,

tudo é feito de ciclos.

Acolha o novo.

Aceite o agora.

Viva o seu presente.

 

O amanhã não te

pertence.

Deixa ir quem

tiver que ir.

Acolha os novos ciclos.

 

Abraça o agora.

Viva intensamente.

Aprenda a desapegar.

Aprenda a ser amar.

É assim você não sofrerá.

2024 ME FEZ FORTE

Por Liécifran Borges Martins (Cariacica, ES)


Esse ano tanta coisa:

Eu senti e vivi.

Que ano, meu Deus!

Obrigado, Senhor, por

ter segurado minhas mãos!

 

Sou muito grata a ti.

Por tudo até aqui.

Obrigado, Senhor, por

ter secado as minhas

doces lágrimas!

 

Obrigado, meu Deus,

por me fazer forte!

Gratidão, Senhor, por

todas as realizações

E também experiências!

 

Dois mil e vinte e quatro

eu aprendi:

A ser resiliente e, acima

de tudo, paciente.

Que ano difícil!

 

Chorei poesias,

Sangrei melodias,

Gritei em meus versos.

Ai, meu Deus, quanta dor                      

a céu aberto!

 

 

OPERA MUNDI: O CLUBE DOS ASSASSINOS! EPÍLOGO: DO DIÁRIO DE ESMA (2ª PARTE)

Por Samuel da Costa (Itajaí, SC) e Clarisse da Costa (Balneário Camboriú, SC)

            Pacto selado, irmandade composta, limites pré-estabelecidos e o primeiro caso definido, funções estabelecidas e cronogramas acertados, tudo isso em uma noite apenas. Como soou natural e mecânico a coisa toda, penso eu agora, como algo ou alguém sussurrando nas nossas mentes. E não quero adentrar em detalhes atômicos sobre a nossa aventura. Àquela hora, pensei no professor Faruk, não como um criminoso perigoso, um facínora, não como uma vítima do sistema e sim como um erro a ser corrigido.

            Dias depois, eu e Amira, investigamos a fundo a vida do professor Faruk, o proeminente musicista clássico e popular, professor pesquisador universitário e outrora benquisto, nas comunidades acadêmica e musical. Figura de trânsito fácil, em várias camadas da sociedade, político e social, das altas esferas do poder, das camadas mais baixas da sociedade. Dos bares das periferias, indo até as grandes arenas da música clássica, dos grandes centros urbanos e nos interiores. Até tudo vir abaixo, com denúncias graves de assédios sexuais. Foi isso que eu e Amira descobrimos, percorremos os bastidores do mundo musical, a pretexto de fazer uma pesquisa acadêmica, de grandes figuras proeminentes do universo musical.

            Pesquisa feita, o clube dos cinco se juntou de novo e no mesmo lugar e indo direto ao ponto Samir e Natália também fizeram as suas pesquisas, Samir no mundo do serviço de segurança e Natália no mundo jurídico e da justiça. E Samir fez a sua lição de casa, traçando um panorama das finanças e empresarial do professor Faruk. E para resumir bem o caso Faruk é que não houve erros na investigação e nos processos jurídicos que seguiu, somente a boa e velha solidariedade masculina. Policiais, advogados, promotores, juízes e jornalistas, todos homens levaram a impunidade do professor Faruk e sim a vida pessoal e empresarial do professor sofreu fortes abalos.

            E como foi fácil, partir para a ação, eu e Amira nos envolvemos na associação das vítimas do professor Faruk, um tanto elitizada e concentrada na academia das vítimas periféricas. E como foi a campanha midiática, que começou na imprensa musical, para depois se espalhar para a mídia de variedade e para a grande mídia. E como foi fácil, unir mulheres musicistas e profissionais do mundo musical de várias vertentes, para depois espalhar para outras mulheres artistas de várias áreas e espetáculos foram realizados e notas públicas foram assinadas. Natália mobilizou o mundo académico jurídico, o movimento estudantil, atos de protesto foram realizados, artigos científicos foram feitos, monografias e aulas sobre o caso Faruk. Ações que uniram vítimas, deram visibilidade ao caso Faruk.

            E o passo seguinte, foram as ações subterrâneas de Hassan e Samir, e de forma cirúrgica, detalhes da investigação da foram vazados para a imprensa e grupos militantes do movimento feministas e associados ocultos e conhecidos do professor Faruk foram expostos. Resultados? Afogado em escândalos e com a vida devastada, Faruk perdeu o pouco prestígio que ainda detinha, perdeu os contratos que tinha no meio musical. Preso preventivamente cometeu suicido ainda na delegacia.

            Eu não sei se me afundei eu um sonho, ou perdi a minha sanidade, nesse primeiro grande caso do clube dos cinco e que se seguiu foram casos anônimos e sem muitas repercussões. Mas a dinâmica era sempre a mesma, eram casos passionais e crimes menores envolvendo elementos subterrâneos do mundo do crime. E posso dizer que desde o primeiro caso as nossas carreiras iniciantes foram impulsionadas de forma direta e indireta. Mas como os casos de grandes sucessos em grandes empreendimentos, geralmente tem lá as suas derrocadas.

            E ressalto aqui, dois casos em especial, foram dois elementos medianos do crime organizado, eram casos em que, uma vez detidos, tiveram parte de suas delações foram divulgadas. E sabíamos como eram as dessas dinâmicas, dessas delações terminavam, pois de delações em delações, os elementos menores eram presos de forma espetaculares e os médios e grandes elementos das grandes corporações criminosas acabam se livrando. Indo parar presos pequenos criminosos e alguns elementos intermediários.

            Pois bem, após a soltura de um criminoso intermediário, divulgamos parte do acordo da delação e tempos depois esse elemento morreu junto à sua esposa. Eles dois, foram atropelados um pouco afastados da orla da praia, estavam de jet-ski e foram atingidos por um iate desgovernado. E o outro caso similar, um outro elemento foi atropelado por um carro desgovernado, estava ele na frente do clube Evo-85. E em ambos, os dois casos, os condutores estavam embreados.

            E que veio em seguida foi uma pausa na nossa confraria, mas como acordamos no início da formação do clube dos cincos, não nos reunimos todos no mesmo lugar, somente em casos especiais. Nós nos reunimos, casualmente e em separado no dia a dia das nossas profissões e vida pessoal e manteríamos contato virtual da mesma forma. E então, um assunto se tornou comum entre nós, eram pesadelos e mal-estares, geralmente era na calada da noite, durante o sono. Eram pesadelos atrozes, que a gente esquecia quando acordávamos sobressaltados, esquecíamos e voltávamos a dormir e os fragmentos vinham durante o dia. Eram uma criança, albina de aparência alienígena, falando uma língua estranha.

            Os pesadelos se avolumaram, não vou aqui contar os detalhes indigestos dos pesadelos. E sim o que aconteceu a posteriores, Natália e Samir acabaram internados em clínicas psiquiátricas, que alternavam em catatonias e convulsões violentas. Hassan, o meu doce Hassan sofreu um acidente de carro, foi atropelado por uma viatura da polícia, Hassan estava de folga e o acidente até hoje não foi explicado. Amira, a boa e fraterna irmã de alma, se foi em acidente enquanto se preparava para uma apresentação, o caso insólito envolvendo um espelho.

            Hoje, sozinha, sem a presença dos meus irmãos e irmãs de alma, eu não sei o que fazer, e enquanto escrevo este texto a criança albina, está ao meu lado muda, calada apontou para a janela aberta. 

 

 Sobre os autores:         

Fragmento do livro: Em perpétuos ciclos, por Samuel da Costa, novelista, poeta e contista em Itajaí, Santa Catarina.

Argumento de Clarisse Cristal, bibliotecária, contista, novelista e poetisa em Balneário Camboriú, Santa Catarina.

 

OPERA MUNDI: O CLUBE DOS ASSASSINOS! NEGRAS PÉTALAS

Por Samuel da Costa (Itajaí, SC)

‘’Procuro sentido no inexato....

Meu psicológico perplexo,

Somente eu entendo,

Em horas sombrias, do nada resplandeço

Como em um dia ameno.

Chegando à noite

A minha alma se aquieta,

O silêncio paira na madrugada,

O desejo consome o meu corpo.

Emaranhada de sentimentos!

Ofuscaram a minha visão’’ 

Fabiane Braga Lima

 

            Amira precisava voltar para a realidade, por mais dura e cruel que fosse, por isto, a disque jóquei, contemplou à parede de vidro trincada, manchada de sangue fresco, escorrendo dentro do estúdio de tatuagem, uma névoa ocre, que gritava, que clamava por Amira. Névoa ocre, convidava Amira a adentrar no pequeno espaço.  

            Ao olhar para frente, Amira percebeu Abdelaziz a poucos centímetros dela, Abdelaziz o dono e gerente do clube Evo-85, ele um homem pequeno e bem alinhado. Ele era o timoneiro do clube noturno Evo-85, ali nada escava dos olhos negros e rasgados de Zizi, como era conhecido. Ele cuidava de cada detalhe, de cada aspecto do maior e do menor detalhe que ocorria na casa noturna. O clube Evo-85, era um dos poucos espaços da cidade e cercanias, que escapava das influências diretas ou indiretas de Omar. O todo poderoso Don Omar, que de forma direta ou indireta, do lícito e do ilícito, controlava muitos aspectos do que ocorria na cidade balneário, poucas coisas escapavam dos ditames de Don Omar. E como Amira, era um dos satélites, que gravitavam na vasta constelação de Don Omar, as relações entre Abdelaziz e Amira, eram sempre pisares em ovos, um andar em um campo minado, para ambos os lados. Não que Abdelaziz, o dono do clube Evo-85, tivesse animosidades com Omar, no mínimo os dois se toleravam, depois de muitos não que Zizi, tinha dito a Omar.

            Agora aquele homem diminuto, com o seu terno de listras, feito sob medida, gel no cabelo, flor na lapela, sapatos importados caros engraçados e um nada discreto lenço vermelho de linho, no bolso esquerdo.

            — Lady Amira! Boa noite! — Disse Abdelaziz de forma solene, levando a mão esquerda a mão direita de Amira, erguendo a mão da disque jóquei e a beijando.

            — Que bobagem é esta Zizi? Salamaleques? — Falou Amira, um tanto constrangida com a situação inesperada.

            — É que...

            — Não diga nada! Zizi meu amigo, eu vi o cartaz lá na entrada, me custou muito, mas eu vi o cartaz, onde dizia que Vestya irá se apresentar hoje. Hoje! — Esbravejou de forma aristocrática Amira.

            — Não é isto minha amiga Ani! Esma teve um problema e não vai poder se apresentar hoje, Vestya foi a solução...

            — Omar? — Brusca, interrompeu Amira.

            — Sim e não! Sim, Vestya é uma indicação de Don Omar e não ela não é contratada de Omar. É uma boa amiga em comum. E sim, tu vai se apresentar com Vestya, ela vai incorporar o setlist de Esma...

            — O que houve com Esma? E o que está havendo aqui? — Perguntou a desesperada Amira.

            — Tu vais se ter que perguntar diretamente para Omar! — Disse Abdelaziz dando de ombros. — E continuou — Pedi pessoalmente para Anatoly te deixar na rua de trás. Assim que confirmastes a tua vinda.  

            A rua de trás era onde ficava a residência do Abdelaziz, uma casa anexa ao clube Evo-85, onde Zizi recebia poucas pessoas e a usava como entrada e saída alternativa, em ocasiões especiais. Era também onde havia um camarim para artistas, geralmente de relevância ou estrangeiros, era também um local de entrevistas e pequenas recepções, para poucas pessoas e pôr fim onde ficava o escritório de Abdelaziz. E por questões óbvias, Amira nunca tinha posto os pés na casa de Zizi.   

            Amira, vocalista secundária, tecladista e disque jóquei de uma banda de metal alternativo, conjunto musical que ia do gótico, aos elementos do heavy metal industrial, heavy metal tradicional, com vocais rasgados, falsetes e cavernosos urros guturais alternados pelos integrantes do conjunto. A banda Saif-Escárcina, fez uma digressão longa e bem-sucedida, pelo velho mundo e poucas apresentações no novo mundo. Para depois se encarcerar em um estúdio de ensaios, para fazer a pré-produção do terceiro álbum do conjunto. Amira e os outros membros do Saif-Escárcina, estavam de férias, uma pequena pausa. A bem da verdade e o que os músicos fazem quando estão de férias? Fazem música! E cada membro do conjunto musical Saif-Escárcina, estava tratando dos seus projetos musicais próprios.

            Amira, procurou Esma, uma amiga de infância, para formar um duo musical. A proposta era que Esma, uma vocalista da vertente Darkwave, colocaria a voz, nas bases, remixes e samplers de Amira. Ficou o encargo de Esma, escreveu as letras e pôr as vozes nas músicas e Amira colaborou com poucos refrãos, depois de escrever todas as letras, músicas e cantar no Saif-Escárcina. Amira estava cansada de se apresentar todas as noites mundo afora então ela queria voltar para casa a ter o prazer de fazer música e apresentar, como diversão apenas.

OPERA MUNDI: QUANDO A ESCURIDÃO TE ABRAÇAR POR COMPLETO

Por Clarisse Cristal (Balneário Camboriú, SC) e Samuel da Costa (Itajaí, SC)

 

‘’Nem sempre, somos personagens de um teatro surreal,

 Pois a vida é tão fugaz que passa tão depressa.

Cuidemos das nossas almas!’’

Fabiane Braga Lima

 

Omar abriu os olhos e só viu a escuridão, tentou mexer os braços e descobriu que estavam amarrados nas costas. Feito prisioneiro, logo pensou ele, ao ouvir voz que murmuravam, Omar tentou gritar e não conseguiu, pois estava com a boca amordaçada. Omar tentou correr e uma mão áspera o segurou pelo ombro

— Andale... Andale cabrones? — Bradou em espanhol uma voz.

Omar tentou decifrar o sotaque e a obviedade pelo terno calculou que não era o polido espanhol europeu e sim rústico castelhano caribenho. E uma mão o empurrou para frente. E para Omar, o pior dos pesadelos era o sutil apagamento das próprias memórias, Omar estava se esquecendo de quem era, algo ou alguém estava apagando a existência de Omar. E substituindo por memórias aterradoras, fleches surgiam na mente de Omar, dois homens negro maltrapilhos estavam no chão, enquanto quatro homens chutavam os maltrapilhos. Os quatro homens musculosos e tatuados, camisas brancas, usavam coturnos e usavam suspensórios, que gritavam em alemão bávaro. Xingaram os dois homens negros de impropérios e Omar se viu, jovem, bem-vestido, à moda europeia, usando óculos escuros. Omar, se viu aos gritos, comandado o massacre, até uma luz branca envolver ele e os companheiros de agressão, tudo se apagou e acordou no estado que estava.  

Abrupta uma mão tirou o capuz que envolvia a cabeça de Omar, então um esquadrão de fuzilamento, vestido como paramilitares russos, cossacos russos usando uniformes de inverno. Omar olhou nos olhos dos paramilitares e notou as feições latinas caribenhas, eram seis, usando armamento do início do século XX. Olhos ferozes e famintos e atrás dos paramilitares, uma pequena audiência, eram homens e mulheres vestidos a rigor, também a moda do início do século XX. Uma pequena elite local, calculou Omar, que olhou para os lados e percebeu que estava ladeado dos companheiros do massacre contra os homens maltrapilhos e percebeu que estavam em um pequeno palco.

Aterrorizado Omar olhou para frente e se destacou um pequeno grupo ao fundo do salão. Era uma jovem mulher de ares monárquicos em trajes de gala espanhol, uma outra jovem mulher negra com ares de nobreza elegantemente vestida à moda afro-caribenha, um militar de alta patente da marinha soviética com um traje de gala, os olhos verdes e as feições latinas impressionaram Omar. E por um homem de meia idade, elegantemente vestido, que emanava poder, ou era um político influente ou era um alto funcionário público. Todos olhavam com desprezo para Omar e seus pares.

— Escuadrón en formación! — Bradou o capitão para a tropa, que bateu os cascos e o capitão continuou — Prepárate! — A tropa destravou os fuzis!  — Apuntar! A tropa que estava no chão e em frente ao palco! — Fuego! — Gritou o capitão e um marrom se ergueu e um estrondo de um trovão foi ouvido. Omar foi jogado para trás e ouviu os aplausos e vivas vindo da plateia, o cheiro de pólvora e de carne queimada, foram as últimas sensações vívidas, que Omar experimentou naquela hora derradeira.   

Sobre os autores:

Texto de Clarisse Cristal, poetisa, contista, novelista e bibliotecária de Balneário Camboriú, Santa Catarina.

Argumento de Samuel da Costa, poetisa, contista e novelista em Itajaí, Santa Catarina.