Revista literária virtual de divulgação de escritores, poetas e amantes das letras e artes. Editor: Paccelli José Maracci Zahler Todas as opiniões aqui expressas são de responsabilidade dos autores. Aceitam-se colaborações. Contato: cerrado.cultural@gmail.com
sábado, 4 de abril de 2020
quarta-feira, 1 de abril de 2020
QUE LER? COMO LER?
Por Humberto Pinho da Silva (Porto, Portugal)
Certa vez escutei o nosso Mário Soares, asseverar: “
Só os burros é que não mudam”.Logo choveu enxurrada de criticas sobre o
político - considerado, pelos portugueses, como o pai da democracia, -
acompanhada de ruidosos risos e sorrisos trocistas.
Não recordo, em que contexto proferiu a frase, mas,
que ao longo da vida sofremos metamorfoses, é realidade incontestada.
Vamos abandonada “ conchas”, como disse Pierre
Theilhard de Chardin, no caminhar pelo percurso da existência .
O convívio, a idade, a experiência adquirida, e
mormente: ler e pensar; pensar e ler,
transforma-nos, “crescendo”, espiritualmente e culturalmente.
Vamos abandonando “ conchas”,obtendo visões novas,
alterando o nosso Sentir” e pensar, e o modo de encarar o mundo.
Ao referir a transformação, pela leitura, não abordo
só a de ensaios e romances, mas a crónicas, muitas vezes excelentes, dadas à
luz, na imprensa, de vida efémera, é certo, mas merecedoras de aturada
reflexão.
Ao longo da
vida, muitas vezes, mudei de parecer, influenciado pela leitura.
Refiro-me à leitura atenta, e não a realizada na
escola, por obrigação; feita de espírito critico; parando a cada passo, para
pensar e meditar: na frase feliz e conselho oportuno.
Leitores há - “devoradores” de livros, - que lêem tudo
que a critica ou livreiro, recomenda. Em regra, premiada ( sabe-se lá como!).
Lêem por distracção…ou matar o tempo…
A leitura proveitosa, que “eleva” e faz pensar, é a
que passa pelo crivo da nossa critica: Concordo? Discordo? Está bem? Está
mal?
A primeira leitura, de jacto, é para avaliar a obra, o
enredo, se é romance: geralmente de pouco proveito.
Mas, ao reler e tresler, penetra-se no “sumo” do
livro; saboreia-se a elegância, a subtileza da frase, e assimila-se,
igualmente, o pensamento do escritor ou filosofo.
Não é a muita leitura, que transforma; mas assimilar o
raciocínio de grandes espíritos.
Nem tudo que se edita, é recomendável, mas somente a
que alimenta o espírito e eleva a alma.
Obras há, que melhor é não as ler, porque prejudicam a
alma, ainda que apresentem saborosa prosa e esplêndido estilo.
Cabe a cada um, escolher ou aconselhar-se, com
intelectuais competentes, de boa formação moral, para buscar os livros na
floresta dos escaparates do livreiro.
Termino, desejando boa e proveitosa leitura.
ARRANJOS
Por Pedro Du Bois (Balneário Camboriú, SC)
Fosse o amor
mera referência
estatística
o beijo trocado
o expoente
no abraço dado
em divisões
o sim anunciado
em coerente resultado
a vida impõe
o fortuito e a doença
retém o imponderável
o cosmo e o caos
se entrelaçam
na vontade
desconsiderada.
REGRESSO
Por Pedro Du Bois (Balneário Camboriú, SC)
Não me faço cúmplice
do progresso: ao regresso
encaminho o pensamento
que resguardo das ousadias
vazias em ressignificações
ser a certeza na incultura
amadurecida em frágeis
árvores despojadas
de glórias e bandeiras
em desfraldadas hastes
de empunhadas lanças
guerreiras formas imateriais
do escondido ao progresso
na maneira correta de dizer não
e virar o rosto ao contragolpe.
VENHA!
Por Fabiane Braga Lima (Rio Claro, SP)
Quero penetrar na sua alma...
Tocar em cada parte do seu corpo.
Com meus lábios molhados
beijá-lo todo.
***
Com minha essência te deixar
louco...
Venha! Venha fazer amor comigo!
Estou louca de tesão.
Com muitas sensações,
alucinam-me...
***
Não ouse dizer não!
Mata os desejos que se afloram
dentro me mim....
***
Venha! Quero beijar sua boca
lentamente mordendo seu corpo
todo...
Quero gemer de dor e prazer,
Até te enlouquecer..!
O resto é contigo
Fabiane Braga Lima é poetisa em Rio
Claro, SP
Contato: bragalimafabiane@gmail.com
NUNCA MAIS!
Por Fabiane Braga Lima (Rio Claro, SP)
Ainda me lembro de você!
Naquela tarde, onde me sentia
angustiada e delirava….
***
A lua me fazia companhia.
Existia um imenso vazio,
um vácuo dentro de minha Alma...
***
Este vazio me acompanhava,
sempre!
Quis correr tantas vezes..
Pois sua maldade me enojava!
Mas nunca consegui fugir...
Sempre foi um homem sedento
de maldade...
***
E eu inerme! Totalmente desarmada!
Pedindo aos deuses
para que fosse indolente…
Para que meu corpo,
não sentisse a dor da maldade...
***
De um homem cruel que resignei-me
sem saber de sua crueldade...!
Nunca mais
Fabiane Braga Lima é poetisa em Rio
Claro, SP
Contato: bragalimafabiane@gmail.com
APÓS A NOVELA
Por Vivaldo Terres (Itajaí, SC)
Após a novela de banho tomado,
Te deitavas no leito fingindo
dormir,
Mostrando a nudez desse teu corpo
lindo,
E de minuto a minuto chamavas por
mim.
***
E eu ocupado na escrivaninha,
Escrevendo versos de amor
Que não eram pra outras, e sim para
ti...
Não via a hora de terminar a
inspiração,
Para em teus braços eu me
comprimir.
***
Pois sentia o perfume de todo o teu
corpo,
Fragrância divina que vinha de ti,
Nesses minutos de santos e puros
desejos,
Eu não via a hora de te possuir.
***
Após o trabalho por mim terminado,
Eu também fingia que estava a
dormir,
Sabendo que estavas loca de
desejo...
E eu já no leito, chamavas por mim.
***
E de repente num súbito instante,
Não mais podendo resistir...beijei
tua boca,
Acaricie teus seios
E te penetrei tal, o desejo que
havia em mim.
***
Beijei o teu sexo molhado,
Sugando o liquido extraído de ti,
A cada carícia no mesmo exercido...
Embora se não quisesses,
Não terias como resistir.
***
Aquela noite foi maravilhosa,
Extraímos todo desejo...
Que em nós existia, acordamos
exaustos...
Com o sol na janela avisa
Vivaldo Terres é poeta em Itajaí, SC
Contato: vivaldo.itj2@gmail.com
MEU CONTÍNUO ATO
Por Samuel da Costa (Itajaí, SC)
Fico eu a pensar...
Nas minhas utopias.
E na nova geração que já não sonha mais!
E pensar nas múlti-plas razões...
Do meu contínuo...
Ato de escrever!
Textos que ninguém vai compreender.
Ai vem o desejo...
De revisar os meus textos!
E lembro-me também de ‘’re-visitar’’
Meus antigos mestres já mortos!
Então ensaio o meu Adeus às Armas!
Eu não consigo!
Ensaio o meu Motim!
Eu não consigo!
Ensaio o meu Boy-cote!
Eu não consigo!
Ensaio a minha Greve de fome!
Eu não consigo!
Ensaio o meu Retorno à vida.
Eu não consigo!
Ai tento escrever algo novo...
Eu não consigo!
Tento viver outra vida!
Eu não consigo!
Tento novos hábitos!
Eu não consigo...
Tento novos padrões de consumo!
Eu não consigo!
Tento ficar sozinho...
Eu não consigo!
Tento quebrar o silêncio sepulcral!
Em mim...
E não consigo!
Tento entender as pessoas!
Eu não consigo!
Tento compreender- te...
Eu não consigo!
Tento me esconder de ti...
Eu não consigo!
Tento te esquecer por completo...
Eu não consigo!
Ensaio me entender...
E eu não consigo!
Samuel da Costa é poeta em Itajaí, SC.
INCENTIVE AS MULHERES NEGRAS
Por Clarisse da Costa (Biguaçu, SC)
A mulher negra precisa de alto confiança. Para isso
acontecer ela precisa de espaço e reconhecimento. Acima de tudo muitas mulheres
buscam o seu respeito e sair do cenário ‘’mulher objeto sexual’’, ao qual a
sociedade insiste em colocá-la. Nos últimos meses temos visto mulheres negras
em grandes cargos e outras lutando pelo seu espaço. É necessário que isso se
propague, que essa mulher sinta-se acolhida e respeitada pelos seus.
Mulheres negras podem e devem ir além do quadro
empregada doméstica. Não estamos mais no período escravocrata onde a vida da
mulher negra era resumida em trabalhos domésticos, ama de leite e o objeto sexual
do senhor de escravos. Vamos incentivar as nossas mulheres negras de tal forma
que elas se sintam capazes de enfrentar qualquer obstáculo, incentivem seus
trabalhos, apoiem e compartilhem. Não deixem no anonimato essas mulheres e suas
histórias de luta e resistência.
Mas esse papel de apoio não se deve somente ao homem e
o núcleo familiar dessas mulheres, nós mulheres também temos que nos apoiar.
Nada de críticas e julgamentos. Ninguém nasce pronto para vida e cresce um ser
perfeito. A gente vai crescendo na medida em que a gente vai avançando.
Clarisse da Costa é cronista e poetisa em Biguaçu SC
Contato: clarissedacosta81@gmail.com
A FALTA DE ACESSIBILIDADE E SENSIBILIDADE
Por Clarisse da Costa (Biguaçu, SC)
Primeiro, que você perde
toda a sua mobilidade; segundo, que você vê a sua vida parar e depois de toda
transformação você se vê parado novamente, pois os amigos te abandonam. As
pessoas começam te tratar de forma diferente, em algumas pessoas é visível ver
essa indiferença através do olhar. Outras simplesmente querem saber o que houve
com a sua pessoa e começam a falar de Deus como se o tempo todo você pensasse
acabar com a sua vida. Algumas vezes parece que somos anormais, não porque nos
achamos anormais e sim porque as pessoas nos tratam assim.
Já tive taxista que
recusou a minha corrida. E isso é algo decorrente com qualquer pessoa que tenha
problemas físicos. Então você caminha pela cidade e não se sente incluso e vê
que muitas pessoas são excluídas pela sociedade e autoridades. Não há
acessibilidade e nem sensibilidade. Você tem o direito à vida, mas não o
direito de viver. O seu espaço de vida se limita do quarto até a sala. Mas essa
condição não é você que impõe e sim a sociedade.
O ser humano busca
entender e conhecer aquilo que lhe convém. Então o deficiente físico geralmente
fica de lado. Aí vêm aqueles questionamentos que muitas vezes é uma ofensa para
nós e nos machucam. Dói na alma.
— Você consegue fazer sexo com esse seu problema?
— Você consegue namorar de mãos dadas?
— Como você faz para beijar na boca?
O que falta para o ser
humano é se colocar no lugar do outro. Eu sou o estranho para você, mas o contrário
do que pensas o estranho é você mesmo.
Clarisse da Costa é cronista e poetisa em Biguaçu, SC
Contato: clarissedacosta81@gmail.com
AMO-TE
Por Fabiane Braga Lima (Rio Claro, SP)
Mas
nunca esteve comigo....
Acho
que foi imaginação,
Mas
doí demais no peito...
***
Parece
um tormento!
Me
destruiu em segundos,
Me
faz ficar em silêncio...
***
Tornou-se
uma cicatriz
Sei
como arde...
Peço
a Deus que feche!
Esta
ferida criada pelo tempo...
***
Mas
vou reerguer-me
Lembrarei
de todo o amor vivido
Quero
viver!
Apesar
de todo sofrimento....
***
Lembrarei
dos belos momentos
Te
eternizarei guardado comigo
Dentro
do peito....
***
Mas,
Alma
minha requer
Demais,
este aconchego…!
Fabiane
Braga Lima é poetisa em Rio Claro, SP
Contato: bragalimafabiane@gmail.com
MANIFESTO
Por Urda Alice Klueger (Palhoça, SC)
Saibam todos
que, nesta data, coloquei no correio carta registrada dirigida à presidência do
Instituto Histórico e Geográfico de Santa Catarina, pedindo o meu desligamento
do mesmo.
Pertencia a
ele desde 22 de novembro de 1991, quando para ele fui indicada pelo
queridíssimo embaixador Licurgo Costa, quase centenário então, coisa que
naquele momento me encheu de prazer e de admiração e esse pertencimento muitas
vezes fez com que o citasse com grande alegria. Este tempo de três décadas que
desde então transcorreu, no entanto, foi aos poucos fazendo com que eu olhasse
para o referido Instituto com olhos de maior clareza, até chegar a esta data,
quando já me é muito incômodo pertencer a tal entidade sem me sentir bastante
ferida por ali estar.
Vejamos o
que acontece: o Instituto Histórico e Geográfico de Santa Catarina, mesmo sendo
uma entidade mais que centenária neste Estado, bem como outras agremiações que
por aqui existem, com mui raras exceções, compõem-se de reuniões de homens
brancos, muitos deles de viés fascista, onde não se vê o amanhã. É uma
sociedade solidária que vive das glórias do passado, tendo pouquíssimos elos
entre o passado e o presente e onde quase nada se vislumbra em direção ao
futuro. A cada ano faz-se uma série de reuniões e/ou atividades com pessoas
escolhidas dentro do espírito machista, patriarcal, ultraconservador,
não-transversal, apresentando as histórias dos heróis e da elite, onde o povo
aparece muito pouco e a mulher aparece quase nada, em reuniões estanques, onde
se abordam só determinados períodos da História e muito pouco da Geografia. São
os membros do Instituto os donos do conhecimento institucional, nada (ou muito
pouco) fazendo para criar caminhos para o futuro através de diálogos com a
juventude e inserção nos campos escolares.
Neste
momento em que vivemos envoltos em brumas, escapando-se delas e bradando em voz
alta pelas ruas a cadela do fascismo, não vi nenhuma iniciativa do Instituto
Histórico e Geográfico de Santa Catarina no sentido de combater tal barbaridade
(como outras entidades já o fizeram), pois para tal doutrina não há meio termo
ou tolerância: com fascistas não há diálogo, mas combate. Não se trata de se
respeitar pensamentos diversos, mas da própria sobrevivência do que de humano
há em nós.
Qual a
importância de quem não dialoga com o mundo? Para que serve um Instituto
Histórico e Geográfico que se fecha sobre si mesmo e só permite a palavra dos
que lhe interessam? Em que momento da História que se perdeu a oportunidade de
trazer a construção intelectual política, geográfica e territorial de Santa
Catarina para que tais campos dialogassem com a sociedade contemporânea? Que se
respeite a sociedade, que seja ele um local de conclaves abertos e não apenas
de convidados que vão fazer a fala que o Instituto quer. Há que haver um espaço
aberto para todos, para as mulheres, para os negros, para os caboclos, para os
indígenas, para os LGBTs e a outras fatias da sociedade porventura existentes.
Tal não há, no entanto, e se mantém o Instituto Histórico e Geográfico
impassível diante de um futuro que já chegou, e quando não se dialoga com o
futuro, está-se fadado a morrer.
Não quero
estar para esse triste momento fúnebre, no entanto. Assim, nesta data, tomo a
iniciativa de me separar do mesmo.
Palhoça, SC,
05 de Março de 2020.
Urda
Alice Klueger
Escritora,
historiadora e doutora em Geografia pela UFPR.
-
Este Manifesto só poderá ser publicado na sua íntegra, ficando proibida a
divulgação de apenas parte do mesmo.
-
O mesmo está sendo divulgado no meu Facebook e também para os grupos que
mantenho na internet, e que são compostos por leitores, amigos ou órgãos de
imprensa.
-
Este Manifesto também está sendo enviado para as seguintes entidades ou
pessoas:
NSC
Jornal
Zero Hora
Gazeta
do Povo PR
Jornal
Estado de São Paulo
Jornal
Folha de São Paulo
Jornal
O Globo
Correio
Brasiliense
Desacato
UFRJ
USP
UNIFESP
Universidade
de São Carlos
UFRGS
Unicamp
UFPR
UDESC
UFSC
FURB
UEL
UFBA
UFPE
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