Por Paccelli José Maracci Zahler
Martim
D’ Ávila Garcia é bajeense, com experiência de 15 anos em fotojornalismo,
fotografia publicitária e tratamento digital de imagens.
Na
entrevista, concedida por correio eletrônico, ele nos falou um pouco sobre o
seu trabalho e sua vida.
RCC.: Segundo Confúcio, “uma imagem
vale por mil palavras”. Elas o inspiraram a dedicar-se à fotografia?
Garcia:
Mais que uma descrição, acredito que a fotografia pode mostrar coisas
que não existem na realidade, mas em conexão com o que existe dentro do
individuo é criada uma nova perspectiva em associação com a imagem.
RCC.: Seu avô, Heron D’ Ávila trabalhou
com fotografia na companhia de cinema Vera Cruz, em São Paulo ; sua mãe,
Fátima D’ Ávila, artista plástica, também se dedica à fotografia. O senhor
considera o seu ofício uma herança de família?
Garcia: Acho que influenciou bastante
essa convivência, pois diversas vezes a vi trabalhando peças artísticas
(pintura, fotografia, joalheria).
RCC.: O senhor nasceu em Bagé, RS, como
foi a sua formação escolar?
Garcia: A parte formal foi totalmente
comum (Colégio Nossa Senhora Auxiliadora e o Colégio Estadual Dr. Carlos Kluwe).
Mas acredito que a Escolinha de Artes Odessa Macedo (era assim chamada na época)
me proporcionou um olhar mais artístico para as coisas.
RCC.: A arquitetura da cidade de Bagé,
RS, despertou seu interesse pela fotografia?
Garcia: Inicialmente, não. Na
arquitetura, é levado em conta um sistema de “cheios e vazios” onde diz que se
não houver distancia suficiente – entre edificações, no caso – não se consegue
enxergar direito certo edifício. Do mesmo modo, quando eu vivia em Bagé, não havia distancia suficiente para perceber
essas nuances. Depois que mudei para o Modernismo da capital, estabeleceu-se a
relação de contraste que me deu um novo olhar para essa arquitetura.
RCC.: Durante sua infância, sua mãe já
manejava com extrema sensibilidade a arte da fotografia. Esse contato foi decisivo para a sua escolha
profissional?
Garcia: Sim. Quando tinha uns dez anos
de idade, minha mãe comprou uma máquina fotográfica – Praktica MTL3 – e
firmamos o seguinte trato: se eu lesse, entendesse e explicasse o manual em um
tipo de ‘prova oral’ poderia usar a câmera. E é claro que me apliquei nessa
tarefa e passei a usar a máquina.
RCC.: Antes de vir para Brasília, DF, o
senhor já trabalhava com fotografia?
Garcia: Não. Fotografava mas em caráter
amador. Quando cheguei a Brasília (em 1993, o 100º ano da Revolução Farroupilha)
comecei a trabalhar em uma agência de publicidade como contato comercial, mas
logo de cara precisaram de um fotógrafo e essa foi a porta de entrada do mundo
profissional da fotografia.
RCC.: Em qual escola o senhor se formou
fotógrafo?
Garcia: Na verdade comecei a trabalhar
sem um curso formal. No início fui só com os conhecimentos adquiridos da vivência
em casa. Com o dinheiro dos primeiros serviços comprei uns livros (era
pré-internet) para ter maior segurança, pois ainda era película o suporte que
usávamos.
RCC.: Radicado em Brasília, DF, o
senhor fez vários cursos de aperfeiçoamento. Em quais escolas?
Garcia: O primeiro curso que fiz aqui
em Brasília, foi no Sindicato dos Jornalistas com a Tinna Coelho. Na sequência
fiz vários cursos com o Fernando Bizerra da Escola Brasiliense de Fotografia
(EBF).
RCC.: Como foi a sua experiência com o
cinema?
Garcia: Muito boa. Fiz o still do filme “Memória de Elefante”, da
diretora Denise Moraes em 2010. Nessa mesma ocasião, pude ver o Pedro Ionesco,
diretor de fotografia, trabalhando. É um trabalho que exige um planejamento
para não atrapalhar a cena que está sendo gravada. Não podem acontecer
deslocamentos pelo risco de algum ruído “sujar” o áudio. E como facilidade é
oferecida uma luz perfeitamente montada, que é a mesma da cena. Nesse mesmo
filme também tem uma parte em stop-motion
que ficou muito interessante.
RCC.: Fale-nos sobre o prêmio “Gourmand
World Cookbook Awards” e da sua participação.
Garcia: Em 2004, a Editora Senac
buscava realizar uma coleção de livros sobre a culinária local e Marta Moraes, organizadora da coleção,
acreditou que eu poderia fazer, mesmo não tendo portfolio na época. Esse
trabalho resultou nos seis títulos da coleção Cozinha Capital. E o segundo
livro, “O Bistrô de Alice” (2005) foi premiado nesse concurso de livros
culinários do mundo todo. Já em
2007, a Editora Senac publicou o livro “Gula da África”, que buscava a relação
entre as duas culinárias – a brasileira e a dos países africanos. Com essa
publicação a Flávia Portela levou o premio em 2009.
RCC.: O senhor trabalhou também em
televisão, especificamente, no Programa Show da Cidade da TV Nacional entre
janeiro e junho de 1996. Como foi essa experiência?
Garcia: A agência em que trabalhava
começou a fazer a produção do programa e eu fui junto. Foi uma experiência
muito rica, pois havia recém chegado a Brasília e não conhecia quase ninguém.
Lá na produção do programa não tinha muito de cargos, fazia-se um pouco de
tudo.
RCC.: Atualmente, o senhor estuda
Arquitetura e Urbanismo. A prática profissional da fotografia o levou a esse
novo desafio?
Garcia: Eu considero áreas complementares.
O processo da fotografia é a transformação da realidade (em três
dimensões) para a janela fotográfica
(que tem duas dimensões). Essa
transformação tem como resultado a criação da “vista” ou perspectiva. A arquitetura também tem esse viés, mas a
composição é tridimensional. É como criar uma foto onde as pessoas entram para
experimentar com outros sentidos além da visão.
RCC.: Como tem sido a sua experiência no Setor Público?
Garcia: Acredito
ser extremamente positiva, por conta da vivência com pessoas de todas as partes
do Brasil e também de ter ido a muitos lugares aonde normalmente não se vai.
RCC.: A visão e o sentimento de um
fotógrafo em relação a uma cena e uma paisagem é bem diferente de um literato,
pois envolve cores e nuances. O senhor poderia descrevê-la?
Garcia: Hierarquicamente, tudo começa
na luz. (Eu até brinco: que depois de fazer a luz Deus fez o fotógrafo.) Como o
fotógrafo cria a partir da coisa feita, essa percepção (da luz nos objetos) é o
principal ingrediente da fotografia. Se a luz é contrastante ou suave, fria ou
cálida, se dá ou tira destaque.
Após
essa percepção inicial, acontece a observação das possibilidades, ou seja, o
que a junção do objeto com a luz produz como imagem. Acredito que esse é o
momento mais pessoal da fotografia, por que cada individuo coloca suas
experiências pessoais / visões de mundo / conceito de belo, nas pequenas
escolhas, tipo o ângulo, a lente (ou fator de zoom) e os parâmetros da câmera
fazendo assim uma foto totalmente diferente de qualquer outra feita no mesmo
lugar.
No
meu caso, quando estou fotografando posso afirmar que minha visão muda: não
enxergo normalmente, fico buscando por linhas, padrões, contrastes, conjuntos,
enfim, formas geométricas que complementem ou, até mesmo, sejam o tema
principal da composição.
Registramos o nosso agradecimento pela gentileza da entrevista.