terça-feira, 1 de dezembro de 2020

O "MORTICÍNIO" DAS CATURRAS

 

O “MORTICÍNIO” DAS CATURRAS

Por Severino Moreira (Bagé, RS) 

Já dizia meu falecido vô Bira, que “qualquer querência é querência, depois que a gente se aquerencía”. E eu pra não lhe faltar com a verdade, tenho querências tantas que em qualquer lugar desse meu Rio Grande, onde boleio a perna, espalho as garras e me acomodo como se fosse dono, pois lugar que se encontra cara alegre e mate amargo pra lavar a poeira das estradas, é terra de gaúcho.

Por outro lado, não existem raízes mais fortes e nem mais profundas do que aquelas que nos prendem ao rincão onde nascemos, por isso ande eu por onde andar, cruze os caminhos que cruzar, de quando em vez me pego troteando no rumo de Santaninha, nem que seja pra ver mais uma tropa flagelada, mais um caponete que virou cinza, ou mais um rancho que virou tapera, nesse pago já tão solito, tão atirado à própria sorte.

Pois, foi na última vez que voltei à querência mãe, que ao passar em frente a tapera do tio Dorivaldo Teixeira, de longe avistei toda imponente, florida como sempre e pontilhada de ninhos de caturritas, aquela *paineira velha, que pelo que parece só ela resistia ao tempo, pois até o rancho principiava a rachar as paredes e o galpão velho já tinha inclinado a parte da frente, que nem o gado quando ajoelha p´ra se deitar e remoer o pasto abocanhado durante o dia.

Pensando bem, nessas minhas andanças por esse Rio Grande de Deus e de todos os gaúchos, não lembro de ter visto muitas paineiras, até pra não lhe faltar com a verdade, de Bagé até Santaninha não lembro de ter visto outra, além daquela que estava ali vendendo saúde e debulhando flores por cima do pasto, me fazendo lembrar desse causo, que de tão antigo eu quase arremato esses mal escritos, passando por cima, como se nada tivesse pra ser lembrado.

- Vamos então ao bendito causo.

Era uma tarde veraneira, o sol já baixinho e o tio “Valdo” e meu primo Valdir caprichavam a pontaria, com uma espingarda velha lustrosa de azeite, num bando de caturritas que se cruzavam fazendo um rebuliço medonho, por entre o mundaréu de ninhos que se emaranhavam desd’as primeiras forquilhas, logo acima do tronco até as guias da paineira.

A espingarda velha já estava com o cano quente, pois a cada tiro, trocava o atirador, o cartucho e dê-lhe chumbo de novo e as caturritas, de tão acostumadas estavam com os estampidos, já nem voavam e desse jeito as pobrezinhas iam despencando aos lotes lá de riba.

Lembro que meu tio atirava nas “cocótas”, que pousavam nos galhos da direita da paineira e meu primo nas que pousavam nos galhos da esquerda e devia ter por certo melhor vista, pois a cada tiro desabava de meia dúzia pra mais, direto p´ro o chão e aquele lado já estava tão coalhado de caturritas, que por certo não cabia uma pata de cachorro sem pisar por cima dos bichinhos mortos. Sem contar as que se empilhavam, por cima.

O lado direito raleava um pouco, mas dava pra encher três ou quatro sacos, não digo até transbordar, mas até onde desse pra atar a boca, por certo enchia.

Eu, na época era guri de sete pra oito anos, e estava uma sarna pra botar as mãos naquela espingarda e fazer um escarcéu naquele bando de bichos barulhentos, parecia “cousa” fácil. Se eles não erravam um tiro, não seria eu que ia errar, não ia mesmo, nem que piscasse os “zóio” na hora de atirar, nem que tremesse o braço, nem que não tivesse pontaria.

Nem cego errava, de tanta caturrita que tinha.

Acontece que arma não é coisa pra guri e por mais que eu “purganteasse”, não havia jeito de me deixarem dar um tiro. Um que fosse já me deixava satisfeito, pelo menos um pra sentir o gosto.

Até que pelas tantas insistências... E outras tantas negativas. “Mais contrariado que burro comendo urtiga”, o meu tio foi lá dentro, pegou uma espingarda de dois canos, que tinha sido do falecido Feliciano Teixeira, “seu pai” e, que a mais de vinte anos ficava pendurada bem na entrada da sala, num cabide, feito com um dente de porco, mais pra enfeite e ninho de marinbondo do que pra qualquer outra coisa e carregando essa arma, com dois cartuchos só de pólvora, me largou nas mãos pedindo por amor de Deus que parasse de“ Purgantear”.

Era a realização do meu sonho, uma espingarda “a meu ver carregada”, colocada em minhas mãos e um bando de caturritas esvoaçando na frente.

Já sentia a glória do meu primeiro tiro, o penaredo verde voando e a revoada das que sobrassem. Isso se sobrasse alguma.

Ia ser um tiro de respeito, ou melhor, dois acolherados  em um só.

Calcei o joelho esquerdo no chão e a coronha carunchada, no ombro direito, alinhando a “cuiera” de canos da arma no rumo do bicharedo, pois a alça de mira há muito a ferrugem tinha comido.

Não foi sem forcejar, que com dois dedos de cada mão, puxei os dois “pinguéis” já p´ra lá de encravados, pelo tempo sem uso, cheguei até a pensar que não detonariam os cartuchos e, talvez, por isso não estivesse com a arma bem firme, “pois” quando disparou, levei um coice tão “brabo” no peito, que me largou tastaveando pra trás, até me esparramar por cima da tia Noêmia que remendava uma bombacha ali perto, derrubando a coitada com cadeira e tudo por cima de meia dúzia de cusquinhos, que antes mamavam numa cadela baia.

Digo antes do tiro, pois depois disso a cadela não foi mais vista.

Na paineira, se abriu um clarão, que acredito entre folhas, flores e gravetos dos ninhos, devo ter derrubado uma “meia arroba”.

Matei setenta e seis carurritas, isso porque se eu disser que foram setenta e sete, periga até me chamarem de mentiroso.

Quando consegui levantar, ainda meio azoado das idéias, perna bamba e fedendo a pólvora queimada, vi que meu tio ainda estava no mesmo lugar, com a boca escancarada e os olhos cravados no clarão que ficou na paineira, sem entender como um tiro sem um grão de chumbo pra contar, tinha feito tamanho estrago.

Recolhi a espingarda que havia saltado a meia dúzia de passos e lhe digo. O par de canos tinha ficado que nem ralador de laranja de tanto buraco que apareceu e na coronha, ainda, saía uma fumacínha branca, pelos buraquinhos dos “carunchos”, de onde apesar de meio surdo, eu vi os “carunchinhos” saírem tossindo, e oscos de fumaça...

E as caturritas que matei, coitadinhas, ficaram crivadinhas com as lascas da ferrugem que tinha se acumulado nos canos da arma.

Esse é um dos pecados que até, hoje, tenho remorsos. E por certo, morro de velho e não boto em dia, essa pendência com o Patrão Velho.

 

 

 

 

*A paineira, citada nesse causo é, certamente, uma das poucas que existem pelo menos neste lado do Rio Grande do Sul e tem uma história muito interessante, pois foram trazidas duas mudinhas de paineira de Cachoeira do Sul no ano de 1933, por José Francisco Teixeira, mais conhecido por “Nenezinho” (irmão mais novo de Dorivaldo Teixeira), que retornava aos pagos, após cumprir o serviço militar.

A outra muda, plantada ao lado do rancho de seu pai Feliciano Teixeira, infelizmente não vingou.

Como o leitor pode ver essa árvore, hoje, tem quase 80 anos, e é uma das poucas coisas que restam onde um dia foi o referido rancho, ao qual ainda restam pedaços de parede caída, a beira da estrada entre Minas do Camaquã e Santana da Boa Vista, quase em frente ao “Cerro da Ronda.” Esse trecho é talvez a única parte verdadeira deste causo, além do local e os personagens.

 

 

 

TRIBUTO A MARADONA

 

(Gustavo Dourado, escritor, poeta, presidente da Academia de Letras de Taguatinga - ALT, DF)



DOMESTICAR


Por Pedro Du Bois (Balneário Camboriú, SC)

 

SOBRE CONSTRUÇÕES



Por Pedro Du Bois (Balneário Camboriú, SC)


Construo minha casa com a argamassa

dos dias cinzentos e coloridos. Inicio

pelo detalhe de viver e ter a certeza

da necessidade da construção.

 

Cerco o terreno em flores e crio

frutos proibidos: minha alimentação 

enquanto a obra avança ao teto.

Obro portas e janelas oxigenadas

ao interior dos ranços trazidos.

 

Refaço os móveis na quantidade 

dos dias em que morarei na casa

acerto na macieza do assento a saliência 

do colchão e na tepidez da pedra o correr

da água na escuridão do quarto.

 

Completo a mudança

e me retiro: toda casa prende

os corpos em martírio.

CONDUZ-ME

Por Fabiane Braga Lima (Rio Claro,SP)

Percorri mundos diversos que me levaram a você, sua respiração ofegante conduz-me. Entrego-me, sem medo, o seu corpo me aquece com ternura, levando-me a luxúria, momentos intensos.

Perco-me toda nessa vastidão de sentimentos, sinto seus gemidos, fico trêmula, entrego-me aos prazeres libidinosos molhados entre o gozo sagrado, pecaminoso dos nossos corpos.

 Peço mais, quero sentir o gosto de seus beijos, de sua língua percorrendo cada curva do meu corpo, degustando, trançando labirintos maliciosos.

 Perco-me toda no calor do seu corpo que me aquece, mexe com meus hormônios, excita-me. Rendo-me toda a você! Despiu minha alma, de um jeito oculto tomou meu corpo com gestos obscenos, pecaminosos saciou meu corpo.

De um jeito rude me levou a loucura, atiçou meus instintos carnais! Rendo-me, hoje sou sua, meu corpo lhe deseja, minha alma lhe busca...! Meu corpo tem sede do seu!

Contato: bragalimafabiane@gmail.com

 

RENDO-ME

Por Fabiane Braga Lima (Rio Claro, SP) 

Hoje amanheci com saudade de você, cheia de tesão, eu sei que muitos vão me criticar, pode ser inveja, sinceramente, não importo-me. Lembrei de você na madrugada, do seu corpo excitado, seu jeito doce, tão gostoso, senti saudade do seu ciúmes, seu modo rude de me ganhar!

Foram tantas, madrugadas, ainda estou aqui toda excitada, louca de vontade de beijá-lo e entregar-me ao pecado. Ainda mordo meus lábios, pensando em você, lembrando do modo em que me tomava, apalpando meu corpo, eu gritava, era exagero.

 Fico pensando: — Como queria você ao meu lado, beijando meu corpo encalorado, como sempre fez!

Rendo-me, vem toma-me em seus braços, só de pensar fico excitada, querendo seus beijos, toda molhada, serva desse desejo, sou apaixonada...!

 

 

 

AMOR INSANO

Por Fabiane Braga Lima (Rio Claro, SP) 

Que amor é esse que invadiu minha mente, insano, confundiu meus sentimentos. Esqueça, todos os versos que lhe fiz com dedicação, jamais foram feitos para você, nunca tiveram endereço.

Tudo em você e me perturba, não sou serva da sua demência do seu egoísmo. Não quero a escuridão me rodeando, preciso cuidar da minha alma, apague os versos que me escreveu. Anjo!

Apenas a escuridão que assombrou minha vida quis despir minha alma, invadir meu corpo... Mas ganhou desprezo, infelizmente, ninguém despi minha alma!

 

 

INSANOS SÃO OS MEUS PENSAMENTOS!

Por Fabiane Braga Lima (Rio Claro, SP)

Quero tê-lo envolvido em meu corpo, sentir o gosto dos seus beijos, calar esse grito eufórico por dentro! Se é loucura, não sei, mas se for, vou me entregar por inteira, sentindo seu corpo sedento de desejo, gemendo noites afora, aforando o meu libido com intenso prazer.

            Quero sentir seu corpo encalorado, surtar insaciado, entre lençóis molhados, quero intensamente com gozar junto a você. Com luxuria sacie meu incontrolável instinto, domina, supra-me com gestos obscenos, é tudo que meu corpo precisa, necessita!

Então, venha! Toma-me todo em seus braços, sinto-me extasiada, toda úmida de tesão. Não pare! Acorrenta-me junto a você me fazendo estremecer. Devore-me toda até amanhecer, quero estar presa como fera no cio, sentindo seu cheiro!

Venha logo, cá estou esperando! Chegue agora com vontade, penetre forte em meu copo, quero muitos orgasmos! Quero lhe ver louco e completamente excitado!

Meu corpo se rende! Prenda-me, sou toda sua, se é pecado, não sei, mas quero padecer nessa insana loucura de lhe querer...!  Mata-me de prazer

Contato: bragalimafabiane@gmail.com

DESPIU-ME

Por Fabiane Braga Lima (Rio Claro, SP)

Despiu-me sem juízo, desenhou sob meu corpo seus desejos mais ocultos, sua ânsia em querer se satisfazer! Saciou minha sede, envolvendo-me em seu corpo másculo, devorou meus sentidos, em desatino.

Prendeu-me no seu íntimo, me fez sentir a tortura mais extasiante, que inflamou minha carne devassa, em meio a gritos e gemidos.

Impregnou-me, com seu cheiro impuro, com seu fogo sagrado, curou feridas da minha alma, invadiu-me toda, sem pedir permissão, com sua essência me dominou.

Rendida, ensinou-me o verbo amar, e nos deliciamos, nos lascivos prazeres libidinosos, envolvidos sob às estranhas de nossa alma...!

Contato: bragalimafabiane@gmail.com

SINTA-ME

Por Fabiane Braga Lima (Rio Claro, SP) 

Sinta meu coração, minha respiração ofegante gritando seu nome, quanto mais tento, me acalma meu corpo se envolve junto ao seu, então me liberto, sinto-me dominada por sua essência.

Perco o sentido, invadi minha alma, meu corpo, fico sem controle, sou sua, quero sentir sua boca acariciando todo meu corpo, voraz, me faz gozar, entre gemidos e delírios que me levam a outros universos.

Sem medo, sinta minha mão lhe tocando, grite peça mais, quero ser a mulher que lhe deixe vasto de desejos profanos, sem limitação. Fico emaranhada, não sei se é loucura, mas me deixa excitada, meu corpo se fundi ao seu, sinto sua intensidade! Paixão ou loucura minha alma se acalma. Aquieto-me...!

Contato: bragalimafabiane@gmail.com

PEREGRINO

 

Por Samuel da Costa (Itajaí, SC)

Para Aristides Souza Maia

 

Na primavera dos povos

Foste tu a criar divinais asas

Nos pés

E flanar livremente

No tempo atemporal

E no espaço 

***

Em todas as primaveras

De todos os povos reprimidos

Foste tu a criar sibilinas

Asas nos pés

E voar infinitamente 

Nas impossíveis alturas

***

Na infindável primavera

De todos os povos sub-jugados

Foste tu a voejar heroicamente

Em uma jornada eviterna

Trans-oceânica

Até os confins do novo mundo

Para ouvir em êxtase

  O dulcíssimo bel canto

Magnificente da Iara amazônica


 

 

NADA FÁCIL

Por Clarisse da Costa (Biguaçu, SC)

Eu bem me lembro dos muitos risos na minha vida, alguns nem eram da minha espontaneidade. Quando eu os ouvia eu me sentia qualquer coisa menos gente.

Quando eu ganhei o meu primeiro diário me perguntaram com toda ironia do mundo o que eu iria escrever ali de tão secreto. Disseram para mim que eu nada tinha para contar. E a gente precisa de ter uma grande uma grande história de vida para escrever algo?

A mulher sofre oposição até dentro da família. É como se ela não pudesse existir ou for a mulher que ela se tornou. No meu caso é pior, pois sou mulher negra. Parece que a mulher negra tem que ser igual ao sistema, podre, frio e obediente. Mas eu nasci para obedecer ao sistema não democrático desse país e muito menos para seguir os padrões de beleza. 

Eu tenho a minha particularidade, uma beleza única.  A minha persistência me faz crer que posso ir além do que todos imaginaram. Hoje eu tenho uma história de perseverança pra contar. Porque para viver nesse mundo tão desigual é preciso perseverar. 

Depois que eu fiquei doente eu vi um novo mundo a minha volta. Também vi em mim outra mulher, porém vulnerável. Eu não era forte. Eu sentia que existiam em mim duas mulheres, uma queria desistir de tudo e ir morar na lua. Se é que isso é possível! Eu achava que lá, somente lá eu poderia ser quem eu sou. É inevitável, quando a sociedade lhe exclui do meio e as pessoas lhe julgam. Obviamente que eu me isolei. Não fazia diferença a minha presença para eles. Mas o incrível é que eu não deixei de sonhar de acreditar. 

Eu caí várias vezes, não foram rasteiras da vida, simplesmente as pernas não me obedeciam. Talvez no meu subconsciente eu não quisesse sair do lugar.

Eu jamais me senti incapaz, mas às vezes os olhares das pessoas me faziam me sentir diferente, excluída. 

O que é inclusão se a sociedade lhe exclui por ser negra ou ter alguma deficiência física? 

Eu perdi o ano escolar preste a ir para o terceiro ano do ensino médio. A escola sequer me deu alternativas para estudar. A partir disto me senti excluída e vi o valor de uma pessoa quando fica doente. De repente eu era nada e sem liberdade para querer mais da vida.

Então através das poesias eu construí as minhas asas, com as poesias me sinto livre. Claro que, sem fugir da realidade, completamente com os pés no chão como o meu amigo escritor me ensinou. 

Quando eu perdi quem eu mais amava parecia que eu tinha perdido tudo. Cheguei a me sentir perdida sem ter para onde ir e o que fazer. Eu tinha um sonho e zero oportunidade. 

Eu sequer tinha planejado a minha vida sem ela. Eu falo de minha mãe. Após sua partida parei pra pensar em tudo que vivi ao longo dos meus 35 anos de vida. 

Comecei a entender sobre o racismo que vivi já na infância, os olhares para cima de mim e os questionamentos depois que comecei a usar andador. 

A partir daí encontrei em mim outra mulher outra escritora.  Forte e crente na minha capacidade.  Decidi olhar pra mim pra vida. A sociedade não me incluiu. Eu me incluí no mundo. 

Eu entrei no supermercado, ali eu não era mais uma pessoa à fazer compras. Parecia que eu era um ser de outro planeta, tamanho os olhares sobre mim. Mas eu segui em frente com a cestinha na mão e fui até o caixa pagar. Cheguei em casa com a satisfação de que eu tinha vencido mais um obstáculo. Até o meu pai ficou surpreso.

Mas o melhor da minha história foi quando entendi que a minha mãe não queria me ver triste. A noite ela sentou-se na beirada da cama e me disse: "Calma, eu estou aqui!" Então comecei a lutar com toda força em busca do meu sonho.

Claro que não foi fácil, a vida nos surpreende o tempo todo. E nós como humanos temos os nossos atos falhos. Não temos o controle de tudo. E essa vida me apresentou o escritor Samuel da Costa e este me deu o caminho das pedras. Ele me incluiu no mundo literário. 

O caminho é fácil? Não. Nem o ser humano é. A inclusão existe para todos? Não. Mas é preciso lutar. Existir para algum propósito que lhe faça a diferença. 


  

domingo, 1 de novembro de 2020

TRIBUTO A SEAN CONNERY


 

O MEU CUSCO FUMAÇA

 Por Severino Moreira (Bagé, RS)


O João Figueiredo era uma dessas pessoas marcantes, que ficaram sepultadas nas necessidades que o mundo tem de evoluir, e com isso termina apagando da face da terra algumas atividades, antes tão importantes, que, hoje, só servem pelo valor histórico, assim como as tantas figuras humanas, que ajudaram a escrever essa história, a ponta de casco e com um par de rédeas na mão.

Mascate conhecedor dos quatro cantos do Rio Grande de Deus, sempre acolherando a campanha e a cidade no rasto de uma carroça velha, “muy” bem cuidada e quinchada de santa fé, e uma parelha de tordilhos, que gostava como se fossem gente. Estampa de cavalos, benza Deus.

Eu era, na época, um guri já “taludito”, quando numa passada lá pelo rancho, me deixou de regalo um cusquinho fumaça, lhe falo uma pintura de cachorro, o pelo assim quase cor de barba-de-mato, tareco, unha perdida e cola aparada. Me lembro até hoje.

Botei o nome de Respeito, parecia até adivinhar que ia mesmo ser um cachorro de respeito, o melhor tatuzeiro, que as margens do Camaquã já viram, isso desde que era uma nascentezinha lá pelas imediações de Lavras do Sul, até o imponente rio que cruza por Santaninha e vai se alargando até a Lagoa dos Patos. Meu cachorro achava tatu até onde não tinha, e depois de dar no rasto, nem escondido embaixo de um pelego escapava.

“Digo, embaixo de um pelego por que vem da ovelha e ovelha o meu cachorro não pegava”.

 Bueno, p´ra lhes encurtar o causo, caçava até solito, pois todas as manhãs eu encontrava, no mínimo, dois tatus na porta da cozinha trazidos pelo cachorro, e digo mais, se deixasse, destripava e arrancava os pêlos da barriga com os dentes, um por um e me entregava o bicho limpinho até das “frussuras”. E digo, ainda, mais, só caçava “tatu macho deixando as tatuas” para “tirar cria”.

  Bueno, pra lhe encurtar mais um pouco o causo, a fama do meu cachorro cresceu tanto, que começou a aparecer gente de tudo quanto é canto do mundo, com cachorro de tudo que é pelo e raça, querendo derrubar a sua fama, que ao contrário só aumentava.

 - Não havia cachorro melhor que o meu... Nem igual. Com muito boa vontade, posso acreditar que haveria algum parecido.

 Mas como se sabe, a vida, às vezes, nos dá algum tironaço que nos larga tastaveando e eu nem gosto de me lembrar do que aconteceu com o meu cachorro, triste sina de um animal que dá a vida pela gente, e por um desaforo do destino e a vaidade do ser humano, faz com que venha a ter um arremate tão trágico.

 Pois, foi me aparecer certo dia por lá o tal Lautério, um mulato mais conhecido na região de Bagé e Pelotas, por “Diabo Preto” pois, diziam até que era índio de meia dúzia de mortes, e a cara não negava, pois trazia um risco de faca, desd’a ponta do olho direito até abaixo do queixo, além de ser desses viventes que sempre olham meio de “enviazo” pra gente. Junto do cuera troteava um cachorro osco, quase tão feio quanto o dono e só a boca do bicho media mais de palmo.

O índio tirando uma carneadeira da cintura, cravou no chão e me assuntou. “Se meu cachorro perdê sangra ele, mas se ganhá, eu sangro teu guaipeca de orelha a orelha pra não botá cria ruim”.

Pensei em refugar a parada, afinal estava em jogo a vida do meu cachorro, mas o cusquito deu um grunhido e abanou o toco de rabo, como se dissesse , “EU ME GARANTO”.

Parece até mentira, mas o meu cachorro só não falava. Até falava ao seu jeito, eu é que não entendia tudo o que tentava me dizer.

É como se fosse ontem, tenho nas retinas cada cena e cada fato guardado. Lembro que tinha sido uma noite de surpresa, meio garuosa e se espalhavam pela volta do rancho os rastos da cavalhada, tocos dos palheiro, e até algum taco de bota, perdido decerto n´alguma vaneira mais largada.

Foi quando, largou o cachorro osco e dando uma cuspida no chão, “rosnou”.

-“Quando secá teje de vorta”

E esteve mesmo, não deu nem cinqüenta passos, deu um latido num pé de gravatá, e de lá saiu com um mulitinho atravessado na boca. Parecia um “camundongo”, não sei se de tão pequeno que era, ou pelo tamanho da boca do cachorro, mas afinal que remédio. Há quem diga que petiço é cavalo e garnizé é galo, de sorte que “mulito” deve ser tatu.

Bueno, eu fiquei, remoendo meus pensamentos, sabia que meu cachorro era bom, sabia que era o melhor, mas também sabia que não fazia milagres de sorte que era forte candidato a bicho morto.

Tentei apelar p´ros sentimentos do cuera, o que já de antemão sabia não ter e que me olhando com cara de deboche rosnou, TRATO É TRATO.

- Eu nem tinha feito trato algum, apenas não discordara do que o vivente dissera.

Larguei meu cachorro que andou quatro ou cinco passos, mijou num pé de carqueja, e depois farejou N´um canteiro de mal- me- quer, trazendo dali atravessada na boca uma garrafa de canha, decerto esquecida por algum índio que se passara nos tragos, na noite anterior durante, a dançarola.

Largou a garrafa nos meus pés e ficou abanando o toco de rabo, com a cara mais satisfeita, que cuiudo solto no meio de um “lote” de potrancas.

O desafiante deu uma risada que mais pareceu um rugido e sem uma careta pegou a carneadeira e sangrou o meu cachorro.

Confesso que apesar de ser um guri, tive ganas de fazer o mesmo com o desgraçado, mas como “TRATO É TRATO”, engoli a minha raiva, botei o cusquinho no ombro e passando a mão numas ferramentas, fui enterrar lá embaixo das laranjeiras.

Pelo menos isso, eu tinha de fazer pelo meu cachorro.

Fui cavando... cavando, e já ia com meio corpo pra dentro da cova, quando um de meus pés se afundou na terra fofa, e fui quase pisar numa ninhada de treze “tatuazinhas”, recém abrindo os olhos, que na “Santa Paz de Deus”, mamavam n´uma “tatua” velha que dera cria ali a beira do rancho, por certo sabendo que sendo fêmeas, do cachorro estavam livres.

A gente não entende os bichos, mas eles se entendem. E até nos entendem, quando não lhes fazemos mal.

Voltando pro rancho com a pá no ombro... com “argueiros” nos olhos, vi que, ainda estava ali a bendita garrafa de canha trazida pelo cusco, e olhando com mais atenção... ERA UMA TATUZINHO.

 

ALGUMAS CURIOSIDADES

 

ALGUMAS CURIOSIDADES

Bom tema para momentos das grandes paixões e intolerâncias no século XXI no Brasil?

Von Steisloff

2014

 

Sempre tive uma compulsão pelo estudo de História. Na realidade talvez, por ter nascido em São João del Rei - Minas Gerais, sempre me fascinou o conhecimento dos detalhes das ocorrências da Inconfidência Mineira e o sacrifício do meu conterrâneo J. J. Xavier, o Tiradentes. Tempos desses, na verdade há anos, li três romances mediúnicos. Um primeiro intitulado A MOÇA DA ILHA, um segundo, mais moderno, CONFIDÊNCIAS DE UM INCONFIDENTE e um terceiro, DE MÁRIO A TIRADENTES. Todos  romances ditados pelo espírito do poeta Thomaz  Antônio Gonzaga para a médium Marilusa Moreira de Vasconcellos. NOTA 1: será que alguém sabe que Thomaz Antônio Gonzaga planejava libertar de Portugal o Brazil (ainda com Z) e ser escolhido como presidente de um regime republicano? NOTA 2: interrompo - por momentos - esta crônica porque acabo de receber, por telefone, a notícia (será verdadeira?!) da morte do doleiro Youssef por envenenamento por substância organo-fosforada! Quem  foi nas sucessivas reencarnações esse delator Youssef? NOTA 3: depois retornarei para continuar com os comentários  sobre a Inconfidência Mineira e a sucessão de poder no nosso Brasil...

Retorno à crônica hoje – 27/10/2014 – após a apuração das eleições de ontem. Depois de ter lido os citados romances mediúnicos trazidos à luz pela médium Marilusa Moreira fiquei, impressionado com as revelações feitas por Thomaz Antônio Gonzaga. Este  era, em 119 a. C  um  importante romano de nome Sextílio. MARÍLIA (de DIRCEU) era Marta. O terrível e cruel centurião romano era Caio Mário (Tiradentes!) e o cidadão romano Sila era Aleijadinho. Ainda àquela época,  Geminio de Terracina (Maria I, a Rainha Louca!) Naquele século já conviviam em conflitos e  confabulavam pelo poder sendo alguns até inimigos ou amantes.

No século I d.C  Thomaz é novamente o cidadão romano Artur, Marília é Mariita. Tiradentes é o temível militar Glauco, Maria Louca é importante dama Terência e Aleijadinho é o cruel centurião  Lúcius.

Nos anos 1227-1241, CAIO MARIO (Tiradentes) reencarnaria como o papa Gregório IX ! Aquele papa foi o crudelíssimo mentor da Inquisição!!

Nos anos 1700, em Minas Gerais – no Brazil Colônia –  ressurgiriam como poeta Thomaz Antônio Gonzaga, Marília (o grande amor impossível de Gonzaga) Maria I, a Louca, era rainha de Portugal e Aleijadinho um artista importante, líder maçom amigo e protetor de Thomaz e Marília (Marília de Dirceu)

Depois de ler os três alentados romances ficaram-me questões instigantes: nessa trama milenar quem seria (desde o 119 a.C )  Tancredo Neves ? NOTA 4: em um dos romances ditados pelo espírito de T. A Gonzaga cita-se a preocupação com as “entidades” que manipulava acabar com a vida do Tancredo Neves que morreria antes de tomar posse (seria Tancredo a reencarnação de Thomaz?) Quem seria Luiz Arrais nos séculos passados? Que circunstâncias e quem manipulou o acidente matando o neto Eduardo Campos?

O Aleijadinho, através de sua influência na Maçonaria, facilitou a viagem secreta de Marília até Moçambique para encontrar com o seu amor de milênios –Thomaz Antônio Gonzaga – degredado e já casado na África. Mesmo assim, triste e decepcionada, ela  retornou grávida de Thomaz, para Minas Gerais. Quem seria aquela criança nascida em  Minas Gerais? Quem é Aécio Neves da Cunha? Quem foi no passado distante o atual doleiro Youssef? Quem é a reencarnação atual de Maria I de Portugal? Por que ela, a Rainha Louca, mandou enforcar só o Tiradentes? Um ódio remoto? Será que ele (Tiradentes) escapou mesmo da forca?  Ora, os espíritos não morrem! Surgem e ressurgem através dos tempos em busca dos seus aperfeiçoamentos, resgates e ideais. Como surge uma pobre e humilde seringueira de nome Marina Silva,  entra na história e quase balança o coreto do poder, apoiando um candidato pernambucano que morre de acidente e Marina Silva depois apoia outro candidato concorrente  das Minas Gerais? Quem seria essa mulher? Quem foi, nesses milênios todos,  o indecifrável Luiz Inácio Lula da Silva? Por que o Lula, mesmo apedeuta,  é tão ousado,  falastrão idolatrado e, ao mesmo tempo, tão odiado? Confuso, não é mesmo?

Se os leitores dispuserem da mente aberta, as mesmas disposições e curiosidades deste cronista,  podem buscar ler os três livros (raros) buscando no site do Mercado Livre, pela Internet. Primeiro ler  A MOÇA DA ILHA e só depois CONFIDÊNCIAS DE UM INCONFIDENTE e, em seguida, DE MÁRIO A TIRADENTES. Boa sorte e divirtam-se. Leitura é cultura...

NOTA 5: quem é este cronista? Por que tanto interesse na Inconfidência Mineira? Por que ele foi nascer em São João del Rei, Minas Gerais, filho de uma paupérrima tecelã, já viúva,  como neto, bisneto e trineto dos imigrantes de 1858, os  alemães Steisloff?   

Bibliografia Mediúnica - Romances

A MOÇA DA ILHA– Autora Marilusa Moreira Vasconcellos. Ditado pelo espírito de Thomaz Antônio Gonzaga (Século  I d.C)

CONFIDÊNCIAS DE UM INCONFIDENTE–Autora Marilusa Moreira Vasconcellos. Ditado pelo espírito de Thomaz Antônio Gonzaga (Século XVIII)

DE MÁRIO A TIRADENTES– Autora Marilusa Moreira Vasconcellos. Ditado pelo espírito de Thomaz Antônio Gonzaga (Século CXIX a. C.)

EFEMÉRIDE


 

EFEMÉRIDE

Por Pedro Du Bois (Balneário Camboriú, SC)

 

Na efeméride o fundo falso afasta

o sentido da insegurança

 

 o féretro sai do corpo principal

 fechando a porta da capela: orada

 onde em imagens sou sacralizado

 

o infausto gesto é a briga

de abrigadas desavenças

no obrigatório fundo

falso: inconsentido

 

   no cadafalso cabem penúltimas

   razões: a efeméride se completa

                em lapsos.

 

 

 

RESPOSTAS

 


RESPOSTAS

 

Por Pedro Du Bois (Balneário Camboriú,SC)

 

Alguma vez tive a soberba

de dizer: eu sei a resposta

(a resposta ia longe de mim)

 

estraguei meu dia

com a resposta

errada

 

(encerrei a soberba na caixa

 lacrada aos pósteros)

 

outra vez quase repeti

como correta a bobagem ouvida

na passagem entre canais

 

(senti a soberba forçar o lacre

 da caixa: sussurros e lamentos)

 

hoje falo sobre o nada com a humildade

inerente – ou falsa – aos pedintes

 

(a soberba conservo fechada

 na caixa: por livre vontade).

 

 


OS GRITOS DE SUELEN (PARTE 1)

Por Fabiane Braga Lima (Rio Claro, SP)


Suelen tinha 8 filhos, era mãe solteira, cuidava muito bem de seus filhos, apesar do pouco que tinham. Moravam distante de tudo e todos. Como a maioria das mães, tirava de sua boca para dar aos filhos, só que quase não tinham o que comer. Esquecido por todos, moravam num barraco de madeira, construído há tempos, no qual a madeira estava podre. Comiam pouco, pois não havia alimento, e o pouco que tinham eram restos que Suelen pegava em feiras, ou saco de lixo, noite afora pelas ruas.

Cada grito de Suelen, era um filho que falecia em seus braços. As crianças encontravam-se desnutridas, pois além de alimento faltavam lhes água. No quintal de sua casa, Suelen fazia uma cruz, onde era enterrado cada filho dado como morto. Em época de eleição, achavam Suelen, filmavam seu barraco, e doavam alimento.

Quando acabava a eleição, não a procuravam.  Muito jovem, mãe solteira, mestiça, havia preconceito, era dada como preguiçosa, ou puritana! Mais um grito de Suelen, um filho morto pela fome! Eram marcados pelo sangue, dos malditos sanguinários...os políticos!

A política do país, a idolatria de muitos e o preconceito de ser mãe solteira, mestiça, esquecida por muitos! Mais um grito de Suelen um filho(a)...um filho morto. Filhos esquecidos, marcados pelo sangue da politicagem do nosso país...!

  

GRITOS EM VERSOS E PROSAS

Por Fabiane Braga Lima (Rio Claro, SP)

Dentro de mim existe uma vastidão de emoções, sentimentos! Há um grito por dentro que calou minha alma, para buscar algo que na verdade nunca encontrei. Enfim, pensei: —Vou apenas escrever! Então, compus amores que nunca vivi, fiz amigos autênticos, nos quais amei!

Na minha inquietude, sonhei, chorei, sempre buscando, me ausentei. Nas minhas árduas madrugadas, escrevi compulsivamente. E, os sentimentos se acumularam, foi onde exagerei… Amo poesia! Mas não passo de fragmentos poéticos! Busco com a alma em silêncio, algo que ainda, não encontrei, tudo tão complexo…

Jamais me afastei, sou feita de amor, de sonhos! Mas na verdade, nunca me reencontrei. Minha única certeza, é que sempre amarei, nunca deixarei de sonhar e versar...!  

 

                        

IDIOSSINCRASIAS

 

Por Samuel da Costa (Itajaí, SC)

 

Entre marafundas e badernas

Entre feiras-livres e mafuás

No novo-mundo

Ser eu o teu ledo negro sol

Da meia noite

Nas infinitas sintécticas empatias

Ser eu o teu cosmo infindo

Nas sombras da pós-modernidade

Fluída

 

***

 

No singrar lânguido e lento

No nosso imaginativo

Mar de tranquilidade

Trago-te segura junto a mim

 

***

 

Mas ousamos negra ninfa

Dos bosques encantados

 Sentarmos complacentemente

Nós dois ladeados 

Irmanados em negras dores 

Na sombra de uma jabuticabeira

 

***

 

Entre as estrondosas marafundas

 E as balbuciantes badernas

No novo-mundo

Ser eu o teu dourado sol 

Da meia noite 

Ser o teu tudo

Nas infinitas empatias abstratas 

Nas sombras pós-modernidade