Por Paccelli José Maracci Zahler
A data de 20 de novembro foi estabelecida pela Lei nº 10.639, de 9 de janeiro de 2003, como o Dia Nacional da Consciência Negra, pois nesse dia, em 1695, morria Zumbi, líder do Quilombo dos Palmares.
Para comemorar a data, entrevistamos o professor, poeta, acadêmico da Academia de Letras do Brasil, Seccional Distrito Federal, e ativista do movimento negro, Jorge Amâncio.
A entrevista foi feita por correio eletrônico.
Em nosso nome e em nome da Revista Cerrado Cultural, agradecemos ao Prof. Jorge Amâncio a gentileza de receber-nos virtualmente.
RCC: Antes de vir para Brasília, em 1976, o senhor já se dedicava à poesia ou foi o ambiente da cidade que o inspirou?
JA: O interesse pela poesia veio desde cedo. Creio que no jardim de infância, na igreja de São Sebastião do Rio de Janeiro, em Ramos , uma poesia que lembro até hoje me fisgou ... o sapo sapinho/é nosso amiguinho/repare nas flores/ não são uns amores /pois fique sabendo /que o sapo sapinho /é nosso amiguinho/ele cuida das flores/ dos insetos daninhos/o sapo sapinho/é nosso amiguinho. A paixão começou com os poemas publicadas pelo Jornal do Brasil, no caderno B, cujo redator era o poeta Reinaldo Jardim, nos anos 60, junto com os festivais de música e a descoberta da “black music”. Arriscava alguns poemas, sem qualquer compromisso, desde a adolescência. Brasília me mostrou a possibilidade de todas as poesias, de todos os poemas. Os concertos Cabeça, a Hora do Arroto na UnB , a geração mimeógrafo de Brasília, a cidade fervia em poesia e comecei a ter acesso a novos e “velhos” poetas brasilienses e, quando dei por mim, a poesia era parte de mim. A primeira publicação foi no jornal do Movimento Negro Unificado do DF, chamado Raça,e optei pela poesia engajada com a vida, com a minha negritude.
RCC: Sua biografia é marcada por uma forte ligação com o movimento negro. Na sua opinião, tem havido avanços na luta contra o preconceito racial?
JA: A queda do mito da democracia racial, a criação de um movimento negro organizado, a admissão de que, no Brasil, o negro ocupa o primeiro lugar nos cárceres, nas favelas, nos miseráveis.
Essas conquistas foram um grande avanço.
Agora, as consequências trazidas dessas conquistas, ainda deixam a desejar e, nós, negros, continuamos excluídos, herdeiros de uma fatia do bolo da escravidão, numa sociedade de valores escravistas. A intolerância religiosa, o combate às ações afirmativas governamentais ou não governamentais existentes hoje, são barreiras a serem vencidas. A busca do reconhecimento da igualdade exige educação do negro e do não negro, uma educação institucional, familiar, uma mudança de valores, uma libertação da herança do pensamento escravagista. São 123 anos da abolição outorgada pela Lei Áurea em quase meio século de escravidão.
RCC: Como o negro é visto pela sociedade brasileira atualmente?
JA: O racismo no Brasil produziu inúmeras facetas de se mostrar e a mais cruel é a negrofobia. Nós negros somos vítimas de negrófobos no dia a dia: ao sentarmos num ônibus e o passageiro ao lado grudar na bolsa como se guardasse a vida: ao entrarmos numa loja,somos seguidos pelo segurança; ao abrirmos a porta da nossa casa, nos perguntarem pelos patrões;quando ligamos a TV e não nos vemos. O Negro é invisível na sociedade brasileira.
RCC: O senhor poderia nos historiar as atividades do Centro de Estudos Afro-brasileiros e do Grupo Cultural Asé Dudu dos quais é fundador?
JA: O CEAB, Centro de Estudos Afro Brasileiros, foi fundado no ano 1978, e seu primeiro presidente foi o Dr. Carlos Moura, que mais tarde viria a ser o primeiro presidente da Fundação Palmares. O CEAB foi o primeiro movimento negro organizado de Brasília, com sede própria no Edifício Rádio Center, onde funcionou até os anos 90, hospedou um acervo de artes plásticas com obras expressivas da comunidade negra , exerceu influência política cultural no cenário nacional e internacional. O Grupo Cultural Axé Dudu surgiu em Brasília num protesto de carnaval. A música "Fuxico", um sucesso baiano, que trata a mulher negra pejorativamente. Em Brasília, um grupo de pessoas lideradas por Lecino Ferreira, criou o bloco Afro Asé Dudu em 1986. No ano seguinte, ingressei na no bloco e fundamos o Grupo Cultural ASÉ DUDU que, na capital, com ensaios, apresentações no Bar Bom Demais, todos os sábados, tornou-se um ponto de referência para a comunidade negra do DF. O Grupo desfila nos dias de Carnaval, mostrando a cultura afro-brasileira ao DF. Hoje, o Grupo é sediado em Taguatinga, está ligado à religiosidade afro-brasileira. Apresenta-se e desfila no Carnaval brasiliense. "Asé Dudu" significa "Força Negra" em yorubá, onde o “ésse” (s) tem um ponto embaixo e soa como um xis .
RCC: Como filiado ao Sindicato dos Escritores do Distrito Federal – SEDF, o senhor ocupou o Departamento do Negro em 2005. Poderia nos falar sobre o trabalho desenvolvido e sobre os resultados obtidos?
JA: Foi na gestão da Drª Meireluce Fernandes como presidente da entidade. Realizamos três saraus na Feira do Livro de Brasília, onde um dia era dedicado â causa negra. O público prestigiava pelo desconhecido, pela surpresa. Na atual gestão, o Departamento do Negro foi extinto sem qualquer comunicado. A causa negra sofre pelo isolamento dentro de qualquer entidade que a aceita. “Dei a chance agora cabe ao negro correr atrás”. Fato que ocorre nas esferas governamentais, nas esferas sociais, em todas as esferas onde exista o negro e o não negro. Foi assim na abolição – “ ...declaro livre todos os escravos e descendente de escravo, agora se virem...” .
RCC: Ocupando a cadeira nº 16 da Academia de Letras do Brasil, Seccional Distrito Federal, o senhor escolheu como patrono Solano Trindade. O que o inspirou na escolha? Poderia nos falar sobre a importância do seu patrono na Literatura Brasileira?
JA: A escolha de Francisco Solano Trindade para meu patrono na ALB- DF é por ele ter sido um Homem das Artes, que o diga a cidade de Embu das Artes, e, principalmente por sua poesia de linguagem direta, carregada de negritude, uma poesia que mostra a cor da fome, o descaso com o ser humano, um poeta da resistência negra. O poeta preocupava-se com o povo, com a valorização da cultura negra e a desigualdade racial no Brasil. Pernambucano de Recife, Solano Trindade foi um ser humano de grande carisma e visão, para quem a arte representava parte essencial da vida. Em Embu, Solano virou nome de uma rua no centro expandido da cidade. Nesse mesmo município, sua filha Raquel criou o Teatro Popular Solano Trindade e, juntamente com ela, netos e bisnetos do artista cuidam para que a memória do Poeta do Povo permaneça viva. No Recife, cidade natal do escritor, uma estátua de Solano, em tamanho natural, feita pelo escultor Demétrio, encontra-se no Pátio de São Pedro. No Rio de Janeiro, uma biblioteca leva seu nome e, no Museu Afro-Brasil, dentro do Parque do Ibirapuera, em São Paulo, uma foto (“feia”, na opinião de Raquel) e um quadro relembram o artista. Seus poemas transpuseram fronteiras, fazendo com que ele conquistasse admiradores em países como Tchecoslováquia e Polônia. Solano Trindade transcende a literatura brasileira foi um homem das Artes.
RCC: Sua ligação com a Umbanda transparece um desejo forte de ligação com os seus ancestrais ou uma forma de consolidar sua identidade afro-brasileira, como expressa no poema RELIGÁFRICA?
JA:Cresci com a simbologia e a religiosidade da Umbanda. Quem me trouxe ao mundo é uma Yalorixá, Mãe de Santo umbandista, na casa do Caboclo Guiné. Hoje, minha mãe está com 87 anos, em pleno exercício de sua missão. Sou filho legítimo de Mãe de Santo, cresci com Oxalá na imagem de Jesus Cristo, Xangô como São João, Yansã é Santa Bárbara, Ogum é São Jorge. Cresci sabendo que a África é o útero da humanidade, que religião é religar, religar ao primo ponto, o big bang da humanidade.
RCC: Embora ativista do movimento negro, sua poesia MUNDO SEM FRONTEIRAS, quebra a dicotomia marcada pelo preconceito de raças, religiões, posições sociais. O senhor diria que foi o resultado de um amadurecimento do poeta por um mundo mais igualitário?
JA: A fome, a miséria, o analfabetismo têm cor nesse mundo, neste planeta dominado pela ganância, pelas armas, pela distribuição do capital. A Paz tem no caminho a igualdade, a igualdade requer mais do que um olhar, requer justiça.
Quando opto por falar em discriminação, em injustiça social, em intolerância religiosa, quero a Paz Universal e creio que a Paz, passa necessariamente pela igualdade, pela justiça. Somente abolindo as fronteiras (interiores e exteriores) a Paz será atingida. "Mundo sem Fronteiras" é um poema para Paz, para que o homem independente de credo, cor, sexo, veja o outro como semelhante.
RCC: Fale-nos sobre o evento POEMAÇÃO coordenado pelo senhor e pelo Sr. Marcos Freitas e que ocorre no auditório da Biblioteca Nacional de Brasília desde 2009.
JA: O Poemação surgiu durante a primeira Bienal Internacional de Poesia – BIP, realizada de 3 a 7 de setembro de 2008. O Poemação, projeto idealizado por Antonio Miranda, diretor da Biblioteca Nacional de Brasília e idealizador do evento, consistia em sessões de recital de poesia e de canção, além de projeções de vídeos poéticos, em sequência de apresentações, com programação pré-definida para poetas da cidade, nacionais e estrangeiros, mas abrindo também espaço a apresentações espontâneas de outros interessados em participar.
Na I BIP, o Poemação foi realizado no Café do Conjunto Cultural da República, no Café Literário da Feira do Livro de Brasília, no circuito noturno da cidade, em espaços como: Café Martinica; Bistrô Bom Demais (CCBB); Rayuela Bistrô e Livraria; Café com Letras, assim como no SESC Taguatinga e na Casa do Cantador (Ceilândia), entre outros.
No desejo de continuar o projeto, o professor Antonio Miranda convidou os poetas Marcos Freitas e Jorge Amancio para coordenar o Poemação, no auditório da Biblioteca Nacional de Brasília.
Jorge Amancio e Marcos Freitas vinham da montagem do primeiro e último Sarau Ponta da Asa, um espaço para a Poesia Brasiliense, no Espaço Cultural Café Itália, abrindo suas portas na primeira terça-feira de maio, dia 5, para o 1º SARAU PONTA DA ASA, com o projeto de mostrar a poesia brasiliense na sua totalidade. Apenas o primeiro foi realizado.
O Poemação tem presença garantida poetas de Brasília, Ceilândia, Gama, Guará, Planaltina, São Sebastião, Taguatinga e outras Brasílicas. A poesia em suas diversas facetas é apresentada pelo Poemação. Poetas brasilienses são homenageados, com a obra revisitada. O Poemação privilegia a poesia e o poeta divulgando e revelando talentos. Está na sua vigésima quarta edição, em dezembro de 2011.
O primeiro Poemação foi realizado no dia 4 de agosto de 2009, terça-feira, no auditório do 2º andar, da Biblioteca Nacional de Brasília, tendo como poeta homenageado Antonio Miranda; seguiram-no Ruiter Lima e Carlinhos Piauí, com um recital poético-musical nordestino; Cristiane Sobral com a poesia negra; Marina Andrade com uma leitura musical de Augusto dos Anjos, e ainda Ivan Monteiro, Meireluce Fernandes e Menezes y Morais. E até hoje - no vigésimo quarto sarau videoliteromusical Poemação - inúmeros poetas mostraram seus trabalhos. Músicos, cantores, atores e atrizes também nos deram a honra de suas participações. Poetas como Nicolas Behr, Angélica Torres, Chico Alvim, Ézio Pires, Vânia Diniz, Cristiane Sobral, Anderson Braga Horta, Antonio Miranda e outros, foram homenageados pelo Poemação e José Santiago Naud será o próximo homenageado, no dia 6 de dezembro de 2011
Os coordenadores do Poemação Marcos Freitas e Jorge Amancio agradecem a colaboração de todos os poetas, organizadores de saraus, músicos e atores que participaram dessas vinte quatro edições do Poemação.
RCC: Sempre se houve falar que não existe espaço para a poesia, pois ela não consegue conquistar leitores. Qual a sua opinião a respeito?
JA: Leitores e poetas existem aos milhares. Quem não escreveu uma poesia na vida? Creio ter havido um movimento para colocar a poesia em um plano abaixo das outras formas literária pelas editoras. Congelando a poesia a “alguns” poetas, colocando a poesia como uma forma de difícil entendimento, estigmatizando a poesia. Em Brasília, a lei Orgânica do Distrito Federal (art 235 § 2º) recomenda o ensino da Literatura brasiliense nas escolas. Sugiro a modificação para a "obrigatoriedade", visto que pouquíssimas escolas no DF trabalham com os autores locais e que esta "obrigatoriedade" seja expandida para todos os Estados do Brasil. A poesia não perdeu espaço. Hoje, lê-se muito mais poesia. Se ela não vende, culpo as editoras, as distribuidoras, a mídia literária, os professores que, estáticos, não perceberam que a poesia é dinâmica, é o reflexo da sociedade. Brasília, pela sua multiplicidade, produz, hoje, uma poesia nova, interativa com o mundo atual. No último concurso do SESC, em âmbito nacional, para a escolha de 35 poetas do Brasil, 12 (doze) eram brasilienses. Um terço dos poetas é daqui e isso é significativo. O Poemação, nesses anos, tem conseguido lotar o auditório da Biblioteca Nacional de Brasília "Leonel de Moura Brizola", o que prova que poesia tem público, tem leitores. A internet possui inúmeros sites, blogs, grupos, comunidades voltadas para a poesia. O que falta são novas estratégias, novos olhares, pois, espaço a poesia tem.
Revista literária virtual de divulgação de escritores, poetas e amantes das letras e artes. Editor: Paccelli José Maracci Zahler Todas as opiniões aqui expressas são de responsabilidade dos autores. Aceitam-se colaborações. Contato: cerrado.cultural@gmail.com
sexta-feira, 11 de novembro de 2011
MINHAS MÃOS
Por Vânia Moreira Diniz (Brasília, DF)
Transformo minhas mãos em dádivas,
Ocultando o que afaguei em silêncio,
Libertando-me do calor que transformou
Em brasas o que já dorme em minha alma.
Sinto nelas o poder intenso da carícia,
Que nas pontas dos dedos escorre,
No sangue a latejar quente e célere,
Desenhando a escultura imaginada.
Minhas mãos que ritmadas desenham,
A imagem estranha que me transformou,
Em artista a elaborar fantasiosas miragens,
Já voam em busca da objetiva essência.
Encontro em seu toque o deleitoso prazer,
Tantas vezes em sensualidade transformado,
E a carícia simbolizada em energias,
Elabora na natureza seu poder de criação.
Minhas mãos encontram a fortaleza,
No simples tato doce e poderoso,
Evocando o vôo dos belos pássaros,
A procurarem no espaço a liberdade.
Sobre a autora: Vânia Moreira Diniz,Ph.I.,é escritora, poetisa e presidente da Academia de Letras do Brasil, Seccional Distrito Federal - ALB/DF
Transformo minhas mãos em dádivas,
Ocultando o que afaguei em silêncio,
Libertando-me do calor que transformou
Em brasas o que já dorme em minha alma.
Sinto nelas o poder intenso da carícia,
Que nas pontas dos dedos escorre,
No sangue a latejar quente e célere,
Desenhando a escultura imaginada.
Minhas mãos que ritmadas desenham,
A imagem estranha que me transformou,
Em artista a elaborar fantasiosas miragens,
Já voam em busca da objetiva essência.
Encontro em seu toque o deleitoso prazer,
Tantas vezes em sensualidade transformado,
E a carícia simbolizada em energias,
Elabora na natureza seu poder de criação.
Minhas mãos encontram a fortaleza,
No simples tato doce e poderoso,
Evocando o vôo dos belos pássaros,
A procurarem no espaço a liberdade.
Sobre a autora: Vânia Moreira Diniz,Ph.I.,é escritora, poetisa e presidente da Academia de Letras do Brasil, Seccional Distrito Federal - ALB/DF
segunda-feira, 7 de novembro de 2011
É POSSÍVEL VIVER COMO ESCRITOR NO BRASIL? (REPORTAGEM, REDE APARECIDA)
A escritora Ruth Guimarães, eleita imortal da Academia Paulista de Letras em 2008, e o escritor José Maurício falam sobre a situação dos escritores no Brasil No programa "Et Cetera" da REDE APARECIDA.
Fonte: YouTube.
domingo, 6 de novembro de 2011
IDEIAS DO POVO (documentário, DF, 2008, 4 min)
Ideias do Povo
Gênero: Documentário
Diretor: Adriana de Andrade
Ano: 2008
Duração: 4 min
Cor: Colorido
Bitola: HDV
País:Brasil
Local de Produção: DF
Fala Povo: Qual filme você faria com 3 minutos de duração?
Ficha Técnica
Produção: Nova Filmes; Fotografia: Adriana de Andrade, Jorge Pimentel; Roteiro: Adriana de Andrade; Edição: Adriana de Andrade; Som: Toth Campos; Câmera: Adriana de Andrade, Jorge Pimentel; Assistente de Câmera: Sávio Rolim; Produção Executiva: Adriana de Andrade; Finalização: Diego Cajueiro; Trilha Sonora: Meninos da Rodô
Prêmios
Melhor Filme Brasiliense no Festival Internacional de Filmes Curtíssimos - Brasília 2008
Prêmio Porta Curtas no Festival Nacional de Vídeo - Imagem em 5 minutos 2008
Festivais
Mostra Curta Audiovisual de Campinas 2008
sexta-feira, 4 de novembro de 2011
quinta-feira, 3 de novembro de 2011
PERFIL: NAPOLEÃO VALADARES
Por Paccelli José Maracci Zahler
A Revista Cerrado Cultura (RCC) entrevistou o advogado,poeta, romancista, contista, cronista,Napoleão Valadares (NV), um dos pioneiros da literatura brasiliense, autor de mais de uma dezena de livros e com ativa participação na Associação Nacional de Escritores - ANE. Ele nos concedeu a entrevista por correio eletrônico. Nesta oportunidade, queremos expressar o nosso agradecimento pela gentileza de deixar-nos trazer aos nossos leitores um pouco do seu PERFIL.
RCC - Fale-nos da influência do senhor Louro Caçote e do velho Silvério na sua formação literária.
NV – Louro Caçote e o velho Silvério, contadores de histórias do sertão, chegavam às fazendas e, à noite, ficavam rodeados de meninos ansiosos por ouvi-los. Ainda hoje tenho na memória algumas histórias que eles contavam, cheias de intrigas, heróis e vilões. Isso, naturalmente, vem a nos ajudar, quando trabalhamos com ficção. Depois, acabei fazendo do velho Silvério personagem do conto “Caboclo-d’Água”, do livro Campos Gerais.
RCC - O Ginásio São João, Januária, MG, teve um papel fundamental na sua vocação literária. Como foi a sua passagem por lá?
NV – No Ginásio São João tivemos dois professores, Geraldo Sérvulo de Araújo e Evandro Moreira, que muito nos ajudaram, incentivando-nos a ler e nos orientando no caminho da literatura. Tínhamos uma pequena biblioteca e ganhávamos um ponto em qualquer disciplina com a leitura e o relatório de um livro. Esse começo de leitura foi a faísca que acendeu minha vocação literária. Minha passagem pelo Ginásio São João foi uma das melhores coisas que aconteceram em minha juventude.
RCC - Acadêmico de Direito da Universidade de Brasília, o senhor fundou, junto com alguns colegas, o periódico CORREIO DO VALE, que circulou de maio de 1971 a dezembro de 1972, nas cidades de Arinos e Buritis, MG. Era um periódico voltado para a Literatura? Por quais razões deixou de circular?
NV – O Correio do Vale tinha também literatura, mas tinha outras coisas. Visava principalmente a levar à população as informações de que ela necessitava, mas publicava crônicas, poemas, artigos, biografias. Deixou de circular em dezembro de 1972, porque os pequenos jornais se mantêm a duras penas, geralmente com o sacrifício dos idealistas que os dirigem. E chega-se a um ponto em que isso não é mais possível.
RCC - Sua cidade natal, Arinos, MG, fica às margens do rio Urucuia. Tempos depois, radicado em Brasília, DF, o senhor fundou a Associação dos Urucuianos em Brasília, tendo editado o JORNAL DO URUCUIA de 1984 a 1986. O objetivo da Associação foi reunir os conterrâneos ou os escritores das cidades situadas às margens do rio Urucuia? A Associação ainda existe?
NV – O objetivo da Associação dos Urucuianos em Brasília, que não mais existe, era promover encontros periódicos dos seus associados, visando a proporcionar-lhes integração entre si e divulgar assuntos e temas que dizem respeito ao vale do Urucuia, bem como colaborar com os órgãos competentes nos assuntos de peculiar interesse da região.
RCC - Na língua tupi-guarani, “urucuia” significa “rio de águas vermelhas”. O senhor escreveu um romance homônimo, premiado no Concurso Petrobrás de Literatura-1988 e publicado pela Editora Thesaurus, em 1990. Gostaríamos que o senhor tecesse comentários a respeito.
NV – Nasci à beira do Urucuia. Cresci vendo o rio com suas enchentes e, no tempo da seca, com sua cor verde, encantadora para mim. Não sei por que, o Urucuia exala uma simpatia contagiante, que se encontra nos comentários de quantos o conhecem. Guimarães Rosa fala dele em todas as suas obras. Em Grande Sertão: Veredas, entre várias outras frases cheias de carinho, ele diz: “Rio meu de amor é o Urucuia.” Quando tive a ideia de escrever um romance que tinha como cenário aquele região, veio-me à cabeça o título Urucuia. E ficou.
RCC - O senhor foi presidente da Associação Nacional de Escritores – ANE nas gestões 1987-1989; 1993-1995; 2005-2007, fazendo parte, atualmente, do Conselho Administrativo e Fiscal. O senhor poderia fazer um balanço da literatura do DF da década de 1980 até agora?
NV – A literatura do DF tem crescido. Pena que tenham falecido grandes escritores, como Almeida Fischer, Cyro dos Anjos, José Hélder de Souza, Alphonsus de Guimaraens Filho, José Geraldo Pires de Mello Joanyr de Oliveira, Afonso Felix de Sousa, Fernando Mendes Vianna, Esmerino Magalhães Júnior, José Godoy Garcia e outros. O passamento de cada escritor é um pedaço da arte que se vai. Mas os outros vão tocando. E têm surgido escritores novos com muito talento.
RCC - Como anda o mercado editorial em Brasília, DF?
NV – Nada bem. O mercado editorial tem que melhorar, todos sabem disso. Percebe-se que, nos últimos tempos, tem havido grandes mudanças em tudo. E nesse setor, naturalmente, as mudanças também deverão aparecer.
RCC - Os escritores de Brasília têm conquistado espaço para expor e divulgar suas obras ou continuam realizando seu trabalho de forma abnegada na esperança de obterem um reconhecimento no futuro? Qual a sua opinião a respeito?
NV – Espaço se conquista palmo a palmo e, às vezes, milímetro a milímetro. Conquista-se, mas muito pequeno. O trabalho na área da cultura é duro. Trabalho de forma abnegada, sim. Vamos ver o que diz o futuro.
RCC - O senhor tem se dedicado à atualização do Dicionário de Escritores de Brasília, iniciado em 1994. Como tem sido esse trabalho, os critérios usados para a pesquisa dos verbetes e a receptividade da comunidade acadêmica e do público leitor?
NV – Como você diz, a primeira edição do Dicionário de Escritores de Brasília se seu em 1994. A segunda, em 2003. Estou preparando a terceira. O critério usado para inclusão dos autores é o de ser este publicado em livro. A receptividade tem sido excelente. Via de regra, os escritores sentem-se satisfeitos ao ter seus nomes numa obra de consulta como esta.
RCC - Como tem sido possível conciliar as atividades de poeta, romancista, contista, cronista, com o trabalho no judiciário?
NV – Parece-me que não devemos esperar que fiquemos desocupados para podermos trabalhar com literatura. Quem esperar não vai escrever nunca. Os carreiros do sertão costumam dizer que carro pesado é que canta. Então, o ideal é tocar tudo junto. Comigo foi assim. Tem dado certo.
RCC - Que conselhos o senhor daria a um jovem escritor?
NV – O conselho é leitura. Ler bons autores é o melhor início de caminho para quem pretende enveredar para a literatura.
A Revista Cerrado Cultura (RCC) entrevistou o advogado,poeta, romancista, contista, cronista,Napoleão Valadares (NV), um dos pioneiros da literatura brasiliense, autor de mais de uma dezena de livros e com ativa participação na Associação Nacional de Escritores - ANE. Ele nos concedeu a entrevista por correio eletrônico. Nesta oportunidade, queremos expressar o nosso agradecimento pela gentileza de deixar-nos trazer aos nossos leitores um pouco do seu PERFIL.
RCC - Fale-nos da influência do senhor Louro Caçote e do velho Silvério na sua formação literária.
NV – Louro Caçote e o velho Silvério, contadores de histórias do sertão, chegavam às fazendas e, à noite, ficavam rodeados de meninos ansiosos por ouvi-los. Ainda hoje tenho na memória algumas histórias que eles contavam, cheias de intrigas, heróis e vilões. Isso, naturalmente, vem a nos ajudar, quando trabalhamos com ficção. Depois, acabei fazendo do velho Silvério personagem do conto “Caboclo-d’Água”, do livro Campos Gerais.
RCC - O Ginásio São João, Januária, MG, teve um papel fundamental na sua vocação literária. Como foi a sua passagem por lá?
NV – No Ginásio São João tivemos dois professores, Geraldo Sérvulo de Araújo e Evandro Moreira, que muito nos ajudaram, incentivando-nos a ler e nos orientando no caminho da literatura. Tínhamos uma pequena biblioteca e ganhávamos um ponto em qualquer disciplina com a leitura e o relatório de um livro. Esse começo de leitura foi a faísca que acendeu minha vocação literária. Minha passagem pelo Ginásio São João foi uma das melhores coisas que aconteceram em minha juventude.
RCC - Acadêmico de Direito da Universidade de Brasília, o senhor fundou, junto com alguns colegas, o periódico CORREIO DO VALE, que circulou de maio de 1971 a dezembro de 1972, nas cidades de Arinos e Buritis, MG. Era um periódico voltado para a Literatura? Por quais razões deixou de circular?
NV – O Correio do Vale tinha também literatura, mas tinha outras coisas. Visava principalmente a levar à população as informações de que ela necessitava, mas publicava crônicas, poemas, artigos, biografias. Deixou de circular em dezembro de 1972, porque os pequenos jornais se mantêm a duras penas, geralmente com o sacrifício dos idealistas que os dirigem. E chega-se a um ponto em que isso não é mais possível.
RCC - Sua cidade natal, Arinos, MG, fica às margens do rio Urucuia. Tempos depois, radicado em Brasília, DF, o senhor fundou a Associação dos Urucuianos em Brasília, tendo editado o JORNAL DO URUCUIA de 1984 a 1986. O objetivo da Associação foi reunir os conterrâneos ou os escritores das cidades situadas às margens do rio Urucuia? A Associação ainda existe?
NV – O objetivo da Associação dos Urucuianos em Brasília, que não mais existe, era promover encontros periódicos dos seus associados, visando a proporcionar-lhes integração entre si e divulgar assuntos e temas que dizem respeito ao vale do Urucuia, bem como colaborar com os órgãos competentes nos assuntos de peculiar interesse da região.
RCC - Na língua tupi-guarani, “urucuia” significa “rio de águas vermelhas”. O senhor escreveu um romance homônimo, premiado no Concurso Petrobrás de Literatura-1988 e publicado pela Editora Thesaurus, em 1990. Gostaríamos que o senhor tecesse comentários a respeito.
NV – Nasci à beira do Urucuia. Cresci vendo o rio com suas enchentes e, no tempo da seca, com sua cor verde, encantadora para mim. Não sei por que, o Urucuia exala uma simpatia contagiante, que se encontra nos comentários de quantos o conhecem. Guimarães Rosa fala dele em todas as suas obras. Em Grande Sertão: Veredas, entre várias outras frases cheias de carinho, ele diz: “Rio meu de amor é o Urucuia.” Quando tive a ideia de escrever um romance que tinha como cenário aquele região, veio-me à cabeça o título Urucuia. E ficou.
RCC - O senhor foi presidente da Associação Nacional de Escritores – ANE nas gestões 1987-1989; 1993-1995; 2005-2007, fazendo parte, atualmente, do Conselho Administrativo e Fiscal. O senhor poderia fazer um balanço da literatura do DF da década de 1980 até agora?
NV – A literatura do DF tem crescido. Pena que tenham falecido grandes escritores, como Almeida Fischer, Cyro dos Anjos, José Hélder de Souza, Alphonsus de Guimaraens Filho, José Geraldo Pires de Mello Joanyr de Oliveira, Afonso Felix de Sousa, Fernando Mendes Vianna, Esmerino Magalhães Júnior, José Godoy Garcia e outros. O passamento de cada escritor é um pedaço da arte que se vai. Mas os outros vão tocando. E têm surgido escritores novos com muito talento.
RCC - Como anda o mercado editorial em Brasília, DF?
NV – Nada bem. O mercado editorial tem que melhorar, todos sabem disso. Percebe-se que, nos últimos tempos, tem havido grandes mudanças em tudo. E nesse setor, naturalmente, as mudanças também deverão aparecer.
RCC - Os escritores de Brasília têm conquistado espaço para expor e divulgar suas obras ou continuam realizando seu trabalho de forma abnegada na esperança de obterem um reconhecimento no futuro? Qual a sua opinião a respeito?
NV – Espaço se conquista palmo a palmo e, às vezes, milímetro a milímetro. Conquista-se, mas muito pequeno. O trabalho na área da cultura é duro. Trabalho de forma abnegada, sim. Vamos ver o que diz o futuro.
RCC - O senhor tem se dedicado à atualização do Dicionário de Escritores de Brasília, iniciado em 1994. Como tem sido esse trabalho, os critérios usados para a pesquisa dos verbetes e a receptividade da comunidade acadêmica e do público leitor?
NV – Como você diz, a primeira edição do Dicionário de Escritores de Brasília se seu em 1994. A segunda, em 2003. Estou preparando a terceira. O critério usado para inclusão dos autores é o de ser este publicado em livro. A receptividade tem sido excelente. Via de regra, os escritores sentem-se satisfeitos ao ter seus nomes numa obra de consulta como esta.
RCC - Como tem sido possível conciliar as atividades de poeta, romancista, contista, cronista, com o trabalho no judiciário?
NV – Parece-me que não devemos esperar que fiquemos desocupados para podermos trabalhar com literatura. Quem esperar não vai escrever nunca. Os carreiros do sertão costumam dizer que carro pesado é que canta. Então, o ideal é tocar tudo junto. Comigo foi assim. Tem dado certo.
RCC - Que conselhos o senhor daria a um jovem escritor?
NV – O conselho é leitura. Ler bons autores é o melhor início de caminho para quem pretende enveredar para a literatura.
AMOR DE MÃE
Por Napoleão Valadares (Brasília, DF)
Os dois no jipe. Julinho e Manoel Crente. Este, ao volante, conversando, contando. Julinho, também, mas ouvindo mais. Alguém já disse que quando dois mineiros estão conversando, a gente pode ter certeza de que os dois estão ouvindo. Talvez fosse o que acontecia no momento.
O lugar, Uruana. Aliás, a saída de Uruana, numa ponta de rua, ali pelas imediações da chácara de Sinhô de Milu. Iam se encontrar com Antônio Chegante, na beira da Ilha. E a conversa variava. Era o assunto que iam tratar com Antônio Chegante, isso e aquilo e, não se sabe por quê, chegaram a falar de amor. Parece que um deles falou no amor de mãe, ou disse que amor só de mãe, com o que o outro não concordou. Contestação replicada e réplica treplicada. Numa conversa até boa para se fazer légua, iam os dois, na ponta de rua.
E quem ia também ali era uma galinha de pinto. Uma galinha meio índia, com aquela récua: cocorocó... pipio... Os pintos não muito pequenos, catando aqui, catando acolá, quando, de repente, desceu um gavião, pegou um pinto e subiu. A galinha subiu atrás, num vôo incrivelmente vertical. Foi com o gavião lá em cima e se embolou com ele. O gavião largou o pinto, que desceu mal peneirando. E a galinha e o gavião, num rodopio, embolando-se no ar, caíram embolados no chão. Ninguém podia saber quem agarrava quem, quem bicava quem.
Quando o rapineiro conseguiu se livrar daquela penosa esfrega, escafedeu-se, possivelmente com algumas penas do rabo entre as pernas. E a galinha, com asas protetoras, revia os filhos em vitoriosa reunião.
Os do jipe, que vinham conversando tanto, estiveram mudos, olhando e vendo, mas sem palavras para o comentário do lance. Um olhando para o outro e este para aquele. Até que um, depois de muito entalo, conseguiu desembuchar, falando apenas: – Viu? E o outro só aí desentalou, na bucha: – Tá vendo?
( do livro Passagens da Minha Aldeia)
Os dois no jipe. Julinho e Manoel Crente. Este, ao volante, conversando, contando. Julinho, também, mas ouvindo mais. Alguém já disse que quando dois mineiros estão conversando, a gente pode ter certeza de que os dois estão ouvindo. Talvez fosse o que acontecia no momento.
O lugar, Uruana. Aliás, a saída de Uruana, numa ponta de rua, ali pelas imediações da chácara de Sinhô de Milu. Iam se encontrar com Antônio Chegante, na beira da Ilha. E a conversa variava. Era o assunto que iam tratar com Antônio Chegante, isso e aquilo e, não se sabe por quê, chegaram a falar de amor. Parece que um deles falou no amor de mãe, ou disse que amor só de mãe, com o que o outro não concordou. Contestação replicada e réplica treplicada. Numa conversa até boa para se fazer légua, iam os dois, na ponta de rua.
E quem ia também ali era uma galinha de pinto. Uma galinha meio índia, com aquela récua: cocorocó... pipio... Os pintos não muito pequenos, catando aqui, catando acolá, quando, de repente, desceu um gavião, pegou um pinto e subiu. A galinha subiu atrás, num vôo incrivelmente vertical. Foi com o gavião lá em cima e se embolou com ele. O gavião largou o pinto, que desceu mal peneirando. E a galinha e o gavião, num rodopio, embolando-se no ar, caíram embolados no chão. Ninguém podia saber quem agarrava quem, quem bicava quem.
Quando o rapineiro conseguiu se livrar daquela penosa esfrega, escafedeu-se, possivelmente com algumas penas do rabo entre as pernas. E a galinha, com asas protetoras, revia os filhos em vitoriosa reunião.
Os do jipe, que vinham conversando tanto, estiveram mudos, olhando e vendo, mas sem palavras para o comentário do lance. Um olhando para o outro e este para aquele. Até que um, depois de muito entalo, conseguiu desembuchar, falando apenas: – Viu? E o outro só aí desentalou, na bucha: – Tá vendo?
( do livro Passagens da Minha Aldeia)
quarta-feira, 2 de novembro de 2011
RELIGAFRICA
Por Jorge Amâncio (Brasília, DF)
Religai,
religar o homem a sua origem
Com espiritualidade, sem ícones,
sem reis, sem donos, sem opressão,
sem medos, sem pecados ou culpas.
Religar,
aos antepassados,
a África,
aos tambores,
aos Orixás
Religar ao primo ponto
Útero da humanidade
Religai
Religar o homem ao Ser
com igualdade, sem discriminação
sem inquérito, sem perseguição
sem mortes, sem escravidão
Religar
ao hoje
ao segredo dos tambores
ao primo ponto
uúero da humanidade
Religrafrica
Religai,
religar o homem a sua origem
Com espiritualidade, sem ícones,
sem reis, sem donos, sem opressão,
sem medos, sem pecados ou culpas.
Religar,
aos antepassados,
a África,
aos tambores,
aos Orixás
Religar ao primo ponto
Útero da humanidade
Religai
Religar o homem ao Ser
com igualdade, sem discriminação
sem inquérito, sem perseguição
sem mortes, sem escravidão
Religar
ao hoje
ao segredo dos tambores
ao primo ponto
uúero da humanidade
Religrafrica
MUNDO SEM FRONTEIRAS
Por Jorge Amâncio (Brasília, DF)
Muçulmano cristão
judeu islâmico
branco negro
pobre rico
Haiti Nova York
0 medo tem fronteiras
marcadas pela miséria
pela cor pelos apelos
0 mundo é sem fronteira
Muçulmano cristão
judeu islâmico
branco negro
pobre rico
Haiti Nova York
0 medo tem fronteiras
marcadas pela miséria
pela cor pelos apelos
0 mundo é sem fronteira
REFLEXÃO
Por Luiz Carlos Leme Franco (Curitiba, PR)
O tempo é estático
O espaço é total.
A vida (terrena) é vazia.
Nós passamos indelevelmente.
Nossa obra, porém, nos eterniza.
Sobre o autor: Luiz Carlos Leme Franco é professor desde 1966 e médico desde 1973. Dedica-se à poesia. Seus trabalhos já foram publicados em inglês, espanhol, chinês e francês. Foi fundador e editor das revistas “ Poesia & Cia.” e “Unindo o Brasil pela Trova”. Foi fundador da Academia de Letras de Londrina, PR, e ex-presidente da Academia Municipal de Letras, Seccional Paraná; da Casa do Poeta de Londrina; da Casa Literária “Lampião de Gás”, SP. Pertence a quatro Institutos Históricos e Geográficos. Pertenceu a academias de letras maçônicas, clubes e a várias instituições literárias, além de participar como jurado de concursos literários.
O tempo é estático
O espaço é total.
A vida (terrena) é vazia.
Nós passamos indelevelmente.
Nossa obra, porém, nos eterniza.
Sobre o autor: Luiz Carlos Leme Franco é professor desde 1966 e médico desde 1973. Dedica-se à poesia. Seus trabalhos já foram publicados em inglês, espanhol, chinês e francês. Foi fundador e editor das revistas “ Poesia & Cia.” e “Unindo o Brasil pela Trova”. Foi fundador da Academia de Letras de Londrina, PR, e ex-presidente da Academia Municipal de Letras, Seccional Paraná; da Casa do Poeta de Londrina; da Casa Literária “Lampião de Gás”, SP. Pertence a quatro Institutos Históricos e Geográficos. Pertenceu a academias de letras maçônicas, clubes e a várias instituições literárias, além de participar como jurado de concursos literários.
INESQUECÍVEL
Por Luiz Carlos Leme Franco (Curitiba, PR)
Era um “tipo” todo diferente dos demais. Um homem de mais ou menos 1,70m de altura, ligeiramente gordo, moreno, com cabelos pretos já com algumas mechas esbranquiçadas. Tinha as têmporas e o farto bigode agrisalhados. Aproximando-se, embora longinquamente da calvície, tinha duas profundas entradas na testa. Seus olhos eram meigos e o nariz arredondado. Fumava aproximadamente trinta cigarros (onze letras, quase sempre) por dia. Era um beberrão inveterado ( de café, heim !).
Andava com trajes simples, porém de bons tecidos, que conhecia como ninguém.
Trazia as algibeiras sempre cheias de papéis. Até parecia a filial da Companhia Melhoramentos.
Na cinta portava uma caixinha para óculos de aumento, pois carecia deles para leitura. Falando em leitura, ele era pouco lido. Lia geralmente só, “os ossos da profissão”.
Era bancário de respeito e por esta ocupação fazia tudo o que podia. Daí a razão do pouco tempo que lhe sobrava, e que era preenchido quase que integralmente em seu pequeno sítio rural.
Possuia uma “ Vemaguet” e com ela caminhava para todo lugar, não andando quase a pé.
Era calmo e brincalhão. Às vezes, saindo da rotina, mostrava-se impaciente e nervoso.
Inteligente, tudo o que possuía era fruto de seu trabalho perseverante.
Admirava a beleza e a simplicidade das cousas.
Era leal, honrado, sincero e tinha por lema a honestidade.
Gostava de conforto. Também lhe agradava a quietude e o ar campesino.
Apesar de meia idade tinha um espírito jovem e idealizador.
Esse era o “Luiz Sênior”, era meu pai.
Era um “tipo” todo diferente dos demais. Um homem de mais ou menos 1,70m de altura, ligeiramente gordo, moreno, com cabelos pretos já com algumas mechas esbranquiçadas. Tinha as têmporas e o farto bigode agrisalhados. Aproximando-se, embora longinquamente da calvície, tinha duas profundas entradas na testa. Seus olhos eram meigos e o nariz arredondado. Fumava aproximadamente trinta cigarros (onze letras, quase sempre) por dia. Era um beberrão inveterado ( de café, heim !).
Andava com trajes simples, porém de bons tecidos, que conhecia como ninguém.
Trazia as algibeiras sempre cheias de papéis. Até parecia a filial da Companhia Melhoramentos.
Na cinta portava uma caixinha para óculos de aumento, pois carecia deles para leitura. Falando em leitura, ele era pouco lido. Lia geralmente só, “os ossos da profissão”.
Era bancário de respeito e por esta ocupação fazia tudo o que podia. Daí a razão do pouco tempo que lhe sobrava, e que era preenchido quase que integralmente em seu pequeno sítio rural.
Possuia uma “ Vemaguet” e com ela caminhava para todo lugar, não andando quase a pé.
Era calmo e brincalhão. Às vezes, saindo da rotina, mostrava-se impaciente e nervoso.
Inteligente, tudo o que possuía era fruto de seu trabalho perseverante.
Admirava a beleza e a simplicidade das cousas.
Era leal, honrado, sincero e tinha por lema a honestidade.
Gostava de conforto. Também lhe agradava a quietude e o ar campesino.
Apesar de meia idade tinha um espírito jovem e idealizador.
Esse era o “Luiz Sênior”, era meu pai.
CÉU
Por Luiz Carlos Leme Franco (Curitiba, PR)
Se o céu é infinito
E ocupa o espaço todo,
Por que teu inferno?
O céu não te basta?
Se o céu é infinito
E ocupa o espaço todo,
Por que teu inferno?
O céu não te basta?
ALÉM
Por Pedro Du Bois (Itapema, SC)
Além do pensamento
riscar ao autor
o fósforo
incendiado
no desafio
de se fazer
luz
incinerar a idéia
do autor na velocidade
antecedente.
A consumação estrófica
deixa o desejo ardente
da febre mortal da exceção.
Na luz inconsumida
piora o desentendimento:
rouba ao autor
a solidez da pedra
deslocada: a entrada
ilumina o inexistente.
Além do pensamento
riscar ao autor
o fósforo
incendiado
no desafio
de se fazer
luz
incinerar a idéia
do autor na velocidade
antecedente.
A consumação estrófica
deixa o desejo ardente
da febre mortal da exceção.
Na luz inconsumida
piora o desentendimento:
rouba ao autor
a solidez da pedra
deslocada: a entrada
ilumina o inexistente.
HUMANO
Por Pedro Du Bois (Itapema, SC)
Na sujeição a fraqueza
como relógio emociona.
O choro declarado repõe
a sensibilidade. Simplifica.
Dignifica. Democratiza.
A lágrima não derramada
inunda o sentido: desanda
a máscara. Amoldada.
A criança ressurgente
diz do tempo. Sujeito
objetado à história.
Desfeito efeito.
Dispostos versos
no marco do crescimento:
trajeto e obstáculo.
Desacompanhada sombra
em que o vulto se certifica
como humana forma.
Na sujeição a fraqueza
como relógio emociona.
O choro declarado repõe
a sensibilidade. Simplifica.
Dignifica. Democratiza.
A lágrima não derramada
inunda o sentido: desanda
a máscara. Amoldada.
A criança ressurgente
diz do tempo. Sujeito
objetado à história.
Desfeito efeito.
Dispostos versos
no marco do crescimento:
trajeto e obstáculo.
Desacompanhada sombra
em que o vulto se certifica
como humana forma.
TROVAS
Por Gislaine Canales
Aquela ponte que unia
nossas vilas ribeirinhas
une, ainda, por magia,
tuas saudades e as minhas.
Sou tão triste e tão sozinha,
que o eco do meu lamento,
desta saudade tão minha,
escuto na voz do vento!
Um mundo melhor...queria,
para deixar aos meus netos,
onde imperasse a alegria
numa transfusão de afetos!
É de ternura o momento
em que o Sol sorri do espaço,
se faz vida e sentimento
e lança ao mar seu abraço!
O mar é o mais doce amante
pois não cansa de beijar,
num lirismo alucinante,
toda a praia que encontrar!
Quero cantar pelo espaço
e, nas estrelas, rever
todas as trovas que eu faço.
Trova é prece em meu viver!
A mistura de mil cores
e toda a luz do universo,
mais o perfume das flores,
desejo pôr no meu verso.
Eu quero poder cantar
meus versos aos quatro cantos,
e assim, talvez, transformar
em risos, todos os prantos.
Sozinhas nas madrugadas,
donas do mundo e da lua,
nossas mãos entrelaçadas
seguem juntas pela rua!
É contrastante a ironia,
nesta verdade contida:
lindo o entardecer do dia,
triste o entardecer da vida!
Vivemos juntos, mas sós,
nossa solidão somada,
fez de ti, de mim, de nós,
a soma triste do nada!
Hoje estou triste, alquebrada,
sem amor, sem alegria,
mas prossigo a caminhada...
Amanhã é um novo dia!
Nosso romance de amor
começou bem diferente...
Foi nosso Computador
que aproximou mais a gente.
Nunca mais fiquei sozinha,
pois na Internet eu namoro,
e essa solidão que eu tinha
não mora mais onde eu moro!
Lutemos pela conquista
da paz mundial no universo,
numa guerra pacifista,
usando as armas do verso!
Sobre a autora:
Gislaine Canales nasceu em Herval - RS - BR, em 20/04/38. É Presidente da União Brasileira de Trovadores (UBT), e Cônsul do “ Movimiento Poetas Del Mundo” em Balneário Camboriú, SC. É Bacharel em Pedagogia e Licenciada em Didática, além de poetisa, trovadora e glosadora. Participou de 42 Antologias Poéticas e dois Dicionários de Poetas. É Acadêmica-Fundadora da Academia Virtual de Letras Luso-Brasileira (AVLLB), ocupando a Cadeira nº 006 , cujo patrono é Adelmar Tavares. Patrona da Academia Virtual Sala de Poetas e Escritores (AVSPE) e membro da Academia de Letras de Balneário Camboriú, SC, ocupando a Cadeira nº 29, que tem como patrono Olavo Bilac- Publicou os livros "Glosando Trovas” em 1987 (Esgotado) e “Tênis de Sextilhas”, em coautoria com Delcy Canalles. Em preparo: "Glosando Trovas II" e Poesias-(Em Português e Espanhol) Livros Virtuais: “Glosas Virtuais de Trovas” (34 Volumes). Glosas das Trovas classificadas nos I, II, e III Jogos Florais de Balneário Camboriú, SC, em 2004, 2006 e 2008, respectivamente.
(Publicado originalmente na Revista Cerrado Cultural nº 03/2009)
Aquela ponte que unia
nossas vilas ribeirinhas
une, ainda, por magia,
tuas saudades e as minhas.
Sou tão triste e tão sozinha,
que o eco do meu lamento,
desta saudade tão minha,
escuto na voz do vento!
Um mundo melhor...queria,
para deixar aos meus netos,
onde imperasse a alegria
numa transfusão de afetos!
É de ternura o momento
em que o Sol sorri do espaço,
se faz vida e sentimento
e lança ao mar seu abraço!
O mar é o mais doce amante
pois não cansa de beijar,
num lirismo alucinante,
toda a praia que encontrar!
Quero cantar pelo espaço
e, nas estrelas, rever
todas as trovas que eu faço.
Trova é prece em meu viver!
A mistura de mil cores
e toda a luz do universo,
mais o perfume das flores,
desejo pôr no meu verso.
Eu quero poder cantar
meus versos aos quatro cantos,
e assim, talvez, transformar
em risos, todos os prantos.
Sozinhas nas madrugadas,
donas do mundo e da lua,
nossas mãos entrelaçadas
seguem juntas pela rua!
É contrastante a ironia,
nesta verdade contida:
lindo o entardecer do dia,
triste o entardecer da vida!
Vivemos juntos, mas sós,
nossa solidão somada,
fez de ti, de mim, de nós,
a soma triste do nada!
Hoje estou triste, alquebrada,
sem amor, sem alegria,
mas prossigo a caminhada...
Amanhã é um novo dia!
Nosso romance de amor
começou bem diferente...
Foi nosso Computador
que aproximou mais a gente.
Nunca mais fiquei sozinha,
pois na Internet eu namoro,
e essa solidão que eu tinha
não mora mais onde eu moro!
Lutemos pela conquista
da paz mundial no universo,
numa guerra pacifista,
usando as armas do verso!
Sobre a autora:
Gislaine Canales nasceu em Herval - RS - BR, em 20/04/38. É Presidente da União Brasileira de Trovadores (UBT), e Cônsul do “ Movimiento Poetas Del Mundo” em Balneário Camboriú, SC. É Bacharel em Pedagogia e Licenciada em Didática, além de poetisa, trovadora e glosadora. Participou de 42 Antologias Poéticas e dois Dicionários de Poetas. É Acadêmica-Fundadora da Academia Virtual de Letras Luso-Brasileira (AVLLB), ocupando a Cadeira nº 006 , cujo patrono é Adelmar Tavares. Patrona da Academia Virtual Sala de Poetas e Escritores (AVSPE) e membro da Academia de Letras de Balneário Camboriú, SC, ocupando a Cadeira nº 29, que tem como patrono Olavo Bilac- Publicou os livros "Glosando Trovas” em 1987 (Esgotado) e “Tênis de Sextilhas”, em coautoria com Delcy Canalles. Em preparo: "Glosando Trovas II" e Poesias-(Em Português e Espanhol) Livros Virtuais: “Glosas Virtuais de Trovas” (34 Volumes). Glosas das Trovas classificadas nos I, II, e III Jogos Florais de Balneário Camboriú, SC, em 2004, 2006 e 2008, respectivamente.
(Publicado originalmente na Revista Cerrado Cultural nº 03/2009)
OS PAPAGAIOS E OS GIRASSÓIS
Por Ironita Pereira Mota
Em uma região cercada por pequenas cidades, em um morro quase todo desmatado, viviam alguns papagaios, sempre lutando para encontrar alimentos.
Os pés de frutas campestres, já quase não existiam, pois os homens cortavam e plantavam capim para alimentar o gado, cujo rebanho aumentava a cada dia.
Os papagaios até que achavam bonito ver aquelas vacas andando pelos pastos para lá e para cá. Elas só ficavam paradas para amamentar aos seus lindos bezerrinhos ou quando os seus dois buchos estavam cheios. Então, elas deitavam para descansar e remoer o capim.
Seria tudo muito bom se os papagaios não se sentissem a cada dia que passava, sendo expulsos de seu pequeno espaço. As buscas por alimentos eram constantes. Viviam nos quintais, comendo algum mamão, uma amora aqui, uma manga, um cajuzinho ali ou uma jabuticaba, uma goiaba lá, pois os muricis, as mama-cadela, os pequis e outros frutos do cerrado eram cada vez mais difíceis de se encontrar.
Até que um dia, após uma noite chuvosa de janeiro, o amanhecer
estava lindo, com a neblina caindo no morro e os raios do sol brilhando na relva molhada . Aquela manhã estava prometendo que o dia seria feliz.
Todos os pássaros estavam voando felizes de árvore em árvore e sobre
o rio, onde quase todas as espécies tomavam seu banho matinal.
Então, os papagaios se reuniram e tomaram uma decisão, com tantos filhotes nos ninhos, precisavam ir mais longe para encontrar alimentos suficientes para eles e para alimentar também seus filhotes. Após algum tempo discutindo o assunto, saíram em revoada, voando em uma direção quase reta, até que de longe avistaram uma bela paisagem amarela, que, com os reflexos dos raios solares, aparentava uma beleza infinita. Apressaram-se na revoada e bem rapidinho chegaram e se depararam com uma belíssima plantação de girassóis,
Assim todos os papagaios da região ficaram muito felizes, pois acabavam de encontrar a comida de sua preferência e em grande quantidade. Isto não era... MARAVILHOSO?
(Publicado originalmente na Revista Cerrado Cultural nº 03/2009)
Em uma região cercada por pequenas cidades, em um morro quase todo desmatado, viviam alguns papagaios, sempre lutando para encontrar alimentos.
Os pés de frutas campestres, já quase não existiam, pois os homens cortavam e plantavam capim para alimentar o gado, cujo rebanho aumentava a cada dia.
Os papagaios até que achavam bonito ver aquelas vacas andando pelos pastos para lá e para cá. Elas só ficavam paradas para amamentar aos seus lindos bezerrinhos ou quando os seus dois buchos estavam cheios. Então, elas deitavam para descansar e remoer o capim.
Seria tudo muito bom se os papagaios não se sentissem a cada dia que passava, sendo expulsos de seu pequeno espaço. As buscas por alimentos eram constantes. Viviam nos quintais, comendo algum mamão, uma amora aqui, uma manga, um cajuzinho ali ou uma jabuticaba, uma goiaba lá, pois os muricis, as mama-cadela, os pequis e outros frutos do cerrado eram cada vez mais difíceis de se encontrar.
Até que um dia, após uma noite chuvosa de janeiro, o amanhecer
estava lindo, com a neblina caindo no morro e os raios do sol brilhando na relva molhada . Aquela manhã estava prometendo que o dia seria feliz.
Todos os pássaros estavam voando felizes de árvore em árvore e sobre
o rio, onde quase todas as espécies tomavam seu banho matinal.
Então, os papagaios se reuniram e tomaram uma decisão, com tantos filhotes nos ninhos, precisavam ir mais longe para encontrar alimentos suficientes para eles e para alimentar também seus filhotes. Após algum tempo discutindo o assunto, saíram em revoada, voando em uma direção quase reta, até que de longe avistaram uma bela paisagem amarela, que, com os reflexos dos raios solares, aparentava uma beleza infinita. Apressaram-se na revoada e bem rapidinho chegaram e se depararam com uma belíssima plantação de girassóis,
Assim todos os papagaios da região ficaram muito felizes, pois acabavam de encontrar a comida de sua preferência e em grande quantidade. Isto não era... MARAVILHOSO?
(Publicado originalmente na Revista Cerrado Cultural nº 03/2009)
HORIZONTE
Por Jean Narciso Bispo Moura
Imaginar-me em miniatura no horizonte
Afasto-me,
Abdico na linha quase invisível
Mais longe de que eu era
Fico do começo
Esqueço algum ponto vital
A pedra angular se distancia de minha íris.
Voltar para a palavra
Ouvir a voz em minha ida para Damasco
No lugar de Paulo de Tarso
Parece eqüidistante.
Arredio eu contemplo a pedra de Jacó e a de poeta.
Que não são travesseiros do mesmo sono.
(Publicado originalmente na Revista Cerrado Cultural nº 03/2009)
Imaginar-me em miniatura no horizonte
Afasto-me,
Abdico na linha quase invisível
Mais longe de que eu era
Fico do começo
Esqueço algum ponto vital
A pedra angular se distancia de minha íris.
Voltar para a palavra
Ouvir a voz em minha ida para Damasco
No lugar de Paulo de Tarso
Parece eqüidistante.
Arredio eu contemplo a pedra de Jacó e a de poeta.
Que não são travesseiros do mesmo sono.
(Publicado originalmente na Revista Cerrado Cultural nº 03/2009)
ASPECTO TERRESTRE
Por Jean Narciso Bispo Moura
A minha alma é desse chão,
Dessa terra.
Que suja apenas o meu dedo
Qualquer outro lugar é letra apócrifa.
O jardim secreto com leões e leopardos
Que não ignoram a minha carne
Contentando-se com brócolis e alfaces
Eu que não sou tratador e nem amansador de animais.
Asas brancas
Em homens negros
Homens ruivos
Homens amarelos
Homens brancos
Não cabe na conformação esquelética do homem
(Publicado originalmente na Revista Cerrado Cultural nº 03/2009)
A minha alma é desse chão,
Dessa terra.
Que suja apenas o meu dedo
Qualquer outro lugar é letra apócrifa.
O jardim secreto com leões e leopardos
Que não ignoram a minha carne
Contentando-se com brócolis e alfaces
Eu que não sou tratador e nem amansador de animais.
Asas brancas
Em homens negros
Homens ruivos
Homens amarelos
Homens brancos
Não cabe na conformação esquelética do homem
(Publicado originalmente na Revista Cerrado Cultural nº 03/2009)
FOGO PRESENTE
Por Jean Narciso Bispo Moura
Cortar o fogo pela metade
Dividi-lo entre o teu coração e o meu.
Fatiá-lo um pouco a cada dia
Para que o frio
Jamais consiga entortar
As nossas faces e sentimento
(Publicado originalmente na Revista Cerrado Cultural nº 03/2009)
Cortar o fogo pela metade
Dividi-lo entre o teu coração e o meu.
Fatiá-lo um pouco a cada dia
Para que o frio
Jamais consiga entortar
As nossas faces e sentimento
(Publicado originalmente na Revista Cerrado Cultural nº 03/2009)
O DESAFIO DA PLURALIDADE CULTURAL NO MUNDO DA GLOBALIZAÇÃO (Cordel)
Por Gustavo Dourado
Pluralidade sócio-cultural
Com tanta diversidade
Índios, negros e idosos
Tônica da brasilidade
Justiça sem preconceito
Reclama a comunidade.
Diálogo-reflexão
Respeito-discernimento
Transversal pluralidade
Horizontal sentimento
Informação-democracia
À luz do desvelamento.
O grito dos excluídos
Ouve-se de sul a norte
Os sem-nada, deserdados
Jogados à própria sorte
Sem-escola, sem currículo
São aprendizes da morte.
Despertai o coração
Pra solidariedade
Pluralizai nossos sonhos
Com amor-fraternidade
Acordai os professores
Pra nova realidade.
Vive-se a pluralidade
No ensinar-aprender
Constrói-se a cidadania
Na luta do sobreviver
Brota da dor do silêncio
A flor do amanhã: ser.
Sócio-antropologia
Ética-multiplicidade
Cultura-raça-etnia
Resistência-liberdade
Estímulo-sobrevivência
Desperta a sociedade.
Caráter interdisciplinar
Ética e meio ambiente
Direitos de cidadania
Pluralidade presente
Intercâmbio cultural
Renovação permanente.
Respeito - entendimento
Na organização social
A busca da tolerância
Democracia racial
Contra a discriminação
Democracia plural.
Complexa sociedade
De ensino-aprendizagem
Mudança de pensamento
Reflexão e imagem
Novo ensino inclusivo
Nova linha de abordagem.
Os processos são complexos,
Fenômenos-interações
Discussão-conhecimento
Reformas e intenções
Pluralismo na escola
Sacudindo as emoções.
Valorizar a cultura
É ação de resistência
A cultura é vital
Pra nossa sobrevivência
Livro, arroz e feijão
Alimentam a consciência.
Dentro da pluralidade
Olhar o regional
Discutir com amplitude
Os valores do local
Quem canta a sua aldeia
Tem caráter universal.
(Publicado originalmente na Revista Cerrado Cultural nº 03/2009)
Pluralidade sócio-cultural
Com tanta diversidade
Índios, negros e idosos
Tônica da brasilidade
Justiça sem preconceito
Reclama a comunidade.
Diálogo-reflexão
Respeito-discernimento
Transversal pluralidade
Horizontal sentimento
Informação-democracia
À luz do desvelamento.
O grito dos excluídos
Ouve-se de sul a norte
Os sem-nada, deserdados
Jogados à própria sorte
Sem-escola, sem currículo
São aprendizes da morte.
Despertai o coração
Pra solidariedade
Pluralizai nossos sonhos
Com amor-fraternidade
Acordai os professores
Pra nova realidade.
Vive-se a pluralidade
No ensinar-aprender
Constrói-se a cidadania
Na luta do sobreviver
Brota da dor do silêncio
A flor do amanhã: ser.
Sócio-antropologia
Ética-multiplicidade
Cultura-raça-etnia
Resistência-liberdade
Estímulo-sobrevivência
Desperta a sociedade.
Caráter interdisciplinar
Ética e meio ambiente
Direitos de cidadania
Pluralidade presente
Intercâmbio cultural
Renovação permanente.
Respeito - entendimento
Na organização social
A busca da tolerância
Democracia racial
Contra a discriminação
Democracia plural.
Complexa sociedade
De ensino-aprendizagem
Mudança de pensamento
Reflexão e imagem
Novo ensino inclusivo
Nova linha de abordagem.
Os processos são complexos,
Fenômenos-interações
Discussão-conhecimento
Reformas e intenções
Pluralismo na escola
Sacudindo as emoções.
Valorizar a cultura
É ação de resistência
A cultura é vital
Pra nossa sobrevivência
Livro, arroz e feijão
Alimentam a consciência.
Dentro da pluralidade
Olhar o regional
Discutir com amplitude
Os valores do local
Quem canta a sua aldeia
Tem caráter universal.
(Publicado originalmente na Revista Cerrado Cultural nº 03/2009)
QUANDO A NOITE VEM
Por Paccelli José Maracci Zahler
Quando a noite vem,
Traz com ela o medo.
Mistérios a noite tem,
Guardados em segredo.
Os fantasmas protestam:
- É hora de trabalhar?
Assombrar as casas?
Aos vivos molestar?
Os vampiros ressurgem,
Buscando o sangue de alguém
Pra sede e a fome saciar,
quando a noite vem.
Animais noctívagos
Põem-se a cantar
Acompanhando os boêmios
Numa serenata ao luar.
Na solidão deste quarto,
A insônia me domina.
Caminho em círculos...
-Triste sina!
(Publicado originalmente na Revista Cerrado Cultural nº 03/2009)
Quando a noite vem,
Traz com ela o medo.
Mistérios a noite tem,
Guardados em segredo.
Os fantasmas protestam:
- É hora de trabalhar?
Assombrar as casas?
Aos vivos molestar?
Os vampiros ressurgem,
Buscando o sangue de alguém
Pra sede e a fome saciar,
quando a noite vem.
Animais noctívagos
Põem-se a cantar
Acompanhando os boêmios
Numa serenata ao luar.
Na solidão deste quarto,
A insônia me domina.
Caminho em círculos...
-Triste sina!
(Publicado originalmente na Revista Cerrado Cultural nº 03/2009)
FORA DA REALIDADE
Por Maria Moraes Miranda (1921-2010)
Se você não tem fé nem esperanças;
Não consegue parar dois minutinhos
Ouvindo o gorjeio dos passarinhos,
Mirando a brincadeira das crianças...
Se ativo e ocupado em suas andanças,
Não se desvia alongando caminhos
Pra ver um bosque, a vida nos ninhos,
Ver flores, renovar suas lembranças...
Se apenas sabe aproveitar a vida
Aos mil desejos seus dando guarida,
Altivo, desprezando a sobriedade...
Se teima negando ao Amor abrigo,
Então não sou eu, é você, amigo,
Quem está por fora da Realidade.
(Publicado originalmente na Revista Cerrado Cultural nº 03/2009)
Se você não tem fé nem esperanças;
Não consegue parar dois minutinhos
Ouvindo o gorjeio dos passarinhos,
Mirando a brincadeira das crianças...
Se ativo e ocupado em suas andanças,
Não se desvia alongando caminhos
Pra ver um bosque, a vida nos ninhos,
Ver flores, renovar suas lembranças...
Se apenas sabe aproveitar a vida
Aos mil desejos seus dando guarida,
Altivo, desprezando a sobriedade...
Se teima negando ao Amor abrigo,
Então não sou eu, é você, amigo,
Quem está por fora da Realidade.
(Publicado originalmente na Revista Cerrado Cultural nº 03/2009)
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