Revista literária virtual de divulgação de escritores, poetas e amantes das letras e artes. Editor: Paccelli José Maracci Zahler Todas as opiniões aqui expressas são de responsabilidade dos autores. Aceitam-se colaborações. Contato: cerrado.cultural@gmail.com
domingo, 1 de maio de 2016
SER POETA
Por Meireluce Fernandes (Presidente da Academia Internacional de Cultura - AIC, Brasília, DF)
Ser poeta, é viver a
beleza da vida
É não enxergar a
dureza do mundo,
É sentir a imagem da
alma
A projetar-se na
origem do silêncio...
É saber trabalhar a
grandeza do espaço,
É poder interpretar
os sentimentos alheios,
Alcançar a luz, onde
há escuridão!
Manusear as
diretrizes, sem preocupação.
Ser poeta é encarar a
vida com otimismo
É passar a imagem do
belo a quem não vê
Levar sabedoria e
estímulo a tantos
É transmitir a graça
do prazer,
É ter como pano de
fundo
O infinito deleite,
das maravilhas do mundo!
A BORBOLETA
Por Meireluce Fernandes (Presidente da Academia Internacional de Cultura - AIC, Brasília, DF)
Como na ponte do amor
Tu vais e vens,
Pousando sobre a flor
E bela como
ninguém...
Admiro as tuas cores,
Excitando,
encantando, aquecendo
E fecundando todas as
flores,
Como num bailar de
sabores!
Gostaria de ter o teu
destino,
Para voar e
sobrevoar...
Regendo todos os
amores
Sem nunca descansar
Toda vida dedicar
Sua espécie propagar.
LUZ
Por Meireluce Fernandes (Presidente da Academia Internacional de Cultura-AIC, Brasília, DF)
Luz que com
intensidade reluz,
Que ascende e seduz,
Com beleza, clareza,
E leveza, qual sombra
traduz,
É a luz que ilumina
Os meus passos,
É a chama repleta
E completa...
Dos teus longos
abraços!...
E com que grandeza,
Eliminando as
tristezas,
Brilhas e alumias,
Purificando esta
infinda natureza...
Luzes do passado...
Ofuscando a luta
presente,
Tentando trazer o
luar
E suavizar meu leve
telhado.
TUDO NO MUNDO PASSA
Por Meireluce Fernandes (Presidente da Academia Internacional de Cultura-AIC, Brasília, DF)
Tudo no Mundo Passa
Passa o amor, passa a saudade,
Passa, às vezes, o que sinto por você
Passa todo o sentimento,
Passam as coisas boas e as banais.
O sentido infinito das coisas
É que nunca pode passar,
Assim como o sentimento verdadeiro,
Que no coração dos fracos reside.
A tristeza também passa,
O silêncio é o melhor remédio...
A dor que hoje sinto no peito,
Um dia também passará
Assim, espero...
O MAR
Por Meireluce Fernandes (Presidente da Academia Internacional de Cultura-AIC, Brasília, DF)
O mar estava
tranqüilo
Sem vento,
A água morna,
O sol abrasante...
E eu a sonhar,
Um sonho distante...
Vendo as ondas
Batendo nas pedras,
O horizonte
infindo...
Qual uma longa
espera,
O marulhoque vem
De longe...
Não é qualquer
barulho,
É aquele que faz
vibrar
O mais distante
pensamento.
O cheiro é sensual...
Em mim provocante...
Porque não dizer
Afrodisíaco?...
Mar, introspeccões e
reflexões
Nos traz...
Com tuas pedras, tuas
rochas
E o teu brilho,
Que reluz, parecendo
cristais.
Meus cabelos
esvoaçantes
Como barcos
velejantes...
Querem em ti flutuar,
Porém só me resta
desejar...
PRIMEIRO DE MAIO
Por Gustavo Dourado (Presidente da ATL,Taguatinga, DF)
1º de maio de 1886:
A luta do operário...
Trabalho organizado:
Melhoria de salário:
A violência do poder:
Presente em meu diário...
Primeiro de Maio é história:
Trabalhadores em luta...
A gravidade da vida:
A incessante labuta...
O sistema que oprime:
Com a sua ganga bruta...
"Trabalhadores, uni-vos":
Karl Marx já dizia...
Na dialética da vida:
Sobrevive-se na agonia...
Escravidão pós-moderna:
Novo tempo se anuncia...
É o capital que oprime:
Com a sua mais valia...
O magnata que lucra:
Que reprime a poesia...
Que acorrenta o sonho:
E a ilusão da fantasia...
É hora de despertar:
Buscar a cidadania...
Na greve, na passeata:
Assembleia do dia-a-dia...
Na fábrica, no sindicato:
Que a peleja se anuncia...
Chega de alienação:
Liberte-se, se oriente...
A união faz a força:
Na rebeldia da gente:
O grito da multidão:
Revolução permanente...
NATURAL
Por Pedro Du Bois (Balneário Camboriú, SC)
From the
decomposed nature
the exposed pain
of species
slaughtered
cut
severed
plucked
the stumps
pulled of with strong tractors
progress’
headquarters: the man
brings in
approximation the profit‘s colorless vision
and the
excluded’s subsistence faces
the withered
earth after the passages
the soil’s
restoration exudes
the perpetraded
acidity
in needless
times
of abundance:
the man
forgets about
his not consented past
in future
unenforceable projects
where struggle
deaths
and advances to
the end of the world.
(Marina Du Bois, English version)
NATURAL
Por Pedro Du Bois (Balneário Camboriú, SC)
Na natureza decomposta
a dor exposta
em espécies
abatidas
cortadas
decepadas
depenadas
destocadas na força dos tratores
matrizes dos progressos: o homem
traz na aproximação a visão incolor do lucro
e a subsistência dos excluídos se defronta
com a terra ressecada após as passagens
a recomposição do solo exala
a acidez perpetrada
nos tempos desnecessários
das farturas: o homem
esquece o inconsentido passado
em projetos futuros inexequíveis
onde se debatem mortes
e avanços ao fim do mundo.
WITH YOU
Por Pedro Du Bois (Balneário Camboriú, SC)
I will be with
you through time
sharing
indecisions
as we rapidly
transit
we will keep
images from courage
shared between
debts and doubts.
We will gather
enough
received as a
gift: beeing together
leeds the bodies
to exhaustion
from the meeting
in everlasting
sensitive
combinations
together in the
bipolaraised group
of melees and
escapes we will tell to silence
with gestures
and disillusions in interlaces’
perpetuation
where we are kept free
from counseling
in open garrets
on the subtle
gathering of loving.
(Marina Du Bois, English version)
CONTIGO
Por Pedro Du Bois (Balneário Camboriú, SC)
Estarei contigo no tempo
partilhado das indecisões
na rapidez com que transitamos
reteremos imagens da coragem
divididas entre dívidas e dúvidas.
Recolheremos o bastante
recebido em dádiva: estarmos juntos
conduz os corpos ao esgotamento
do encontro em duradouras
combinações sensíveis
juntos no conjunto bipolarizado
das refregas e fugas diremos ao silêncio
em gestos de desilusões na perpetuação
dos entrelaces em que nos prendemos livres
dos aconselhamentos em desvãos abertos
no recolhimento sutil dos amorosos.
ROUGHNESS
Por Pedro Du Bois (Balneário Camboriú, SC)
I do not hear
the sound of
the wind against
the window
in the curtain’s
rustling
the din
I am silence
carved in stone
arid
dry
uncover through
time
crystallized.
(Marina Du Bois, English version)
ASPEREZA
Por Pedro Du Bois (Balneário Camboriú, SC)
Não ouço o som
do vento contra a vidraça
no farfalhar da cortina
o estampido
sou silêncio
esculpido em pedra
árida
seca
descoberta no tempo
cristalizado.
EPHEMERAL
Por Pedro Du Bois (Balneário Camboriú, SC)
The concern
comes from the memory
dimmed as the hours pass by
and we are reset
repeated
recovered
and erased
in remembrances
the left behind
must worry
about the gods
inicial refugees
from frailty.
(Marina Du Bois, versão em inglês)
EFÊMEROS
Por Pedro Du Bois (Balneário Camboriú, SC)
A preocupação
decorre da memória
esmaecida no passar das horas
em que somos repostos
repetidos
recuperados
e apagados
nas lembranças
os que ficam para depois
devem se preocupar
com os deuses
retirantes iniciais
da efemeridade.
A INGRATIDÃO DA ESPOSTOA
Por Humberto Pinho da Silva (Vila Nova de Gaia, Portugal)
Quando era menininho, ia na
companhia de minha mãe, para aldeia perdida entre serranias. Ficava em quebrada
de serra, que a protegia de ventos frios, e desabridos temporais, que
fustigavam desapiedadamente as povoações vizinhas.
Quase todos os verãos abalávamos
para Trás-os-Montes, em velhíssimo comboio de amplos bancos de madeira
envernizada, que serpenteava as mansas águas do rio Douro.
Nessa recuada época, as águas do
rio eram cristalinas e plácidas, e caminhavam tranquilas para a foz. Numa
quietude quase absoluta: sem pressa, sem correrias, sem atropelos…
Numa dessas viagens comboianas (como
gostava de cactos, e ainda gosto,) levei envasado, um, que comprara na florista
da minha rua; e criara-o com esmero e amor, no peitoril da janela de meu quarto
Meu pai aconselhou-me a levá-lo.
Segundo ele, a planta estiolaria e talvez morresse, no pequeníssimo vaso de
barro vermelho, onde nascera.
De tanto o ver e cuidar,
afeiçoei-me. Falava com ele; acariciava-o com os meus deditos; penteava-o com
doçura a branca penugem sedosa; e convenci-me, que ele, de tanto me ver, de
tanto o ter abraçado, também nutria por mim, sentimentos de grande ternura.
Replantei-o com carinho, em
terra fofa e bem adubada. Todos os dias, logo que o Sol se levantava,
visitava-o, dando-lhe os bons-dias; e, pelo anoitecer, quando a tarde calmosa,
adormecia, ia vê-lo. Passava, então, largos minutos a cuidá-lo: libertando-o de
indesejáveis bichinhos.
Foi em lágrimas que me despedi.
Creio que o beijei; e convenci-me que ele, também chorou: pois cobriu-se de
gotinhas de orvalho, na manhã da partida.
Quando, no aconchego do meu
pequenino quarto, entre alvos lençóis, ouvia a chuva e o vento vergastarem as
vidraças, da minha janela; e via, pelas frinchas das portadas de madeira, o
clarão azul de raios, que rasgavam a noite negra, rezava, muito baixinho, para
que o bom Deus o guardasse, com Sua Mão ou Seus anjos, das intempéries
impiedosas.
Para me cativar, meu tio,
fez-lhe uma estufa, com sólido telhadinho de colmo, que o defendia de agrestes
invernadas.
No ano seguinte, parti ansioso.
Não via hora de chegar: para o abraçar e quiçá, beijá-lo.
Para meu espanto, tinha
crescido. Estava quase do meu tamanho! … Era, não digo, um cacto adulto, mas
adolescente…
Aproximei-me para o abraçar, e
logo recuei, com as mãos crivadas de pequeninos e agressivos espinhos.
Ralhei asperamente com ele. Eu,
que o cuidara com tanta dedicação; que o amei tanto, fui recebido como
estranho, como se fosse malfeitor! …
Olhei-o de frente – e, enquanto
retirava, um a um, os espetos que se enterraram na epiderme, pensava com
pesar.:
Quando era menina, a minha
espostoa, recebia os meus carinhos, com alegria; e retribuía-os,
acariciando-me, com os sedosos pelos, a minha mão acalentadora.
Crescera, tornara-se adulta, e
considerou que não mais precisava de mim, e recebeu-me com indiferença; com a
superioridade de quem tem esteiros sólidos, e não precisa mais de ajuda…
Lembrei-me de narrar a história
da espostoa, porque, amiga minha, minhota de coração, e alentejana por
casamento, em hora de amargura, contou-me: que casara ainda menina com
industrial. E tão menina era, que não poucas vezes, o marido, surpreendeu-a a
dançar o Vira, no quarto…Então, corava de vergonha…
Gostava muito de crianças, mas
nunca foi abençoada. Dedicou-se de alma e coração ao filho do caseiro da
quinta, onde morava.
Queria-lhe tanto, que se
alegrava com suas alegrias e chorava quando ele chorava, pelo amor que lhe
tinha. Resolveu, então, deixar-lhe a casa, onde vivia, por muito lhe querer.
O menino cresceu. Esqueceu os
mimos que receberas; e, indiferente à velhinha entorpecida, que muito lhe
queria, abandonou-a na companhia de rude criada, que mal falava o português! …
Minha amiga chorou muito, em
segredo. Porque sentimentos e afectos sofrem-se em silêncio, para que o mundo
não se ria de quem ainda os tem.
O mesmo acontecera comigo: a
espostoa criou espinhos para se defender de inimigos; mas não soube
recolhê-los, quando eu, cheio de ternura, e olhos radiantes de amor, a abracei.
Tinha crescido…já não precisava
dos meus carinhos…
O SEMEADOR E AS SEMENTES
Por Urda Alice Klueger (Blumenau, SC)
(Para o Gabriel)
Era uma vez um jovem semeador que
caminhava pelos sulcos dos campos arados a distribuir sementes. Tinha robustos
braços cheios de vitalidade e no rosto as cores das rosas cor de rosa, e seu
coração abrigava um mundo tão grande que nele cabiam todas as músicas e todas
as ternuras. Assim como às vezes se vestia de seda, outras vezes usava as
rústicas roupas azuis de trabalhador, e dentro daquele azul escuro e forte o
rosa das suas faces e dos seus braços ressaltavam de beleza. E ele distribuía
as sementes e umas nasciam e outras não, pois assim é a vida, mas o carinho
dele era igual por cada uma, e sonhava que brotassem e florescessem e por sua
vez gerassem outras sementes naquele florescer, pois seu ofício de semeador era
uma coisa muito grandiosa e dele dependia a continuação da vida.
Muito antes da hora de terminar a
jornada, porém, o semeador teve seu afã interrompido e se foi, abduzido pela
cauda de um cometa, e já não pode continuar naquele ofício para o qual era tão
perfeitamente talhado. Ficou lá longe, dentre estrelinhas, espiando o que
acontecia com as sementes germinadas, querendo achegar um pouco de terra às
suas raízes frágeis, dar-lhes o conforto de um pouco de água, mas já não tinha
como atravessar uma barreira que agora havia e só lhe restava ficar assim
espiando e torcendo para que a semeadura desse certo.
O tempo passou e as sementinhas
germinaram, criaram raízes, cresceram. Na primavera estavam tão prontas para a
vida que floresceram lindamente e por sua vez geraram outras sementes que o
universo se encarregou de de novo transformar em vida, e lá do seu cometa,
espiando por dentre as estrelinhas, o semeador olhava e via que sua obra
continuava, mesmo não estando ele junto.
Ontem,
era de noite e o semeador repousava seu cansaço na lindeza que era aquela curva
da cauda do cometa que o acolhera, os braços cruzados por detrás da cabeça, o
corpo reclinado entre os milhões de pedrinhas fosforescentes, um pequeno bocejo
quase a mergulhá-lo no sono quando... sim, que era aquilo, quem estava ali? Ele
nunca esperara tal felicidade, nunca pensara que a vida poderia tomar tais
rumos, nunca pensara que pudesse acontecer – mas ali, ali pertinho dele,
atravessava o pretume estrelado do veludo da noite, dentro de um veloz pássaro
de prata, nada mais nada menos que uma semente das sementes que ele semeara um
dia!
Desde
que existia aquela semente que ele lhe prestava a maior atenção, e então não
havia como se enganar – era, sim, uma sementinha consequência da sua obra,
agora talvez já indo, por sua vez, desabrochar em flor e gerar outras sementes!
Na fosforescência do cometa, dentre milhões de estrelinhas, o semeador ficou
ali a espiar pela janelinha do avião aquela sementinha que passava dormindo,
leve e em paz como sempre sonhara que seriam suas
sementes e, coração aos pulos, ele ficou a olhar bem de pertinho enquanto foi
possível, pois o ágil pássaro de prata voava de um hemisfério a outro num
instante e em breve se distanciava dentre estrelas longínquas.
A ternura ficou grande demais dentro
do peito, e então o semeador chorou de tanta beleza!
VAMOS VIAJAR, MINHA PRINCESA?
Por Mara
Narciso (Blumenau, SC)
João e Maria casaram-se há muitos anos.
Ele trabalha como carreteiro, desde antes do casamento, e a sua vida é uma
interminável estrada. Ela não trabalhava fora, e quando engravidava via a
barriga crescer sem o testemunho do marido. Quando João chegava, a barriga já
estava grande. No período do parto, ele parava, e assim tiveram cinco filhos. Em
certos períodos, até por muitos dias desse casamento, João estava viajando.
Vinha um pouquinho e sumia nas entranhas desse imenso Brasil.
Maria criou os filhos e os educou
praticamente sozinha. Passou a vida tomando decisões, quase sem a participação
do marido, das mais simples, como fazer compras, pagar contas, escolher a
escola dos filhos e educá-los, até as mais complexas, como comprar uma casa
para a família. Criança com febre alta na madrugada e no desamparo, ela teve de
carregar nos braços para o hospital. Mas filho um dia cresce e de trabalho
passa a dar gosto e alegria, e mais a frente dá segurança, demonstra reconhecimento
pelo que os pais (no caso, mais a mãe) fizeram por eles.
João viaja noite e dia transportando
o que os brasileiros precisam. Para ganhar dinheiro, enfrenta tempestades, enchentes,
calor, frio, cansaço (rebite?), solidão, comida e estrada ruins, engarrafamentos,
greves, obstruções na estrada, impostos, tarifas altas de pedágio, perda de
sono, risco de assalto, visão de desastres horríveis. O carreteiro é um
sobrevivente de muitas vidas, e quem sabe de muitas mortes? Atravessar o Brasil
incontáveis vezes, por décadas, levando uma carreta com milhões de reais dela e
da carga e “nunca ter morrido” é inacreditável. João não sabe o que são férias.
Raramente estaciona em casa uns poucos dias, e logo recomeça. No principio
tinha medo, hoje tem precaução, até porque as ameaças aumentaram. Em casos limite
viaja em comboio. O que tem mesmo é saudade de casa, mas uma saudade diferente,
pois fica tanto tempo no caminhão que não sabe bem o que é estar em segurança
com a família. Sempre rodando, o mundo parado lhe parece estranho.
Muitas vezes João ficava fora por
meses, e já sumiu pelos lados da Amazônia por um ano. Sem vê-lo, Maria
cultivava a saudade em fogo brando, e o amor em altas labaredas. Mas esta
mulher de fibra e de paixão não reclamava da vida. A norma era cuidar de si, da
casa, dos filhos e esperar por João. Um dia ele chega, e logo depois ele se
vai. Some na cabine da carreta, desaparece mais uma vez.
Agora, Maria, de 53 anos tem saúde
frágil, teve doença grave, não enxerga bem, porém não se queixa de nada, muito
menos de João. Ele tem 59 anos, boa saúde, está registrado numa grande empresa,
tem bom salário e se aposentará em breve. Usa com Maria uma maneira atenciosa,
e, ao fim do expediente, costuma telefonar-lhe e lhe falar-palavras carinhosas,
e na volta lhe traz um agrado. A mulher não sabe o que são ciúmes.
O carreteiro estreava uma carreta
nova. Madrugada ainda, ele a convidou para ver a novidade. Ela estava com roupa
caseira e tinha terminado de fazer o café. Foi até a porta, e ele pediu para
que entrasse na cabine confortável, sentisse a cama de casal e avaliasse o
espaço. Maria subiu, gostou do que viu, e dele recebeu o convite. Vamos dar uma
volta? Mas João, a carreta está carregada! Ele disse que eram 60 toneladas de
maquinário pesado. Maria não recusou. Tomando a estrada, João falou que a
levaria para aquela viagem. Desta vez retrucou, mas eu não trouxe nada, nem
roupa, nem nada de higiene. A gente compra no caminho. Olha João, caso você
queira uma cozinheira, pode voltar e me deixar em casa, mas se você for cozinhar
para mim eu aceito, eu vou aonde você quiser. E foram.
Viajaram românticos e inesquecíveis
40 dias, com mimos tais como presentes, comidinhas na boca, carinhos, delícias
e banho de mar, de norte a sul do Brasil. Tudo compensou. A vida de Maria foi
uma eterna espera, mas para cada partida, havia sempre uma chegada, enquanto a
vida de João foi uma continua procura pelo porto seguro, e em cada deserto a
busca de um oásis. O encontro dos dois foi uma explosão. Durável e invejável.
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