Revista literária virtual de divulgação de escritores, poetas e amantes das letras e artes. Editor: Paccelli José Maracci Zahler Todas as opiniões aqui expressas são de responsabilidade dos autores. Aceitam-se colaborações. Contato: cerrado.cultural@gmail.com
sexta-feira, 1 de setembro de 2017
D. PEDRO V E A CAIXINHA VERDE
Por
Humberto Pinho a Silva (Porto, Portugal)
Apesar de ser dos monarcas mais
inteligentes do seu tempo, e o que mais trabalhou a favor da cultura, em
Portugal (comparável ao Rei D. Duarte,) é, para muitos, quase desconhecido.
Durante os curtos anos que
esteve à frente da Nação, foram inaugurados os primeiros quilómetros da linha
férrea do Norte – 1856 (Lisboa - Porto); fundou-se o Curso Superior de Letras
(1859); lançaram-se as primeiras linhas telegráficas (1855); e iniciou-se o
primeiro-cabo submarino, entre Lisboa, Açores e Estados Unidos.
Mas, a meu ver, o que merece
maior realce, foi o cuidado que teve de se manter sempre atualizado, e,
principalmente, o esforço em defesa da liberdade.
A 24 de Março de 1856, D.
Pedro, escreveu no seu diário: “…Não sou tão tolo que goste de meu
ofício, mas hei-de trabalhar por ele, com zelo e com a perseverança, e fazer
bem e florescer um pouco a moralidade.”
Os escrúpulos e o amor à
verdade, levaram-no a tomar atitude inédita na política.
Diz Oliveira Martins: “
Tinha em tanta conta os que o rodeavam, cria tanto neles, que mandou pôr à
porta do seu palácio, uma caixa verde, cuja chave guardava, para que o seu povo
pudesse falar-lhe com franqueza, queixar-se, acusar os crimes dos governantes.”
Dizem, que teve que a retirar,
porque o povo ou os políticos (?), lançaram, em lugar de pedidos e queixas,
insultos e palavras injuriosas.
É bem verdade: quando se
pretende dar voz a quem não a tem, os “democratas” não gostam…
Aos 10 anos teve como mestra D.
Maria Carolina Mishisch. Seguiu-se Martins Basto. Aprende latim. Com 6 meses de
estudo, traduz Eutrópio e Fedro; e aos 12 anos, consegue verter, para a língua
pátria, textos de Virgílio, Tito Lívio e Cícero.
Aprende depois: pintura,
filosofia e línguas vivas.
Aos 17 anos (1854) viaja para:
Inglaterra, Bélgica, Holanda, Alemanha e França; e no ano seguinte visita:
Itália e Suíça. Não viaja para se divertir, mas para aprender e contactar com
políticos e homens de cultura.
Lê imenso: livros e revistas
generalistas e de economia.
Era de sensibilidade e
dedicação invulgar: Quando o pai (Papá), como escreve no diário, estava doente,
passava, grande parte do dia, junto do leito, lendo-lhe artigos publicados em
jornais, para entretê-lo e para poder estar ao par do que se passava.
Quando a epidemia de Cólera
(1855-56) se espalhou por Lisboa, seguido de Febre-amarela (esta iniciou-se no
Porto,) parte da população da cidade foge para a província. D. Pedro não só
recusa abandonar a Capital, como visita hospitais; entra nas enfermarias, e
conversa infectuosamente com os doentes.
Sabendo que há muitas crianças
órfãs, auxilia-as, correndo as despesas do seu próprio bolso:
Alves Mendes, na “ Oração
Fúnebre”, nas exéquias do Rei, afirma a determinado passo: “ É em balde
que alguém o aconselha para que mudasse de sistema. Não! Dizia ele a seus
ministros: diante da crise que dizima meus povos, não será meu coração que
descanse, nem meu braço que deixe de trabalhar! …”
Em meados de 1861, o Rei
desloca-se para Vila Viçosa. Depois, de curta estadia, percorre várias
localidades, sendo recebido acaloradamente pelo povo.
Chegado a Lisboa, sente-se mal,
e faleceu, decorridos poucos dias (11 de Novembro de 1861, pelas 19H00)
Morreu viúvo e sem filhos.
Foi casado com Dona Estefânia
de Hollenzollern-sigmaringer, que faleceu um ano após ter realizado o
matrimónio, deixando D. Pedro em profunda nostalgia.
Alexandre Herculano, assevera
que o Rei, possuía alma pura e era de nobreza excecional. Por tudo isso ficou
conhecido pelo cognome de “ Muito Amado”. Por muito ter amado: a
Pátria, e principalmente o povo humilde.
O TRANSMONTANO ANALFABETO
Por
Humberto Pinho da Silva (Porto, Portugal)
Casal amigo, recentemente vindo
do Brasil, que anda a viajar pela velha Europa, ao passar pela minha cidade,
quis visitar-me, e convidou-me para encontro num hotel do centro da cidade.
Conversamos sobre a situação
politica no Brasil e da América Latina, mormente da Venezuela; e a determinado
momento, a conversa descambou para o facto de todos quererem ser europeus.
Foi então que narraram a curiosa
história, do transmontano, que certo dia, abandonando sua aldeia, partiu para o
Rio de Janeiro. Levava consigo a esperança de vir enriquecer, nesse imenso
Brasil, onde se contava, que havia a árvore da pataca: bastava abanar… e o
dinheiro chovia…
Desembarcado em terras de Vera
Cruz, logo verificou, que para sobreviver, teria que trabalhar duramente; e a
famosa “ árvore” só existia na imaginação de “ poetas” excêntricos.
Empregou-se num empório. O dono
da casa era rude e pouco amável para os gringos, mormente portugueses.
De tanto se ver desprezado,
transformado em palhaço pobre de circo pobre, pelo facto de ser português,
resolveu, quando conseguiu disfarçar a pronúncia, esconder a nacionalidade.
Se sofria com a chacota que
faziam aos patrícios?
Lá isso sofria…Debochavam, que
vinham: “ de pau e saco às costas”; mais tarde, com o aparecimento da
TAP, de ” Tamancos Aéreos Portugueses” e outros chispes, que a rádio, e
mais tarde a TV, lançavam para gáudio de muitos. Mas sofria calado…por medo e
vergonha.
Casou. Teve filhos e filhas. A
vida melhorou. Comprou casinha… e ele, sempre ruído pela saudade da sua terra,
ia-se conformando, não só com a nacionalidade, mas com a indiferença e desprezo
dos filhos.
Prosperados com o trabalho
paterno, frequentaram o Ensino Superior; se não tinham vergonha, evitavam,
acintosamente, a companhia do pai. Homem inculto, que mal sabia ler, e ainda
menos escrever, que trajava modestamente, e trabalhava como galego.
Mais tarde, os netos e
bisnetos, nem o iam visitar – diziam que os afazeres não lhes permitia, – “
Para quê?!”: Era velho, pobre, rude, analfabeto…E agradeciam ao pai, não os
ter batizado com apelido português. Hoje podiam usar nomes com “Ys”, “Ws”, e
letras dobradas. Era chique e dava status.
Um dia, o transmontano, morreu.
Foi sepultado em vala comum, quase como indigente, em caixão modestíssimo, e
sem acompanhantes.
A família não queria que se
soubesse que o antepassado fora daqueles que desembarcaram de: “ trouxa de
roupa e cajado, que lhe servia de bengala…”
Passou o tempo…Passaram
décadas…Portugal aderiu à U.E. ; mais tarde ao euro. Agora dizem:” Estão
ricos!!! …”
Os netos e bisnetos, do velho e
pobre transmontano, lembraram-se, então, dele, e pensaram: “ - Agora podemos
lucrar pelo facto de sermos descendente, desse antepassado! …”
- “Mas como?! …”
- “ Nem conhecemos donde
era! …Trás-os-Montes é grande! …”
Então, rebuscaram velhos e
revelhos documentos. Escreveram a padres e Juntas de Freguesia. Buscaram amigos
e parentes; e até um neto percorreu o distrito de Bragança, com foto do agora “
querido” avozinho, e palavras sentimentais…, na esperança que
alguém fornecesse alguma dica.
Já não dizem: que andara de “ Tamancos
Aéreos”; e invejam, até, os que já obtiveram o almejado cartão, que lhes permite
serem cidadãos europeus; crentes que não lhes vai acarretar problemas,
dissabores e despesas futuras.
Se o velho transmontano, no
outro mundo, poder conhecer o que se passa neste, há-de rir-se, em grande
risota, com outros gringos analfabetos, que envergonhavam a família, por
serem: italianos, portugueses… europeus analfabetos…
Assim rematou aquele casal, que
sempre se orgulhou das suas origens, e sempre frequentou e procurou o convívio
de patrícios, em associações e clubes, indiferentes à chacota e ao ridículo,
que muitos (netos e bisnetos de portugueses e italianos,) lançavam sobre
aqueles que se orgulhavam dos avós: Homens honrados, humildes e trabalhadores
exemplares.
CORDEL DA AMAZÔNIA: ACORDA, BRASIL, ACORDA!
Por Gustavo Dourado (Taguatinga, DF)
Amazônia, Amazonas:
Floresta Equatorial
Da lenda do Eldorado
Hileia descomunal
O Brasil em suas veias
Na Amazônia Legal…
Civilização milenar
Muito tempo de idade
11200 anos de vida
Viva naturalidade
Eterna infinitude
Em plena imensidade…
Mata latifoliada úmida:
Maior floresta mundial
Gera cobiça no mundo
Pela riqueza especial
Minerais de todo tipo
Equilíbrio vegetal…
Tem o
Patrimônio Nacional
Rio Mar que se agiganta
Na floresta tropical
De Manaus para Belém
Corre o rio monumental…
Gigantesco AmazonasRio Amazonas:
O maior rio mundial
Em tamanho e em água
Não existe outro igual
De Lauricocha a Marajó
Corre o rio descomunal…
Amazônia brasileira:
De ampla diversidade
Biodiversidade incomum
Tanta multiplicidade
Terra maravilhosa
Orgulha a brasilidade…
Nióbio, ouro, diamante:
Exuberância mineral
Os filhos da floresta
São riqueza natural
Estação Anavilhanas:
Natureza essencial…
Norte, Nordeste e Centro:
Amazonas e Pará
Santarém e Altamira
Gurupi e Marabá
Do Bico do Papagaio:
De Palmas a Cuiabá…
Maravilha inigualável:
O Brasil tem que cuidar
Bioma extraordinário
Que dá vida para o ar
Ecossitema que brota:
Do interior até o mar…
Mato Grosso e Roraima
Nebina e Pedra Pintada
Acre, Rondônia, Amapá
Mapinguari na jornada
Tocantins e Maranhão
A grande Serra Pelada…
Orellana em busca do ouro:
Trouxe fama mundial
Martius e Hemboldt:
Na pesquisa florestal…
Civilização bem antiga:
No ambiente natural…
Guerreiras icamiabas:
Na floresta tropical
As lendárias amazonas:
Em seu toque natural
Deram vida à história:
Na luz equatorial
.
Caprichoso e Garantido:
O toque do carnaval
A cultura popular
Carimbó essencial
Arte e tropicalidade
Exuberância cultural…
Flora e fauna majestosas:
Peixe-boi, pirarucu
Aves, onças e peixes
Açaí – cupuaçu
Igarapés – igapós:
Cascavel – Jaracuçu…
Chuva em abundância:
Em seu clima tropical
Oiapoque, Carajás
A selva primordial
Serra Pelada do ouro
Preserve o ambiental…
Rio Napo e Rio Javari:
Jandiatuba, Juruá
Jutaí – Tefé – Coari
Purus – Piorini – Içá
Negro e Solimões:
Madeira e Japurá…
Rio Manacapuru:
Trombetas e Curuá
Uatumã – Tapajós
Maicuru – Nhamundá
Paru – Jari – Xingu
Tocantins – Uruará…
Não esquecer Chico Mendes:
Ecologia e meio ambiente
Proteger nossos nativos
Germinar boa semente
Chega de desmatamento
Que o povo se oriente…
Amazônia é natureza:
É terreno brasileiro…
Nossa biodiversidade:
Não pertence a estrangeiro…
É riqueza do Brasil:
Que é luz do mundo inteiro…
NADA ACONTECE POR ACASO
Por
Humberto Pinho da Silva (Porto, Portugal)
Você
acredita no acaso?
Pensa que as pessoas, que
cruzou e cruza, na jornada deste mundo, surgiram por acaso?
Se respondeu afirmativamente,
tenho que lhe dizer: muita boa gente, figuras notáveis, estão convencidas que
nada acontece por acaso.
O acaso, só existe: na
lotaria, no totoloto, nos jogos de azar; e mesmo assim, há quem duvide…
Para os cristãos, esses encontros, têm a Mão
de Deus; para os não crentes: são coincidências ou casualidades.
O sucesso, a fama, o prestígio,
não surgem por acaso: é o resultado de grande esforço, ambição, e trabalho
persistente e constante.
Para haver sucesso, é
necessário haver gosto pelo que se faz; possuir ideal, seja: político,
financeiro ou religioso.
E sobre tudo: força de vontade,
e nunca desistir, mesmo quando parecer que tudo e todos, se opõem.
Se você não é um génio – nem
nasceu no seio de família, que lhe facilite o sucesso, – o desenvolvimento da
aptidão nata, torna-se bastante difícil.
O sucesso na vida, começa: com
a educação que recebeu; a localidade onde vive; a sociedade que está inserido;
e nos amigos que possui.
A genialidade ou as aptidões,
raramente passam de pais para filhos; mas sim: os valores; os princípios; as
normas que se inculca à prole, influenciam, determinantemente, o futuro.
Até a
cultura se assimila quase por osmose! …
Mas nada disso o tornará homem
de sucesso; o sucesso, depende, principalmente, de si: das atitudes e dos
caminhos que seguiu e segue.
Dizem: “ Por trás de um
grande Homem, há sempre uma grande Mulher”, e é verdade. O sucesso que
o indivíduo obtém, depende, quase sempre, do matrimónio que realizou.
Mas, como nada acontece por
acaso, para alcançar carreira de sucesso, necessita de buscar “ Padrinho”. Se o
não encontra entre os familiares, tem que ir em demanda de um.
Para isso tem que se pôr ao
serviço de alguém ou de causa, que pode ser: política, desportiva ou
humanitária.
Começa a servir, e (se for ambicioso e
astucioso,) termina a servir-se…
Os simplórios, é que acreditam
que o sucesso é fruto: do acaso, de golpe de sorte, ou apenas de intenso
trabalho.
Para atingir posição de
prestigio, além de: inteligência, ambição e vontade, é preciso o apoio de
alguém.
Que raras vezes presta ajuda…
sem esperar algo em troca.
Basta ler biografias de homens notáveis,
para constatar, que, na maioria dos casos, há sempre (pelo menos no inicio,) na
sombra, figura protetora, de quem estendeu a mão, para alcançar a vereda
vacilante da carreira de sucesso.
Primeiro: é preciso conhecer:
se é possível, com as aptidões que possui, atingir o pretendido: - Não esquecer
o Violino de Ingle.
Depois… partir em demanda de “
Mecenas”. Sem eles, é como disse o Presidente da República, Jorge Sampaio,
referindo-se à própria carreira política:
“ Nunca fui da Maçonaria, da
Igreja ou de qualquer grupo económico. Chegar onde cheguei, nestas condições, é
obra. Porque é muito difícil ser independente em Portugal… “- “Única” - citado
pelo Jornal de Tondela, 31/08/06.
ORGULHO
Por Pedro Du Bois (Balneário Camboriú, SC)
Na distância
descubro
a inutilidade
do orgulho
a nacionalidade desfalece
no que deixo de lado
habito o silêncio:
não estou perdido
no hino silenciado
(esqueço a letra do hino pátrio)
maior a distância
nítidos os vultos
de todo o sempre
menos o orgulho
na tristeza desamparada.
PRIDE
By Pedro Du Bois (Balneário Camboriú, SC)
(Marina Du Bois, English version)
In the distance
I find out
the uselessness
of pride
nationality faints
in what I leave aside
I live in silence
I am not lost
in the silent hymn
(I forget the lyrics to the anthem)
the greater the distance
sharper are the figures
of all time
less pride
in helpless sadness.
FÉRIAS NO SUL
Por Urda Alice Klueger (Enseada de Brito, SC)
(Escrito em
1997)
Faz pouco
mais de um ano que, numa mostra de cinema, revi “Férias no Sul”, filme feito em
Blumenau na década de sessenta, e que na época causou um frenesi na cidade.
Vivíamos,
naquele tempo do passado, sob a égide do cinema – a televisão demoraria muito,
ainda, para chegar por aqui – na verdade, as pessoas só acabaram comprando
televisão para a Copa do mundo de 70. Assim, nos anos sessenta, o divertimento
preferido de quase todo o mundo era ir ao cinema, ao cinema que nos trazia
Brigite Bardot e o capitão Custer matando índios, além de farwest
famosos, como “Django e o Dólar Furado”, e o agente 007, e por aí afora. Ir ao
cinema era o máximo, era ir à mais maravilhosa das fábricas de fantasias –
imaginem o que foi saber-se que aqui, na nossa provinciana Blumenau, iria ser
rodado um filme de verdade, um filme que seria visto por todo o Brasil!
O primeiro frissson
foi das pessoas que queriam aparecer no filme: todos queriam, e não sei como é
que os diretores do mesmo fizeram para chegar à seleção dos que poderiam ou não
ir para a tela. Vendo o filme, agora, diverti-me um monte vendo a antiga
juventude blumenauense, hoje transformada em gente sisuda e responsável, a
fazer “pontas” no filme, compenetradíssima no seu papel de alguns minutos. Até
o nosso austero ex-prefeito Victor Fernando Sasse, que naqueles idos deveria
andar pelos vinte anos, aparece em longa cena, dançando num baile do Tabajara,
o nosso clube mais tradicional.
Bem, depois
do frisson das filmagens, houve o frisson de ver o filme, este
muito maior, pois colocava o filme ao alcance de todos os mortais, e ninguém
perderia, por nada no mundo, de ver aquele filme que se passava na nossa
cidade, embora a opinião geral fosse de ele denegrira a imagem de Blumenau.
Malhou-se o pau em “Férias no Sul” como nunca se tinha malhado o pau em filme
nenhum, em Blumenau, nem mesmo naqueles em que Brigite Bardot aparecia nua.
Lembro-me como “Férias no Sul” foi
apresentado em Blumenau no Cine Blumenau, em sessão contínua para dar vazão aos
quase oitenta mil blumenauenses que não perderiam de vê-lo por nada, só para
depois poder falar mal. A coisa funcionava assim: abriam-se as portas do nosso
maior cinema, esperava-se entrar a multidão que o encheria, fechavam-se as
portas e rodava-se o filme – quando acabava, as pessoas saíam e a operação se
repetia – isso por dias seguidos, sessão após sessão, sem nunca acabar a longa
fila de espera que, lembro-me muito bem, ia do Cine Blumenau até onde hoje é o
Banco do Brasil, uma fila de quase uns quinhentos metros. O pessoal que
esperava na fila ainda não tinha visto o filme, claro – mas falava mal dele com
toda a veemência, como se cada um fosse o diretor responsável. E o que é que
exasperava tanto os ânimos dos blumenauenses de antanho, que tornava o filme
tão terrível, que fazia com que ninguém quisesse perdê-lo?
Revi
o filme faz ano e pouco, e morro de rir ao me lembrar. O famoso Davi Cardoso,
aquele mesmo das pornochanchadas, mas que nesse tempo ainda filmava de roupa,
vive uma cena de amor com uma moça da nossa cidade. A cena é num baile dum
clube de Caça e Tiro, onde os dois se paqueram dançando, e depois dão o fora. A
cena seguinte é deles voltando ao salão, a nossa linda moça loira sugerindo que
teve suas roupas descompostas, e, oh! o frenesi dos frenesis: nossa atriz de um
dia arruma o ombro da sua roupa, e, supra-sumo da sem-vergonhice para a época,
deixa ver a alça do seu sutiã!
Gente,
todo o pau que se quebrou em cima do filme foi por causa dessa cena fugaz, e de
uma moça acertando a roupa e deixando entrever a alça de um sutiã! O escândalo
foi tão grande que essa moça, que trabalhava numa loja de calçados, teve que ir
embora da cidade.
O
filme, mesmo, é de uma grande ingenuidade. A tal alça do sutiã deu todo o toque
picante para aquele momento de gloria de Blumenau, o de aparecer nas telas dos
cinemas de todo o Brasil. Até hoje, nas rodas de pessoas de mais idade que eu,
ouço falar do filme “Férias no Sul” como algo que envergonhou nossa cidade. As
pessoas de hoje deveriam rever o filme, para poderem rir de seus velhos
preconceitos. Quase não dá para imaginar que Blumenau, um dia, já foi assim!
Blumenau, 23 de junho de 1997.
FOME
Por Pedro Du Bois (Balneário Camboriú, SC)
Quando a fome
não se resolve
com comida
há o prato
a cor
o destino
dos restos
aproveitáveis
quando some a fome
no que não há para comer
há o prato
a receita internacional
a descoberta
a mistura
de restos inaproveitáveis
quando a comida
não atende a fome.
HUNGER
By Pedro Du Bois (Balneário Camboriú, SC)
(English version by Marina Du Bois)
When hunger
is not solved
with food
there is the dish
the color
the destination
of the enjoyable
remains
when hunger fades
by the emptiness to eat
there is the dish
the international recipe
the discovery
the mixture
of unusable debris
when the food
does not meet the hunger.
DIZER
Por Pedro Du Bois (Balneário Camboriú, SC)
O homem diz: não deveria estar aqui
meu caminho indica o outro lado
para onde irei
e onde me estabelecerei e acreditarei
chegar ao meu destino: o caminho
se fará completo nas músicas
que tocarei no final dos dias
nada acontece por acaso e músicas
são sons não estabelecidos na pauta
que o improviso sobrepuja a razão
no desconhecimento dos sonhos
o homem diz: por pior que seja
estou disponível e minhas leituras
completam o que me foi ensinado
quase nada
muito pouco dessa ciência louca
que muda conceitos do que se sabe
hoje e se sabia ontem que amanhã
serão novos instrumentos e minha voz
calada no final do dia não dirá nada.
TO SAY
By Pedro Du Bois (Balneário Camboriú, SC)
(English version by Marina Du Bois)
(English version by Marina Du Bois)
The man says: should not be here
my way shows the other side
to where I will go
and where I will settle down and believe
I have reached my destination: the path
will be completed by the songs
I will play at the end of days
nothing happens by chance and songs are
sounds unestablished in the musical sheet
which improvisation surpasses reason
in the ignorance of dreams
the man says: no matter how bad
I am available and my readings
complete what I was thaught
almost nothing
very little of this crazy science
that changes concepts of what is known
today and was known yesterday that tomorrow
will be new instruments and my silent voice
will say nothing at the end of the day.
Assinar:
Postagens (Atom)