Revista literária virtual de divulgação de escritores, poetas e amantes das letras e artes. Editor: Paccelli José Maracci Zahler Todas as opiniões aqui expressas são de responsabilidade dos autores. Aceitam-se colaborações. Contato: cerrado.cultural@gmail.com
sábado, 1 de agosto de 2020
ESTÂNCIAS PAMPEANAS (EXPOSIÇÃO, BAGÉ, RS)
Curadoria: Gilmar de Quadros
Fotografia: Cássio Gomes Lopes
Poemas: Membros do Movimento dos Escritores Bageenses - MEB, Bagé, RS.
UMA PETIÇA FLOR DE MATREIRA
Por Severino Rudes Moreira (Bagé, RS)
(Severino Rudes Moreira é membro do Movimento dos Escritores Bageenses - MEB)
A minha
avó, Lucídia Lopes, era dona de um campinho, umas duas quadras e pouco quase
despovoadas, em razão do adiantado de sua idade, já com “setenta” e pico e meio
"atempada" do reumatismo, além, é claro, de outras tantas doenças
naturais do tempo consumido. Ou seja, da juventude acumulada.
A
criação não passava de três ou quatro vaquinhas de leite, uma égua rosilha, já
com quase trinta anos e uma junta de bois, “Nanico e Redondo”, eram os nomes
desses dois bichos impagáveis de mansos, que só serviam para arrastar a pipa e
de quando em vez, um vizinho, ou um neto lavrar algum pedaço de terra.
Era
costume de minha avó ter sempre um neto lhe fazendo companhia, para esses
servicinhos que sempre tocam à gurizada fazer, botar vaca, cortar lenha, buscar
água. E dessa feita, estava eu passando uma temporada por lá.
Bueno,
o campo era um pastiçal, a “cousa” mais linda do mundo e os alambrados um
abandono, a “cousa” mais triste do mundo.
Dava
pena de ver, e em razão disso, o campo vivia cheio de criação alheia.
Entre
tanto bicho alheio havia, uma petiça tostada de um tal, “Chico Sabiá”, que lhe
conto, não havia mais matreira, pois era desses animais que enxergava o vivente,
a meia légua, e já esticava a cola e o pior é que levava toda a cavalhada nessa
“olada”, de modo que até a infeliz da rosilha, por vezes, inventava de me
deixar a pé.
Pegar
aquela petiça nem a tiro de laço, pois não havia quem chegasse a doze braças
pra atirar uma corda.
Mas há
quem diga, por sabedoria, que pra guri “taludo”, não existe égua matreira, de
modo que eu comecei a pensar numa maneira de botar uma corda no pescoço da
desgraçada e ressabiar dessas "matreirices", que estavam estragando
toda a cavalhada.
Descobri que a petiça em todas as noites vinha comer as sobras de milho
no "embornal" da rosilha velha.
Para
que melhor entendam, o "embornal" ficava enfiado numa tronqueira de
pitangueira, de modo que a égua velha comesse a ração na quantidade que
quisesse e depois saísse a pastar no campo, o que em razão da “maleza” de
dentes, sempre sobrava algum resto de milho.
Andando lá
pelo galpão, descobri um pedaço de couro donde tirei uns tentos, lonqueei a
capricho, dei uma sovada e depois trancei de “três”, a única trança que sabia,
fiz um "lacito" com uns quatro ou cinco metros, com argola e tudo,
para botar, na tronqueira da pitangueira, uma armada bem feita entre o embornal
e uma forquilha, de modo que pra comer precisasse enfiar o pescoço na laçada.
A outra ponta
da piola, atei no galho de cima pelo outro lado.
Á
tardinha deixei a rosilha comer a ração e fui armar a laçada pra pegar a
petiça, mas por azar a égua velha voltou pra mais umas bocadas e amanheceu ela
na corda, enquanto a petiça pastava no descampado como se fosse a única dona do
campo.
Nem bem me viu, já afinou a cola em direção à
sanga.
Eu, como se sabe, sou mais teimoso do que porco
roceiro, de maneira, que, armei a laçada outra vez, e mais outra, e ainda outra
mais, até que pelas cansadas, um dia amanheceu a bendita petiça agarrada pelo
gargalo escabeceando e arrastando a cola no chão tentando escapar.
Paciência nunca
me faltou, por isso botei um freio na rosilha velha, atirei um pelego no lombo
e fui voltear as vacas para puxar os tetos e garantir o café da manhã. Lembro
que, ainda comi um prato de mogango com leite, pra depois fazer uma
"brajerada" das boas para a “infame da petiça”.
Cortei um
galho de aroeira preta de um tamanho bem regular e atei na cola, depois enfiei
um manojo de urtiga bem de contra o “sabugo” e larguei essa petiça no corredor
em direção ao “Passo do Pessegueiro” que lhe conto, foi um tronar de patas e
uma polvoadeira, a “cousa” mais linda do mundo.
Dava gosto
ver a petiça, “galopeava” enlouquecida sem entender o porquê, pois quanto mais
corria, mais poeira levantava e de cabeça virada para trás, de tanto “cagaço”,
só despontava o bico das orelhas por cima do lombo, pelo meio da nuvem de terra
vermelha que se formou no corredor.
Mas por
desgraça, vinha subindo, do passo em direção ao rancho o “Firmino Rengo”, um
carroceiro que vivia pelas campanhas comprando bichos de penas pra revender na
cidade, e para desgraça, ainda maior, com a carroça carregada até o limite do
toldo.
Os
matungos do carroceiro vendo aquela nuvem de poeira, tocando a petiça por
diante se assustaram e dispararam com a carroça, deitando chirca, subindo
barrancos, arrancando pedras e espalhando o bicharedo a campo até se enfiarem
no Arroio, com o que sobrou da carroça. Ou melhor dizendo, só com o assoalho e
os balancins, porque até as rodas se despedaçaram.
Bueno, pra consertar a carroça, mais de semana e
pra juntar as aves fugidas quase duas. Isso sem contar o bicharedo que se
extraviou e nunca mais foi visto.
A peticinha, com isso, se amansou de tal maneira
que o galho da aroeira chegou a apodrecer atado na cola de tanto tempo que
ficou e lhe digo mais, cheguei a lavrar de certa feita umas terras lá na costa do
arroio, plantei trigo e gradeei com aquela rama atada na cola da petiça, só
tocando ela por diante e lhe afirmo, cobriu tão bem a semente que se falhou “um
pé qui outro foi muito”.
Bueno, pra encurtar esse causo, se passaram dois
anos e a tal lavoura deixou de produzir. Era só o trabalho de plantar pois não
nascia um pé de nada, se botava semente de dia e os bichos comiam de noite, ou
talvez na madrugada, “assuscede” que não vingava nada.
Palpitou-me que fosse saracura ou paca por serem
bichos roceiros demais e que, geralmente, atacam na madrugada ou na boca da
noite, mas a julgar pelo estrago só podia ser de bando, ou quem sabe uma tropa.
Resolvi, então, fazer uns mundéus de laçada.
Desses que quando o bicho belisca na espiga de milho, escapa uma laçada presa
em um galho vergado, que é morte certa, por enforcamento.
Fiz uma dúzia deles e, ainda, pra garantir fiz
uma “aripuca” de “carafá” trespassados com imbira e deixei armados na costa do
mato.
De manhãzita, montei a cavalo e toquei em direção
a lavoura pra revisar os mundéus... e que surpresa. Tinham pegado uma saracura
polaca, cinco jacús nanicos, sendo que dois deles tinham penas amarelas e os
outros três penas brancas e, ainda, três perdizes, tão “carijózinhas” que
pareciam uma seda.
A aripuca encontrei uns cinqüenta metros adiante
pois “um munaia d´um filhote de avestruz” caíra nela e de tão grande e forte
que era a arrastara. E tem mais se arrepiava de tão furioso quando eu assobiava
.
Hoje, é comum encontrar entendidos até da
“estranja”, caçando por lá e tentando descobrir a razão de tanta “mestiçagem”
nos bichos daqueles matos, pois ali há bichos que só ali são encontrados de tão
estranhos que são.
“E eu que
bem sei” que aconteceu, por causa de uma petiça matreira, “tô quieto”. “Mas,
afinal, se eu conto descobrem a brajerada”.
CORDEL PARA "IL MAESTRO" ENNIO MORRICONE
Por Gustavo Dourado (ATL, Taguatinga, DF)
(Homenagem de Gustavo Dourado)
"Il Maestro" Ennio Morricone
Fez o som da realidade
Sentimento em partitura
Lume-audiovisualidade
Assobios, sinos e ruídos
Nas trilhas da liberdade
Ennio Morricone nasceu
Em Roma, a eterna cidade
28 – Século XX
Com toda vitalidade
Tornou-se compositor
Aos seis anos de idade
Santa Cecília de Roma
Academia Nacional
Trompete aos 10 anos
Na formação inicial
Composição e orquestra
E o órgão fundamental
Estreou no cinema
Aos 33 de idade
"O Fascista", de Salce
Ennio em musicalidade
Cinema e televisão
Fama e popularidade
Nos idos dos anos quarenta
Quarenta e seis em diante
Começa a compor trilhas
Nos anos cinquenta avante
"Il Federale", de Salce
Morricone segue adiante
Influenciado por Palestrina
Do clássico ao medieval
Ás do contemporâneo
Som verbovocovisual
De narrativas sonoras
Morrícone eternatural
Mais de 500 composições:
Era Uma Vez no Oeste
Três Homens em Conflito
Luta de cabra da peste
Faroestern nos sertões
Tal cangaço do Nordeste
Sérgio Leone e Tarantino
Em parceria magistral
Tornatore e Bertolucci
Com trilha fenomenal
Com Polanski e Malick
Em transciência musical
'Cinema Paradiso' eterno
Patrimônio Imaterial
'Ata-me!', 'Os Intocáveis'
Viagem transcendental
'Os Oito Odiados' em cena
Fluem na trilha musical
Ganhou três Globos de Ouro
Maestro tão premiado
Três Grammys Awards
Compositor destacado
Um artista reconhecido
Seu nome foi consagrado
'Busca Frenética' ‘Màlena’
'Decameron' e 'A Missão'
Grande mestre da música
De suprema elevação
Compositor dos melhores
Estreluz de uma geração
"A Classe Operária vai para o Paraíso"
Pecados de Guerra, Missão: Marte
Sacco e Vanzetti, de Montaldo
Os ásperos caminhos da arte
Cinzas no Paraíso, de Malick
"Vatel” de Roland Joffé, destarte
Concertos ao redor do mundo
Com o Papa Francisco musical
A Gaiola das Loucas, de Molinaro
Com Verneuil, o cinema literal
Prêmio Princesa de Astúrias
O reconhecimento cultural
Composições clássicas
Programas de televisão
Canções populares no rádio
"spaghetti westerns" em ação
Consagrou Clint Eastwood
Bang Bang com emoção
Com Bernardo Bertolucci
A epopeia Novecento
Sobre as duas Itálias
O cinema em movimento
Amor e criatividade
Revolução no pensamento
"The Ecstasy of Gold", Metallica
O pop em composições
Música em peças de teatro
Sempre com inovações
Estrela na Calçada da Fama
Compôs óperas e canções
Cinema Paradiso, Malèna
A Lenda do Pianista do Mar
Com Giuseppe Tornatore
Cinema de alto patamar
Parceria esplendorosa
A arte a nos iluminar
Saló - 120 Dias de Sodoma
Decameron, Teorema
Pier Paolo Pasolini
Ima.gen reluz poema
Morricone a germinar
A música foi o seu lema
Medo sobre a Cidade. Os
Sicilianos.
"O Pássaro das Plumas de Cristal"
"A Cidade da Esperança", "Bugsy"
"A Batalha de Argel". O Profissional
O Homem das Estrelas, A Missão
Morricone na orquestra celestial...
“Por um Punhado de Dólares”
Por uns Dólares a Mais, a dança
Vi Três Homens em Conflito
E "Quando Explode a Vingança"
Rever Era uma Vez na América
“Era uma Vez no Oeste”, esperança
Nivelou a sonoridade
Com a narrativa visual
Trilha incidental sonora
À música experimental
Trilhou na musicografia
Do magma audiovisual
Conquistou dois Oscar
Um por trilha musical
E o Oscar honorário
Pela carreira magistral
Pelo conjunto da obra
Da trajetória sem igual
Morricone deixa a esposa
A sua querida Maria
Marco e Alessandra
A família em sintonia
Com Giovanni e Andrea
Seus filhos em sinfonia
Criou alquimusical
No assovio da cultura
No imaginário coletivo
Compôs a sua ternura
Transpôs o sentimento
Para a luz da partitura
Ennio nos faz sonhar
Toca o nosso coração
Faz a gente refletir
Mexe com a emoção
Eleva o sentimento
Com a arte da criação
Gustavo Dourado
Brasília, 6 de julho de 2020.
ENTRE TANTOS SERES
Por Clarisse da Costa (Biguaçu, SC)
Entre seres intolerantes,
Onde os olhos se conectam
Em uma tela;
Não existe mais o abraço
Que abraça de verdade,
Nem o nós na coletividade.
Não sei o que se sucedeu
E o que se perdeu;
Tudo tem sido tão vazio
E cruel.
E nós os poetas
É que somos
Sentimentalistas bobos,
Enquanto isso a sociedade
Banca de generosa!
***
Contato: clarissedacosta81@gmail.com
(Fragmento do Livro Rabiscado de Poesias)
SILÊNCIO E ALMA
Por Fabiane Braga Lima (Rio Claro, SP)
Noite gelada, já não sei o que escrever... Olho pra janela, vejo
estrelas. Tento me lembrar de algum amor, não consigo, talvez nunca tenha
amado, apenas me iludido.
Tento me lembrar de algum momento
especial, nada em mente. Mas na memória, vem tanta coisa vivida, tantas
mentiras e verdades. Então, sinto um desgosto, começo a respirar ofegante, meu
coração palpita. E, eu que tanto gosto do silêncio, sinto
que ele me perturba, não entendo o porquê.
Respiro, penso calada: -No silêncio consigo enxergar minha Alma, minhas
inúmeras inquietações, e isso perturba-me...!
Contato: bragalimafabiane@gmail.com
A MULHER EM TEMPOS DE REALIDADE FLUIDA
Por Clarisse da Costa (Biguaçu, SC)
Nenhuma mulher chega na sua
maturidade para ser perfeita e sim para ser quem ela é. Ela só quer respeito.
Ela só quer carinho. Mas você nunca vai ver uma mulher mendigar amor. Ela sabe
o seu valor. Ela conhece boa parte do seu destino. Leva tempo até que ela
aprenda, mas ela jamais deixa de aprender.
São sorrisos e choros até que ela olha para si. Os
outros passam à ficar em seu segundo plano.
Eu sei... Nem todas as mulheres são
assim. Algumas são frágeis. Mas quem disse que toda guerreira é forte o tempo
todo? Ela também desmorona. Às vezes tudo que a mulher precisa é de apoio de
alguém que a entenda.
Não é
fácil ser mulher num mundo onde o pensamento masculino é machista. Fica difícil
de entender e ter alguma crença de que tudo vai mudar. O que muitos homens
precisam entender é que ser carinhoso e respeitoso não os fazem menos homem.
Contato: clarissedacosta81@gmail.com
TU ÉS BEM LINDA!
Por Clarisse da Costa (Biguaçu, SC)
Não importa o que te digam. Teu sorriso encanta mesmo que por
de trás tenha uma dor oculta. Teu olhar ilumina não importa o quanto você
chorou. Você sabe que a vida não é perfeita. Você não é
perfeita. Não precisa que alguém te diga isso.
Procura estar com quem enfatiza as tuas
qualidades. O corpo te sustenta, mas é o teu caráter e determinação que
te faz vencedora.
Mulher larga de mão as amarras que te fazem sofrer. Sê feliz por ti mesma. Não espera pelo outro. A vida se faz com sonhos, mas é bem melhor com os pés firmes no chão. Tu bem sabes da tua capacidade, só te falta confiança. Se não confiares em ti, quem irá confiar?
Mulher larga de mão as amarras que te fazem sofrer. Sê feliz por ti mesma. Não espera pelo outro. A vida se faz com sonhos, mas é bem melhor com os pés firmes no chão. Tu bem sabes da tua capacidade, só te falta confiança. Se não confiares em ti, quem irá confiar?
Contato: clarissedacosta81@gmail.com
AGNELA EM ANUNCIAÇÃO
Por Samuel da Costa (Itajaí, SC)
Escolho o pecado!
Encolho-me!
Fujo! Traio!
Minto para mim mesma!
***
Agora...
Já não sei mais quem
realmente sou.
Aonde vou!
Se estou realmente
viva!
Pelo menos penso que
estou;
Que existo lânguida,
A vagar em uma outra...
Dimensão.
***
Tento fugir de mim
mesma!
Escolho o pecado.
Afronto!
Magoo!
Quem realmente me
ama.
***
Escondo-me!
De tudo e de todos.
Na agonia de ser eu
mesma...
Minto para mim!
***
Escondo-me...
Na sibilina bruma!
No outono da minha
vida.
No outono dos
decadentistas...
***
Contemplo o arrebol…
Em total êxtase!
Escuto a sinfonia
idílica e ignota...
Ouço o madrigal ao
longe.
***
Lembro-me de quem se
foi...
E choro de saudades.
***
Escondo-me!
No meu mítico
passado!
Finjo estar em outro
lugar...
Finjo que me importo…
Com as outras
pessoas!
Com alguém que diz
amar-me.
***
Aprisiono-me!
Em um mundo
encantado,
um multi-verso
quimérico!
Que construí somente
para mim!
Minto para mim mesma.
Na esperança vã...
De me encontra comigo mesma!
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