Revista literária virtual de divulgação de escritores, poetas e amantes das letras e artes. Editor: Paccelli José Maracci Zahler Todas as opiniões aqui expressas são de responsabilidade dos autores. Aceitam-se colaborações. Contato: cerrado.cultural@gmail.com
quinta-feira, 1 de dezembro de 2022
Eu conto para você! Veracidade X Lucidez.
A INGRATIDÃO DOS FILHOS
Resguardada do ardor da tarde
sob frondoso castanheiro, na cercania de carriça transmontana, a velhinha fia.
Tem o rosto sulcado pela goiva
do tempo. Olhos apagados, lábios finos, boca desdentada, e tez crestada, da cor
de centeio.
Fia; e o fuso:
gira...gira...gira... pressionado pelos descarnados dedos.
Foi moça fagueira; esbelta, de
farta cabeleira calamistrada e viçosa face da cor de nácar.
Casou… Foi mãe.
Criou filhos, que abalaram...
Todos partiram: uns, para o
Céu; outros, em demanda de vida melhor...
Ficou; mergulhada em saudade e
cuidados de quem a deixou.
De tempo a tempo, telefonam,
escrevem...
Prometem interná-la num lar...
Daqueles que guardam pais e
mães, que deixaram de serem prestáveis.
Cuidou dos filhos com esmero: ajudou-os
a darem os primeiros passos; a comerem; à mesa; aparou-lhes a baba viscosa, que
escorregava do beiço; enxugou-lhes o húmido nariz; branqueou-lhes a roupa
enegrecida pela traquinice; passou horas de angústia à cabeceira do berço...
Os meninos eram tudo, e tudo
era para eles.
Agora, é a mãe que carece de
mão amiga: quem a ampare; quem cuide; quem lhe lave a veste enodoada; quem lhe
apare as unhas endurecidas; quem a desvele com carinho.
Para que nada lhe falte.
Mas os filhos não têm
disponibilidade...
Olvidam, que chegou o tempo de
retribuírem; esquecem-se de pagarem - os cuidados, os carinhos que receberam...
Meditando, a velhinha fia.
E o fuso: gira...gira..gira...
Pelos desgastados olhos,
desenrolam-se cenas amorosas, recreações pueris, que a memória guardou, com
amor.
Agora só Deus permanece...
Só Ele ficou...
Os gerados pelas suas entranhas
esquecem-se, que: a felicidade, o diploma, a riqueza que gozam, é fruto daquela
velhinha, que junto ao carriço, arrimada ao secular castanheiro: fia... fia...
fia...
Zagaziantes lágrimas de
saudade, docemente escorem pela face encarquilhada:
-" Coitados! Têm muito
que fazer...A culpa é das mulheres... trabalham muito. Como gostava de estar na
companhia deles!…”
Leve sorriso amoroso,
alastra-lhe pelo rosto tisnado...
E o fuso: fia...fia...fia...
A MOÇA DE TITHÃO
Por Dias Campos (São Paulo, SP)
O professor Amauri era muito
querido e respeitado na escola municipal da pequena Arraial, onde lecionava
literatura. Tanto que desde o início do ano letivo já havia sido eleito como
paraninfo da turma que se formaria.
Certa tarde, seus alunos notaram-lhe um
semblante diferente. Estava mais bem disposto que o de costume, a verve fluía
como nunca, e o sorriso parecia que jamais o abandonaria.
Começaram os sussurros, que
logo tomaram conta da classe.
O mestre interveio, querendo
saber o que acontecia.
E o tema passarinho verde
despontou em meio às risadas.
Mesmo encabulado, o docente
acabou confessando que o seu bem-estar devia-se a ele ter conseguido espiar a
moça de Tithão.
A resposta pegou a todos de
surpresa. E calaram-se.
Dando-se por satisfeito, o
educador prosseguiu com a matéria. – Ao virar-se para a lousa, contudo,
levantou sutilmente o canto direito da boca.
Ao chegarem às suas casas,
os estudantes contaram aquela audaciosa revelação.
E os pais ficaram bastante
decepcionados. Afinal, como alguém que tanto admiravam teve a coragem de ficar
espiando uma mulher casada? E quanta desfaçatez em revelar a sua conduta em
plena sala de aula!
Talvez esse episódio tivesse
sido esquecido, não fosse o fato de o professor Amauri retornar no dia seguinte
ainda mais feliz.
Foi quando o mais atilado da
turma, porque não se aguentasse, resolveu perguntar se o motivo da euforia
seria ainda a tal da moça.
O mestre virou-se para ele,
e, sem a menor consternação, justificou que o seu estado de espírito aumentara
porque, dessa vez, tinha sido acariciado pela moça de Tithão.
Os olhos de todos
arregalaram-se! E houve até alunas que os sentissem úmidos pelo desgosto.
A notícia sobre o
relacionamento extraconjugal começou a alastrar-se mais rápido do que fake news em grupos de WhatsApp. E logo
os comentários já dominavam a cidade.
Onde houvesse pelos menos
duas pessoas conversando, e a descarada aventura amorosa era o assunto
dominante.
É claro que as recriminações
compunham a esmagadora maioria das opiniões, haja vista ser o culpado pela
destruição de uma família honrada, humilde e trabalhadora.
Quais os ardis que teria
utilizado para corromper a pobre moça? aproveitara-se da sua frustração como
esposa? assegurara recompensas materiais aos filhos? seduzira-a com promessas
de casamento? Essas e muitas outras perguntas não paravam de pipocar nas rodas
das más línguas.
De outra parte, havia também
quem o aplaudisse e caçoasse do esposo traído; sobretudo nos bares, e depois de
algumas doses de cachaça.
Mas uma pergunta ficava
sempre incomodando: Quem seria esse Tithão? Em Arraial, cidadezinha do
interior, todos se conheciam. E ninguém jamais ouvira falar dele. Ao que
parecia, portanto, é que se tratava de um caboclo que habitava algum rincão desconhecido,
ou em cidade próxima.
Fosse como fosse, o
professor Amauri continuava lecionando, seus colegas de docência preferiam
fazerem-se de surdos, e o nono ano ficava cada vez mais chateado.
E como o desconforto só
aumentasse, seus alunos resolveram alertar o mestre para o perigo que corria,
pois quem garantiria que Tithão não quereria lavar a honra com sangue?
Para tanto, optaram por uma
investida direta, sem rodeios, em que a franqueza, aliada à sincera
preocupação, por certo abririam os seus olhos, fazendo com que desistisse da
tresloucada ousadia.
No entanto, caso resolvesse
ir adiante com o adultério, a decisão seria respeitada, e eles não insistiriam.
Mas procurariam outro nome para ser o paraninfo.
E quando o educador entrou
na sala para dar a última aula da semana, o porta-voz da classe levantou a mão
direita e pediu a palavra.
Amauri achou estranho,
sobretudo porque percebia, nos muitos rostos, que à estranhável mudez somava-se
uma angustiante expectativa. Mas deu licença para que falasse.
O garoto começou a dizer,
com voz receosa, que todos tinham ficado um
pouco desapontados com a recente novidade, uma vez que contar para a turma
que ficara espiando uma moça casada não seria a postura mais adequada para um
professor. De outra parte, garantiu que estavam muito preocupados com a sua
segurança, pois talvez o marido já soubesse dos afagos, e, se fosse violento, é
provável que quereria vingar-se. E finalizava questionando se esse arroubo
valeria mesmo à pena.
O mestre gargalhou. E de uma
forma tão espontânea que todos ficaram boquiabertos!
Mas antes que alguém
pensasse em retrucar, o docente foi dizendo que espiar ou sentir as carícias da
moça de Tithão nada tinha de reprovável ou de perigoso. E tanto isso era
verdade, que muito antes de ser ele o contemplado, pelo menos cinco dos seus
melhores amigos já se tinham inebriado quando a viram. E ficaram absolutamente
extasiados assim que ela os tocou!
Seria
difícil afirmar se o que acabara de dizer atenuava ou agravava a sua situação,
pois se era verdade que aos olhos dos estudantes a moça de Tithão deixava de
ser aquela criatura angelical que fora por ele seduzida, nem por isso essa
justificativa seria menos censurável que descabida.
A
classe permanecia em silêncio.
O educador sorria como se
nunca tivesse feito nada de errado.
E das faces dos adolescentes
partiam mensagens de tristeza, de desaprovação, e até de desprezo.
Percebendo
o “climão”, o professor Amauri subiu no tablado, virou-se para a turma, e disse
que, por não ser surdo nem cego, sabia, perfeitamente, do alvoroço que o seu
relacionamento com a moça de Tithão causara aos alunos, à escola e aos
cidadãos. E que se subestimara as consequências do seu ato, afirmava, porém,
que tal affaire nada tinha de
condenável.
E para que tudo fosse esclarecido,
para que a vida seguisse adiante em seu conhecido ramerrão, o educador fazia
questão de que falasse à classe o seu amigo Luís, quem de fato o apresentara
àquela divina moça.
O
burburinho foi inevitável. Ora, mas que atrevimento! que falta de vergonha
trazer para o aconchego da sala de aula um sujeito que servira de ponte à
satisfação da sua libido!
E
quando algumas garotas já se levantavam para irem reclamar ao diretor, o mestre
antecipou-se, retirou Os Lusíadas da
maleta, levantou-o acima da cabeça, e disse à voz firme: Eis o Luís!...
Todos
ficaram imóveis. E ninguém entendia patavina.
Amauri
pediu ao representante da classe que viesse para o seu lado e que lesse em voz
alta determinada estrofe do canto segundo.
Mesmo ressabiado, o garoto
foi até ele.
Ao abrir o épico, o docente
apontou os versos que ele deveria ler. E o advertiu quanto às dificuldades
impostas pelo português arcaico.
E ele os leria, mesmo que
tartamudeando:
Mas
affi como os raios efpalhados
Do
Sol forão no mundo e num momento
Apareceo
no rubido horizonte
Na
moça de Tithão a roxa fronte
O educador, então, explicou
que a moça de Tithão nada mais era do que a poética Aurora dos literatos –
aquela claridade que precede o nascer do sol –, sendo que Homero a representou
como de “róseos dedos”, tanto na Ilíada
como na Odisseia. Essa figura foi
repetida por Machado de Assis em várias de suas crônicas; em Tônio Kroeger, Thomas Mann só concordou
com a cor; e, em Primavera, Sigrid
Undset achou-a avermelhada. Por fim, o professor esclareceu que, à época de
Camões, usavam o adjetivo roxo para caracterizá-la, se bem que também
significasse vermelho, amarelo, dourado, e até loiro.
Depois desse singelo, mas
categórico esclarecimento, não se viam outras reações senão as que demonstravam
um desconcertante embaraço, entremeadas por silenciosos pedidos de
desculpas.
Para que o mal-estar fosse
dissipado, melhor seria que todos voltassem aos estudos. E para tanto, o mestre
usaria de um conhecido e eficaz expediente – na próxima aula, haveria prova oral.
Restaria, ainda, desfazer o
gigantesco mal-entendido perante o colégio e a comunidade.
Mas o professor Amauri
estava tranquilo, pois tinha a certeza de que seus pupilos não tardariam em
digitar nos celulares.
DESVIOS LINGUISTICOS E CONSTRANGIMENTOS AFINS
Por Samuel da Costa (Itajaí, SC)
Na luta inglória de manter a pureza na
nossa língua mãe luso-brasileira, eu fui às compras com o meu filho. E no
comércio local, lá fui eu ufano, munido com o meu glorioso nacionalismo
linguístico afro-tupiniquim, e eu levei uma senhora de uma surra. Em um fogo
amigo, no primeiro embate na primeira loja, diante da vendedora e dona da loja,
o meu guri me alertou que não queríamos camisas iradas e sim camisetas de
anime. Perdi a primeira batalha e é vida que segui.
Partimos para a segunda batalha, eu mais
pobre, o meu filho com roupas novas iradas e animadas, a dona da loja e a
vendedora felizes da vida. Fomos ao ‘’shopping popular’’, ou condomínio de
pequenas lojas e prestadores de serviços afins. Encarei o jovem de cabelos
longos, tatuado e com piercing na cara, pedi um rato e tive que repetir muitas
vezes: — Um rato meu Deus, eu quero comprar um rato, eu quero um rato! E depois
de constrangimentos tive que traduzir que queria um mouse. Meu filhote, que é
maior que eu, e o vendedor não esconderam seus sorrisos constrangedores. Mas
pelo menos trocamos a invasão linguística estrangeira anglo-saxã, e o mouse
virou um baita de um rato, um animal exótico vindo do velho mundo, com as
caravelas europeias em tempos idos. Um rato que muda de cores, produzido lá na
distante China vermelha, peça eletrônica feita para jogos eletrônicos de
computadores.
Termino aqui, depois dos
constrangimentos linguísticos, eu fui à forra, repaginei o combalido celular,
ou telefone móvel, do meu guri. O aparelho sai do condomínio comercial, de
película irada e um capa maneira. Então fomos para casa, eu sem um pouco dos
meus suados cobres, o meu guri com um telefone móvel repaginado, irado e
animado e o vendedor de eletrônicos feliz da vida com umas comissões a mais na
conta.
Samuel da Costa é cronista e funcionário público em Itajaí, Santa Catarina.
Contato:
samueldeitajai@yahoo.com.br
CORPOS EM QUEDA LIVRE
Por Clarisse Cristal (Balneário Camboriú, SC)
Para a poetisa Fabiane Braga Lima
‘’Beyond the stormy and wild seas...
You have sunflowers on your head dear’’
Samuel da Costa
Não vamos falar
De amor ou mesmo de sexo
Pelo menos não hoje
Nem agora
***
Vivo na sazonal cidade de muito sol
E verão cálido
E eu de férias eternas
Da vida
***
Mas não quero versar sobre
O amor e o sexo
Pelo menos não agora
Nem sobre perdidas paixões
À meia luz
***
Certo dia disse que tinha perdido
As chaves de papai
Na verdade, estava mesmo pensando
Em desesperados corpos
Em queda livre
***
Não vou falar
De etéreas paixões
E nem de cálidas
desejos
Pelo menos não agora!
Muito menos na lei do eterno retorno
Nem no amor fati
***
Espero mesmo partir em busca
Das perdidas chaves de papai
Para não pensar no puro tédio
Nem em imaginar nos quedos corpos
Que se deslocam no ar
Rumo ao chão
ÍNDIGO, CRISTAL E DIAMANTE?
Por Fabiane Braga Lima (Rio Claro, SP)
Os seres da Nova Era, vem com um
propósito mais elevados, que é quebrar e trazer novos paradigmas, a uma
sociedade doente, muita coisa vem mudando e de forma acelerada. Normalmente,
estes novos indivíduos, tem um temperamento forte, não aceitam mentiras e
falsidades, estão conectadas ao amor incondicional e a tudo que a ele abrange.
Nos dias de hoje, estes termos estão
mais em evidência, mas sempre existiram na história da humanidade, pessoas que
vinham mais despertas e conectadas ao mundo espiritual, com todas as
características dos índios, Cristal ou Diamante.
Os índigos, chegam em maior número a
partir da década de quarenta e setenta, a princípio são crianças como outras
quais queres, conforme foram crescendo os pais e elas mesmas perceberam algumas
peculiaridades. Mas como nada era falado sobre o assunto, muitos foram se
fechando e tentando se enquadrar dentro da sociedade, o que trouxe muito
sofrimento. Pois passaram a viver em uma mentira, abafar sua verdadeira
natureza, sentiram-se perdidos dentro de um sistema que não ressoava em nada em
seu coração.
A primeira pessoa a falar sobre o
assunto foi a parapsicóloga Nancy Ann Tappe, que tem o dom de ver a aura das
pessoas e começou a ver pessoas azuis índigo e a relacionar com um certo tipo
de comportamento. Em 1999 é lançado o livro Crianças Índigo de autoria dos
escritores Lee Carrol e Jan Tober. A partir daí o assunto passou a ser mais
conhecido e falado. Hoje temos vários livros que falam dos Índigo, Cristal e
Diamante.
Dentro da energia Índigo temos as
pessoas que nasceram e as que através de estudos e expansão da consciência se
elevaram a Índigo. Dentre as características, as mais marcantes são: Têm muita
intuição, são bem dotados, talentosos, criativos e ou muito inteligentes
Podem ter sido diagnosticados com
transtorno de Déficit de atenção e/ou com hiperatividade. São sonhadores e/ou
visionários talentosos, têm uma busca e ligação muito forte espiritual e/ou
habilidades paranormais.
Muitas vezes veem modos melhores de
fazer as coisas em casa, na escola ou no trabalho. Questionam o sistema, têm
dificuldade com disciplina e/ou autoridade
Os cristais são a evolução dos
Índigos, normalmente são filhos de Índigos. Chegam em maior número a partir do
ano 2000, hoje temos jovens e crianças que nascem com essa energia.
Temos também os adultos cristal, que
são os Índigos que através de uma maior evolução, se elevaram vibracionalmente
a essa energia. Dentre as características, as mais marcantes são: Amor
incondicional, por isso são mais amorosas e carinhosas. Forte ligação
espiritual, não se conectam ao medo.
São facilmente diagnosticados com
Autismo ou Síndrome de Asperger. Tem forte ligação as artes, ligação a natureza
e animais, alta energia de qualidade ainda mais sutil que a dos Índigo
Os Diamantes chegam a partir de 2012,
são crianças que são mais evoluídas que os Cristais. Estas pessoas estão em
todos os lugares, são de diversas raças e classes sociais, não havendo
distinção.
Claro que não só essas
características que possuem, falei de algumas. Quem se identifica com o texto,
busque mais, se informe, é muito importante conhecer para poder saber quem são
e como são os Seres da Nova Era.
Independentemente de serem ou não
diferentes, são seres humanos e precisam de tudo o que todos precisam, amor,
carinho, direcionamentos e limites amorosos
Aqui cabe uma
digressão particular, muito minha, então vamos conhecer a história: Mãos que
sangram. No sobrado ao lado de minha casa, sempre escutava gritos, era um casal
discutindo perto de seus filhos. A esposa, estava em uma cadeira de rodas, com
as pernas amputadas, devido a um acidente de serviço.
Da janela de minha casa pude notar,
assim que seu esposo saia, puxava sua cadeira de rodas pela rua e entrava na
casa de uma senhora. E seus filhos ficavam sozinhos por um bom tempo, como se
bastasse, não frequentavam escola, o pai não os deixavam estudar.
Assim, fiquei sabendo. Cheguei até
ela, e perguntei-lhe: — Porque deixa seus filhos sozinhos em casa? Assustada
foi embora.
Certo dia, fiquei sabendo que aquela
senhora, era uma professora aposentada, foi então, que descobri que estava
estudando, e infelizmente as discussões com seu esposo não cessaram.
Era um homem rígido de pouco caráter!
Podia ouvir seus gritos pelo quarteirão com sua esposa, que se encontrava numa
cadeira de rodas, e não conseguia se defender. Descobri que ela estava tendo
aulas com aquela senhora, na qual era uma professora, para que depois pudesse
ensinar seus filhos.
Quanto à mulher, suas mãos sangravam,
pois, a cadeira de rodas era antiga. Mas existia tanto amor, naquela mulher
muito especial, e seus filhos estavam praticamente alfabetizados e logo, logo
frequentaram a escola como toda criança.
E, ali estava uma guerreira, que
nunca se deixou levar pela estupidez do esposo, que mesmo com suas mãos
ensanguentadas, era dona de uma alma serena. Nada impediu aquela mãe de
alfabetizar os filhos, nem mesmo suas pernas amputadas.
Um ano depois, fiquei sabendo que
seus filhos, estavam estudando e vivendo como toda criança merece, dignidade
Quanto ao homem (eu esposo) deixou a família e a esposa em uma cadeira de
rodas. Debilitada e com filhos ainda pequenos, pois ele nunca quis aceitar a
verdade. Toda criança merece um estudo adequado!
Fabiane Braga Lima, poetisa e contista em Rio Claro, São Paulo
Contato: bragalimafabiane@gmail.com
A VIDA TEM DESSAS COISAS
Por Clarisse da Costa (Biguaçu, SC)
Quando descobrimos que
Estar junto não é tão fácil assim,
Amar pode ser doloroso,
Os filmes românticos
Já não são mais os mesmos
E a primavera bate à porta
Depois de um inverno solitário.
Aí que aprendemos que
A vida tem dessas coisas.
No rádio a canção de Raimundo Fagner.
Na televisão o filme Meu Primeiro Amor.
Na gaveta o livro
"Como Eu Era Antes de Você".
Na janela a borboleta toda perdida.
Esqueceu-se por onde entrou,
Até parece nós seres humanos
Com as nossas indecisões.
E a gente pode até errar muitas vezes.
Mas será que vale a pena errar
Amando a mesma pessoa?
Clarisse da Costa é cronista e poetisa em Biguaçu,
Santa Catarina.
Contato: clarissedacosta81@gmail.com
ENTRE FILMES E A REALIDADE
Por Clarisse da Costa (Biguaçu, SC)
A gente bem sabe
Que o coração bate muito forte
Com a trilha sonora dos filmes.
Algumas nos contam histórias,
Trazem memórias
E nos fazem pensar.
Ah se tudo fosse como
Um filme qualquer de romance,
Com um tom de comédia
E o amor fosse o mais leve,
Os sorrisos toscos,
No entanto, de gente feliz!
Talvez teríamos respostas
Para alguns desamores vividos.
Ou a vida fosse ser
Um pouco mais leve.
Mas não podemos fugir da realidade,
Filmes são como um mundo de fantasias
E nós não somos personagens
Criados de uma história.
Clarisse da Costa é cronista e poetisa em Biguaçu, SC.
Contato:
clarissedacosta81@gmail.com
COTIDIANO: NÃO HÁ AMOR AQUI
Por Fabiane Braga Lima (Rio Claro, SP)
Um teclado voraz, uma boca faminta e tantas facilidades velozes para muitas
pessoas, com tantas palavras fluidas falarem de amor, mas tão poucas destas
palavras, sangram, poucas tem vísceras, poucas demonstram um sentir de verdade.
Palavras imensas, porém nada intensas, meias palavras, dizendo meias verdades,
expressando meios sentimentos vagos, sobre uma metade que busca satisfazer-se
buscando outra metade.
Não há amor nisto, o amor está em quem é inteiro,
de palavras inteiras, sentimentos inteiros a transbordar verdades inteiras,
buscando outra pessoa também inteira. E esse outro inteiro, transborda um viver
que se choca com as expectativas do nosso próprio ser inteiro. Um confronto de
realidades diferentes, obstáculos que parecem intransponíveis que as duas
verdades inteiras se completam e perpassam juntas pontes intransponíveis.
São muitas palavras de amor, enchendo os livros, as
redes sociais, os ouvidos do mundo todo. Palavras dizendo meias palavras,
palavras dizendo nadas, ocas rimas ecoando nos vazios no vácuo, palavras saídas
de inflados egos querendo carícias e não dar amor.
Iludidos e iludidas por horóscopos poéticos de
autoajuda barata que não sabem outra coisa, que não afagar egos inflados.
Palavras fugazes, que falam de um amor perfeitinho, um amor mais que perfeito.
Palavras nefastas, que não precisa lutar, que não precisa ceder, que não
precisa se ajustar. São amores que querem moldar o outro, submeter, esculpir de
acordo com um molde que afague seus próprios egos e preencham suas expectativas.
São palavras fósseis e palavras fáceis e aos montes, mas quase nada de amores
vívidos e vividos em suas plenitudes reais. São palavras de amores vãos, que
quando se vão, logo são superados e substituídos, sem maiores perdas e danos,
ou seja amores mentirosos e falsos, que nunca foram o que juravam com muitas
palavras bonitas serem.
Quase nada de palavras que falam como é difícil, o quanto se exige de si mesmo
para manter um amor vivo, e quando não é possível isto, é este amor se vai,
nada é superado com facilidade. Exige-se muito de si mesmo, para juntar se os
muitos mil pedaços que sobraram, quando aos pedaços, se conclui que o amor é
renúncias e não exigências. Que amor é liberdade e não posse, que amor é dar e
não receber, que amor na plenitude, só o é, só o vive, quando o outro também é
se amar, então há reciprocidades.
Amor não é molhar os pés antes de entrar na água, depois ir entrando devagar,
isto é medo. Amor é mergulhar com tudo de cabeça, porém de olhos abertos, para
evitar chocar a cabeça em alguma pedra cada vez que chegar ao fundo,
Amor é se sentir como criança, se entregar como um adolescente, e tratar as
dificuldades, as responsabilidades, os obstáculos como adulto. Amor nunca foi a
vida de um glorioso mar de rosas frescas e sim momentos em um glorioso mar de
rosas. E durante uma vida inteira, que não será perfeita, que enfrentará
dificuldades, dores, incompatibilidades, desajustes. E quem ama de verdade, vai
ceder, vai se ajustar, vai lutar, pois os momentos de mar de rosas durante esse
processo, valem a pena, não há perfeição.
Quem não puder conviver com isto, não está pronto para o amor, muitos falam de
amor, mas poucos se habilitam à dizer que o amor não tem nada de poético, muito
menos de romântico, amor, é investir, lutar, insistir, ceder, ajustar, viver em
plenitude Amor não é palavra, é atitudes. Nada do que dizem.
Texto de Fabiane Braga Lima, contista e cronista em Rio Claro, São Paulo.
Contato:
bragalimafabiane@gmail.com
CRÔNICA CORAÇÃO BOBO
Por Clarisse da Costa (Biguaçu, SC)
Duas histórias completamente diferentes, mas ambas com um ponto em comum, o amor. Ele,
um escritor promissor, tão jovem, nada parecido com o personagem Romeu do famoso romance que conhecemos. Ela uma
jovem atraente, porém nada romântica, seu nome é Julieta, mas o conceito de
princesa não faz parte da sua personalidade. Aliás, nenhuma mulher precisa
desse rótulo.
Ela na sua cama, acariciada por ele em pleno sono, o chama de
Júlio, mas seu nome é Roberto. O que prova que os seus pensamentos estavam em
outra pessoa. Ele por inteiro, ela pela metade.
O outro caso é um senhor extremamente romântico e
completamente sozinho. Vive remoendo lembranças de um amor antigo, atropelado
pela morte. Entretanto busca alguém para estar do seu lado, ao menos um pouco
de carinho. Como podemos ver cada pessoa precisa uma da outra. O ser humano
ainda não aprendeu a viver sozinho.
O senhorzinho se chama Lourenço, um nome um pouco incomum
para quem nasceu no Brasil. Ele bebe uma taça de vinho, ouve discos antigos na
sua vitrola e escreve versinhos como quem escreve para um grande amor.
O coração é mesmo bobo, sempre encontra motivos para amar.
Lourenço outro dia conheceu uma jovem mulher de cabelos
curtos e muito sorridente. Esse seu jeito alegre tinha lhe chamado a atenção.
Ela conversando com ele tomando uma dose de vinho num bar, disse para ele que o
seu tempo passou. Ele a respondeu dizendo:
- O coração não
envelhece quando existe amor. Eu sou um jovem amante, a idade que eu tenho não
me diz que o tempo passou e nem faz de mim um homem fraco.
Clarisse da Costa é cronista e poetisa em Biguaçu, Santa
Catarina.
Contato: clarissedacosta81@gmail.com
CLARISSE CRISTAL EM DIAS DE SOL E CALOR
Por Samuel da Costa (Itajaí, SC)
Fui eu que deixei...
A cinza das horas...
Levar o meu platônico
amor!
Por ti.
Minha divina Luna!
Alguma coisa eclodiu no âmago, mais
que profundo, de Clarisse Cristal naquela hora extrema. A bibliotecária olhava
nos olhos de Anna Victória, com voracidade extrema, com uma profundidade
abissal para a obtusa colega de trabalho, ela parada a poucos centímetros da
bibliotecária. Foi como um turbilhão de sentimentos e sensações contraditórias,
que em chamas, eclodiram no jovem corpo de mulher e também na mente da
entediada Clarisse Cristal.
Os olhos azuis piscina, os longos cabelos
trigal soltos, que caem até os ombros, emoldurava o rosto de porcelana, o batom
vermelho cereja nos lábios carnudos, os pequenos brincos animal e azul turquesa,
o pequeno, cintilante e delicado piercing, com a sua delicada joia cor-de-rosa
encravada no nariz, pareciam fazer sentido, somente naquele momento, para
desesperada Clarisse Cristal. Até mesmo a voz arrastada e enfadonha dela,
transmutou-se, mais que de repente, em um bel canto da mais bela e mística
Kianda.
E em um ato desesperado, em um
rompante a jovem bibliotecária Clarisse Cristal tomou Anna Victória pelos
braços e lhe deu um beijo ardente na boca. A estupefata Anna Victória foi
apanhada em meio a turbilhões de sentimentos contraditórios. Anna Victória
pensou primeiro, nas duas câmeras postadas, nos cantos superiores da sala, que
estavam retransmitindo em tempo real e gravando a cena toda em alta definição.
E na possibilidade de alguém estar assistindo o que ocorria ali ou ver as
imagens arquivadas no disco rígido e mais tarde, caírem na rede mundial de
computadores, ou mesmo alguém aparecer a qualquer momento exato. E na
possibilidade de o namorado ficar sabendo do ocorrido, de uma forma ou de
outra. Nas famílias de ambas, que eram bem próximas, nos colegas de trabalho e
por fim na outra que a beijava com tanto ardor e a tomava pelos braços de forma
vulcânica. Logo ela, que Anna Victória pensava conhecer tão bem.
E por fim nela mesma e na própria
sexualidade, pois ela, Anna Victória, que retribuía faminta não somente o beijo
lascivo, mas também os toques da outra.
Texto
de Samuel da Costa, contista e novelista em Itajaí, Santa Catarina.
Contato:
samueldeitajai@yahoo.com.br
AVES PALAVRAS
Por Clarisse Cristal (Balneário Camboriú, SC)
Para a poetisa Fabiane Braga Lima
Das
tuas verves emplumadas
Que
cultivastes
Com
extremos afincos
Nas
cósmicas vastidões astrais
Do teu
supra-real vergel encantado
Estão
sempre suspensas no ar
***
Negras
Aves Palavras
Cristalinas
e Sintécticas
Álgidas
Palavras Emplumadas
Instáveis
e Velozes
Perdidas
e Voláteis
Vorazes
e Sequazes
***
Ebúrneas
alviarianas
Hialinas aves palavras
Condoerias
que flanam velozes
Tristonhas
e zombeteiras
Eviternas
e Fugazes.
Sampleadas e sufocadas
Lânguidas
palavras flanando
Perdidamente
nos teus estribilhos
Clarisse
Cristal é poetisa e contista em Balneário Camboriú, Santa Catarina.
ASSIMETRIAS DESCONFORMES
Por Clarisse Cristal (Balneário Camboriú, SC)
Para a poetisa Fabiane Braga Lima
‘’Mas, quem são as outras pessoas afinal de contas?
Nada! São simplesmente nada mais para o além
De nanopartículas etéreas, alheias a nós mesmos,
Gravitando cegamente e perdidamente,
Nas nossas subsistências,
Pós-modernas, liquefeitas e vazias...’’
Adérito Muteia
Em desconformidades
Com o tempo presente
Componho os meus notívagos
E sonolentos textos pós-modernos
Na enferrujada
máquina de escrever
***
Em desalinho completo
Com o tempo em que vivo
Tenho o hábito de andar sozinha
Em florias violetas horas soturnas
***
Em desacordo absoluto
Com a pós-modernidade fluída
Peguei emprestada
A velha máquina de escrever
De papai, sem ele o
saber
E onde escrevo
A minha imagética
verve maldita
***
Em desequilíbrio completo
Do meio social em que vivencio
Não vou mais fazer a Gestalt-terapia
Demiti o meu teuto analista
***
Em discordância de onde convivo
Vou percorrer a orla oceânica
Em plena luz do dia
Com a minhas vestes negras
Eu a naufragada monárquica
Desterrada que sou
Clarisse Cristal é poetisa e bibliotecária em Balneário
Camboriú, Santa Catarina.