Por Vânia Moreira Diniz (Brasília, DF)
Revista literária virtual de divulgação de escritores, poetas e amantes das letras e artes. Editor: Paccelli José Maracci Zahler Todas as opiniões aqui expressas são de responsabilidade dos autores. Aceitam-se colaborações. Contato: cerrado.cultural@gmail.com
quarta-feira, 1 de janeiro de 2020
SORRATEIRO
Por Pedro Du Bois (Balneário Camboriú, SC)
sorrateiro o animal se afasta
deixa suas marcas
decalcadas
no chão que piso
e minha graça
esconde os cheiros
do animal caçado
sorrateiro o animal se esconde
deixa suas marcas
impressas
nas paredes que me abrigam
e minha graça
transcende os cheiros
do animal que se destaca.
A SEMEADORA DE SONHOS
Por Samuel da Costa (SC)
Para Luana Santos de Oliveira
Vai sonhadora
Irromper a realidade fluída
Vai cultivar o teu nectáreo vergel
Fazer dos céus
O teu celestial jardim
***
Vai excela sonhadora
De ebano
Semeia e semeia
Sorrisos
Sonhos
Esperanças e abraços
***
Vai ancestral sonhadora
Irromper a realidade opaca
Em que vives
Despertar os efebos
Os mirins
Vai dulcíssima sonhadora
Vai cultivar com muito
Esmero
O cósmico vergel
Entre os astros fazer dos céus
O teu celeste jardim
Irromper a realidade fluída
Vai cultivar o teu nectáreo vergel
Fazer dos céus
O teu celestial jardim
***
Vai excela sonhadora
De ebano
Semeia e semeia
Sorrisos
Sonhos
Esperanças e abraços
***
Vai ancestral sonhadora
Irromper a realidade opaca
Em que vives
Despertar os efebos
Os mirins
Vai dulcíssima sonhadora
Vai cultivar com muito
Esmero
O cósmico vergel
Entre os astros fazer dos céus
O teu celeste jardim
Samuel da Costa é poeta em Itajaí, SC
UM SUL-FRÁGIL UNIVERSAL
Por Samuel da Costa (SC)
Para Luana Santos de Oliveira
Agora é tarde demais
Para aplacarem
As chamas que queimam
Nas nossas mãos
***
Agora é tarde demais
Pois um sul-frágil universal
Nos negar as nossas
Negras existências
***
Já passou da hora
De começarmos
As nossas rebeliões
Os nossos motins
***
Agora é tarde demais
Para eles apagarem por completo
As eternas chamas consumidoras
Que ardem nas nossas
Sibilinas mãos
***
Passou da hora
De trespassarmos os múlti-plos
Silêncios que recaem
Sobre nós
Samuel da Costa é poeta
em Itajaí, SC
Contato:
samueldeitajai@yahoo.com.br
AFINAL! O QUE QUER?
Por Fabiane Braga Lima (SP)
Sim, é amor, vontade de querer
Sempre e sempre estarei com você.
Prometo que nunca irei te
esquecer...
***
Mas, prometa que perto, sempre
estará?
Mesmo que não possa
reconhecê-lo..
***
Apenas prometa?!
O resto você decide o que fazer..
Pois, eu já cansei de tanto
sofrer,
Já não quero depender de você..
***
Enfim,
Quero me refazer e amadurecer!
Agora chega! Ou irei me despedir
de você..
Cansei de meio termo, apenas me
Ama!
Não sou inimiga!
Pare com tantos porquês!?
Só assim, serei sua, somente sua!
Esse vulcão entrará em erupção,
prova p'ra ver,
Meu poeta do Amor
Fabiane Braga Lima é poetisa em Rio Claro, SP
Contato:
bragalimafabiane@gmail.com
A ESCRAVIDÃO E SEUS TERMOS PEJORATIVOS
Por Clarisse da Costa (SC)
A escravidão acabou no papel, mas ainda somos escravos de muitas coisas que ela deixou. Em pleno século XXI muitos negros desconhecem a sua história e alguns termos pejorativos. Cansada de ver negros se depreciando quero esclarecer algumas coisas aqui nesse artigo. A palavra mulata vem do masculino da palavra mulato, esse mesmo é o pejorativo de mula. Esse termo é de origem espanhola.
Mula ou mulo é um animal híbrido. Híbrido é o resultado do cruzamento de um cavalo com jumenta, ou do jumento com a égua. Essas palavras foram usadas de formas pejorativas no período escravocrata para os filhos mestiço das escravas que deitaram com os seus senhores brancos e tiveram os filhos deles.
Com esse contexto histórico o termo mulato ou a feminina mulata não deveria fazer mais parte do nosso palavreado do cotidiano. Mas o contexto é um tanto complexo. O IBGE define o termo como pessoas com uma mistura de cores de pele. O que seria descendentes de brancos e negros. Sendo essa miscigenação mulata.
Mas qual é a cor da miscigenação mulata? Não tem uma cor determinada, mas por causa da miscigenação muitas pessoas consideram como regra o discurso do ser ‘’moreno’’. Contando com outros eufemismos para adaptar-se uma cor de pele que não é branca. Para ficar bem claro, eufemismo é uma figura de linguagem na língua portuguesa.
Clarisse da Costa é cronista e
poetisa em Biguaçu SC
Contato:
clarissedacosta81@gmail.com
LÁGRIMAS DE UM POETA
Por Fabiane Braga Lima (SP)
O verdadeiro Poeta sabe Amar.
Nunca irei massacrar minh’Alma
poética
Nunca falarei com rancor sobre
poesias
Carrego comigo Alma poética
Jamais deixarei de versejar Amor
Posso Amar, sonhar é usar
palavras
Sei flutuar sobre as dádivas do
Amor
Sei Amar as flores, pássaros e
borboletas
Rasgo o meu coração de sangrar
Sou Poeta!
Carrego fardo por ser poeta….
Preciso mostrar alegria onde há
tristezas
O sonho do poeta é Amar...
‘Amo com Alma porque entrego-me’
Minha Alma é intensa, de
verdadeiro poeta.
Sei Amar, eu sou poeta...
Fabiane Braga Lima é poetisa em
Rio Claro, SP
Contato:
bragalimafabiane@gmail.com
SEM LUTAR
Por Clarisse da Costa (SC)
Somos moradas daquilo que
guardamos.
Tão jovem
E ao mesmo tempo velho
Guardou a chance de fazer algo;
Ele parou no tempo
Enquanto o tempo do mundo se
renova
Todos os dias.
O sofá ficava ali sempre a sua
espera;
Nem podia sequer reclamar
De alguma coisa,
Não lutou não sonhou não
idealizou;
O sistema tomou conta da sua vida
E este homem se deixou
Acomodar-se pelo sistema;
As flores do seu quintal eram
O reflexo de si mesmo,
Uma beleza seca
Que morre lentamente
E quando vemos não existe mais
flor;
Não existe mais vida.
Passou a primavera
E o homem nem amou de verdade
Não sentiu o perfume da mulher,
Ou sequer sorriu para a sua
vitória;
No inverno não teve razões para
abraçar
E ser abraçado.
Era um homem negro
Largado
Desempregado
Um morto vivo em suas indefinições!
Clarisse
da Costa é poetisa em Biguaçu SC
Contato:
clarissedacosta81@gmail.com
CRISTO PRETO
Por Clarisse da Costa (SC)
O
meu Cristo é preto
Açoitado na cruz
Pela sociedade desumana;
Amando há todos
Na sua igualdade e respeito
Sem raça sem cor sem etnia;
Apenas sendo amor que acolhe
Na sua sabedoria de amar;
Nos seus olhos têm
O brilho da esperança
De Zumbi
Por uma liberdade justa;
Na sua voz
Entoa
O canto de Dandara
Em oração e luta
Pelos seus irmãos;
Rompe as correntes da submissão
E dá voz aos excluídos
Atados
Por uma democracia desigual!
Açoitado na cruz
Pela sociedade desumana;
Amando há todos
Na sua igualdade e respeito
Sem raça sem cor sem etnia;
Apenas sendo amor que acolhe
Na sua sabedoria de amar;
Nos seus olhos têm
O brilho da esperança
De Zumbi
Por uma liberdade justa;
Na sua voz
Entoa
O canto de Dandara
Em oração e luta
Pelos seus irmãos;
Rompe as correntes da submissão
E dá voz aos excluídos
Atados
Por uma democracia desigual!
Clarisse da Costa é poetisa em Biguaçu SC
Contato: clarissedacosta81@gmail.com
DORMEM PROFUNDAMENTE
Por Clarisse da Costa (SC)
Se
soubesses que até
Os meus desejos dormem
Que eu não sinto mais
A pele se arrepiar;
Que o único cheiro
Que eu senti
Foi da rosa que
Morreu alguns dias atrás;
E eu amei
Idealizei
Acreditei
Que fosse possível;
Mas amor sem destino
É apenas amor;
Hoje ele morre
E se me perguntares onde está
Não saberei te responder
Como eu já lhe disse
É sem destino.
Os meus desejos dormem
Que eu não sinto mais
A pele se arrepiar;
Que o único cheiro
Que eu senti
Foi da rosa que
Morreu alguns dias atrás;
E eu amei
Idealizei
Acreditei
Que fosse possível;
Mas amor sem destino
É apenas amor;
Hoje ele morre
E se me perguntares onde está
Não saberei te responder
Como eu já lhe disse
É sem destino.
Clarisse
da Costa é poetisa em Biguaçu SC
Contato:
clarissedacosta81@gmail.com
ATERRISSEI COMO UMA ESTRELA
Por Urda Alice Klueger (SC)
Estrela de cinco pontas, diga-se
de passagem: joelhos, cotovelos e o queixo. Vinha com Atahualpa, mais Maria
Antônia e seu cachorrinho Lucas, proveniente da casa da minha amiga Sheila, na
Servidão Basilissa (que não tem calçamento), toda feliz da vida. Atahualpa
recém chegara do banho e tosa, prontinho para o Natal, com estrelinhas azuis na
testa, e eu e ele corríamos juntos e pulávamos juntos, e foi numa dessas
subidas que a minha sandália resvalou numa pedrinha... e eu fiz a aterrissagem
de estrela! Só lembro que, naquele minúsculo pedacinho de segundo, enquanto
caía, ter pensado que deveria defender os meus sagrados óculos – o que resultou
no grande impacto no queixo.
Fiquei estatelada, tentando me
normalizar, cuidando para ver se os óculos tinham sobrevivido – Maria Antônia,
que me acudia, afinal pegou os meus óculos, e eu fui revivendo, mexendo as
pernas, os braços, e afinal, a cabeça, que se levantou o suficiente para eu
cuspir o sangue.
Era tanto arranhão cheio de areia
e tanto sangue, e eu estava tão feliz por estar consciente e estar me
levantando, sem nenhum osso quebrado, que fui dizendo à minha solícita amiga:
- Deixa... deixa... é melhor eu ir
para casa tomar um banho e pôr vinagre na boca (vinagre estanca o sangue).
Acabei vindo e ainda fiz o
essencial: alimentar os Mal Diagramados, quer dizer, cachorros e gatos,
inclusive os da rua, dar remédio para o Atahualpa, tirar do carro as compras
que precisavam ir para a geladeira, tudo com vinagre na boca – até que afinal
tomei o banho e vim me deitar. Foi então que comecei a lembrar dos detalhes e a
achar engraçado. Agora, três horas depois, meu queixo começa a inchar que é uma
beleza, e penso que ficarei com a cara roxa, fora as muitas dores pelo corpo,
coisa natural depois de um tombo assim. Estou cuidando para não tomar nenhum
analgésico por mais algumas horas, para não mascarar algum possível machucado
do qual não me dei conta ainda. Maria Antônia está lá de prontidão na casa
dela, para alguma emergência. O que mais me preocupa é que decerto vou perder o
aniversário da minha amiga Marlene de Fáveri, daqui a dois dias. Ela irá
entender. Afinal, apesar daquela aterrissagem estelar (e espetacular), ela tem
uma amiga que, aos 67 anos, ainda consegue pular e correr com seu cachorrinho
de estimação como se o tempo não houvesse passado!
(Acho bom avisar aos amigos para
não telefonar, pois está um pouco complicado falar.)
Voilá!
Urda Alice Klueger
Escritora, historiadora
e doutora em Geografia
Sertão da Enseada de
Brito, 11 de dezembro de 2019.
PAPAI NOEL EXISTE?
Por Urda Alice Klueger (SC)
Em 1960, eu havia
entrado para a escola, a maravilhosa escola que abrir-me-ia as portas para o
grande mundo que havia nos livros e, onde, coleguinhas mais sabidos do que eu,
ensinaram-me que Papai Noel não existia. Eu encarei com força aquele desvendar
de uma nova verdade e, conforme o Natal se aproximava, ficava em casa repetindo
impertinentemente:
- Papai Noel não
existe! Papai Noel não existe!
Minha irmã Margaret,
então, tinha quatro anos, e é claro que minha mãe queria que ela continuasse a
acreditar em Papai Noel. Quando eu começava com aquela cantilena boba, minha
mãe pedia para que eu parasse, e depois implorava, e depois me ameaçava, mas eu
não dava um passo atrás na reafirmação da nova verdade que descobria: Papai
Noel não existia, e eu queria que todos soubessem que eu sabia disso.
Meu pai e minha mãe,
com certeza, estavam bem de saco cheio comigo e aprontaram a sua cena de Natal.
Na noite de Natal,
noite em que nós costumávamos achar muitos chocolates e presentes sob a árvore,
jantamos com toda aquela ansiedade que as crianças têm na Noite de Natal,
ansiosas por chegar a hora das surpresas. Depois do jantar, minha mãe lavou a
louça com toda a calma, como em qualquer dia comum. Depois, abriu as latas de
doces-de-Natal e encheu alguns pratos com eles. Com mais calma ainda, levou os
doces para baixo da árvore-de-Natal e os colocou lá, enquanto meu pai acendia
as velas do pinheirinho. Ai sentaram-se a conversar, como em qualquer dia
comum, e nesse ponto eu já estava explodindo. Minha ansiedade era tão grande
que não resisti:
- E o Natal?
- Ora, nós estamos
festejando o Natal! A árvore já está acesa, já temos os doces que fizemos...
- E os chocolates? E os
presentes?
- Ah! Isto são coisa
que o Papai Noel traz! Como Papai Noel não existe, como é que ele vai trazer
tais coisas?
Se alguma vez senti
frustração na vida, foi naquele momento. Onde estava o meu Natal? Onde estava o
encanto dos pralinés recheados de rum, e as bonecas e os lápis-de-cor novos, e
as garrafas de frisantes que se tomavam naquela noite? Onde estava a magia dos
Natais anteriores? Onde estava aquela ânsia na alma, que nos outros anos havia
me preenchido de alegria? Intensamente frustrada, eu creio que já estava a
ponto de chorar, quando aconteceu o milagre: nossa casa passou a ressoar com
grandes pancadas nas suas paredes de madeira, enquanto todos pulavam de susto e
diziam:
- É o Papai Noel! É o
Papai Noel!
Meu pai apressou-se a
abrir a porta e, curvado sob um grande saco, Papai Noel de verdade entrou lá em
casa. Naqueles idos, Papai Noel não se vestia de vermelho, como hoje; usava uma
bizarra roupa feita de sacos de estopa e, à guisa de barba, tinha a pele de
algum animal pequeno, com certeza caçado pela vizinhança, preso sob o queixo.
Nenhuma criança de hoje levaria à sério aquele Papai Noel, mas eu levei, meu
Deus, como levei! Voltara a acreditar nele imediatamente, nem me passava mais
pela cabeça a outra certeza, e quando ele nos fez as tradicionais perguntas,
tipo se obedecêramos à mãe durante o ano, fui eu quem respondeu com mais
convicção. Ele era um Papai Noel exigente, mandou que nos ajoelhássemos e
rezássemos uma Ave Maria e um Pai Nosso, e rezei com o maior fervor da minha
vida até então. Foi embora, então, deixando-nos um saco pejado de guloseimas e
presentes, e lá estavam os pralinés, as bonecas, os cadernos com cheiro de
novo, as caixas de lápis-de-cor com 24 lápis, os joguinhos, as loucinhas para
brincar de boneca. Tudo tinha ficado lindo, toda a magia voltara e, com
certeza, eu era a criança mais feliz do mundo quando meu pai me deixou beber um
pouquinho de frisante. (Hoje, não existe mais frisante. Fico pensando o que era
aquela bebida de gosto tão bom. Talvez, seja o que hoje chamamos de cidra.)
Até hoje eu não sei
quem foi o vizinho que se vestiu de estopa naquela Natal de 1960, e trouxe para
mim a alegria de volta. Só sei que, a partir daí, por muitos anos ainda eu
acreditei em Papai Noel.
Blumenau, 01 de
Dezembro de 1996.
Urda Alice Klueger
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