sexta-feira, 1 de dezembro de 2023

Podcast: Biblioteca Pública de Bagé, RS (90 anos)

HOMENAGEM POÉTICA AOS 90 ANOS DA BIBLIOTECA PÚBLICA DE BAGÉ, RS

MEMÓRIAS PÓSTUMAS DE BRÁS CUBAS (EM HAICAI)

 Por Leandro Bertoldo Silva (Padre Paraíso, MG)

Capítulos VII a X 



BRINDANDO ARCO-ÍRIS

Por Márcia Etelli Coelho (São Paulo, SP)




Sobre a autora:

Márcia Etelli Coelho é médica e escritora. Pertence à Academia Brasileira de Médicos Escritores -ABRAMES, Academia Cristã de Letras - ACL, Sociedade Brasileira de Médicos Escritores - Regional São Paulo, Associação de Jornalista e Escritores do Brasil, Movimento Poético Nacional, e União Brasileira de Escritores.

 

AINDA EÇA...

Por Humberto Pinho da Silva (Porto, Portugal)

  

A transladação dos restos mortais do escritor para o Panteão Nacional, fez correr muita tinta, que envolveu, descendentes do romancista, respeitáveis intelectuais e políticos.

O caso chegou ao Supremo Tribunal Administrativo, que acabou de dar razão a Afonso Reis Cabral, trineto de Eça e Presidente da Fundação Eça de Queirós.

Mesmo contra a vontade de alguns descendentes, que tudo fizeram para o impedir – houve até quem duvidasse que o antepassado gostasse de estar em companhia desses ilustres cidadãos... – e da boa gente de Baião, habituada à "presença" do escritor, no Cemitério de Stª. Cruz do Douro, o tribunal sentenciou a favor da Fundação Eça de Queiroz.

O maior estilista da língua portuguesa deixou, portanto, de ser " pertença" exclusiva da família e dos baionenses, para ser de todos os portugueses.

Homenagem justíssima, já que seus contemporâneos não souberam ou não quiseram prestar-lhe, após o falecimento, as honras de que era merecedor.

Como não se pode, talvez nem se queira, levar Camilo para o Panteão Nacional, parece-me de inteira justiça erguer, como se fez com Aristides de Sousa Mendes, no Panteão, cenotáfio de homenagem a Camilo Castelo Branco. Era gesto de louvar e prova que o romancista não está esquecido.

Durante as cerimónias fúnebres de Camilo, Guerra Junqueiro sugeriu – que devia ser sepultado nos Jerónimos e fosse decretado luto nacional.

E no Parlamento, Alberto Pimentel, propôs que ficasse registado em ata – " Um voto de profundo sentimento pela morte do iminente escritor, Visconde de Correia Botelho, Camilo Castelo Branco, glória da literatura nacional".

Infelizmente essas vozes amigas foram em vão. Camilo: " O Primeiro Romancista da Península", como se dizia, ou: " O Príncipe dos Escritores", como afirmou Reis Santos, na oração fúnebre, permanece, quase esquecido, no jazigo de amigo, no Cemitério da Lapa, no Porto.

A concluir, julgo oportuno levar ao conhecimento do leitores, o parecer do conceituado filólogo, fundador da " Sociedade da Língua Portuguesa", Vasco Botelho de Amaral, no:" Glossário Critico", sobre Camilo:

(...) A linguagem de Camilo é riquíssima de valores expressivos (...) Em todas as páginas revela o Mestre, o diligente estudo a que se consagrou, auscultando os dizeres das bocas populares e investigando nos clássicos documentos ignorados, mas inestimáveis riquezas idiomáticas. Junte-se a isto o extraordinário génio verbal e estilístico do escritor, e como resultado se nos apresentará a admirável vernaculidade da linguagem de Camilo".

O NATAL QUE PASSEI COM O AVÔ ALBERTO

Por Humberto Pinho da Silva (Porto, Portugal)

  

O avô de minha mulher, chegou ao Brasil, no início do século XX.

Era jovem e cheio de ambições. Estreara-se no jornalismo, em Portugal, num jornalzinho de bairro: “O Garnisé”.

Como o primo fosse editor de semanário de inspiração monarquista, passou a colaborar nele, mantendo coluna, que assinava com o pseudónimo de: Urbano”.

A razão de não usar seu nome nas crónicas, é simples de explicar: o jornal pertencia a movimento monárquico, e ele era republicano, de sete costados.

Seria? Creio que era apenas um jovem, apaixonado pelas “Letras”; o que queria, era escrever…

Empregou-se, no Brasil, no escritório de fábrica de produto alimentício.

Como colaboradora, tinha a filha do proprietário. Uma jovem bonita e simples. A idade; o convívio; o facto da mãe de ambos, terem sido amigas, na infância, tornaram-se íntimos.

Dessa amizade, resultou o casamento.

Numa das minhas estadias, a São Paulo – em véspera de Natal, – encontrei-o no jardim da sua bela casa de Alto de Pinheiros, junto ao canteiro dos junquilhos. Seus cabelos brancos lampejavam, batidos pelo sol morno da manhã.

Conversamos sobre a economia do seu querido Portugal.

De repente, encarando-me com os seus belos olhos verdes – verdes como formosas esmeraldas, – encrustados no rosto moreno, queimado pelo Sol, disse-me que ia revelar-me um segredo, que há muito vivia com ele; quiçá, pensando na minha condição de rapaz pobre:

- “Sabe por que deixei de passar a Noite de Consoada com meus cunhados?”

Aguardei a resposta. Certamente não esperava que lha desse:

- “No início de casado continuou caminhando pelo jardim, parando junto à porta da garagem, – todos os irmãos reuniam-se na noite de Natal. Era uma bonita festa! Ceávamos; conversávamos… e noite velha, chegava o Pai Natal, com saco repleto de presentes, para as crianças.”

Neste momento fez uma pausa. Silêncio prolongado.

- “Tudo corria bem…até que certa vez, minha filha mais velha, interrogou-me muito agastada: “Não é justo! Papai Noel dá-me sempre roupinha, enquanto minhas primas recebem bicicletas! …”

Novo silêncio, ainda mais prolongado.

- “Os meus cunhados tinham posses. Podiam distribuir prendas caras… fiquei tão triste, que resolvi, desde então, consoar só, com meus filhos e a Júlia…”

Neste momento a voz embargou-se, e uma lágrima envergonhada, aflorou, deslizando suavemente, pela face envelhecida.

Compreendi; e pensei: quantos irmãos se separam, por essa e outras razões, como tais?

Como é difícil, para quem vive folgadamente, entender as dificuldades dos outros! …

Quantas vezes, humilhamos, o próximo, sem o saber?

Assim se vão afastando, os irmãos…  os primos…os parentes…

A VERDADEIRA EDUCAÇÃO

Por Humberto Pinho da Silva (Porto, Portugal) 

 

Nunca se falou tanto de educação como nos nossos dias, mas são poucos os que sabem educar.

Em norma confunde-se educar com instruir.

Educa-se em casa, no seio da família. Instrui-se na escola, com o professor.

Pais há que preferem abdicar, deixando a difícil tarefa, à escola, o que é um erro. O professor pode ser ótimo mestre, mas corre-se o risco de inculcar, nas mentes em formação, ideologias e conceitos nefastos e perniciosos.

Em: " L Educantion des Filhes" – Paris Corrêa, Mauriac, aborda e indica o que é a verdadeira educação:

"Para muitos pais, o essencial é, antes de tudo o mais, que os filhos estejam de saúde: é esse o primeiro cuidado: " Estás a transpirar, não bebas ainda... Parece-me que estás quente: vou ver se tens febre..." (...) Primeiro cuidar da saúde da criança; depois da educação: " Põe-te direito: estás a fazer corcunda... Não limpes o prato... Não te sabes servir da faca... Não te espojes no chão dessa maneira.... Põe as mãos em cima da mesa! As mãos, não os cotovelos... Com a idade que tens, ainda não sabes descascar um fruto?..." Sim, é preciso que sejam bem-educados! E o sentido que todos nós damos a esta expressão " bem-educados" mostra até que ponto nós a rebaixamos. O que conta é a impressão que possam causar aos outros, ou seja, a fachada. Desde que, exteriormente, não traiam nada do que o mundo não aceita, achamos que tudo está a correr bem.

" Os únicos educadores dignos desse nome - mas quantos há que o sejam? - são aqueles para quem conta aquilo a que Barrés chamava educação da alma. Para esses, o que importa naquela jovem vida, que lhes é confiada, não é só a fachada que dá para o mundo, mas as disposições interiores, aquilo que, num destino, só Deus e a consciência conhecem

A educação moral da criança, é uma coisa importante"

O que devia interessar ao educador, não é como disse Mouriac, a fachada, as boas maneiras, regras uteis para viver em sociedade, mas  a educação da alma, para que cresça com solida formação moral e venha a ser útil à coletividade, como cidadão.

QUANDO AS PÉTALAS CAEM

Por Manoel Ianzer (São Paulo, SP)



 

ANDORINHA

Por Ybeane Campos Moreira (Vitória da Conquista, BA)

 

A vida reflete o que você sente

Você sente que se ama?

A forma em que se vive?

É afetuosa consigo?

Você Sabe seguir?

Respeitando seu tempo, suas dores e seus amores?

Sabe se plantar e ver florir?

Você abre mão de quem és para fazer o gosto do outro?

Duvida da força e a capacidade que tem?

Saia na janela, olha pro céu

Quem sabe o azul do céu

Te lembre de quem és

Você é andorinha!

Que veio ao mundo para ser verão

Ame-se, e aceite, e seja a razão da sua vida!

Siga levando apenas o que valeu, e voa nesse mundo que é seu.

Liberdade é ter um sorriso em paz

E saber o quanto bem se faz!


Sobre a autora: 

Ybeane Campos Moreira nasceu em 1985 no Distrito de Nova Brasília, Município de Ribeirão do Largo, Bahia, e reside em Vitória da Conquista. Membro 0872 da Academia Internacional de Literatura Brasileira (AILB) e da Academia Interamericana de Escritores - AINTE.   Autora dos livros “Eu, Poesia”, “Pedro e as Letras do Alfabeto”; e coautora do livro “Entre Sonhos e Travessuras”. Mãe de Pedro, Pedagoga, Assistente Social, e Especialista em Literatura Infanto- Juvenil.

AMIGOS PARA SEMPRE

 Por Dias Campos (São Paulo, SP)

 

Se há cenas que a todos encantam são as que retratam animais de estimação de diferentes raças – que, em princípio, jamais poderiam conviver – interagindo em perfeita harmonia.

Carlos adorava assistir a esses vídeos no Instagram. E quanto mais esdrúxula fosse a combinação, mais maravilhado ficava. – Era coruja brincando com Golden Retriever; patinho dormindo abraçado com filhote de macaco; gato servindo de poleiro para periquitos...

E a tal ponto deixou-se seduzir por essas imagens, que resolveu transformar o seu passatempo em realidade, adquirindo os pets mais exóticos e incompatíveis que houvesse no mercado

Para isto, Carlos seguiria o conselho de um amigo veterinário, e optaria pelas crias ao invés dos adultos, condição mais segura a um futuro convívio pacífico.

Ocorre que exotismo e incompatibilidade não são, necessariamente, fáceis de achar, nem de comprar.

Pois várias semanas passaram até que uma das muitas lojas que visitou ligasse informando que uma Jiboia albina acabara de chegar. – Carlos não especificara nenhuma raça, deixando que o destino o surpreendesse.

Ele, então, mandou reservá-la, pouco se importando com o preço que iria pagar.

E o final de semana seria todo dedicado à sua primeira aquisição.

O segundo animal, contudo, não aparecia; e isso preocupava Carlos, pois era imprescindível que Jaciara – era o nome que dera à cobra – crescesse na companhia de um irmãozinho.

Mas esse contratempo seria resolvido no final de semana seguinte, quando Carlos resolveu visitar o seu único tio, que morava em um sítio isolado, no interior do Estado.

É que o matuto adotara um Carcará ainda em plumas, cujos pais tiveram o azar de terem sido atropelados em plena rodovia.

Carlos encantou-se com o achado, e perguntou ao dono se quereria vendê-lo.

Ora, como seu parente ficasse muito feliz com a visita, deu-lhe a ave de presente.

E o sonho de Carlos concretizava-se. Seriam dois animais naturalmente inconciliáveis, mas cujo convívio precoce faria com que se unissem para sempre.

Com o passar do tempo, Jaciara e Alfredo tornaram-se inseparáveis, sendo corriqueiro dormirem juntos – aquela (enrolada) servindo de ninho para este.

Carlos deliciava-se, e os postava no Instagram.

Por vezes, ele recebia mensagens dos internautas, advertindo-o de que, mais cedo ou mais tarde, ou Carcará estriparia a Jiboia, ou a cobra engoliria o falcão.

O orgulhoso proprietário, contudo, recusava-se a crer que isso pudesse acontecer. Afinal, não se dedicara por tanto tempo aos rebentos para ver a família destroçada à custa de um fratricídio.

No entanto, esta infame possibilidade começou a criar raízes no coração de Carlos... E os pesadelos não tardaram a açoitá-lo, ora testemunhando Jaciara asfixiando o pobre do caçula, ora assistindo a Alfredo rasgando os olhos da indefesa irmã.

Mas como poderia prevenir-se? O que precisaria fazer para afastar a tragédia anunciada? Deveria impedir o convívio? Mas, daí, tudo o que idealizara seria jogado no lixo. Melhor, então, seria imitar seus pais na natureza, sacrificando (doando) o mais fraco em proveito da mais forte? Impossível, pois o amor que sentia por ambos não lhe permitia discriminações.

Com o passar dos dias, mais se avizinhava o perigo, e mais desanimado ficava Carlos ante a sua impotência.

Certo sábado, à tarde, quando o coração batia contrito, Carlos resolveu ir até a igreja de São Francisco de Assis, o protetor dos animais. Nada melhor do que uma boa prece para que uma luz se fizesse.

Só que ao invés de vislumbrar um caminho, o que veio à mente do fiel foi a lembrança de que saíra de casa sem que, antes, tivesse distribuído os almoços aos animais. E um arrepio subiu-lhe pela espinha!... E ele chispou antes mesmo da liturgia terminar.

Ao abrir a porta de sua residência, Carlos topou com uma cena que por certo jamais sumirá de sua mente... Jaciara e Alfredo banqueteavam-se, sim, mas com o coelho do vizinho, petisco este que a ave capturou logo depois de ter escapulido pela janela, e a serpente comprimiu até virar uma maleável e apetitosa panqueca.

E se é verdade que Carlos não teve coragem de comer carne naquela noite, também é exato afirmar que nunca mais se preocupará com eventuais aversões entre seus pets.

 

SAUDADE AMIGA

Por Liécifran Borges Martins (Cariacica, ES)


Oi amiga que saudade sua.

Os meses se passou.

E o tempo nos afastou.

Isso é o preço das

nossas brigas.

 

 

Como dói, como dói.

Talvez foi melhor assim.

Quantos momentos temos,

para descontruir.

Isso é difícil dói tanto.

 

 

Talvez faltou empatia.

Compreensão e perdão.

Esforços para ter uma,

bela combinação.

Saudade, oh saudade.

 

Como dói, estou dodói.

Saudade dói.

Saudade corroem.

Como dói, estou dodói.

Saudade amiga, saudade sua.           

 

VAI COM CALMA

Por Liécifran Borges Martins (Cariacica, ES)


Vai com calma.

Não tenha pressa.

Com calma tudo,

nessa vida alcança.

 

Não se perca meu amor.

Os apressados comem cru.

Os calmos degustam a,

longa caminhada.

 

Não se desespera.

Tenha muita calma.

Tranquiliza sua alma.

Conforta seu coração.

 

Vai com calma.

Mantenha calma.

Não perca sua fé.

Calma, calma.

 

Caminha com calma.

Caminha com calma.

Vai com calma.

Calma por favor.                   

 

PARA TUDO TEM UM PROPÓSITO

Por Liécifran Borges Martins (Cariacica, ES)


Tudo nessa vida existe um propósito.

Por mais que no início doa.

No final tudo tem uma finalidade.

Nada acontece por acaso.

 

Tudo vem e acontece com,

a permissão de Deus.

No início o processo fere.

No final o propósito te cura.

 

 

Apenas confia.

Não se desespera.

Descansa em Deus.

Sua vida já foi escrita.

 

 

Seus sonhos Deus já sabem.

Confia em Deus.

E o que ele tem,

é bem maior que você imagina.

 

Tudo há um propósito.

Até mesmo para o fim.

Nada é por acaso.

Para tudo há propósito.

 

 

 

NOITE DE NATAL

Por Waldir de Melo Filho (Walldyr Philho) (São Paulo, SP)

Sentou-se à mesa sozinho como fazia todas as noites religiosamente no  decorrer dos seus dias para sua janta indesejada. Não queria comer o que  estava posto à mesa, por mais que tentasse, o apetite fugia a galope rápido  como uma presa ao seu predador.

Havia uma tristeza que fora trancafiada dentro do seu coração por anos a  fio de uma vida de solidão vazia que se acumulou com o passar dos tempos,  rompendo as barreiras da sua força emocional, e com as mãos cobrindo o  rosto chorou! Era um choro doído que mais se assemelhava ao grunhido de um  animal indefeso, ferido que geme em prece selvagem por um acalento, pedindo  um cuidado mesmo que embrutecido de alguém que se importe com ele.

Estava sozinho em sua casa de dois cômodos desprovida de conforto.  Tudo era simples, sem toque de glamour, sem beleza! As paredes estavam  com a pintura descascada, em alguns locais, parte do reboco havia caído, revelando o bloco em seu interior como uma ferida grotesca que revela o interior da carne adoecida! Era um homem a frente do seu tempo que gostava  de organização e limpeza. Vivia sonhando em possuir uma casa com estilo de  arquitetura moderna e decorada com o requinte da ocasião e aconchego para  enchê-la com as impressões dos seus amigos e convidados. Porém, a sua  realidade era abstrata, escura e a solidão da sua vida congelava tudo o que  tocava como uma fotografia sem vida, morta, deixando o ar monótono parado  no tempo.

Trabalhava de segunda a sábado, só lhe restando o domingo que era  ocupado às pressas com os afazeres diários de casa lavando roupas, limpando  a casa, lavando louças, fazendo comida e por último quando suas forças já  estavam esgotadas, ligava a tv em um programa qualquer para quebrar a  monotonia da solidão e sem prestar atenção ao que se passava nela, colocava  a trouxa de roupa recém-tirada do varal e ia passando ferro nelas, peça por  peça até não sobrar nenhuma que precisasse desse serviço. O sono estava às portas dos seus olhos cansados, mais ainda lhes restava coisas a serem feitas,  guardava as roupas no velho armário e caia na cama petrificada de cansaço e  sono acumulados que nunca se esvaiam por completo, para acordar na  madrugada e seguir seu ciclo de escravo.

Naquela noite a solidão não era tênue, era algo palpável, pesado como  uma cortina de incontáveis peles que deixava o ar sinistro, turvo e que  escondia a delicadeza sutil da existência. Era algo surreal como se o  sobrenatural estivesse aos poucos se manifestando e adentrando ao mundo  físico bagunçando seus sonhos e realidades, fantasias e alucinações, verdades  e mentiras, sanidade e loucura... Estava com as emoções em turbilhão ao

ponto de sentir o amargor do desespero! Olhou as horas em seu celular e  aproveitou para verificar as notificações do aplicativo de whatsapp. Ninguém  lhe mandara um oi amigo, nenhuma felicitação natalina... Pela primeira vez  sentiu saudades da sua família e amigos... Tudo o que tinha havia gastado com  uma calça que comprou para o seu filho e duas camisetas, não lhe sobrando  mais nada para comemorar a data do seu sofrimento.

Era quase 20:00 quando ele sentou-se á mesa. Não tinha muita coisa  posta sobre ela. Sua ceia se resumia a uma panela de arroz branco e uma lata  de sardinha que olhando com mais detalhes se surpreendeu ao ver que sua  validade havia vencido. Era isso ou nada, e sem ter outra coisa para alimentar  seu filho que na inocência de criança não percebia a miséria que o cercava,  abraçou seu pequeno e chorou! Chorou com dor aguda, profunda, dor de pai,  dor da incompreensão, dor fétida da miséria que o diminuía como um ser  humano o igualando as ratazanas dos esgotos da vida. Chorou em soluços  cortantes enquanto o seu pequeno Riel afagava seus cabelos crespos sem  nada entender.

- Fica assim não, pai, chora não, tá bom! Dizia ele tentando sem muito  sucesso consolar seu amigo, companheiro e protetor.

- Desculpa filho, desculpa, você não merece a merda do pai que tem! Justificava-o rompendo em soluços por não poder dar ao seu filho a vida digna  que tanto almejava

Walldyr Philho

Poeta/Escritor

MANHÃ DE NATAL

Por Waldir de Melo Filho (Walldyr Philho) (São Paulo, SP)


Acordei todo emotivo na manhã de Natal. 

Acordei sentindo vontade de chorar e nada mais. 

Cada música, cada cena me tolhia às lágrimas. 

Queria ficar sozinho para pensar. 

Queria a todo ser humano poder abraçar, 

Queria curtir um pouco de solidão, 

Pois tudo em mim era um turbilhão de emoção. 

Sentia saudades e falta dos meus amigos 

Sentia muito o elo rompido com a minha família,  

Sentia tanto que todo esse sentimento m’exauria. 

Chorei deveras o resultado dessa avaliação. 

Percebendo que perdi muito mais do que ganhei, 

Por isso chorei! 

Perdi alguns amigos, outros poucos, ganhei. 

Por isso chorei! 

Isolei-me da vida vivendo em solidão, 

Com mágoas tão densas e duras guardadas em meu coração.  

 E isso me deixou mais vazio, esquisito e sombrio.  

E nessa manhã de Natal tudo veio à tona. 

 Angustiado deveras então lamentei, 

 E sem resistir à essa reflexão, chorei!

 

DOS RIDÍCULOS DA VIDA: EM BELAS-LETRAS NO REALISMO MÁGICO

Por Samuel da Costa (Itajaí, SC)

 

        Anos antes, de eu ouvir um molho de chaves tilintarem no ar, sim os tilintares do milho de chaves ainda me assombram, sempre a me colocando no meu devido lugar. Sim, são nos pequenos atos do cotidiano, que as grandes elucubrações se revelam e nos revelam. Eu tive os meus dias de Coronel Aureliano Buendía, eu parada e diante de um pelotão de um fuzilamento, mas quem nunca teve esses momentos na vida? E lá estava eu, no início do século XXI, em um conclave, que se revelou em uma espécie de julgamento, na verdade uma aplicação de uma pena! Pois o julgamento ocorreu antes, em outro lugar sem a minha presença. Coisas da vida, lá quem mandou eu me imiscuir com sacrossantos querubins e querubinas, em uma militância social/política.

            Chutes no traseiro à esquerda à parte, senti finais, que aquele meio não era para mim, uma vez que, em um outro conclave, com essas mesmas figuras mitológicas. Um querubim-mor, graduado, me chamou de canto, ele estava muito preocupado, pois em um jornal de circulação local publicou um texto, em versos, com o meu nome ao final. Sim, querubim-mor estava muito preocupado pois um alguém, estava usando o meu nome, em uma obra literária. E lá vai eu explicar que o texto era meu, para espanto da figura mitológica, sim um homem negro, periférico, um modesto funcionário público e habitante dos subsolos.

            Um pouco de contexto aqui, no primeiro decénio, no início do século XXI, eu frequentava o curso de comunicação social, com habilitação em publicidade e propaganda em uma universidade e ativo nos movimentos sociais, na localidade. Eu tive a infeliz ideia de colaborar com a imprensa e produzir veículos de informação subterrâneas, fanzines ou no popular, revistas alternativas fotocopiadas. E pior, usar o meu próprio nome nas publicações.

            Voltando para o início do texto, para os muitos ridículos da vida, eu isolado, apartado depois do chute na minha traseira, dado à esquerda, com força fui me embrenhar na graça e no perfume, em belas-letras. Claro que era e sou, enquanto dedilho este texto, agente do aparato repressivo estatal, fui fazer a luta de classes, organizar a minha categoria, tentar pelo menos. Em suma, eu não desapareci do cenário sócio e político local. 

            Mas como o assunto aqui é ridiculices, em uma sociedade estratificada, segui a minha vida na solidão à esquerda, produzir as minhas belas letras, colaborar com a imprensa, participar do cenário cultural local, com muita força. Eu não sou o coronel Aureliano Buendía, não lutei trinta e duas revoluções e não perdi trinta e duas revoluções. Depois de uma longa jornada pelos subterrâneos da cultura local, livros lançados, das muitas ridiculices, dos pequenos embates nos subsolos do localismo, perdi e ganhei pequenas batalhas.

            Poderia eu aqui ressaltar grandes e pequenos embates, com querubins e querubinas à esquerda e a direita, desde uma dessas figuras mitológicas a esquerda veio ter comigo, ressalta que eu de ter um editor a direita. Um canalha pequeno burguês, segundo o querubim graduado, daí lembrei para figura mitológica, que o canalha pequeno burguês, vivia me convidado para jantares na casa dele. E ressaltei que eu nem sabia, onde e aonde ele morava, falo do querubim inquisidor.

            Finalizo aqui, que mais tarde aprofundo nas pequenas ridiculices, que ocorreram nessa pequena saga. 


Contato: samueldeitajai@yahoo.com.br

 

ENTRE NÓS DOIS

Por Fabiane Braga Lima (Rio Claro, SP)


Como num bailar de almas
As minhas mãos trêmulas
Sentiram o seu coração palpitar,
Sua respiração ofegante,
E extasiada senti
O seu corpo junto ao meu.
***
Acalentei-me impregnada
Com o seu cheiro!
O meu corpo junto ao seu
Se deliciaram de amor
Muito além dos prazeres carnais!
***
Escutei a sua voz, distante,
O seu corpo tocou o meu,
Me acariciou,
Senti os seus lábios sobre o meu,
Nos beijamos e nos conectamos...
***
De repente, um vazio
De não poder tê-lo comigo,
Minhas mãos soaram,
Ao querer tocá-lo...
E sentir novamente o seu cheiro.
***
Minha alma busca a sua essência,
Rodeia-me existe um vínculo
Entre nós dois...!

Contato: debragafabiane1@gmail.com

TENTAÇÃO

Por Fabiane Braga Lima (Rio Claro, SP)


Mostra-me tua devassidão,
Sem exagero
Olhe fundo em meus olhos, ouse, imagine
Sinta o cheiro da minha pele, se embriague
Beije-me, beije-me muito,
Com delicadeza.
***
Acalenta-me em teu corpo másculo, febril
Olhando as estrelas!
Toca-me como uma doce canção
Dispa-me sob a claridade da lua!
Domina-me...
Diga que sou toda tua,
A tua abusada menina….
***
Arranque-me suspiros!
Leva-me aos delírios
Ama-me sem noção,
Ama-me loucamente sem razão
Cala-se e ausculta as batidas
Do teu coração...
***
Escuta-me vou t’revelar...
Todos os meus segredos
Mais que ocultos...
Desnudou-me por completo
T'quero agora!
Não cesse! Leve-me a perdição...
Meu Amor…

Contato: debragafabiane1@gmail.com

ROSAS RUBRAS AO POR DO SOL

Por Clarisse Cristal (Balneário Camboriú, SC)


Everything is ephemeral
Everything is vague
Everything is undefined
So misty consort of mine
Love of my life... We become one
In the afternoon
On the banks of the black abyss
Astral light of my life
Samuel da Costa

Minha dulcíssima
E desesperada paixão
No mundo pós-contemporâneo
Recebi com terno carinho
O teu inesperado presente
No fim da tarde
Ao final de tudo
***
Fora de mim fiquei
Quando recebi
Um álgido ramalhete
De flores sintécticos
São negras tulipas
E rosas rubras
Agradaram-me em demasiado
Enamorado meu
***
Li extasiada e me apetece
De quanto é breve
E profundo o teu bilhete
Em anexo assim dizia:
Only today belongs to us
Because tomorrow
It is a mystery my true love

***
Li e reli muitas vezes
A tua eufônica melodiosa
E idílica nota de amor mediévico
***
Na minha supra-real tela digital
E reprisei também
O nosso breviário ocaso de amor
Uma trágica história
De amor fluído
Te digo meu amado
Que o hoje não nos pertence!
Mas o amanhã...
Nos pertencerá

EU OUSEI FICAR!

Por Fabiane Braga Lima (Rio Claro, SP)

Eu ousei ficar em silêncio, sim ousei
De mãos atadas, tudo ficou sombrio
Mas a poesia ainda cultivo n’alma...
Mesmo com tanta escuridão,
Tantas sombras.
***
Eu ousei ficar em silêncio, nas trevas
Pois deixei fragmentos do meu coração
Sem medo, tento juntá-los....
E refazer-me
Hoje, sou apenas uma errante,
Uma estrangeira.
***
Calo-me, não quero gritar, amedronta
Tudo está vazio e triste,
Perdi-me aqui.
Mas ousei ficar em silêncio...
Límpida...
***
Liberta de bagagem pesada,
Refiz-me
Desígnios da alma, ainda me faz voltar
Preciso explicar!? Estou aqui, calada…!

Contato: debragafabiane1@gmail.com 

MINHA PELE NEGRA

Por Clarisse da Costa (Biguaçu, SC)

Até então eu era       
Uma menina de pele escura,      
Cresci e senti o peso de ser        
Uma mulher negra.
Porque existe vários lugares       
Onde o preconceito está ali         
Tão evidente.          
E nesses lugares vi muitas de mim,      
Mulheres pretas     
Carregando o mesmo peso.        
Eu cheguei incomodando,          
Não deixei que o opressor           
Calasse novamente a minha voz.          
Hoje não sou símbolo sexual,     
Sou a resistência de uma luta antiga,   
De pretos e pretas  
Açoitados pelo preconceito;        
Preconceito que mancha   
A bandeira deste país       
Com o nosso sangue.    

     
Contato: clarissedacosta81@gmail.com

  

DÓRIAN E LUEN: A PROCISSÃO DOS NEGROS E A LITANIA DAS POBRES

Por Samuel da Costa (Itajaí, SC)

 

Meu senhor, vai muito bem!

A colheita foi boa! Este ano... Este século…

Para o meu senhor, tudo vai bem!

Mas alguns negros fugiram!

Já outras negras pariram,

Muitos outros negros!

Eles não estão mais aqui!

Preferiram ficar livres!

Dispersos por aí...

Em qualquer lugar.

 

 

            Os sabores de sons e olores, chegavam a Adérito Muteia como se fosse uma sinfonia eufônica e abstrata, o professor ficou apreensivo, ele queria abrir as cortinas e apreciar a paisagem. Mas não o fez, já era o bastante ver seus compatriotas, naquele vagão, os coloridos falares de línguas afro-asiáticas, línguas khoisan, línguas nigero-congolesas, línguas nilo-saarianas e dialetos afins. Os multicoloridos, dos trajes e os semblantes alegres e taciturnos, se misturaram entre os homens, as mulheres e de crianças de várias, etnias, idades e nacionalidades.

            Adérito Muteia, estava em um vagão de primeira classe e uma fração da elite, do continente negro, estava ali, estavam em fuga. O professor Muteia, estava desconfortável com a situação, pois já era difícil, ter que emigrar às pressas, não que o professor africano, não tivesse viajado para o exterior antes. As lembranças, de ter ido ao leste da Europa, Ásia e Oriente Médio, para passar por cursos e dar aulas, daquela fuga era uma outra realidade.

        Agora, sentado em um assento reservado para ele, na frente do professor Adérito Muteia, um elemento atípico, um homem tuaregue, um habitante do ocre do grande deserto do norte da África. Muteia imaginou aquele homem misterioso, em uma caravana, montado em um camelo meharis a cruzar o Saara, Muteia imaginou ele sendo no chão areado, em um círculo com os seus irmãos em um conclave ao cai da noite.    

            — Este é um vagão exclusivo Syid! — Falou sonolento Adérito Muteia.

           — Estou onde devo estar, professor Muteia! — Respondeu o homem do deserto!

            Os dois se entreolharam profundamente e sorriram amigavelmente e uma suntuosa comissária do trem, elegantemente vestida, se aproximou, empurrando um carrinho. A jovem parou e abriu os suportes embutidos das duas poltronas, formando uma mesa entre os dois passageiros. A comissária dispôs um aparelho austríaco de chá e em silêncio, ela serviu os dois homens. A mulher de aparência eslava se retirou sem nada dizer.   

            — Volto a dizer que...

            — Adib, o senhor pode me chamar assim Syid! — Respondeu o homem do deserto e continuou. — Mas vamos ficar sozinhos!

            O trem parou, o tempo parou e o vagão ficou na semi escuridão e vazio. Adérito não ficou surpreso ou abismado, pois já esperava por algo semelhante.

            — Li o ensaio do emérito professor, deveras bom e assertivo e o que salta os olhos é ver um linguista do campo da linguística aplicada, se ater aos aspectos da ciência quântica. Sim, o senhor uniu bem os campos das linguísticas diacrônicas e a sincrônicas, mas sem ofensas ao mestre, falta-lhe uma boa parceria com um físico teórico. — Falou o homem do deserto.    

            — Muito me espanta, saber que alguém leu o meu singelo ensaio, senhor Adib! É só um esboço somente e o meu campo de estudos são as belas-letras, belas-artes, sons, imagens e códigos afins. Números e fórmulas matemáticas não são mesmo o meu campo de estudos. — Se defendeu Adérito Muteia.  

            — Sim, um ensaio promissor, acreditar que a realidade pode ser moldada e o tecido do espaço e tempo rompidos. Claro que o nobre professor doutor, se ateve somente ao universo da terra dos sonhos Lovecraftianos e as teses Freudianas do universo dos sonhos, no simbolismo e surrealismo literários e pictóricos. — Ponderou o homem do deserto.  

            Muteia se mudou para o assento ao lado e abriu as cortinas e lá fora viu uma legião de esquálidos e miseráveis, os rotos marchavam lentamente, no céu o astro rei reinava absoluto castigando os desalentados com ondas de calor. Rostos de ébano que lamuriavam, uma triste litania enquanto soldados armados os vigiavam com olhos atentos. O mal-estar tomou conta de Adérito Muteia.    

Dórian, sentado na confortável poltrona, olhou para Luen, após ler o manuscrito de Luen, a esposa do professor de comunicação comparada, olhou de novo para o manuscrito de Luen. A primeira secretária da câmara alta, estava parada e de pé, na porta do ateliê de Dórian, rindo por dentro e com cigarro na boca.  


Contato: samueldeitajai@yahoo.com.br

 

AFRICANIDADE

Por Clarisse da Costa (Biguaçu, SC)


          A título de curiosidade, a expressão "Africanidade" como também a expressão "Afrobrasilidade” relaciona-se às raízes culturais brasileiras que têm origem africana. O termo Africanidade além de um conceito designa o movimento da negritude, movimento este que foi estruturado fora da África. Ele certamente manifestou-se nos Estados Unidos, consequentemente passou pelas Antilhas. Contudo, inferiu a Europa, alcançando a França. Na França obteve corpo e foi metodizado.               
       No Brasil o conceito do termo Africanidade constitui todo alicerce histórico de luta e resistência da população negra. Mas todo esse contexto histórico traz uma sucessão de costumes, comportamentos, tradições e compilações culturais oriundos do conhecimento africano e agregados na nossa cultura brasileira. 
Como percebemos, a influência africana no Brasil é forte, sucede através de várias características, comuns à nossa cultura. Temos como exemplo, algumas religiões, a língua, a culinária, as músicas, as danças e ademais costumes que advém dos vários grupos surgidos do continente africano.                         
      Africanidade também representa a somatória de várias características de uma pessoa que tem origem africana. Características presentes no modo de vida, musicalidade, religiões e tantas outras ligadas aos afrodescendentes. 
Contudo, Africanidade é o princípio da nossa história e luta contra o sistema opressor e racial. 

                  
Contato: clarissedacosta81@gmail.com

 

PARALELO 30 (EM NEGRAS HORAS)

Por Clarisse Cristal (Balneário Camboriú, SC)


A infindável necessidade
De te descobrir... Nas sombras…
Pois somente lá... Na completa escuridão...
Tu se te revelas tão pura!
Tão sozinha! Tão minha...


Samuel da Costa


Submergi nas turvas águas
Do Rio Hudson
Em pleno álgido dezembro
Eu submergi para a hirta realidade
Como quem furtivamente
Foi se encontrar
Com um amante clandestino
No meio da tarde
No meio da semana
***
I submerged in the murky waters
From the Rudson River
In the height of December
I submerged into the stark reality
As if stealthily
Went to meet
With a clandestine lover
In the afternoon
In the middle of the week

***
Sim! Eu assisti ao longe
Na segurança mais que tranquila
Do alto da minha torre de marfim
Eu vi o povo apoplético
A passar em marcha
No meio da rua
Erguendo os seus cartazes
Em fúria a bradar palavras de ordem
***
Eu emergi das águas poluídas
Do Rio Hudson, em pleno dezembro
Como quem escapa em desespero
Do cárcere de uma gaiola dourada
***
Hey!
Morgan Lander
Take your crazy electric guitar
And play something
Only for me

***
Sim!
Eu tenho o péssimo hábito
De sofre na solitude
Da minha mítica
E etérea Turris ebúrnea
Eu de negro e sozinha
Na completa escuridão abissal
***
Eu não acredito no sofre coletivo
Eu não acredito
Na sofreguidão na coletividade

MINHA ALMA

Por Fabiane Braga Lima (Rio Claro, SP)


No mais oculto de minha alma, navego no silêncio,
Encontro-me calma, ao dizer os meus sentimentos,
Os meus diversos fragmentos poéticos.
***
Alcei voo rumo à tua essência,
Como um pássaro preso,
Sai da gaiola!
Entreguei-te a minha alma,
O meu corpo e todos
Os meus sentimentos diversos.
***
Me apeguei aos nossos infindos desejos,
Intensos de amor.
Incompletos, porém inesquecíveis,
Fui intensa e verdadeira.
***
Meu corpo gritou pedindo o teu,
Razão ou minha mais pura insensatez.
Hoje rompo barreiras com o passado!
Quero ser livre, libertar o meu espírito!
Deixá-lo partir.
***
Quero gritar
Em versos insanos e ousados,
Ser mais profunda que o mar.
***
Quero viver de momentos, em êxtase,
Feliz, com pensamentos, loucos,
Corpo em chamas,
Delirando em pensamentos inexatos,
Profanos e de muito amor...!
Ser eu mesma

Contato: debragafabiane1@gmail.com

ARTE-VIVA

Por Clarisse Cristal (Balneário Camboriú, SC)

(Para a atriz Sabrina Vianna)


Intenso!!! Qualquer dia desses!
Eu vou fazer outra página mais suave.

Fabiane Braga Lima



Eu não existo por inteiro
Pois ao final da tarde
Quando agonizar o arrebol
Vou pôr os meus fadigados
Pés descalços
Nas areias mornas da praia
Não como uma veranista acidental
E sim como uma náufraga desterrada
Perdida e desesperada
Quem fez injúrias
Aos régios monarcas decrépitos
Lá do velho mundo
***
Eu não quero existir por inteiro
Ao final na tarde
Vou ficar diante do Atlântico
E imaginar que estou no teatro estático
Com os olhos semicerrados
Pelas luzes da ribalta
Ouvindo o colossal zunido dos aplausos
Que vem da plateia
Talvez Henrik Ibsen,
Talvez o pato selvagem
Quem sabe!
Talvez o Fazedor de Teatro
Thomas Bernhard
Como vou saber?
***
Já desisti de existir por inteiro
Ao final da tarde
Vou fazer o que nunca fiz
Pelo menos na vida adulta
Caminhar lenta e sonolenta
Pela orla do oceano outonal
Como uma anti-artista qualquer
Que se mistura a plebe
Ao final da tarde

DÓRIAN: TROCANDO DE PELE

Por Clarisse Cristal (Balneário Camboriú, SC)

 

Mulheres de negócio usam batom! 

Fabiane Braga Lima

 

        Por Deus, como me dói a cabeça! Mas não! Eu não vou sair daqui, também não vou abrir os meus olhos inchados, eu não quero. Léa, me deixou sozinho de novo, bem que me avisaram, todos os meus familiares, amigos, conhecidos e às vezes até desconhecidos.

       Cuidado com a Léa, mas Léa grudou em mim igual a uma sarna, uma erupção cutânea, que se espalhou pelo meu corpo por inteiro. Para mim, Léa era e é um paraíso perdido, um jardim do Éden, um vergel suspenso no ar inalcançável. Mas as pessoas se esquecem, ou preferem não saber que conheço Léa, desde quando eram crianças. Sei quem ela é e como se comportava e se comporta.

        Que estranho, não é como se eu não pudesse me mexer, eu não quero me mexer. E tem este formigamento no corpo inteiro, parece que eu estou mudando de pele. E justamente nessas horas, que eu não quero que Léa olhe para mim, quando estou angustiado. Quando tudo me parece errado e eu quero ser uma outra pessoa, não algo melhor ou pior, eu querendo ser uma outra pessoa. Que horas são? Me lembrei, estou deitado na cama, lutando contra o sono, as pernas, as minhas pernas estão paralisadas.

         Não! Eu não quero que Léa saiba o que há dentro de mim, mas ela sabe de tudo, a infeliz, ela me lê como se eu fosse um livro aberto em cima das pernas delas, ela olhando para dentro de mim, enquanto ela finge que não lê. Enquanto eu bem que gostaria de dar um tiro em mim mesmo, tendo ela como fiel testemunha ocular, do meu derradeiro fim. Mas tem o fato de Léa gostar, mesmo, de me ver trocar de pele, e Léa rindo de mim, rindo por dentro é claro.

       Os braços! Por que não se movem? Não sei! E não importa, o que importa mesmo, é este sentimento de ser traído várias e várias vezes. Nesta minha curta vida, Léa me sufocou muitas e muitas vezes e me anulando por completo, enquanto a gente crescia juntos. E eu sei que eu sempre fui eu mesmo, mas Léa nunca foi ela mesma, ela foi várias pessoas. Sim, a verdade é que Léa grudou em mim igual a uma sarna, grudou na minha pele e nunca mais foi embora.

        Deus! Que cansaço, vou ficar aqui, deitado e ver o que acontece, mas já aconteceu, estou me lembrando agora, arranquei Léa da minha pele e sangrei por dias a fio. E sai de mim mesmo, sim eu troquei de pele e como doeu, desabei e me quebrei em vários pedaços. Estou me lembrando agora, eu tinha sonhado, eu com os olhos inchados, sonhei que Léa tinha morrido. E eu preso dentro de mim, tinha sonhado que Léa tinha morrido.

        Uma coberta, estou com frio, estou congelando, agora que uma parte de mim, foi amputada me parece que não sobrou muita coisa. Léa de fato, nunca tinha pertencido a mim, ela nunca esteve aqui ao lado meu. E ela era e é a única pessoa que sabe, por onde andei por um longo tempo da minha vida. Sim! Eu tenho hombridade, para deixar tudo para trás e seguir em frente, eu tive coragem para me separar, da minha alma gêmea siamesa.

      Definitivamente, eu vou me levantar, arrumar as minhas malas e partir, vou descartar Léa da minha vida, todos os dias. Mesmo que eu, estrangulado, sou deixar a parte morta da minha vida para trás, deixar a tortura para trás. Eu vou me exilar, em mim mesmo, pois eu descartei Léa da minha vida para sempre. Eu definitivamente mudei de pele e mudei por dentro.

       Que horas são? Eu não sei e não me importa, que o sol esteja a pino, vou ficar aqui deitado, mais um pouco, enquanto sangrando e com os olhos inchados, mudo de pele mais uma vez. Eu trocando de pele, como tivesse matado um bom amigo e criando não um novo começo, mas um novo fim.

     E me lembrar que Léa tinha morrido em meus sonhos, enquanto estava preso dentro de mim mesmo. Mas ela com outras pessoas, mas eu sabendo que ela não tem amores e nem amigos em um ciclo de autopunição sem fim. É duro pensar em ver Léa, como uma flor murcha, sem vida, é duro saber que somente Léa, esteve dentro de mim. Me revirando, me retorcendo, me amando e me matando, em um espiral que volta sempre para o mesmo lugar.

       Por Deus! Está tudo tão escuro e frio agora! Estou trocando de pele, para tirar Léa de dentro de mim e em definitivo, pois eu não sou mais um ornamente quebrado, não estou mais com a cabeça encolhida, depois do bote da serpente. Não estou mais encharcado com o veneno da serpente, estou trocando de pele, para drenar Léa de dentro de mim.

    Dórian largou a revista Astro-domo em cima da mesa, na verdade a jogou, a poesia em prosa que acabara de ler o magoou por inteiro, O professor de literatura comparada, sei via em casa frase, em cada ponto e letra e sílabas em cada linha. Deixar que a coisa se resolvesse sozinha não era uma opção em definitivo.