sábado, 29 de outubro de 2011

A FESTA DAS BRUXAS

Por Ridamar Batista

O outono chega, trazendo a beleza de seu colorido, forrando o chão das estradas com tons multicolores, de folhas que se desprendem de seus galhos, com a majestade de quem sabe já ter cumprido sua missão é que a hora é mesmo de partir, deixando atrás de si o encanto de seu reinado.
Como é sábia a natureza! Para morrer, faz uma festa alegre e colorida, chamada outono.
E nesta época, quando os caminhos se vestem de mil cores, os homens criam as suas histórias, contam seus casos que serão repetidos ao longo do inverno, sentados em alguma salinha aquecida pela lareira num canto de seus lares.
Assim foi que eu ouvi este conto, contado aqui por estas bandas, num destes dias de começo de outono, quando o frio já começa entrar pela janela, assim meio sem graça, com medo de ser rejeitado... Quando as pessoas já se reúnem nas salas, aquecida, onde se bebe um bom vinho, se come um bom queijo, fundido aqui mesmo na mesinha acolhedora e onde se conta muitos casos.
Contaram-me que os camponeses lhe contaram.
Aqui, a maioria das pessoas em algum momento de suas vidas, já foi camponês.
Vive-se uma relação muito íntima com o tempo, com suas mudanças, com a mudança das estações, festas de igreja e datas pagãs, introduzidas no calendário cristão com o nome de um santo qualquer, ou de vários como é o caso do dia de todos os santos, 1º de novembro. Na verdade esta data festeja uma tradição de origem celta, dedicada ao mundo mágico das fadas, duendes, elfos, ninfas e silfos, salamandras e ondinas. Um dia consagrado aos seres que permeiam o espaço etéreo entre o mundo objetivo e o subjetivo.
Pois então, contaram-me que neste dia, todas as bruxas teem a permissão de fazer o que quiserem com os infelizes mortais, não crentes nelas.
Costumam festejar seu dia, junto com os humanos, que elas muito apreciam. Isso só é permitido neste dia. Claro que a grande maioria deste humanos não acreditam nesta conversa, mas um deles, este sim, jura que isso é verdade.
Por quê? Veja lá.
Numa tardinha, meio nublada, assim querendo chover, o dito homem saiu de sua casa para pastorear seu rebanho de ovelhas, como era fim de verão, o pasto escasso, teve que se afastar um pouco de casa, porem andou ali mesmo, por volta de sua propriedade.
Existe ali perto, uma gruta, uma fenda aberta entre umas pedreiras, creio eu, restos do leito do velho e querido Guadiana, fenda esta muito usada para abrigar andarilhos e nômades ciganos, que passam por estas terras, desde toda a sua história.
Tal abrigo muito usado já é de propriedade comum, pois aqui a intempérie é sempre uma realidade que nunca se sabe quando chega, temos até um adágio popular “ de Espana, nem bons tempos e nem bons casamentos”, realmente são muito temperamentais.
Assim que o justo homem, distraído pelo caminho de sua costumeira andança, recolhendo seu rebanho que buscava um ramo verde aqui, um cardo espinhento ali, um resto de gira sol tardio acolá. Senta-se para descansar sobre uma pedra, na entrada da tal gruta, justo no dia 1º de novembro à tardinha.
A tarde era bonita o céu desenhado em tons divinos, fazia uma coreografia maravilhosa. Olhando aquela imensidão a sua volta, se perdeu em divagações. Mal havia entrado o sol, do outro lado surgia uma linda lua cheia, trazendo consigo todo seu feitiço. Encantado, e vale toda a ambigüidade da palavra, o homem começou a ouvir sons de mil violinos que tocavam em harmonia uma linda ária cigana. Olhou para os lados e não podia ver de onde vinha aquele som tão belo cada vez mais perto de si.
Até que pode ver pela fresta da pedra onde estava deitado, que dentro da caverna havia uma festa, e que festa! Tudo estava arrumado com luxo e beleza. Mulheres maravilhosas, jovens e velhas, todas lindíssimas, dançavam felizes, seminuas, envolta de véus multicoloridos e vibrantes, uma dança que ele jamais havia visto.
Os homens dançavam felizes em carícias lascivas e obscenas, em beijos apaixonados. Bebiam, comiam e dançavam, e a música que vinha lá de dentro era um êxtase total. E ele ali, do lado de fora da gruta, abobalhado, porque nunca houvera visto alguém dizer que isso pudesse acontecer ali, perto de sua casa, uma festa tão luxuosa, com tanta gente bonita e rica. Mas o encantamento era tão grande que o nosso camponês nem ousou questionar nada. Parado, admirando pela brecha, as mulheres dançando e retirando aqueles véus, se desnudando aos seus olhos, dançando tão leves que mais pareciam estar fora da terra, levitando, assim um pouquinho acima do chão, de tal forma que seus pés não tocavam os belíssimos tapetes que forravam o chão da gruta.
Encontrava-se totalmente embevecido, se assustou quando uma voz lhe falou mansamente aos ouvidos, como se fora uma voz angelical, sinfônica:
- Vem dançar comigo?
Imaginem só como ficou nosso amigo camponês, todo sujo, cheirando a ovelhas, mal vestido, e sendo convidado para uma festa daquelas?
Quando se olhou, em uma fração de segundos, para avaliar as possibilidades de aceitar o convite, se viu vestido como um príncipe! Estava lindo! Muito bem posto, o traje lhe caía bem como se fora seu por toda vida, se sentia a vontade dentro daquela roupa, sem pensar muito aceitou o convite e entrou gruta a dentro e dançou e bailou e comeu e bebeu, como se fora em sonho.
As mulheres vinham a cada momento trazer-lhe vinho, comida e carinho. O homem estava atônito, mas seguia adiante, aproveitando a festa. Num determinado momento, de lucidez talvez, guardou um daqueles bocados deliciosos, que lhe ofereciam, no bolso, para levar e mostrar para sua mulher, porque era algo incrível.
A gruta era toda enfeitada de fitas, caiam do teto, como estalactites, gotas de ouro cintilantes como se fossem estrelas, moviam-se no ar, luas, sóis, cometas, tudo em dourado, tudo como se estivessem soltos, bailando também. No chão, os tapetes tinham a maciez de algodão recém colhido, por várias vezes quis ir embora, mas a embriagues e os carinhos daquelas mulheres iam prendendo-o ali, cada vez mais.
O interessante é que ele não conhecia ninguém e todos lhe pareciam conhecer de muitos anos. Mal seu copo se esvaziava e estava a bebida, cada vez mais saborosa, descia por sua garganta como se fosse mel.
Sentia certa embriaguês, porém nada que lhe causasse dano. Um sentimento luxurioso lhe invadia a alma, um que de culpa, mas que nada! Logo o sentimento ia embora. Era tudo tão insólito que continuava, para ver no que dava. Olhava de soslaio lá fora, para ver se tudo corria bem, para certificar-se de que realmente aquilo estava acontecendo.
Enfiou a mão no bolso, sim, o doce estava lá. Para não ter dúvidas, colocou um pouco mais daqueles bons bocados no outro bolso. Queria muito mostrar aquilo para sua mulher. E neste estado de felicidade total, acabou por dormir nos braços daquela com quem bailava a ultima música. Era uma jovem bonita, cabelos longos e negros, caídos displicentes por sobre os ombros nus, alvos e perfumados de uma fragrância inesquecível, daquelas que ficam em nossa alma para sempre.
Dormiu acariciado pelas mãos de fada daquela que o havia cuidado com tanto zelo.
Manhã seguinte, sol a pino, ovelhas berrando a sua volta, solavancos de sua mulher aos gritos, ele totalmente embriagado e todo sujo de merda humana, com uma dor de cabeça de matar, trôpego acorda desentendido. Fedia mais que tudo, sua mulher esbravejava e lhe dava empurrões, querendo uma explicação para tamanha imundice.
O pobre homem, em sua total ingenuidade contou-lhe o ocorrido e enfiou de novo a mão no bolso para lhe provar que não era mentira, cadê os bons bocados? Era pura merda que tinha no bolso. Enquanto tudo ia acontecendo o povo foi juntando e se fartando de rir da história do bêbado.
Ele jurava porque jurava que havia participado de uma festa ali, bem dentro da gruta, que qualquer um podia ir certificar, porque a gruta estava toda enfeitada! Que nada! Nem sinal de vida. É que o homem tinha participado da festa das bruxas, que acontece naquele lugar, e naquele dia, sempre que é lua cheia.
Você não acredita? Pois pode crer, elas existem e fazem sua festa com os humanos, sempre que eles dão oportunidade a elas entrarem em nosso mundo.


Sobre a autora: Ridamar Batista é escritora, poetisa e Presidente da Academia de Letras do Brasil, Seccional Anápolis, GO (ALBA).

segunda-feira, 24 de outubro de 2011

DESFAZER

Por Pedro Du Bois (Itapema, SC)

 
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POEMAS

Por Luiz Carlos Leme Franco

Poemas são apenas letras dispostas
de modo especial em algum lugar.
Poemas são simples arranjos de idéias
em uma forma gráfica e sonora agradáveis.

A arte da poesia faz só métricas e rimas.
O coração é o poeta.

sexta-feira, 21 de outubro de 2011

O CAMINHAR DE OUTUBRO

 
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Por Vânia Moreira Diniz

Outubro passa levando com ela tantas datas queridas e especiais como o e de Nossa Senhora da Aparecida, Padroeira do Brasil, dia do Mestre, do médico, das bruxas ,do professor, do poeta.E nesse caminhar a Primavera desabrocha e sentimos o aroma das flores e observamos o brilho do céu, o canto dos pássaros, a beleza do sol cada vez mais iluminado, que nos deixam extasiados.

No dia 21 desse mês, há muitos anos, eu nasci, e agradeço a Deus privilégio que me faz lembrar de meus pais com mais profundidade e um misto de saudade, emoção e fatos que se cruzam em minha memória com uma nitidez impressionante. Hoje é meu aniversário e isso não me dá tristeza pelos anos que se passam, porém lembra-me que é o dia mais importante de minha própria história.

E a minha vida não teria importância sem as pessoas que me receberam aqui nesse mundo tão cheio de aclives e declives.
Nesse ano, em minha casa tenho conversado incessantemente com minha irmã que mora no Rio e que veio para comemorar esse dia comigo e com toda a família. Lembramo-nos de nossa mãe que se foi há relativamente pouco tempo e de nosso pai que partiu antes ainda e ambos nos trazem o aconchego de ternura e os ensinamentos que nunca nos faltou.

Eles tiveram oito filhos e a casa cheia e barulhenta ainda ecoa em meus ouvidos com uma força extraordinária e revemos detalhes muito nítidos. É impressionante a força de cada minuto em todos os acontecimentos de nossas vidas.

Quando nascemos existe algo que nos impulsiona para a vida e que ao mesmo tempo nos faz chorar convulsivamente pelo oxigênio que se instala em nossos pulmões, revelando –nos inconscientemente a estrada que teremos que caminhar , já sem o cordão umbilical que nos liga à pessoa que dedicou o amor mais intenso existente no mundo : nossa mãe.

Estou aqui em outubro recordando os dias que se passaram, as pessoas queridas, os exemplos frutificados em meu coração, as pessoas que encontrei, as realizações que o maior arquiteto da humanidade permitiu-me realizar, os amigos que estiveram e que estão até hoje a me rodear mostrando o quanto de generosidade e amor existem neste planeta e felizmente entendendo a finitude da vida e a certeza que por isso mesmo devemos curtir cada minuto de estadia nesse mundo belíssimo.

Ao mesmo tempo faço uma regressão voluntária e tenho consciência absoluta de tudo que contribuiu para esse amor que carrego em todos os estágios de minha caminhada.
O caminhar de outubro em cada ano que se passa tem me feito agradecer de forma incisiva essa passagem e me orientado para que compreenda em suas múltiplas implicações, cada acontecimento, nunca deixando de apreciar a beleza da natureza e das pessoas.

Outubro para mim, é sol, luz fascinação em seus mistérios mil e me dá a certeza que até o último dia de minha vida compreenderei o que me faz vibrar quando penso o quanto esse mês me encantou tanto nos períodos de minha infância , adolescência e de que forma está me conduzindo na maturidade, ensinando-me o mistério de tentar ser sempre alguém melhor e mais humana. Esse é o meu sonho verdadeiro nessa época em que colho os frutos que plantei e procuro semear com paciência as sementes que continuo a cultivar.

Acima de tudo agradeço a todas as pessoas que passaram e que atualmente estão na minha vida, enriquecendo-a e continuando a me dar exemplos verdadeiros de amor e carinho.

Sobre a autora: Vânia Moreira Diniz é presidente da Academia de Letras do Brasil, Seccional Distrito Federal.

TRÊS MULHERES

Por Ridamar Batista

Três mulheres fazem a cabeça
das outras todas damas presas
nas ambiguidades de si mesmas.
A indígena, a negra e a cigana
mulheres tao lúcidas, fortes e grandes
capazes de deixar no nosso sangue
a nobreza delas exalada.
Mulheres que souberam seu destino
conhecedora dos destinos alheios
sabedoras dos conselhos que davam
tirados dos olhares, gestos e trejeitos.
Amantes do fogo e do fogão
sabiam as artimanhas
das dores e dos prazeres,
dos remédios e dos venenos
aplicados cada qual a sua vez.
De corpos pintados
as tatuagens da vida e dos enfeites
os brincos tecidos ao gosto de cada uma
enfeitavam-se para seus homens
seus filhos e sua tribo
criavam a sina, benziam os caminhos
por onde todos pisavam.
Deitavam no leito amado
do braço de seus maridos
tinham orgulho dos seios fartos
que alimentavam sua cria.
Mulheres guerreiras e sábias
conheciam os céus e estrelas
toda mudança do tempo
sabiam benzer e rezar
aprendizes da vida
liam no fundo dos olhos
sorviam os conselhos dos velhos
copiavam a insensatez dos jovens
criando a linha do meio.
Cada qual com tanta carga
souberam transmutar seu viver
e vivem hoje felizes
no sangue das outras mulheres
que delas puderam aprender
a arte da feiticeira.

(Poema selecionado nos 3ºs Jogos Florais para a antologia bilingue (português/espanhol) da aBrace no Uruguai)

Sobre a autora: Ridamar Batista é poetisa e presidente da Academia de Letras do Brasil, Seccional Anápolis, GO.

OUTROS NOMES

Por Pedro Du Bois (Itapema, SC)

 
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quarta-feira, 19 de outubro de 2011

PRIMAVERA

Por Ridamar Batista

Ah! quem dera
o tempo fosse primavera
nos dias que se vão
levando o sonho e a ilusão
de quem anda perdido por aí.
Quem dera
fosse a vida primavera
em flores soltas pelo chão
cobrindo os passos da estrada
fazendo lindo este rincão.
Fosse quem fosse aquele
que passa em solidão
pudesse achar abrigo
e receber comigo
os afagos aperto de mão.
Fosse a tarde que pressagia
a escuridão tamanha
das noites mal dormidas
assombrando almas
solitárias e sofridas
de uns e outros náufragos esquecidos
em busca de um tempo bom.
AH! quem me dera
fosse primavera
em roseirais de pétalas ao vento
a perfumar desejos e quimeras
a enfeitar madeixas juvenis
que voam como borboletas azuis.



Sobre a autora: Ridamar Batista é escritora e poetisa e Presidente da Academia de Letras do Brasil-ALB, Seccional Anápolis, GO.

quinta-feira, 6 de outubro de 2011

FLORESTA ENCANTADA

Por Célia Lamounier de Araújo

Deus fez a terra fecunda
no meu Brasil bem amado
e do céu todo estrelado
jogou sementes de tudo.

De tudo que Ele plantou
na terra boa nasceu
e em mil cores floresceu
logo, logo o pau-brasil.

O pau-brasil em florestas
transformou-se bem depressa
misturando-se na pressa
com ipês e sucupiras.

Nos ipês, os passarinhos
de galho em galho a pular
brincavam indo cantar
por entre raios de sol.

E os raios de sol brilhando
nas florestas encantadas
criaram duendes e fadas
para bem cuidar de todos.

Todos os bichos e aves
todas as flores e frutos
que hoje na mão de brutos
sem pena são dizimados.

Dizimados pelo homem
que se condena egoísta
a um futuro pessimista
sem florestas...
sem mais nada!

GENTE E PLANTAS

Por Célia Lamounier de Araújo

Não somos belas plantas... Somos gente
E é muito especial ser bela gente!

Plantas crescem plantadas... gente não.
Gente cresce livre e tem coração.

O vento brinca com plantas... o vento
amigo de todos... não tem assento.

Juntando vento, animal, gente e plantas
estamos cuidando de vidas... santas

Que precisam de água e ar na terra.
Gente que pensa e anda... não faz guerra

Gente CUIDA do mundo e de animais.
Tudo junto... para viver bem mais.

OUTUBRO, MÊS DA MAGIA

 
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Por Vânia Moreira Diniz (Brasília, DF)

Outubro chegou há quatro dias quase junto com a primavera e é esse o grande segredo desse mês maravilhoso e que eu amo tanto.

As árvores se tornam mais frondosas, as flores mais lindas em suas tonalidades especiais e a natureza parece que quando a olhamos tira a respiração, tão linda e feiticeira em sua extraordinária magnitude.

Outubro para mim é acima de tudo um estado de espírito e normalmente mergulho em sensações as mais deliciosas e procuro viver intensamente, com as recordações ou o momento presente, curtindo cada acontecimento da vida.

E quando sinto que falam em utopia, sorrio feliz, lamentando que não possam entender esse momento tão extraordinário da minha vida. Prossigo certa que preciso aproveitar como se em qualquer lugar do planeta fosse o paraíso de proporções inatingíveis e ao mesmo tempo tão plausíveis e reais que admiro, cada momento dessa fase de minha vida.

Outubro é o mês das crianças e as sinto tão esfuziantes como se repentinamente pudessem correr livremente pelas ruas de qualquer cidade, libertas, vivendo cada minuto de sua infância e certas que estão protegidas do mal.

Eu nasci em outubro e sinto como se tivesse recebido um presente eterno, que não posso agradecer suficientemente tal a grandeza que sinto nesse mês privilegiado.Talvez por isso parece que tudo que me acontece de bom converge para essa data e realmente quase todos os momentos felizes acabaram se concretizando nele.

Não que os outros meses não tenham importância, todos eles fazem parte do contexto de nossas existências e desse caminhar fantástico que é viver... Mas para mim particularmente Outubro tem a magia dos grandes encantos, dos sonhos realizáveis, dos objetivos duradouros e dessa doçura que faz sonhar com mais intensidade e me convencer da certeza das fantasias coloridas não importando o valor cronológico, todos os anos me encontro nesse estado de espírito.

Nesse mês de outubro de 2011 além de marcar o tempo no dia 21 que é o dia em que vim ao mundo, aspirando o oxigênio salvador, há muitos outros eventos em curso que me deixam sensibilizada na magia de comemorações importantes para minha vida.

Um dia com poucos anos de nascida, já senti o valor intrínseco do amor e da amizade e não por normas definidas, mas porque tantos os acontecimentos tristes como alegres vieram me dizer a importância de cada momento que vivi.E por ser a vida finita essa intensidade é maior e um minuto pode valer uma eternidade.

Hoje quando abri os olhos e ouvi o canto dos pássaros em plena capital, pude me recordar de tantos episódios enquanto apreciava o céu muito azul e o horizonte vasto e lindo que agradeci ao Senhor do Universo a mágica vivência que tem sido minha estrada e fechei os olhos sentindo o mês de outubro que não só me deu a oportunidade de nascer mas me ofertou o presente da primavera e sua beleza e encanto fascinante enquanto comemoro algumas datas gratas ao meu coração e agradeço as pessoas que encontrei nesse paraíso de diversidades infindas e especiais.

Sobre a autora: Vânia Moreira Diniz, Ph.I., é presidente da Academia de Letras do Brasil, Seccional Distrito Federal.

REMEDIAR

Por Pedro Du Bois (Itapema, SC)

Absurdo pensar remédios
matemáticos: alegóricos
personagens sorvidos em ânsias
engolem as palavras e as devolvem
em doenças terminais de invernos:
aceito a liça e brigo
pelo escuro. A tortura
desmerece a lâmpada.

domingo, 2 de outubro de 2011

O BOI DO MAMULENGO (DOCUMENTÁRIO, 16 min)




O Boi do Mamulengo


Gênero: Documentário
Diretor: Jorge Rodrigues
Ano: 2005
Duração: 16 min
Cor: Colorido
Bitola: 16mm
País: Brasil
Local de Produção: DF

Numa Feira de artesanato, um fantoche de teatro mambembe conta a história do Bumba-Meu-Boi do estado do Maranhão.

Ficha Técnica


Produção: Edson Barranqueiro
Fotografia: Waldir Pina
Roteiro: Jorge Rodrigues
Som Direto: Chico Bororo, Fabio Socorro, Eliezer Mota
Direção de Arte: Ramon Abreu, Ramon Navarro
Montagem: Leandro G. Moura
Trilha Sonora: Toada do Boi de Maracanã - O Canto da Sereia

Prêmios

Melhor filme/vídeo Pelo Júri Popular no Concurso da Mostra Refestança no Guarnicê de Cine e Vídeo 2006

Festivais

Festival de Brasília 2005
Festival de Cinema Hispano-Brasileiro 2007
LUSOCOM 2006

MEU PAÍS

Por Paccelli M. Zahler - Brasília/DF

Adoro meu país
E sua gente.

Gente que trabalha,
Que sofre,
Que rala
E ainda sorri
Sonhando com melhores dias.

Gente que quer vencer
Na vida,
Nos esportes,
Até na avenida
Durante o carnaval.

Gente honesta,
Solidária, hospitaleira,

Gente que se orgulha
Da nacionalidade brasileira.

sábado, 1 de outubro de 2011

PERFIL: CLÁUDIO DE LEÃO LEMIESZEK

 
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Por Paccelli José Maracci Zahler

Dando continuidade à coluna PERFIL, neste mês de outubro a Revista Cerrado Cultural (RCC) entrevistou o Prof. Cláudio de Leão Lemieszek, advogado, professor universitário, pesquisador, historiador, apaixonado pela História de Bagé.
Autor dos livros: Bagé , Relatos de Sua História; Bagé , Novos Relatos de Sua História; Governos e Governantes de Bagé - 1964 a 1978; Notícias da Revolução de 1923 em Bagé; e Governos e Governantes de Bagé - 1979 a 1992, ele gentilmente atendeu ao nosso pedido, enviando as respostas por meio eletrônico.

RCC. O que o motivou a mergulhar na História de Bagé?

É certo que ainda adolescente a história já me fascinava. Fui aluno aplicadíssimo nesta disciplina no ensino médio. Mas indiscutivelmente foram os cordéis do destino que me aproximaram definitivamente da história de Bagé.
Encerrada minha participação na administração universitária como Pró-Reitor de Pesquisa e Extensão da Universidade da Região da Campanha-RS., a reitoria da universidade designou-me para atuar no Museu Dom Diogo de Souza.
Sem formação específica a missão (quase um castigo) era árdua, mas o desafio animador em função do gosto pela história.
Dirigia o Museu Dom Diogo de Souza o eminente Dr. Tarcisio Antônio Costa Taborda, antigo juiz de direito (casualmente minha primeira audiência como advogado no já longínquo ano de 1974, foi presidida pelo Dr. Tarcisio), pesquisador e profundo conhecedor da história de Bagé, além de amigo pessoal.

RCC. Como foi a transição de professor titular da cadeira de Direito das Coisas da Universidade da Região da Campanha - URCAMP a mestre em História pela Universidade de Passo Fundo?

Tarcisio recebeu-me de braços abertos. Abriu o museu para mim. Ensinou-me a história e orientou os primeiros passos na pesquisa. Mais que isso, revelou-me a beleza e a importância da história de Bagé, ainda pouco explorada. Apaixonei-me!
Inicialmente dividia minha carga horária na universidade entre o magistério na Faculdade de Direito e a pesquisa no Museu. Como todas as paixões- e essa é intensa e permanente- em pouco tempo a sedução e a entrega foram totais.
Faltava, contudo - e sempre continuará faltando- suprir das deficiências na área de formação acadêmica e no campo da pesquisa científica, o que buscamos alcançar concluindo o curso de mestrado da UPF, considerado referência na área de história regional.

RCC. Seus livros "Bagé, Relatos de Sua História (1997)" e "Bagé, Novos Relatos de Sua História (2000)", ambos publicados pela editora Martins Livreiro, de Porto Alegre, RS,tratam da organização e do desenvolvimento da cidade de Bagé no início do século XX. Foi muito árduo coletar informações a respeito? Foi possível encontrar pessoas que vivenciaram aquele período e que se dispuseram a colaborar para maior precisão dos fatos?

Idubitavelmente, Bagé teve sua fase de maior exuberância do quarto final do século XIX às primeiras décadas do século XX. Costumo referir em palestras, mesmo como desafio, que neste período não há no RS município com maior importância histórica do que Bagé. Os principais acontecimentos políticos e econômicos do Estado deram-se em Bagé. Basta citar a proclamação da República Rio-grandense, sua participação na Guerra do Paraguai, a Revolução Federalista, criação de partidos políticos. A introdução das principais raças puro sangue bovino e equino. A primeira cidade do Rio Grande do Sul a receber a energia elétrica e o automóvel, etc.
A religiosidade e a cultura do seu povo encanta e torna insaciável a tarefa do pesquisador. Encontrar pessoas que vivenciaram muitos dos fatos históricos acontecidos no município permitiram corrigir o olhar do historiador. Tivemos a fortuna de colher depoimentos de pessoas que participaram na Guerra Civil de 1923 e seus esclarecimentos forneceram subsídios valiosos para desvendar fatos ainda obscuros. O mesmo pode se dizer com relação à Revolução de 1930 e 1964, e ainda com relação ao fortalecimento cultural da cidade e o surgimento do ensino superior em Bagé.

RCC. Como tem sido a receptividade dos seus livros junto ao público leitor, não apenas de Bagé, mas de outras paragens?

Os dois primeiros livros- Bagé Relatos de sua história- estão praticamente esgotados. Como autor não poderia ter satisfação maior. A crítica foi muito receptiva. Esporadicamente, vemo-los citados em outros trabalhos e para nossa surpresa notamos leitores de outros estados e até do exterior.
Mas não podemos dizer o mesmo das obras mais recentes: Governos e Governantes de Bagé, que julgamos trabalho de maior envergadura e dedicação.

RCC.Além de advogar, o senhor é professor universitário e produtor rural. Diante de tantas ocupações, o senhor segue uma rotina de trabalho para escrever seus livros?

Hoje a produção literária está prejudicada com ocupações no Arquivo Público, no Museu. Tento dedicar a manhã para a história e a tarde para advocacia, mas confesso dificuldades.

RCC. Quais seus próximos projetos no campo da História?

A fase é de fermentação em dois temas distintos: imprensa partidária e tradicionalismo.

RCC. Poderia nos falar sobre sua experiência como diretor do Arquivo Público Municipal de Bagé no período 1997/2000?

Foi um período de implantação e conscientização difícil dos órgãos públicos. Hoje, o Arquivo está consolidado e tem reconhecido seu papel e importância, muito graças ao trabalho desenvolvido pelo Prof. Cláudio Boucinha. Seu acervo vem crescendo significativamente nos últimos meses.

RCC. Na sua opinião, o que falta ser escrito sobre a História de Bagé?

Excetuando o extenso trabalho produzido por Tarcisio Taborda e Eurico Salis, recém Bagé vem escrevendo sua história.
Há muito que pesquisar e escrever sobre Bagé urbano, sobre a educação em Bagé, etc. São escassos os trabalhos nas áreas da economia e política face a sua importância regional e estadual.

Expressamos o nosso agradecimento ao Prof. Cláudio de Leão Lemieszek pela entrevista.

MANIFESTAÇÃO HOMOFÓBICA EM BAGÉ

QUEM SABE A PRIMEIRA MANIFESTAÇÃO HOMOFÓBICA EM BAGÉ

Por Cláudio de Leão Lemieszek

A Biblioteca Pública de Pelotas guarda a coleção do jornal Correio Mercantil (assim esperamos, pois que recentemente aquela Casa de Cultura promoveu um descarte eliminando parte de seu acervo, fato que mereceu censura geral no meio cultural de todo o estado), que por muitos anos circulou naquela cidade.
Precisamente nas edições de agosto e setembro de 1887, foram publicados cerca de treze artigos, sob o título “Bagé há trinta anos”, de autoria de um cronista anônimo, que vindo residir nesta cidade, em 1857, teve a feliz ideia de registrar e publicar suas memórias (lamentavelmente ficaram perdidas no tempo).
Em seus comentários, aponta muitos fatos já conhecidos, tais como a fundação da Sociedade Espanhola e da Beneficência Portuguesa; o famoso caso dos terrenos de Bagé, antes pertencentes ao Barão de Bagé; a formação do 35º Batalhão de Voluntários da Pátria; a construção do Teatro 28 de Setembro, além de muitas outras interessantes e importantes passagens de nossa história, que vêm sendo apropriadamente esmiuçadas, neste ano em que se comemora o bicentenário da Rainha da Fronteira.
Aliás, é oportuno recordar, que a data de fundação de Bagé é arbitrada. Na verdade até 1955, pairavam dúvidas sobre o momento preciso em que foi criado o povoado de Bagé. Foi justamente nos congressos organizados por Tarcísio Taborda, em 1955 e 1961, em que se reuniu grande número de estudiosos da história do Rio Grande do Sul, que se chegou ao consenso de fixar o 17 de julho como o dia do nascimento da nossa cidade.
Ainda hoje subsistem incertezas sobre o tema. Nesse sentido, basta lembrar, por exemplo, que o centenário de Bagé foi festejado pela municipalidade em 1912. Também, naquele ano, a Associação Rural organizou sua exposição-feira em grande estilo e com extensa programação para assinalar o centenário da cidade. O estudo do assunto por certo desperta interesse, mas é tema a ser comentado em outro momento.
Por hora aguçam nossa curiosidade, os comentários do nosso articulista anônimo publicados no mencionado jornal pelotense, em cujas edições focaliza aspectos vários de nossa cidade. O cotidiano, o lazer, a religiosidade, o ensino, os seus primeiros comerciantes e profissionais liberais, as dificuldades administrativas da municipalidade e a certa ingenuidade dos habitantes são por demais aí comentados, permitindo, dessa maneira, criarmos um imaginário das dimensões, dos costumes e do modo como se vivia, em Bagé, há aproximadamente cento e cinquenta anos atrás.
Entre tantos curiosos assuntos que, oportunamente, voltaremos a enfocar, selecionamos o que dá título a este artigo, matéria considerada tabu para sociedades fechadas e atrasadas, mas que, felizmente, vem sendo derrubado nos dias atuais, principalmente por meio da censura pública e da criminalização da homofobia.
Conta o anônimo cronista, que, em 1858, existia na cidade um indivíduo de nacionalidade argentina que habitava um tosco rancho de palha situado próximo à bica (primeira fonte pública de água de Bagé localizada na Rua Marcílio Dias, entre as ruas Gen. Neto e Gen. Sampaio).
Essa pessoa, que se chamava Thomazia, mas era mais conhecida pelo seu apelido “Macho e fêmea”, vivia sozinha em seu casebre. Usava cabelos lisos e longos, sempre cobertos por um lenço preso ao pescoço. Pouco saía de casa, a não ser para assistir à missa dominical da qual era frequentadora assídua, pois era muito religiosa.
Procurando reproduzir, fielmente, as palavras do incógnito articulista, vejamos a história de Thomazia: “Em 1860, no dia 7 de setembro, havia parada na praça da matriz em grande gala, e Te-Deum, e, dentro da igreja a par das famílias, achava-se a célebre Thomazia ajoelhada. O finado cel. Brandão, teve a feliz lembrança de ordenar a um cabo que, quando saísse Thomazia, a prendesse e conduzisse à cadeia. O cabo cumpriu a ordem e recolheu Thomazia.
Examinada a presa pelo falecido Dr. Freitas, já falecido, do exame resultou que, em vez de ser Thomazia era Thomaz, e ali lhe foi cortado o cabelo, fizeram-lhe vestir roupa de homem, foi processado e condenado a cumprir sentença em Porto Alegre.
Eis aqui um fato que os leitores talvez julguem ser invenção, porém, é verdadeiro como poderão atestar os antigos que ainda existem”.
O destino de Thomazia certamente não seria o desejado, especialmente levando em consideração o convívio e os conceitos sociais da sociedade dos nossos dias, bastando para tanto citar nossa Constituição Federal que em seu art. 3, IV estabelece, como objetivo fundamental da nossa república: “promover o bem de todos sem preconceitos de origem, raça, sexo, cor, idade, e quaisquer outras formas de discriminação”, aí naturalmente compreendida a orientação sexual.
Seguramente, Thomazia teve melhor sorte do que muitos homossexuais dos dias atuais, que, inexplicavelmente, ainda são discriminados, surrados e até vítimas da violência letal, gerando a comoção de muitos, mas também o descaso e a injustiça de poucos. É verdade que estes são poucos, mas envergonham a humanidade, principalmente se considerarmos que muitos deles têm força para fazer justiça.
Felizmente, o Brasil, neste campo, é definitivamente um país de primeiro mundo, pois é cada vez mais visível o fortalecimento do exercício de cidadania, especialmente no que tange ao respeito à dignidade e à diferença do ser humano. Ao contrário de outras nações, que em pleno século XXI aplicam a pena de morte contra os homossexuais, em nosso país tramita, na Câmara Federal, Projeto de Lei propondo a criminalização de preconceitos movidos pela orientação sexual e pela identidade de gênero.
Nossa sociedade está cada vez mais atenta e assim vem dando um basta à humilhação, ao ódio, e à intimidação. É hora da defesa da honra e dignidade dos discriminados.

(Publicado também no Jornal MINUANO, ago/2011)

TRAJETO

Por Pedro Du Bois (Itapema, SC)

 
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RESULTADO

Por Pedro Du Bois (Itapema, SC)

 
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O PÉ DE JATOBÁ

Por Ironita Pereira Mota

 
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Sobre a autora:

Ironita Pereira Mota reside em Aparecida de Goiânia, GO, e escreve sobre temas relacionados à Natureza, particularmente, sobre a fauna e a flora do Cerrado.

(Publicado originalmente na Revista Cerrado Cultural nº 02/2009)

CONFIDÊNCIA

Por Jean Narciso Bispo Moura

A provocação com amarelo
Começou com quando vi pela primeira vez
O seu terrível espírito de cupim
Que come a madeira de nossos dias
E intimida o verde.
Que somente viverá na ausência completa do amarelo
Enquanto isto ele decora centenas e centenas de dicionários.


(Publicado originalmente na Revista Cerrado Cultural nº 02/2009)

QUESTIONAMENTO

Por Jean Narciso Bispo Moura

O que a flor faz com a rosa
Atrás do muro?
Será que pintam quadros
Rezam novenas
Cantam e dançam para a chuva?
Eros talvez entra e sai na casa intima
Neste momento alguém
engasgou a fala.

(Publicado originalmente na Revista Cerrado Cultural nº 02/2009)

GEOLOGIA CELESTIAL

Por Jean Narciso Bispo Moura


Esse chão
Esta terra
Esse composto orgânico e inorgânico
Resumem a minha alma
Nada além daquilo que suja o meu dedo.
Pode levar-me a um lugar mais longe do que esse daqui.
Jardins sonhados:
Bichos e feras
Comem em minhas mãos
Eu que não sou veterinário e nem tratador de animais.
70 vezes sete mulheres amansam a minha fome de padre.
Nada disso é chão que suja de terra o meu dedo.


Sobre o autor:

Jean Narciso Bispo Moura nasceu 31 de outubro de 1980, na cidade de São Félix, Bahia. Estudou filosofia e pedagogia, em São Paulo e especializou-se em Educação. O poeta mora em São Paulo, na cidade de Itaquaquecetuba. O autor tem atualmente dois livros publicados "A lupa e sensibilidade" (2002) e "Setenta e cinco para um esqueleto poético" (2005). É co-editor da revista virtual Anedota Búlgara, que tem recebido autores nacionais e estrangeiros. Ele é casado e professor de Filosofia. Mantém as seguintes páginas pessoais:
www.anedotabulgara.blogspot.com
www.poetajean.zip.net
www.poetajean.blogsot.com
www.poeta.jean@hotmail.com
www.poetajean@bol.com.br

(Publicado originalmente na Revista Cerrado Cultural nº 02/2009)

MATER ET MAGISTRA

Por Von Steisloff

Com quase toda certeza, aquele seria um importante dia de minha vida. O Ser Humano tem muitas vezes, algumas restrições para descobrir e encontrar o verdadeiro “ego”. Aquilo tecnicamente descrito como o Self. No meu sistema de auto-avaliação sempre me tive no melhor dos conceitos. Afinal, na realidade, eu nem me conhecia. Sempre me afastei de qualquer possibilidade de aprofundar os conhecimentos que pudessem revelar a minha verdadeira cara. Nunca permiti que se revelasse a minha real personna: a máscara íntima; das profundezas de minha alma. Sempre tive que dissimular a constante ansiedade. Justificava para mim próprio que, esse procedimento era normal em qualquer representante do gênero humano. Como é bom, e mais cômodo, ficar-se no terreno das ilusões acerca de nós mesmos! Mas agora eu estava subindo como que, a montanha para mirar a enorme planície da minha existência universal nas contínuas alternâncias ao longo do tempo.

Por isso eu considerava que, o dia seria tal como um divisor de águas entre o que eu achava que era e o que eu realmente era. Ao caminhar carregando as minhas preocupações, lembrava-me das inúmeras vezes que já tinha enfrentado – e fugido – das possibilidades de revelar-me por inteiro. Os meus fugidios enfrentamentos da realidade baseavam-se na incredulidade do que sempre me falaram as cartomantes ou os sensitivos e até mesmo alguns médiuns nas sessões espíritas a que fui conduzido por minha mãe. “Esse rapaz tem um passado muito remoto de grandes tragédias!”. Mas a curiosidade sempre foi muito maior do que os meus temores do auto-conhecimento.
Entretanto, aquelas afirmações na infância ou juventude me conduziam para um estado de desconforto profundo, levando-me sempre a fugir do assunto. Queria ver sepultado o que eu tinha sofrido no passado; em outras vidas. Eu suava e ficava apavorado com as constatações destacadas no meu corpo físico de agora; nesta existência material “Veja as marcas da guilhotina no pescoço do menino!” – Diziam sempre para minha mãe.

Para a minha decidida ascensão na montanha e poder descortinar, de vez, a verdade sobre o meu passado, estava sendo amparado por um profissional que me garantiu uma sessão tranqüila de regressão de memória. “Fique tranqüilo – sempre dizia o médico – Estará tudo sob o meu controle”. Por isso tinha aceitado, mesmo ressabiado, dirigir-me até sua casa nesse dia marcado.

A única exigência, ou pedido, que, fiz ao médico era não permitir – durante o processo de regressão – que eu não escapasse do seu controle de sugestões. Tinha fortes receios que eu pudesse retornar à minha outra provável existência antes e logo depois da Revolução Francesa nos anos 1700.

Minha confiança naquele terapeuta de vidas passadas fortalecia na medida que ele me explicava, com detalhes científicos, as técnicas rotineiras utilizadas por ele para pesquisas e descobertas de males psicossomáticos da sua numerosa clientela. As longas consultas feitas durante vários dias antes do dia aprazado para a regressão, serviram para sedimentar minha confiante tranqüilidade diante da minha eterna angústia. É evidente que, eu tinha pavor de sentir-me, novamente, sob a ameaça da terrível lâmina da guilhotina nos longínquos 1700; ainda lá no século XVIII! Garantiu-me o doutor amigo que, eu seria conduzido apenas à minha existência imediata. Diante de qualquer manifestação de sofrimento de minha parte, ele tomaria as providências técnicas para meu “retorno” o mais rápido.

Tudo combinado, acertou-se o dia e lá fui caminhando em direção ao consultório entre preocupado e antegozando o fim dos meus males que, diziam, tinham raízes em outras vidas. "O que seria que tinha ocorrido?". Agora não tinha mais como fugir do meu autoconhecimento. "Vou saber, afinal - imaginei no meu silêncio angustiante - Quem sou eu; de onde venho!"

Sentei-me confortavelmente em uma macia poltrona forrada em couro esverdeado e o doutor iniciou a sessão de terapia de vidas passadas. Começou lembrando-me, com palavras em tons graves, mas suaves e pausadas, que, eu deveria “desligar-me” de tudo o que estivesse me preocupando.

O doutor gravou o que eu ia narrando durante a regressão e, depois, fora do transe a que fui conduzido, posso lembrar-me, com extrema felicidade, de todos os detalhes.

De repente, tal e qual um vagabundo bissexto eu ia caminhando pelas pobres ruelas do bairro humilde das periferias de Roma. As pessoas que passavam cumprimentavam-se com a alegria do italiano típico. Mas eu nem era notado. Minha pessoa deveria ser realmente de extrema insignificância. O bairro era o meu mundo querido e nada podia me ofender. Eu tinha a cabeça feita para enfrentar as tentativas das prováveis atitudes de menosprezo dos habitantes locais. Minhas lembranças agora de jovem trabalhador permaneciam ainda fixadas nos dias de tempos passados quando cheguei no bairro por vez primeira.

Na realidade nada mais podia me ofender. Eu disse que tinha a cabeça feita, mas para ser mais exato eu deveria dizer que eu tinha bem feitos o coração e alma. Essa milagrosa transformação eu tinha a agradecer à minha querida mãezinha aqui no bairro San Lorenzo, em Roma. Eu estava muito feliz! Daquela aspereza da vida do San Lorenzo eu soube tirar um punhado de felicidade. Ia caminhando em busca e ao encontro de minha mãe e, mesmo ao longe, já podia ouvir a algazarra das crianças ricas ou pobres no casarão transbordante de alegria. Continuei em passos ansiosos para chegar logo e associar-me às homenagens de todo ano à minha velha mãe! Hoje é um dia muito especial para ela! O velho casarão vai ser reinaugurado! O prefeito de Roma também já deve ter chegado. Todas as autoridades estarão também trajando os solenes trajes negros; fraques e as refinadas cartolas de seda lustrosa! Eu estou de terno simples e gravata borboleta, mas comprados com meu próprio dinheiro! Aprendi a ser gente, deixar de ser bobo graças à minha mãe!

É também a comemoração antecipada do nosso aniversário! Ela estará completando no próximo dia 31 de agosto seus trinta e sete anos! Eu completarei na mesma data – transbordante de orgulho – os meus vinte anos. Fico sempre perguntando no meu silêncio, se apenas aquela coincidência dos dias do nascimento foi suficiente para a feliz aproximação da linda senhora Maria tornar-se minha a mãe! Entretanto hoje – 6 de janeiro de 1907 – a festa é bem mais importante!

Quando chego mais perto do velho casarão meu coração pulsa forte e sinto os pelos dos braços e da nuca arrepiados: há dois meses eu não passava pelo local e tudo demonstrava agora mais arrumação. Meu trabalho em uma encadernadora não me dava tempo para esses passeios. Mas hoje eu tinha permissão para –“...Largar tudo e juntar-me às homenagens à signora Maria...”– Disse-me o alegre patrão que também vinha abraçar a aniversariante e prestigiar a reinauguração das novas instalações no antigo casarão de San Lorenzo. Minha emoção tinha suas raízes na história do meu rápido aprendizado e recuperação das minhas deficiências mentais desde o nascimento. No casarão fui adotado desde os dez anos com indisfarçável preferência, para manejar os brinquedos mágicos daquela que seria minha mãe por escolha dela. Na minha miséria infantil na Roma do século XIX, sem pai nem mãe, fui acolhido pela, ainda jovem Maria, para suas práticas de acionar o meu motor interno das minhas próprias transformações. Práticas simples e maravilhosas que, vivi ali no mundo do casarão de San Lorenzo. Por isso, por ser tão frágil, sem pai ou mãe; vilipendiado desde menino nas profundezas da debilidade mental, a signorina Maria com vinte e sete anos, adotou-me como seu filho dileto. Era a única mãe que conhecia.

Já bem defronte do casarão minha respiração quase pára de tanta surpresa e alegria. Do lado de dentro, escondida pelos enormes e pesados portões de madeira maciça, eu podia ouvir claramente a vibrante banda militar com as sincopadas tarantelas. Na parede, bem no alto do portão por onde eu devo entrar, fico parado olhando o que lá está escrito em letras góticas vermelhas enormes: “Casa dei Bambini – Direzione Dottora Maria Montessori”.

Entro discretamente pois, a solenidade já começou e não quero perturbar com a minha chegada. Noto que nem seria necessária a minha preocupação. Não sou notado por quase ninguém. Sou como um fantasma; invisível. Insignificante; como sempre fui, desprezado por todos. Nada me surpreende naquele mesmo ambiente de sempre com os sorrisos de conveniência; e nem mesmo o fétido ar impregnado de naftalina que rescende das grossas fatiotas eternamente resgatadas para os muitos invernos.

Caminho bem discreto pelas bordas da pequena aglomeração que se forma ao redor da homenageada e fundadora da “Casa dei Bambini”. Todos ouvem com grande respeito as palavras de elogios do prefeito de Roma dirigidas à doutora Maria Montessori. Mesmo sem entender exatamente do método de auto-educação criado pela dedicada mestra, ele insiste e tenta explicar os detalhes da utilização de instrumentos de classe como os extraordinários e motivadores “materiais dourados". É evidente e constrangedora a ignorância do prefeito ao tentar “dar uma aula” na presença de Maria Montessori. Enquanto isso a mestra, minha mãe, suporta heroicamente o falatório e sorri condescendente quando me vê entrar e ficar estático diante da sua visão sublime. Sem se importar com o rígido protocolo próprio do momento, ela me olha sem-cerimônia e posso entender a pequena frase que ela tinha me dito ainda quando eu tinha dez anos. Pelos movimentos propositadamente acentuados dos lábios, ela repete as palavras que cravaram-se em minha alma infantil, transformando a criança frágil e desvalida no homem seguro e independente: “...Tu sei Mille volte piú bello Che lei...”. Aquelas doces palavras, mil vezes pronunciadas de Maria Montessori livraram-me para sempre, com bondade, dos apelidos maldosos que me aplicavam os amiguinhos da mesma idade. Minha mãe sempre me estimulava afirmando que eu era mil vezes mais bonito que eles! De qualquer maneira eu não acreditava muito no seu julgamento sobre minha beleza física. Como sempre entendi; as suas palavras elogiosas estavam direcionadas para a minha tenacidade e persistência em manter sempre ativo o próprio motor interno de constantes descobertas. Só isso; nada de beleza!

Tinha chegado o momento da benção das novas instalações e o padre, representando o papa Pio XI, é o mais distinguido por sua sotaina extremamente bem talhada a moldar-lhe o corpo magérrimo. Com um tom muito solene e de cuidada pronúncia apostólica a disfarçar-lhe o timbre de forte nasalado, o místico padre inicia a sua fala em nome de Sua Santidade Achille Ratti. O padre de nariz adunco na sua palidez de sombrias capelas, olha fixo através das lentes do seu cristalino par de óculos. Para ele, só importa a pessoa da magnífica homenageada do dia! “O próprio papa! – exulto com a cena – Já conhece a minha mãe!”.

Enquanto isso, saio antes que notem a minha fatiota amarfanhada. Não desejo envergonhar a minha querida mãe! Antecipo-me à solenidade de reinauguração e curvo-me o necessário para passar por baixo da larga fita de seda nas cores da bandeira da Itália. Em poucos minutos a fita tricolor será cortada pela tesoura oficial do prefeito de Roma.

Como ainda sinto-me de casa, sigo sozinho para as salas novas com as suas extensas prateleiras atulhadas com os materiais de auto-aprendizado. Tudo criado pela prodigiosa mente de minha mãe, Maria Montessori! Meu coração parece vibrar a cada peça que vou revendo: os cubinhos, os cartões com letras e números em superfícies de lixa e as caixinhas menores escondidas nas caixas maiores! As contas! Ah as dezenas de contas multicoloridas onde descortinei o mundo da aritmética! Fico estático por momentos que não contabilizo diante da fascinação dos reluzentes materiais de ouro de Maria Montessori. Eu os manipulei – idênticos – durante os encantadores dias de minha meninice!

Quase não noto que chega, bem por trás, minha mãe gentilmente acompanhada pelo padre Eugenio Paccelli. Estremeço por estar assim tão próximo do mais próximo padre junto ao papa! O sacerdote espanta-se, com a discrição que lhe convém, quando Maria Montessori – uma cientista solteirona – apresenta o seu filho ali do lado. O Padre Paccelli assim tão de perto assemelha àquelas figuras do milenar teatro Kabuki japonês: finamente assexuado; cara extremamente pálida ao giz branco e fácies absolutamente marmórea. Isenta de quaisquer sinais emotivos terrenos. Perturbo-me, para desagrado de minha mãe, quando titubeio se beijo, ou não beijo, o sagrado anel do sinistro representante do papa à minha frente! Não consigo controlar o repulsivo sentimento de nojo que me aflora toda vez que me invade as narinas, o odor enjoativo que exala dos padres das variadas hierarquias: aquele misto das fórmulas secretas e indescritíveis de ceras, incenso e mirra, bolores dos escondidos catres e indevassáveis confessionários. Por fim, para minha satisfação, o lento padre sai, não sem antes fuzilar através dos seus característicos óculos redondinhos, as minhas vestimentas prosaicas para um dia tão especial,

Minha respiração parece acelerar perigosamente quando insisto rever os materiais simples e mágicos que me ergueram do terrível poço escuro de um acidente genético; aquele menino excepcional à beira do cretinismo irrecuperável.

Minha emoção vai às alturas e, por segurança, sou conduzido de volta do transe hipnótico pelo doutor que acompanhou-me e conduziu-me até uma outra vida anterior imediata. Agora sabemos das origens dos atropelos e dificuldades para o aprendizado. E as “marcas” no pescoço do menino, serão mesmo da guilhotina dos anos 1700s?

(Publicado originalmente na Revista Cerrado Cultural nº 02/2009)

CORDEL PARA RÔMULO MARINHO

Por Gustavo Dourado


Rômulo Marinho é de Guaçuí:

Capixaba de Celina...

Foi criado na Tijuca:

Compõe e não desafina:

Sua arte é dia.amante:

Quintessência cristalina...


Telegrafista-advogado:

Juiz e compositor...

Sindtelegrafista do Rio:

Foi presidente-diretor...

Da conhecida CONTCOP:

Foi presidente-fundador...


Anos Sessenta:

Vem ao Planalto Central...

Residência em Brasília:

Faz trabalho musical...

Secretário de Serviços Públicos:

Do Distrito Federal...


É membro da ANACIM:

E presidente-fundador...

Autores e Intérpretes:

Apoiam o compositor:

Nosso Vinícius do Cerrado:

Tem alma e voz de trovador...


Palindromista afamado:

Foi Deputado Federal...

Vários cargos exerceu:

Com ética profissional...

Sindescritores-Almub:

Sapiência cultural...


Parceiro de Evaldo Gouveia:

O conhecido cantor...

Fazem belas obras-primas:

Tudo em nome do Amor...

Rômulo Marinho, poeta:

Iluminado escritor...


Sindicato dos Escritores:

Atua como Diretor...

Do Direito Autoral:

É grande conhecedor...

Papalíndromo lapida:

Sua arte é um primor...


É o Rei do Palíndromo:

Nunca nasceu outro igual...

É como Pelé em campo:

Faz drible fenomenal...

Feito Garrincha na bola:

Faz verso monumental...


Contrato Coletivo de Trabalho:

(A Tua História) é social...

(TUCANO NA CUT) um marco:

Poética palindromal...

Palindromagia zen:

Verve do transcendental...


Fez o mais longo palíndromo:

Do idioma português...

478 letras,173 palavras:

Leio sempre todo mês...

É mestre n`arte da poesia:

É mago palindromês...


Aprecia a amizade:

Já curtiu a bhoemia...

Permanece na ativa:

Na arte da poemia...

Feito Noel do Cerrado:

Tece a sua fantasia...


Brasília muito lhe deve:

Fez verso para a cidade...

Admira JK:

Age com fraternidade...

É crítico da coisa errada:

Busca ética-verdade...

Dedicado à Família:

E à solidariedade...

Ama os filhos,curte os netos/as:

Cultiva a liberdade...

Sua poesia resplandece:

Flui a luminosidade...


É uma Usina de Letras:

Multiartista-criator...

Escritores e Poetas:

Têm apreço, dão valor...

Brasília homenageia:

O mestre compositor...


Internauta concriativo:

É vate navegador...

Pelos mares da Web:

Critica o mal.feitor

"Eles tão metendo a mão"

Do Pacotão, ganhador


Foi matéria no Correio:

Saiu na tela global...

Mantém a simplicidade:

Com seu toque natural...

Especialista em vinho:

Transmuta o hominal...


Pós-aposentadoria:

Dedica-se a criação

Cultua a dona Mirtes:

Amada do coração

É um amante da noite:

Faz sua Revôolução...


Rômulo Marinho, parabéns:

Poeta, mestre, criador...

Advogado respeitado:

Homem de grande valor...

Tem nossa admiração:

Batam palmas, por favor...

(Visite a página de Gustavo Dourado http://www.gustavodourado.com.br )

(Publicado originalmente na Revista Cerrado Cultural nº 02/1009)

DONO DA TERRA

Por Maria Moraes Miranda (1921-2010)

Ele habita onde seus olhos alcançam,
vivendo feliz no Planeta Terra.
É dono de campinas multicores,
de florestas que terminam na serra...

Caminhando embevecido na praia,
ou encantado num barco a vogar,
Sente-se dono dessas maravilhas:
do firmamento, da terra e do mar!

Age honestamente, com sobriedade,
tem o trabalho como companheiro.
Não teme as encruzilhadas da vida,
crê que Deus ilumina seu roteiro.

Estendendo a mão, querendo ajudar,
vai cumprindo jornadas com prazer.
Segue sereno aguardando a chamada
pra sua herança no Céu receber.

(Publicado originalmente na Revista Cerrado Cultural nº 02/2009)