Por Sérgio Moacir Pereira Fontana (Pelotas, RS)
João Cândido era um apaixonado por futebol. Tinha o hábito de escrever para os colunistas das seções de esportes dos jornais da capital e sentia-se muito satisfeito quando um de seus questionamentos ou opiniões caía no gosto do responsável pelas matérias, o que culminava com a publicação do seu texto, na íntegra, e com o seu nome no rodapé. Ficava mais feliz ainda quando outro leitor, ofendido por um ataque eventual a determinado clube ou jogador de futebol, transformava-se em antagonista e respondia, raivoso, a quaisquer das suas cartas, principiando, daí em diante, um debate que se estendia por algumas semanas. Mas isto tudo ele só fazia nas horas vagas. A maior parte do seu tempo era dedicado à Companhia de Trens, empresa pública onde trabalhava como telegrafista. Não cogitava, todavia, jogar futebol na várzea com os colegas de serviço. Esquivava-se, dizendo que tinha uma lesão crônica no joelho, oriunda de jornadas passadas. A verdade é que ele nem sabia chutar direito. Na adolescência ganhara o apelido de “pé-de-tábua” porque só conseguia impulsionar a bola com o lado do pé, e muito mal. Com vergonha das suas limitações técnicas, fugia da prática do futebol como o diabo foge da cruz.
A Copa do Mundo de 1950, que estava sendo realizada no Brasil, era o principal assunto nos bares e cafés do centro da cidade, distante uns 380 quilômetros da capital. João que estava sempre atento às notícias publicadas nos jornais e no rádio, entusiasmava-se quando era solicitado a esclarecer dúvidas ou explicar alguma coisa aos amigos a respeito das seleções envolvidas na competição, os resultados dos jogos e suas conseqüências mais imediatas.
A seleção brasileira, embalada depois de um quatro a zero no México, na abertura da Copa, no Maracanã, foi até a cidade de São Paulo enfrentar a Suíça, no estádio do Pacaembu. O resultado desse jogo já não foi tão bom. Um empate em dois a dois deixou a torcida brasileira - incluindo aí o “seu” João - muito preocupada. Mas o jogo contra a seleção da Iugoslávia, uns dias depois, no estádio do Maracanã, serviu para devolver a confiança ao time e ao povo brasileiro. Uma vitória por dois a zero classificou o Brasil para a próxima etapa do torneio.
Fanático pelo selecionado brasileiro, João Cândido tentava enquadrar os seus dias, ou as suas horas, de folga aos horários dos jogos do Brasil, com o objetivo de poder acompanhá-los em casa, pelas ondas curtas da Rádio Nacional do Rio de Janeiro, já que na repartição onde trabalhava não era permitido esse tipo de regalia. E assim ficou sabendo que as quatro seleções que se classificaram para a fase final jogariam um quadrangular, o que correspondia a três jogos para cada equipe. O escrete que fizesse o maior número de pontos, dentre os quatro, seria declarado campeão.
Os jogos do Brasil, pela ordem, seriam contra a Suécia, a Espanha e o Uruguai. Era só isto o que interessava. Os arrasadores escores obtidos contra os dois primeiros adversários, sete a um, seguido de um seis a um, com direito a gritos de “olé!” por parte da torcida brasileira no Maracanã, creditaram ao Brasil todo o favoritismo e, ao mesmo tempo, aliviaram a tensão do, cada vez mais feliz, telegrafista. O Uruguai também ganhara da Suécia, mas o empate com a Espanha tirava as suas chances de atrapalhar o Brasil. Bastava então aos brasileiros um simples empate contra o próprio Uruguai.
Muitos anos depois, João Cândido afirmou que na tarde de domingo, 16 de Julho, nem se preocupou em sintonizar o rádio. Lembrou ter visto que o cartaz do cine Avenida, no dia anterior ao jogo, anunciava para as quatro e quinze da tarde de domingo a reprise da comédia “Às Voltas com Fantasmas”, com Abbott e Costello. Foi ao cinema, tranqüilo. Um pouco antes de iniciar a sessão, já dentro da casa de espetáculos, ouviu muitos foguetes a pipocar. Suspirou aliviado e concentrou-se no filme. Provavelmente as demais, onze ou doze, pessoas que se encontravam no local, também fizeram o mesmo. Na saída, sob a tênue luz natural do sol poente, encontrou a rua vazia e silenciosa. Nem foguetes, nem carros, nem gente festejando. Disse ainda que durante, pelo menos, um minuto não compreendeu o que estava acontecendo, e revelou a seguir, com lágrimas nos olhos:
- É como se o tempo tivesse parado e levado todo mundo embora, só esqueceu da gente porque estávamos dentro do cinema.
O povo da pequena cidade onde o “seu” João residia, até hoje diz que o tradicional “um minuto de silêncio”, destinado a homenagens póstumas e adotado pelos árbitros antes do início de todas as partidas oficiais de futebol no Brasil, tem sua origem nesse relato de João Cândido.
Sobre o autor:
Sérgio Moacir Pereira Fontana, brasileiro, nascido em 1959 na cidade de Bagé, estado do Rio Grande do Sul, é Bacharel em Meteorologia, Engenheiro Civil e Servidor Público da Universidade Federal de Pelotas, onde atua na área de telecomunicações.
O tempo livre é dedicado, na sua maior parte, a pesquisas históricas e tecnológicas de diversas fontes, as quais lhe garantem subsídios seguros para desenvolver o que mais aprecia que é a arte de escrever. Em seu blog "O Século XX" http://oseculoxx.blogspot.com e no blog "Auxiliadora, Bagé, RS - 1976" http://auxiliadora1976.blogspot.com , como colaborador, exercita esta vontade.
(Originalmente publicado no nº 2 da Revista Cerrado Cultural).
Revista literária virtual de divulgação de escritores, poetas e amantes das letras e artes. Editor: Paccelli José Maracci Zahler Todas as opiniões aqui expressas são de responsabilidade dos autores. Aceitam-se colaborações. Contato: cerrado.cultural@gmail.com
quinta-feira, 27 de janeiro de 2011
CORDEL DO ARMAGEDOM (7/7/1977)
Por Gustavo Dourado (Amargedom)
Pra começo de viagem
Preciso me apresentar
Sou poeta do destino
Uma história vou contar
Da Guerra do Armagedon
Que ao mundo vai transformar...
Canto a guerra no repente
Fim dos tempos a chegar
A malícia da serpente
Vem uma besta do ar
Controle do Pensamento:
Homens a escravizar...
A guerra sempre existiu
Da caverna ao avião
O homem sempre brigou
Por uma falsa razão
Destruindo o semelhante
Por prazer e por paixão...
Refaço a visão do Apocalipse
Do profeta São João
A cidade dos remidos
A musa da salvação
O berço da eternidade
A glória da perfeição...
As profecias se cumprem
Seria bom que se sentisse
Os profetas predisseram
Nostradamus bem que disse
De Patmos profetizou
O homem do Apocalipse...
Treme a Terra, geme o Povo.
Em tremenda desventura
Terremoto em toda parte
Aumenta a temperatura
O terror faz a moeda
Nos leva à sepultura...
O tempo me preocupa
É hora de meditar
Virá um grande cometa
Para tudo iluminar
Uma chuva de meteoro
Para nos amedrontar...
Gafanhotos atacarão
Guerra bacteriológica
Vírus, fungos e doenças.
E praga tecnológica
A Guerra do Armagedon:
Em transe psicológica...
Guerra-Ódio e amargura
Desgraça e destruição
O Terror invade a Terra
Gerando medo e aflição
A Guerra do Armagedon:
Será a Grande Questão...
Não se fala em Poesia
Só se vê Corrupção
Filhos desrespeitam os pais
Cresce a prostituição
Comanda a Ditadura:
Com tortura e repressão...
O povo a passar fome
A miséria é total
Em toda parte da Terra
A desgraça é geral
O petróleo sobe sempre:
Tudo é mesmo desigual...
Praga – doença e moléstia
Terremoto a abalar
Todo o globo terrestre
Começa a se inundar
Maremoto e furacão:
Muita gente a matar...
Reinam be$tas poderosas:
O homem a governar
Vem a besta americana
Controlar terra e mar
Aliada de Satã:
Faz a guerra prosperar...
Os problemas são gigantes:
É nação contra nação
Todo mundo está na luta
Na Grande Rebelião
Manda a besta do pecado:
Enfeitiça a Multidão...
Livros serão proibidos
Guerra contra o Islão
Desvirtuaram a Bíblia
Na Nova Inquisição:
Conflitos no Oriente:
Iraque – Afeganistão...
O homem é reprimido
Não se pode ser irmão
A verdade proibida:
Será grande a confusão
Pra comprar ou pra vender:
Tem que ter numeração...
Morreu o deus de outrora:
Tudo agora é diferente
“Viva o Homem do Pecado”:
Ouço a voz da pobre gente
Adoram um Imperador:
E a besta do Presidente...
Criarão um mandamento
Todos têm de respeitar
Adorar a Satanás
Pra viver e pra comprar
Quem não tiver o sinal:
Não precisa nem rezar...
A Terra em grande dor
Quem poderá nos salvar?
É grande a exploração
O pobre a massacrar
O povo alienado:
A imagem a adorar...
Guerra fria imperial
De russo e americano
Conflito...espionagem
Muito medo e engano
O lucro e a mais valia
Traz ao homem muito dano...
Não existe comunista
Democrata não nasceu
O ser humano é ditador
Só pensa no que é seu
Consumismo e poder:
Nosso homem se perdeu...
A Verdade está presa
Reina a hipocrisia
A mentira é a moeda
Comanda a putaria
Está tudo endiabrado:
Desgoverno na orgia...
Gente de sexo trocado
Homem virando mulher
É mulher que vira homem
William que vira Ester
Em mulher que era macho:
Quem vai meter a colher?!.
Homem com homem casado
Ligado cangote e pé
Tem tara pra todo lado
Tem Maria que é Zé
E tem Zé que é Maria
Já tô ficando lelé...
Cassino por toda parte
Loteria e milhar
Tudo aqui é diversão
Jogo do bicho e de azar
O desemprego crescente
Faz o povo se virar...
Os ricos estão mais ricos
Muito gente a roubar
Desfalcam o nosso Erário
Sem ligar para o azar
Exploram o dia todo
Para o tesouro aumentar...
Não existe mais verdade
Só se vê demagogia
O Terror a detonar
Dia e noite...Noite e dia...
A corrupção impera
Explode a Democracia...
A miséria se agiganta
A fome se multiplica
O pobre está na dança
Cada vez mais se complica
Ninguém liga para o povo:
Nessa vida de titica...
É chegado o momento
Da grande desolação
A batalha crucial:
Uma louca confusão
A Guerra do Armagedon
É caos e destruição...
O mundo está com medo
De enfrentar o temporal
O homem está perdido
No Pecado Capital
Corrompeu o coração:
Eis aí o grande mal...
Ninguém teme o futuro
Nem procura a Razão
O Amor foi sepultado
Está faltando o pão
Só se deseja poder
Neste mundo de ilusão...
O desgoverno comanda
O Estado está doente
Liberdade só vai ter
Pra se adorar a $erpente
O sistema desumano:
Oprime, mata e mente...
Começou o Grande Império
Reino da destruição
Do engano e da miséria
Medo e profanação
O homem está perdido
Na via da solidão...
Foi aceso o estopim
Lá nas bandas do Islão
No Irã do Aiatolá:
Iraque – Afeganistão
Palestina e Israel
Na Índia e Paquistão...
Os dias estão contados
Para o velho Reino Unido
O Império Americano
Prepara o seu gemido
O Império Soviético
Que também será vencido...
Morre o velho “comunismo”
A esgotar-se pelo mundo
A Guerra do Armagedon
Terá estrondo profundo
Sobreviverá a Luz:
Morrerá o ser imundo...
A Guerra do Armagedon:
A intervenção de Miguel
Perseguição ao Islã
Conflito com Israel
Palestinos na berlinda
Na terra de leite e mel...
O Brasil será potência?
A Austrália, uma rainha.
Países mediterrâneos
Seguirão a outra linha
A Europa dividida
É a guerra que caminha...
África a se rebelar
A Ásia num só estouro
EuroAmérica como centro
Cantarola um novo agouro
Bombas, guerras, invasões.
Desgoverno de um touro...
O último dos Papas
Pietro será chamado
O último da dinastia
O final de um Estado
Dá adeus ao Vaticano
Será tudo transformado...
O Papado mudará
Da sede do Vaticano
Um novo Papa reinará
No continente americano
Deve ir para o Brasil:
Onde cairá o pano...
A decadência da Igreja
Veio com a Inquisição
tornou-se um vasto Império
Esqueceu a salvação
O Brasil foi escolhido
Pro fim da religião...
Um colapso mundial
Por causa da energia
Falsos profetas prometem
Paz, pureza e harmonia.
É o Reino do Anti-Cristo:
A besta da hipocrisia...
Surge a grande meretriz
Babilônia, a grande musa.
O caos se espalha na Terra
A multidão fica confusa
Sorve a taça de sangue:
Que a Besta-Fera U.$.A
Vive-se a confusão
O Terror está no ar
A TV mostra a guerra:
O Horror a atacar
Naves a explodirem
Bombas a nos detonar...
É a fome massacrante
Multidões a dizimar
Terroristas de plantão
Prontos para pipocar
A Guerra do Armagedon
Será de arrepiar...
Terá Bomba de Hidrogênio
Raio Laser pra matar
Bomba de Antimatéria
Vai desmaterializar
Terá Bomba de Neutrônio
Pra tudo paralisar...
A Terra fora dos eixos
Em grande transformação
Terremoto e hecatombe
Maremoto e furacão
Ondas gigantes no Mar
E a fúria do vulcão...
A Terra entrará em transe
Tempestade a dizimar
Gigantesca inundação
Um dilúvio de matar
Fogo, água e meteoro.
Tudo vai se transformar...
O egoísmo é tirano
Faz o homem guerrear
Usar o conhecimento
Pra excluir e matar
Aprisiona a liberdade
Tira o outro do lugar...
A guerra surgiu tão logo
Ao mundo o homem veio
Um se julgando bonito
O outro se achando feio
Surgiu a luta ferina
Partindo tudo no meio...
Descobriu-se o armamento
Primeiro que a Educação
A estratégia da guerra
Sempre teve promoção
O mundo está doente
Cheio de poluição...
É a luta dos sistemas
Ciência e Religião
A política do mal
Faz a espoliação
Mata o povo de fome
Com tanta corrupção...
Geram medo nas pessoas
Fazem a profanação
É o credo diabólico
A grande imposição
Submetem tanta gente
Com ódio e opressão...
Caminhamos pro incerto
Sinto medo e amargura
Na frente a hecatombe
Ao lado a sepultura
Congelaram o Amor
Petrificaram a ternura...
Começou na Idade Antiga
Primor da civilização
Lá nas terras da Suméria
Anunakis em ação
De Babel à Babilônia:
Instaurou-se a confusão...
Tarsis era atlante
Egito piramidal
Fenícia dos navegantes
Tiro era fenomenal
Nínive era colosso
A mudança foi total...
Tinha o Império de Mu
Um povo adiantado
De alta tecnologia
Alta classe e rico Estado
Foi para o fundo do Mar:
Ficou tudo sepultado...
Em Lemúria e Atlântida
Tudo era colossal
Maias, incas e astecas
Era um poder magistral
Tupis e peles vermelhas
Foi um tempo sem igual...
Foi-se um tempo de potência
Tudo era diferente
Vivia-se em plena festa
Era um tempo caliente
A injustiça comandava:
Nos tempos de antigamente...
Até que veio o Terror
A desgraça foi geral
Veio o grande dilúvio
Numa inundação total
A vingança dos deuses
Contra o filho hominal...
Escapou um cidadão
Cujo nome era Noé
Foi destaque entre nós
Pois em Deus botava fé
Redimiu a raça humana
Que vive em marcha ré...
Deu-se a continuidade
Da espécie da ambição
O homem se elevou
E olhou pra amplidão
Começou a guerrear
E matar o seu irmão...
Tinha Sodoma e Gomorra
Pompéia e Herculano
O fogo abrasou tudo
Com a fúria de Vulcano
Tróia e Alexandria
Sumiram no oceano...
Cidades da Antigüidade
Persepólis foi arruinada
Alexandre pilhou tudo
Foi grande a derrocada
Karnac – Helicarnasso
Sumiram na madrugada...
Morreram hiperboreus
Os loiros ocidentais
Orgulhosos arianos
Poderosos generais
Nas águas dos oceanos
Ao poder terão jamais...
O egoísmo não morreu
Faz o homem se matar
Avareza e mentira
O homem a enganar
Usura e lucro fácil
O homem a explorar...
Surgiram novos impérios
O poder se renovou
Árabes e judeus
Por tudo sempre brigou
Na luta pelo poder
A verdade se enterrou...
A Pirâmide de Gizé,
A Esfinge de valor
Queóps e Miquerinos
O instinto construtor
O Rio Nilo a molhar
Fez brotar a luz da flor...
O homem não se contenta
Com aquilo que ele tem
Sempre quer aumentar
O poder que não convém
Para atingir a meta
Não respeita seu ninguém...
Homem escravo do homem
Mania de ser superior
Passa por cima de tudo
Provoca medo e dor
A luta pelo poder
Trouxe a morte do amor...
Egito, Síria e Iraque
Guerra no Oriente Médio
Palestina perseguida
Terror, ódio, medo, tédio
O homem provoca o mal
Para ele tem remédio?!
Origem do patriarcado
Do errante povo hebreu
Conta a velha escritura
Que o tempo concebeu
Mostra a vida de Abraão
O patriarca judeu...
Dividiu sua família
Expulsou a Ismael
Teve um filho com Sarai
Isaque, pai de Israel
Tirou de um deu ao outro:
A terra de leite e mel...
Dividiram-se os irmãos
Em tribos bem desiguais
Foi em Ur da Caldéia
As divisões raciais
Do Iraque ao Egito:
A confusão é demais...
Ismael foi para um lado
Para ter futuro incerto
Era filho de estrangeira
Não tinha destino certo
Foi expulso pelo pai
Para viver no deserto...
Isaque foi abençoado
Teve toda regalia
Cresceu em sua mente
Ego e megalomania
Transmitiu aos descendentes
O poder que possuía...
Aí está o mistério
É uma luta de irmão
Árabes e israelenses
Precisam de evolução
Buscar paz e tolerância
Harmonia e comunhão...
O conflito prosseguiu
Com Jacó e Esaú
O Jacó foi mais esperto
Deixou pois o outro nu
Enganou o primogênito
Causou o maior rebu...
Será no Médio Oriente
No Estado de Israel
A Guerra do Armagedon
Uma batalha cruel
Luta do bem contra o mal
De Satã contra Miguel...
Har-Magido é mistério
No Megido há rebeldia
Planície de Jezrael
A morte da hipocrisia
Na Guerra do Armagedon
Morrerá a tirania...
O homem não tem remédio
É um eterno carniceiro
Desde os tempos da caverna
Tem mania de guerreiro
A Guerra do Armagedon
Abalará o mundo inteiro...
O petróleo do Oriente
Causará a confusão
Árabe e israelense
Nunca mais se unirão
Na Guerra do Armagedon
Vamos ver quem tem razão...
Israel tremula e treme
Por matar o redentor
O rabi assassinado
Mestre e consolador
Até hoje é negado
Por um povo sofredor...
Crise no Oriente Médio
Terror na Mesopotâmia
Invasão tortura e morte
Na terra da Babilônia
A Águia na invasão
Gera dor medo e insônia...
É tempo de ironia
Do crente e do ateu
O demo na gargalhada
Nunca se escafedeu
Atenta para o pecado
O nobre e o plebeu...
Judeus e palestinos
Mesmo povo perseguido
Eles dizem ser de Deus
O povo bem escolhido
E que a bela Jerusalém
Será um reino remido...
Judeus são discriminados
Foram vítimas de racismo
Sofreram lá na Europa
Sob a égide do Nazismo
Fazem com os palestinos
As loucuras do fascismo...
A Bíblia nos atormenta
Com as suas profecias
Vejo a deusa prostituta
Nas horas contando os dias
Babilônia com o vinho
Enlouquece nas orgias...
Vejo a Terra tremer
Maremoto e explosão
Grande Cidade atacada
Por satélite e avião
Tempestade e geleira
Bomba, vírus, furacão...
É o fim da religião
A verdade se emperra
Ateus, profanos e crentes
Brigando na eterna guerra
Todos na ambição
De ter o planeta Terra...
O Papa mudará
Da Europa pro Brasil
Tomarão o Vaticano
Com bomba e com fuzil
O papa como é esperto
Não quer perder o covil...
Sai da Praça de São Pedro
Em busca de outro lugar
Deixa a vida de nobre
Terá que modificar
Novo tempo, nova era
Novo homem vai raiar...
Anti-Cristo, Falso Profeta
Estão juntos pra brigar
O falso Cristianismo
Um dia vai acabar
Ouvi um dia em sonho:
Que o bem vai triunfar...
O cordeiro apocalítico
O sagrado redentor
Prometeu a liberdade
A Poesia e o Amor
Eliminará da Terra:
O sistema de Terror...
Os selos já foram abertos
Começa a transformação
Vejo Gogue e Magogue
O Demo na ebulição
As duas bestas brigando
E adorando o Dragão...
A América belicista
A Europa a reclamar
A Rússia esfacelada
Israel a se armar
O Islã se elevando:
A guerra está no ar...
É a voz da profecia
Em tempo de revelação
Do mistério cabalístico
Do profeta São João
É o princípio da dor
Vou fazer meditação...
O capital faz a guerra
Dilacera o amor
Aniquila com a paz
Tortura com sua dor
O Diabo nos engana
Com seu ar de traidor...
As ogivas a dançarem
Bactérias no ar
Os fungos e cogumelos
Fazem o robô chorar
Na Guerra do Armagedon
O homem vai se transformar...
*Poema apresentado em Brasília, no Festival Nacional de Cordelistas e Poetas Repentistas(1980) e gravado em entrevista
pela antropóloga Silvie Raynal da Universidade de Sorbonne(Paris),
em Brasília, agosto de 1980.
Sobre o autor:
Gustavo Dourado (Amargedom), professor, poeta, cordelista, ensaísta, articulista, escritor, jornalista, pesquisador. Autor de 11 livros. Premiado na Áustria e recomendado pelo World Poetry Day e World Portal Libraries, ambos da Unesco. Dourado foi objeto de tese de mestrado na Universidade Federal de Ouro Preto e de doutorado na Sorbonne e na Universidade Federal da Paraíba. Sua obra(principalmente o Cordel) foi discutida em várias universidades do Brasil e do exterior: Sorbonne(Silvie Raynal), Manz(Wolf Lustig), UnB(Michelle Sampaio), entre outras. Faz parte do Grupo da Memória da Educação do DF(UnB/SEEDF). Organizou o livro “40 anos de Educação no Distrito Federal”, com ênfase na experiência do educador Anísio Teixeira.
Página pessoal: www.gustavodourado.com.br: blog: http://cordel.zip.net: antologia poética www.ebooks.avbl.com.br/biblioteca1/gustavodourado.htm
(Originalmente publicado no nº 2 da Revista Cerrado Cultural).
Pra começo de viagem
Preciso me apresentar
Sou poeta do destino
Uma história vou contar
Da Guerra do Armagedon
Que ao mundo vai transformar...
Canto a guerra no repente
Fim dos tempos a chegar
A malícia da serpente
Vem uma besta do ar
Controle do Pensamento:
Homens a escravizar...
A guerra sempre existiu
Da caverna ao avião
O homem sempre brigou
Por uma falsa razão
Destruindo o semelhante
Por prazer e por paixão...
Refaço a visão do Apocalipse
Do profeta São João
A cidade dos remidos
A musa da salvação
O berço da eternidade
A glória da perfeição...
As profecias se cumprem
Seria bom que se sentisse
Os profetas predisseram
Nostradamus bem que disse
De Patmos profetizou
O homem do Apocalipse...
Treme a Terra, geme o Povo.
Em tremenda desventura
Terremoto em toda parte
Aumenta a temperatura
O terror faz a moeda
Nos leva à sepultura...
O tempo me preocupa
É hora de meditar
Virá um grande cometa
Para tudo iluminar
Uma chuva de meteoro
Para nos amedrontar...
Gafanhotos atacarão
Guerra bacteriológica
Vírus, fungos e doenças.
E praga tecnológica
A Guerra do Armagedon:
Em transe psicológica...
Guerra-Ódio e amargura
Desgraça e destruição
O Terror invade a Terra
Gerando medo e aflição
A Guerra do Armagedon:
Será a Grande Questão...
Não se fala em Poesia
Só se vê Corrupção
Filhos desrespeitam os pais
Cresce a prostituição
Comanda a Ditadura:
Com tortura e repressão...
O povo a passar fome
A miséria é total
Em toda parte da Terra
A desgraça é geral
O petróleo sobe sempre:
Tudo é mesmo desigual...
Praga – doença e moléstia
Terremoto a abalar
Todo o globo terrestre
Começa a se inundar
Maremoto e furacão:
Muita gente a matar...
Reinam be$tas poderosas:
O homem a governar
Vem a besta americana
Controlar terra e mar
Aliada de Satã:
Faz a guerra prosperar...
Os problemas são gigantes:
É nação contra nação
Todo mundo está na luta
Na Grande Rebelião
Manda a besta do pecado:
Enfeitiça a Multidão...
Livros serão proibidos
Guerra contra o Islão
Desvirtuaram a Bíblia
Na Nova Inquisição:
Conflitos no Oriente:
Iraque – Afeganistão...
O homem é reprimido
Não se pode ser irmão
A verdade proibida:
Será grande a confusão
Pra comprar ou pra vender:
Tem que ter numeração...
Morreu o deus de outrora:
Tudo agora é diferente
“Viva o Homem do Pecado”:
Ouço a voz da pobre gente
Adoram um Imperador:
E a besta do Presidente...
Criarão um mandamento
Todos têm de respeitar
Adorar a Satanás
Pra viver e pra comprar
Quem não tiver o sinal:
Não precisa nem rezar...
A Terra em grande dor
Quem poderá nos salvar?
É grande a exploração
O pobre a massacrar
O povo alienado:
A imagem a adorar...
Guerra fria imperial
De russo e americano
Conflito...espionagem
Muito medo e engano
O lucro e a mais valia
Traz ao homem muito dano...
Não existe comunista
Democrata não nasceu
O ser humano é ditador
Só pensa no que é seu
Consumismo e poder:
Nosso homem se perdeu...
A Verdade está presa
Reina a hipocrisia
A mentira é a moeda
Comanda a putaria
Está tudo endiabrado:
Desgoverno na orgia...
Gente de sexo trocado
Homem virando mulher
É mulher que vira homem
William que vira Ester
Em mulher que era macho:
Quem vai meter a colher?!.
Homem com homem casado
Ligado cangote e pé
Tem tara pra todo lado
Tem Maria que é Zé
E tem Zé que é Maria
Já tô ficando lelé...
Cassino por toda parte
Loteria e milhar
Tudo aqui é diversão
Jogo do bicho e de azar
O desemprego crescente
Faz o povo se virar...
Os ricos estão mais ricos
Muito gente a roubar
Desfalcam o nosso Erário
Sem ligar para o azar
Exploram o dia todo
Para o tesouro aumentar...
Não existe mais verdade
Só se vê demagogia
O Terror a detonar
Dia e noite...Noite e dia...
A corrupção impera
Explode a Democracia...
A miséria se agiganta
A fome se multiplica
O pobre está na dança
Cada vez mais se complica
Ninguém liga para o povo:
Nessa vida de titica...
É chegado o momento
Da grande desolação
A batalha crucial:
Uma louca confusão
A Guerra do Armagedon
É caos e destruição...
O mundo está com medo
De enfrentar o temporal
O homem está perdido
No Pecado Capital
Corrompeu o coração:
Eis aí o grande mal...
Ninguém teme o futuro
Nem procura a Razão
O Amor foi sepultado
Está faltando o pão
Só se deseja poder
Neste mundo de ilusão...
O desgoverno comanda
O Estado está doente
Liberdade só vai ter
Pra se adorar a $erpente
O sistema desumano:
Oprime, mata e mente...
Começou o Grande Império
Reino da destruição
Do engano e da miséria
Medo e profanação
O homem está perdido
Na via da solidão...
Foi aceso o estopim
Lá nas bandas do Islão
No Irã do Aiatolá:
Iraque – Afeganistão
Palestina e Israel
Na Índia e Paquistão...
Os dias estão contados
Para o velho Reino Unido
O Império Americano
Prepara o seu gemido
O Império Soviético
Que também será vencido...
Morre o velho “comunismo”
A esgotar-se pelo mundo
A Guerra do Armagedon
Terá estrondo profundo
Sobreviverá a Luz:
Morrerá o ser imundo...
A Guerra do Armagedon:
A intervenção de Miguel
Perseguição ao Islã
Conflito com Israel
Palestinos na berlinda
Na terra de leite e mel...
O Brasil será potência?
A Austrália, uma rainha.
Países mediterrâneos
Seguirão a outra linha
A Europa dividida
É a guerra que caminha...
África a se rebelar
A Ásia num só estouro
EuroAmérica como centro
Cantarola um novo agouro
Bombas, guerras, invasões.
Desgoverno de um touro...
O último dos Papas
Pietro será chamado
O último da dinastia
O final de um Estado
Dá adeus ao Vaticano
Será tudo transformado...
O Papado mudará
Da sede do Vaticano
Um novo Papa reinará
No continente americano
Deve ir para o Brasil:
Onde cairá o pano...
A decadência da Igreja
Veio com a Inquisição
tornou-se um vasto Império
Esqueceu a salvação
O Brasil foi escolhido
Pro fim da religião...
Um colapso mundial
Por causa da energia
Falsos profetas prometem
Paz, pureza e harmonia.
É o Reino do Anti-Cristo:
A besta da hipocrisia...
Surge a grande meretriz
Babilônia, a grande musa.
O caos se espalha na Terra
A multidão fica confusa
Sorve a taça de sangue:
Que a Besta-Fera U.$.A
Vive-se a confusão
O Terror está no ar
A TV mostra a guerra:
O Horror a atacar
Naves a explodirem
Bombas a nos detonar...
É a fome massacrante
Multidões a dizimar
Terroristas de plantão
Prontos para pipocar
A Guerra do Armagedon
Será de arrepiar...
Terá Bomba de Hidrogênio
Raio Laser pra matar
Bomba de Antimatéria
Vai desmaterializar
Terá Bomba de Neutrônio
Pra tudo paralisar...
A Terra fora dos eixos
Em grande transformação
Terremoto e hecatombe
Maremoto e furacão
Ondas gigantes no Mar
E a fúria do vulcão...
A Terra entrará em transe
Tempestade a dizimar
Gigantesca inundação
Um dilúvio de matar
Fogo, água e meteoro.
Tudo vai se transformar...
O egoísmo é tirano
Faz o homem guerrear
Usar o conhecimento
Pra excluir e matar
Aprisiona a liberdade
Tira o outro do lugar...
A guerra surgiu tão logo
Ao mundo o homem veio
Um se julgando bonito
O outro se achando feio
Surgiu a luta ferina
Partindo tudo no meio...
Descobriu-se o armamento
Primeiro que a Educação
A estratégia da guerra
Sempre teve promoção
O mundo está doente
Cheio de poluição...
É a luta dos sistemas
Ciência e Religião
A política do mal
Faz a espoliação
Mata o povo de fome
Com tanta corrupção...
Geram medo nas pessoas
Fazem a profanação
É o credo diabólico
A grande imposição
Submetem tanta gente
Com ódio e opressão...
Caminhamos pro incerto
Sinto medo e amargura
Na frente a hecatombe
Ao lado a sepultura
Congelaram o Amor
Petrificaram a ternura...
Começou na Idade Antiga
Primor da civilização
Lá nas terras da Suméria
Anunakis em ação
De Babel à Babilônia:
Instaurou-se a confusão...
Tarsis era atlante
Egito piramidal
Fenícia dos navegantes
Tiro era fenomenal
Nínive era colosso
A mudança foi total...
Tinha o Império de Mu
Um povo adiantado
De alta tecnologia
Alta classe e rico Estado
Foi para o fundo do Mar:
Ficou tudo sepultado...
Em Lemúria e Atlântida
Tudo era colossal
Maias, incas e astecas
Era um poder magistral
Tupis e peles vermelhas
Foi um tempo sem igual...
Foi-se um tempo de potência
Tudo era diferente
Vivia-se em plena festa
Era um tempo caliente
A injustiça comandava:
Nos tempos de antigamente...
Até que veio o Terror
A desgraça foi geral
Veio o grande dilúvio
Numa inundação total
A vingança dos deuses
Contra o filho hominal...
Escapou um cidadão
Cujo nome era Noé
Foi destaque entre nós
Pois em Deus botava fé
Redimiu a raça humana
Que vive em marcha ré...
Deu-se a continuidade
Da espécie da ambição
O homem se elevou
E olhou pra amplidão
Começou a guerrear
E matar o seu irmão...
Tinha Sodoma e Gomorra
Pompéia e Herculano
O fogo abrasou tudo
Com a fúria de Vulcano
Tróia e Alexandria
Sumiram no oceano...
Cidades da Antigüidade
Persepólis foi arruinada
Alexandre pilhou tudo
Foi grande a derrocada
Karnac – Helicarnasso
Sumiram na madrugada...
Morreram hiperboreus
Os loiros ocidentais
Orgulhosos arianos
Poderosos generais
Nas águas dos oceanos
Ao poder terão jamais...
O egoísmo não morreu
Faz o homem se matar
Avareza e mentira
O homem a enganar
Usura e lucro fácil
O homem a explorar...
Surgiram novos impérios
O poder se renovou
Árabes e judeus
Por tudo sempre brigou
Na luta pelo poder
A verdade se enterrou...
A Pirâmide de Gizé,
A Esfinge de valor
Queóps e Miquerinos
O instinto construtor
O Rio Nilo a molhar
Fez brotar a luz da flor...
O homem não se contenta
Com aquilo que ele tem
Sempre quer aumentar
O poder que não convém
Para atingir a meta
Não respeita seu ninguém...
Homem escravo do homem
Mania de ser superior
Passa por cima de tudo
Provoca medo e dor
A luta pelo poder
Trouxe a morte do amor...
Egito, Síria e Iraque
Guerra no Oriente Médio
Palestina perseguida
Terror, ódio, medo, tédio
O homem provoca o mal
Para ele tem remédio?!
Origem do patriarcado
Do errante povo hebreu
Conta a velha escritura
Que o tempo concebeu
Mostra a vida de Abraão
O patriarca judeu...
Dividiu sua família
Expulsou a Ismael
Teve um filho com Sarai
Isaque, pai de Israel
Tirou de um deu ao outro:
A terra de leite e mel...
Dividiram-se os irmãos
Em tribos bem desiguais
Foi em Ur da Caldéia
As divisões raciais
Do Iraque ao Egito:
A confusão é demais...
Ismael foi para um lado
Para ter futuro incerto
Era filho de estrangeira
Não tinha destino certo
Foi expulso pelo pai
Para viver no deserto...
Isaque foi abençoado
Teve toda regalia
Cresceu em sua mente
Ego e megalomania
Transmitiu aos descendentes
O poder que possuía...
Aí está o mistério
É uma luta de irmão
Árabes e israelenses
Precisam de evolução
Buscar paz e tolerância
Harmonia e comunhão...
O conflito prosseguiu
Com Jacó e Esaú
O Jacó foi mais esperto
Deixou pois o outro nu
Enganou o primogênito
Causou o maior rebu...
Será no Médio Oriente
No Estado de Israel
A Guerra do Armagedon
Uma batalha cruel
Luta do bem contra o mal
De Satã contra Miguel...
Har-Magido é mistério
No Megido há rebeldia
Planície de Jezrael
A morte da hipocrisia
Na Guerra do Armagedon
Morrerá a tirania...
O homem não tem remédio
É um eterno carniceiro
Desde os tempos da caverna
Tem mania de guerreiro
A Guerra do Armagedon
Abalará o mundo inteiro...
O petróleo do Oriente
Causará a confusão
Árabe e israelense
Nunca mais se unirão
Na Guerra do Armagedon
Vamos ver quem tem razão...
Israel tremula e treme
Por matar o redentor
O rabi assassinado
Mestre e consolador
Até hoje é negado
Por um povo sofredor...
Crise no Oriente Médio
Terror na Mesopotâmia
Invasão tortura e morte
Na terra da Babilônia
A Águia na invasão
Gera dor medo e insônia...
É tempo de ironia
Do crente e do ateu
O demo na gargalhada
Nunca se escafedeu
Atenta para o pecado
O nobre e o plebeu...
Judeus e palestinos
Mesmo povo perseguido
Eles dizem ser de Deus
O povo bem escolhido
E que a bela Jerusalém
Será um reino remido...
Judeus são discriminados
Foram vítimas de racismo
Sofreram lá na Europa
Sob a égide do Nazismo
Fazem com os palestinos
As loucuras do fascismo...
A Bíblia nos atormenta
Com as suas profecias
Vejo a deusa prostituta
Nas horas contando os dias
Babilônia com o vinho
Enlouquece nas orgias...
Vejo a Terra tremer
Maremoto e explosão
Grande Cidade atacada
Por satélite e avião
Tempestade e geleira
Bomba, vírus, furacão...
É o fim da religião
A verdade se emperra
Ateus, profanos e crentes
Brigando na eterna guerra
Todos na ambição
De ter o planeta Terra...
O Papa mudará
Da Europa pro Brasil
Tomarão o Vaticano
Com bomba e com fuzil
O papa como é esperto
Não quer perder o covil...
Sai da Praça de São Pedro
Em busca de outro lugar
Deixa a vida de nobre
Terá que modificar
Novo tempo, nova era
Novo homem vai raiar...
Anti-Cristo, Falso Profeta
Estão juntos pra brigar
O falso Cristianismo
Um dia vai acabar
Ouvi um dia em sonho:
Que o bem vai triunfar...
O cordeiro apocalítico
O sagrado redentor
Prometeu a liberdade
A Poesia e o Amor
Eliminará da Terra:
O sistema de Terror...
Os selos já foram abertos
Começa a transformação
Vejo Gogue e Magogue
O Demo na ebulição
As duas bestas brigando
E adorando o Dragão...
A América belicista
A Europa a reclamar
A Rússia esfacelada
Israel a se armar
O Islã se elevando:
A guerra está no ar...
É a voz da profecia
Em tempo de revelação
Do mistério cabalístico
Do profeta São João
É o princípio da dor
Vou fazer meditação...
O capital faz a guerra
Dilacera o amor
Aniquila com a paz
Tortura com sua dor
O Diabo nos engana
Com seu ar de traidor...
As ogivas a dançarem
Bactérias no ar
Os fungos e cogumelos
Fazem o robô chorar
Na Guerra do Armagedon
O homem vai se transformar...
*Poema apresentado em Brasília, no Festival Nacional de Cordelistas e Poetas Repentistas(1980) e gravado em entrevista
pela antropóloga Silvie Raynal da Universidade de Sorbonne(Paris),
em Brasília, agosto de 1980.
Sobre o autor:
Gustavo Dourado (Amargedom), professor, poeta, cordelista, ensaísta, articulista, escritor, jornalista, pesquisador. Autor de 11 livros. Premiado na Áustria e recomendado pelo World Poetry Day e World Portal Libraries, ambos da Unesco. Dourado foi objeto de tese de mestrado na Universidade Federal de Ouro Preto e de doutorado na Sorbonne e na Universidade Federal da Paraíba. Sua obra(principalmente o Cordel) foi discutida em várias universidades do Brasil e do exterior: Sorbonne(Silvie Raynal), Manz(Wolf Lustig), UnB(Michelle Sampaio), entre outras. Faz parte do Grupo da Memória da Educação do DF(UnB/SEEDF). Organizou o livro “40 anos de Educação no Distrito Federal”, com ênfase na experiência do educador Anísio Teixeira.
Página pessoal: www.gustavodourado.com.br: blog: http://cordel.zip.net: antologia poética www.ebooks.avbl.com.br/biblioteca1/gustavodourado.htm
(Originalmente publicado no nº 2 da Revista Cerrado Cultural).
CORDEL: DO SERTÃO NORDESTINO À CONTEMPORANEIDADE DA INTERNET... (ENSAIO)
Por Gustavo Dourado
Os Doze Pares de França, O Pavão Misterioso, Juvenal e o Dragão, Donzela Teodora, Imperatriz Porcina, Princesa Magalona, Roberto do Diabo, Côco Verde e Melancia, João de Calais, O Cachorro dos Mortos, A Chegada de Lampião no Inferno, Viagem a São Saruê…São livros do povo (alicerçado no pensamento do mestre Luís da Câmara Cascudo e deste poeta cordelista).Fontes da Poesia Popular do Nordeste do Brasil. Quintessências da Literatura de Cordel.
Origens do Cordel
Cordel: vem de corda, cordão, cordial, toca o coração.
Os folhetos eram expostos em cordões, lençóis, esteiras, nas feiras, praças, portas das igrejas, bancas e nos mercados. Literatura de cordel, poesia de cordel, romance, folheto(s), arrecifes, abcs, "folhas volantes" ou "folhas soltas","littèrature de colportage","cocks" ou "catchpennies", "broadsiddes", "hojas" e "corridos"…
São nomes que a poesia popular recebeu ao longo do tempo, na Europa e nos países latino-americanos.
No Brasil, o termo cordel se consagrou como sinônimo de poesia popular. O cordel apresenta-se em narrativas tradicionais e fatos circunstanciais, em folhetos de época ou "acontecidos".
As origens da literatura de cordel estão na Europa Medieval.Tem suas bases na França(Provença), do século XI e posteriormente na Espanha, Portugal, Itália, Alemanha, Holanda e Inglaterra. Chegou ao Brasil Colônia com os portugueses, depois incorporou a poética nativa do índio, a criatividade e o ritmo da poesia do negro e dos vaqueiros e tropeiros(o aboio).Tornou-se um ritmo sertanejo-tropical,integrando-se a outros ritmos como o baião, o xote, o xaxado e o forró. Ganhou uma característica especial com o advento da xilogravura, na ilustração das capas de milhares de folhetos.
Polêmica e complexidade dos ciclos temáticos.
Os principais temas e ciclos do cordel(minha classificação) abordam vários assuntos: abcs; religiosidade; costumes; romances; história; heroísmo(façanhas); cavalaria(vaqueiros, bois, cavaleiros,tropeiros); valores, moral e ética; atualidades; circunstâncias; fatos e acontecidos; sociais e noticiosos, louvações; fantasias(fantástico, maravilhoso); profecias, apocalipse e fim do mundo; biografias e personalidades; poder, estado e governo; política e corrupção; exemplos; intempéries e fenômenos da natureza (secas, inundações, maremotos, terremotos etc); crimes; coronelismo; cangaço, valentia, banditismo e jagunçagem(Lampião, Maria Bonita, Antônio Silvino, Corisco e Dadá, Sinhô Pereira, Jesuíno Brilhante, Quelé do Pajeú, Lucas de Feira); Padre Cícero(O Santo do Juazeiro); Frei Damião; Getúlio Vargas(Estado Novo, conquistas trabalhistas);Antônio Conselheiro(Canudos); Coluna Prestes e Revoltosos; Juscelino Kubitschek(construção de Brasília); Lula; televisão e cinema; ciência e tecnologia; Internet; crítica e sátira; humor, obscenidade,putaria e sacanagem(pornocordel); terrorismo(atentados) e guerras; modernidade e contemporaneidade; desafios, cantorias e pelejas, entre outros menos conhecidos e ainda não catalogados etc.
Classificação dos ciclos temáticos do cordel, por Ariano Suassuna:
1) "Ciclo heróico, trágico e épico;
2) Ciclo do fantástico e do maravilhoso;
3) Ciclo religioso e de moralidades;
4) Ciclo cômico, satírico e picaresco;
5) Ciclo histórico e circunstancial;
6) Ciclo de amor e de fidelidade;
7) Ciclo erótico e obsceno;
8) Ciclo político e social;
9) Ciclo de pelejas e desafios."
Mitologia e Trovadorismo…
A Literatura de Cordel, mais que centenária no Brasil(ultrapassou cem mil títulos publicados, segundo Joseph Luyten), tem suas origens ocidentais e pré-medievais,no universo poético de Provença, França, com os trovadores albigens (com destaque para Arnaud Daniel, Bertran de Born, Guiraut de Bornelh e Rimbaud Daurenga).
http://pt.wikipedia.org/wiki/Proven%C3%A7al
Entre os trovadores portugueses, precursores da Literatura de Cordel e do Repente, vêm-me à memória Martim Soares e Paio Soares de Taiverós, além dos célebres reis-trovadores Dom Diniz e Dom Duarte.As influências sobre o cordel e a poesia popular contemporânea são multidiversas: desde a poesia mesopotâmica árabe-fenício-semítica, mediterrânea, hindu e persa, à poética egípcio - caldaica – hebréia – greco - latina e afro - indígena…
Não se pode esquecer a influência bíblica(Salmos de Davi, Provérbios de Salomão, Cântico dos Cânticos, Apocalipse), do Lunário Perpétuo, enciclopédias, dicionários, almanaques, dos grandes livros religiosos e belos cânticos de todos os tempos, presentes nas diversas civilizações ao longo do processo histórico.
Os chineses e indianos devem ter tido significativa influência nas origens e desenvolvimento da poesia popular, por sua antigüidade e por tantos escritos primordiais como os Vedas, Gita, Upanishads, Mahabarata, Ramayana, I Ching, o Zen e o Tão – Te - King, via Confúcio, Lao-Tse, Buda, Krishna, Rama e outros sábios do velho e mágico Oriente, tão incompreendido pela cultura ocidental.
A Poesia de Cordel demonstra a sua força e pujança na expressão ibero-lusitana - afro - brasilíndia e galego - castelã…Sem esquecer da verve provençal e italiana(latina). Os romanos com suas epopéias fecundaram a semente da poesia ocidental, herdada dos gregos, etruscos, celtas, gauleses, bretões, normandos, nórdicos e dos povos bárbaros da antiga Europa, Ásia e África.
Foi nesse espaço mitológico que surgiu a poética mágica de Dante e a verve inventiva do mestre Leonardo da Vinci e dos grandes artistas italianos. Entretanto, foi na Espanha de Quevedo e Cervantes(Quixote) e em Portugal de Pessoa, Camões e Gil Vicente, que o cordel ganhou feição popular e postura lítero-poética.
É na poesia cavalheiresca e trovadoresca que o cordel se inspira e alimenta-se de forma histórica, principalmente a partir dos Doze Pares da França(que retrata os tempos do Imperador Carlos Magno), das gestas e epopéias, dos bardos, apodos, Templários, da Távola Redonda do Rei Arthur, de El Cid, O Campeador, dos cavaleiros e cruzadas e da obra monumental de Camões e Cervantes, ambos influenciados por Dante Alighieri e por toda a tradição popular da oralidade greco-latina-ibero-lusitana.
Os trovadores foram os principais precursores e alicerces para a futura Literatura de Cordel nos países de língua portuguesa, principalmente no Nordeste do Brasil, a partir de Salvador-Bahia, dos portos marítimos e do Rio São Francisco, até chegar em Campina Grande, Caruaru e Juazeiro do Norte, onde criou raízes e imortalizou-se na verve dos poetas cordelistas e cantadores repentistas.
Não se pode esquecer o papel do boi(ciclo do gado), dos bandeirantes, dos jesuítas José de Anchieta e Manoel da Nóbrega, do negro(batuque, orixás, terreiros, candomblé), dos índios, caboclos, mamelucos, cafusos, mulatos, garimpeiros, aventureiros, lavradores, vaqueiros e tropeiros: disseminadores de costumes, falas e dialetos pelo vasto Sertão, da poesia regional e universal.Os poetas cantam a sua aldeia e desencantam os uni.versos.
A Literatura de Cordel foi enriquecida pela criatividade e maestria de Gil Vicente, Camões, Rabelais, Gregório de Matos, Bocaje, Castro Alves, Gonçalves Dias, Cervantes, José de Alencar, Tobias Barreto, Catulo da Paixão Cearense, Juvenal Galeno, Ascenso Ferreira, além da contribuição incomensurável dos trovadores provençais e do romanceiro medieval.
Pesquisa, influências e confluências…
O cordel ganhou o mundo por meio do estudo, pesquisa e divulgação de mestres, leitores, amantes e pesquisadores da cultura popular, nomes como: Luís da Câmara Cascudo, Leonardo Mota, Manuel Diégues Jr, Ariano Suassuna, Rodrigues de Carvalho, Gustavo Barroso, Átila de Almeida, José Alves Sobrinho, Manoel Florentino Duarte, Rogaciano Leite, Jorge Amado, Glauber Rocha(pai do Cinema Novo), João Cabral de Melo Neto(Morte e Vida Severina), Rachel de Queiroz(O Quinze), José Américo de Almeida(A Bagaceira), José Lins do Rego(Fogo Morto), Graciliano Ramos(Vidas Secas), Mário de Andrade(Macunaíma), Sebastião Nunes Batista, Veríssimo de Melo, Sílvio Romero, Tobias Barreto, Vicente Salles, Alceu Maynard, Cavalcanti Proença, Roberto Benjamin, Carlos Alberto Azevedo, Hernâni Donato, Liêdo Maranhão de Souza, Téo Azevedo, Orígenes Lessa, Mário Lago, Américo Pellegrini Filho, Jerusa Pires Ferreira, Sebastião Vila Nova, Ruth Brito Lemos, Gilmar de Carvalho,
Raymond Cantel, Joseph Luyten, Mark Curran, Paul Zumthor, Candace Slater, Ria Lemaire, Silvie Raynal, Silvie Debs, Martine Kunz, Ronald Daus,Silvano Peloso, Zé Ramalho, Soares Feitosa(Jornal de Poesia),Ribamar Lopes, José Erivan Bezerra de Oliveira,Fausto Neto,Teófilo Braga, J. de Figueiredo Filho, Eduardo Diatahy de Menzes, Francisca Neuma Fechine Borges, Antônio Augusto Arantes, Ruth Brito, Maria de Fátima Coutinho, Rodrigo Apolinário( Cordel Campina), Maria Edileuza Borges, Alda Maria Siqueira Campos, Alícia Mitika Koshiyama, Maristela Barbosa de Mendonça, Mª José F. Londres, Patrícia Araújo, Doralice Alves de Queiroz, Esmeralda Batista, Viviane de Melo Resende, Márcia Abreu, Assis Ângelo, A.M Galvão, V.M Resende,Shirlley Guerra, Maria Julita Nunes e tantos outros destaques do mundo culturaliterário.
Renomados criadores das artes e da literatura brasileira foram influenciados pelo cordel. Saliento os principais que me recordo: Ariano Suassuna, Mário de Andrade, Oswald de Andrade, Jorge Amado, Graciliano Ramos, José Américo de Almeida, Rachel de Queiroz, Guimarães Rosa, João Cabral de Melo Neto, Manuel Bandeira, Dias Gomes, João Ubaldo Ribeiro, Orígenes Lessa, Cora Coralina, Carlos Drummond de Andrade, Paulo Freire, José Nêumane Pinto e tantos outros criadores significativos.
Na música, além de Villa-Lobos, a presença do cordel é marcante em Luiz Gonzaga, Elomar, Zé Ramalho, Raul Seixas, Antônio Nóbrega, Quinteto Violado, Alceu Valença, Geraldo Azevedo, Ednardo, Xangai, Fagner, Elba Ramalho, Belchior, Caçulinha, Mário Zan, Zeca Baleiro, Lenine, Chico Science, Chico César, Amelhinha, Juraíldes da Luz, Chico Buarque, Geraldo Vandré, João do Vale, Jackson do Pandeiro, Jorge Mautner, Tom Zé, Dominguinhos, Oswaldinho, Clodo, Climério e Clésio(Os Irmãos Ferreira do São Piauí e de Brasília), Sivuca, Zé Gonzaga, Marinês, Hemeto Paschoal, Pixinguinha, Cartola, Noel Rosa,Ary Barroso, Vital Farias, Genival Lacerda,Diana Pequeno, Roberto Correia, Nando Cordel, Cordel do Fogo Encantado,Castanha e Caju, Cegas de Campina Grande, Jorge Antunes, Anand Rao, Argemiro Neto, Genésio Tocantins, Paulinho Pedra Azul, Beirão, Waldonys, Robertinho do Acordeon,Zé Calixto, Arlindo dos Oito Baixos, Gérson Filho, Pedro Sertanejo, Furinchu, Chiquinho do Acordeon, Torquato Neto, Capinan, Pessoal do Ceará, Gilberto Gil, Jorge Mautner, Maria Betânia, Vinícius de Moraes, Milton Nascimento, João Gilberto e Caetano Veloso. Só para lembrar alguns nomes expressivos. A lista é quilométrica.
Mitos e precursores
Convém ressaltar figuras de destaque, mistura de cordelistas e cantadores como o lendário "Zé Limeira", fabuloso e fantástico Poeta do Absurdo, de Orlando Tejo e o inesquecível mestre Patativa do Assaré, da Triste Partida e tantas chegadas… Há ainda os semeadores Ugolino de Sabugi(primeiro cantador que se conhece), Nicandro Nunes da Costa, Silvino Pirauá, Germano da Lagoa, Romano da Mãe D´Água, Cego Aderaldo, Cego Oliveira, Zé da Luz, Fabião das Queimadas, Zé de Duquinha, Caraíba de Irecê, Otacílio e Lourival Batista, Ivanido Vilanova, Pinto do Monteiro, Pedro Bandeira, Raimundo Santa Helena, Oliveira de Panelas, Azulão, Rodolfo Coelho Cavalcante,Franklin Machado Nordestino e Cuíca de Santo Amaro. São símbolos que me vem de repente à memória.
Não posso esquecer de figuras mí(s)ticas do universo sertânico do cordel: Lampião, Maria Bonita, Corisco, Antônio Silvino, Jesuíno Brilhante, Quelé do Pajeú, Lucas de Feira, Sinhô Pereira, Antônio das Mortes, os dragões da maldade, os santos guerreiros, beatos, jagunços, coronéis, cabras da peste, personagens glauberianos e cinematográficos…
Presença no Brasil: do sertão às grandes cidades
No Brasil, o cordel ganhou estatura poética na Região Nordeste do Brasil, pelas bandas do Polígono das Secas, Vale do São Francisco, Sertão do Cariri, dos Inhamuns, do Pajeú, Serra de Santana, Serra da Laranjeira, a mítica Serra do Teixeira(Olimpo da Poesia), Campina Grande(Capital do Cordel), João Pessoa,Vales do Jaguaribe, Parnaíba, Gurguéia; Chapada Diamantina, Chapada do Apodi,Serra da Borborema, Chapada do Corisco, Caruaru, Juazeiro do Norte, Crato, Crateús, Limoeiro, Recife/Olinda, Fortaleza, Salvador, Ibititá, Recife dos Cardosos, Lapão, Rochedo, Ibipeba, Canarana, Taguatinga, Águas Claras, Serra Talhada, Quixadá, Qixeramobim, Cabrobó, São José do Egito, Patos, Piancó, Umbuzeiro, Penedo, Aracaju, Oeiras, Picos, Imperatriz, Pedreiras, Catolé do Rocha, Monteiro, Sumé, Serra Branca, Bezerros, Surubim, Mossoró, Caicó, Aracati,Paulo Afonso, Feira de Santana, Juazeiro, Petrolina, Teixeira,Irecê/Jacobina, Barra, Morro do Chapéu, Bom Jesus da Lapa, Senhor do Bonfim,Uauá, Chorrochó, Maceió, Natal, São Luís, Cachoeira dos Índios, Terezina, Parnaíba, Belém, Ilhéus, Itabuna, Canindé, Arapiraca, Palmeira dos Índios, Ingazeira, Quebrângulo, Santarém, Ipirá, Irará, Canudos, Monte Santo, Sertânia, Jequié, Vitória da Conquista, Ibititá, Canarana, Lapão, Recife dos Cardosos, Pirapora, Anápolis, Montes Claros, Rio, São Paulo,Campinas,Diadema,Brasília /Ceilândia/Taguatinga/Gama e pela vastidão das metrópoles, dos campos, fazendas, roças, lugarejos, povoados, arraiais, arrabaldes, vilas, vielas, pés de serra e cidadelas da caatinga e do agreste.
Francisco Chagas Batista publicou um folheto, no ano de 1902, em Campina Grande, que está catalogado na Casa de Rui Barbosa - no Rio de Janeiro. É registrado como o primeiro folheto de cordel brasileiro publicado. Muito outros anteriores, se perderam na poeira do tempo.
Por muitos desses caminhos andaram e foram lidos poemas dos vates - poetas fenomenais: O condoreiro Antônio Frederico de Castro Alves (uma espécie de precursor do cordel erudito e do improviso), Silvino Pirauá de Lima( o introdutor do folheto de cordel no Brasil, segundo Luís da Câmara Cascudo), Agostinho Nunes da Costa(um dos pais da poesia popular no Nordeste), Leandro Gomes de Barros(um dos principais cordelistas de todos os tempos, pioneiro-mor, publicou centenas de folhetos), Ugolino de Sabugi(primeiro cantador), Francisco Chagas Batista, Nicandro Nunes da Costa), Germano da Lagoa, Romano de Mãe D´Água, Manoel Caetano, Manoel Cabeleira, Diniz Vitorino, João Benedito, José Duda, Antônio da Cruz, Joaquim Sem Fim, Manuel Vieira do Paraíso, Romano Elias da Paz, Manoel Tomás de Assis, José Adão Filho, Lindolfo Mesquita, Arinos de Belém, Antônio Apolinário de Souza, Laurindo Gomes Maciel, Rodolfo Coelho Cavalcante, Francisco Sales Areda, Manoel Camilo dos Santos, Minelvino Francisco da Silva, Caetano Cosme da Silva, Expedito Sebastião da Silva, João Melquíades Ferreira da Silva, José Camelo de Rezende, Joaquim Batista de Sena, Gonçalo Ferreira da Silva, Teodoro Ferraz da Câmara, José Albano, João Ferreira de Lima, José Pacheco, Severino Gonçalves de Oliveira, Galdino Silva, João de Cristo Rei, Zé Mariano, Antônio Batista, José Alves Sobrinho, Manuel Pereira Sobrinho, Antônio Eugênio da Silva, Severino Ferreira, Augusto Laurindo Alves(Cotinguiba), Moisés Matias de Moura, Pacífico Pacato Cordeiro Manso, José Bernardo da Silva, Cuíca de Santo Amaro, João Martins de Athaide, Apolônio Alves dos Santos, José Costa Leite, Antônio Teodoro dos Santos, José Cavalcante Ferreira(Dila), Francisco Gustavo de Castro Dourado, Manoel Monteiro, Abraão Batista, J.Borges, Zé da Luz, Arievaldo e Klévisson Viana, Zé Soares, Zé Pacheco, João Lucas Evangelista, Amargedom, Joăo de Barros, Zé de Duquinha, Carolino Leobas, Elias Carvalho, Zé Maria de Fortaleza, Audifax Rios, Adalto Alcântara Monteiro, Cunha Neto, Francisco Queiroz, Ary Fausto Maia, Toni de Lima, Bráulio Tavares, Téo Azevedo, Stênio Diniz, Josealdo Rodrigues, Antônio Lucena, Geraldo Gonçalves de Alencar, Hélvia Callou, Edmilson Santini, Eugênio Dantas de Medeiros, Jomaci e Jandhuir Dantas, Francisco de Assis, Paulo de Tarso, Francisco Morojó, Pedro Osmar, Geraldo Emídio de Souza, Olegário Fernandes, Zé Antônio, Pedro Américo de Farias, Marcelo Soares, Jair Moraes, João Pedro Neto, Francisca Barrosa, Lourdes Ramalho, Tindinha Laurentino, Maria da Piedade Correia - Maria Diva Guiapuan Vieira, Vânia Diniz, Lilian Maial, Vânia Freitas, Cora Coralina, José Leocádio Bezerra, Antônio Barreto, Antônio Vieira,Bule-Bule,Gutemberg Santana, Jotacê Freitas, Leandro Tranquilino Pereira, Luar do Conselheiro, Maísa Miranda, Marco Haurélio, Sérgio Baialista e diversos nomes recorrentes no fantástico cosmos cordelista. Poetas significativos do passado e da atualidade, entre tantos baluartes da Poesia Popular e do Romanceiro do Cordel.
Cordel na Internet.
Amargedom, Almir Alves Filho, Anízio Guimarães, Benedito Generoso da Costa, Daniel Fiuza, Domingos Medeiros, Francisco Egídio Aires Campos(Mestre Egídio), Gonçalo Ferreira da Silva, Guaipuan Vieira, F.G C.Dourado, Jesssier Quirino, Jandhuir Dantas, José de Souza Dantas, Lenísio Bragante de Araújo, Rubênio Marcelo.(Todos os últimos citados são publicados constantemente na Internet). Divulgam seus trabalhos nas páginas da Web com relativa freqüencia e constantes atualizações.
O cordel tem presença constante no mundo virtual.Além de centenas de cordelistas que divulgam os seus trabalhos na Internet, temos até a Academia Brasileira de Literatura de Cordel, com sede no Rio de Janeiro e composta por seleto quadro de acadêmicos de boa qualidade.
Há pouco surgiu um dos melhores sites sobre o Cordel na Internet: O Cordel Campina, coordenado por Rodrigo Apolinário, em Campina Grande, Meca sertaneja da poesia popular e berço de célebres poetas e cantadores repentistas.
http://www.cordelcampina.cgonline.com.br
O cordel subsiste,sobrevive, apesar das idiossincrasias, intempéries, dificuldades e antropofagias da Indústria cultural midiática, globalizante e da invasão cultural norte-americana…
São imprescindíveis a divulgação na mídia e na web, distribuição eficiente,abertura de espaços e fóruns de discussão e de publicação de textos de cordel, de autores tradicionais e contemporâneos, para dinamização do movimento da Poesia Popular Universal…
A Internet é um espaço primordial e dinamizador de nossa literatura popular.
Cordel no Planalto Central do Brasil.
Quem quiser conhecer um pouco sobre a poesia popular e apreciar a minha criação em cordel, visite: http://www.gustavodourado.com.br/cordel.htm
(Originalmente publicado no nº 2 da Revista Cerrado Cultural).
Os Doze Pares de França, O Pavão Misterioso, Juvenal e o Dragão, Donzela Teodora, Imperatriz Porcina, Princesa Magalona, Roberto do Diabo, Côco Verde e Melancia, João de Calais, O Cachorro dos Mortos, A Chegada de Lampião no Inferno, Viagem a São Saruê…São livros do povo (alicerçado no pensamento do mestre Luís da Câmara Cascudo e deste poeta cordelista).Fontes da Poesia Popular do Nordeste do Brasil. Quintessências da Literatura de Cordel.
Origens do Cordel
Cordel: vem de corda, cordão, cordial, toca o coração.
Os folhetos eram expostos em cordões, lençóis, esteiras, nas feiras, praças, portas das igrejas, bancas e nos mercados. Literatura de cordel, poesia de cordel, romance, folheto(s), arrecifes, abcs, "folhas volantes" ou "folhas soltas","littèrature de colportage","cocks" ou "catchpennies", "broadsiddes", "hojas" e "corridos"…
São nomes que a poesia popular recebeu ao longo do tempo, na Europa e nos países latino-americanos.
No Brasil, o termo cordel se consagrou como sinônimo de poesia popular. O cordel apresenta-se em narrativas tradicionais e fatos circunstanciais, em folhetos de época ou "acontecidos".
As origens da literatura de cordel estão na Europa Medieval.Tem suas bases na França(Provença), do século XI e posteriormente na Espanha, Portugal, Itália, Alemanha, Holanda e Inglaterra. Chegou ao Brasil Colônia com os portugueses, depois incorporou a poética nativa do índio, a criatividade e o ritmo da poesia do negro e dos vaqueiros e tropeiros(o aboio).Tornou-se um ritmo sertanejo-tropical,integrando-se a outros ritmos como o baião, o xote, o xaxado e o forró. Ganhou uma característica especial com o advento da xilogravura, na ilustração das capas de milhares de folhetos.
Polêmica e complexidade dos ciclos temáticos.
Os principais temas e ciclos do cordel(minha classificação) abordam vários assuntos: abcs; religiosidade; costumes; romances; história; heroísmo(façanhas); cavalaria(vaqueiros, bois, cavaleiros,tropeiros); valores, moral e ética; atualidades; circunstâncias; fatos e acontecidos; sociais e noticiosos, louvações; fantasias(fantástico, maravilhoso); profecias, apocalipse e fim do mundo; biografias e personalidades; poder, estado e governo; política e corrupção; exemplos; intempéries e fenômenos da natureza (secas, inundações, maremotos, terremotos etc); crimes; coronelismo; cangaço, valentia, banditismo e jagunçagem(Lampião, Maria Bonita, Antônio Silvino, Corisco e Dadá, Sinhô Pereira, Jesuíno Brilhante, Quelé do Pajeú, Lucas de Feira); Padre Cícero(O Santo do Juazeiro); Frei Damião; Getúlio Vargas(Estado Novo, conquistas trabalhistas);Antônio Conselheiro(Canudos); Coluna Prestes e Revoltosos; Juscelino Kubitschek(construção de Brasília); Lula; televisão e cinema; ciência e tecnologia; Internet; crítica e sátira; humor, obscenidade,putaria e sacanagem(pornocordel); terrorismo(atentados) e guerras; modernidade e contemporaneidade; desafios, cantorias e pelejas, entre outros menos conhecidos e ainda não catalogados etc.
Classificação dos ciclos temáticos do cordel, por Ariano Suassuna:
1) "Ciclo heróico, trágico e épico;
2) Ciclo do fantástico e do maravilhoso;
3) Ciclo religioso e de moralidades;
4) Ciclo cômico, satírico e picaresco;
5) Ciclo histórico e circunstancial;
6) Ciclo de amor e de fidelidade;
7) Ciclo erótico e obsceno;
8) Ciclo político e social;
9) Ciclo de pelejas e desafios."
Mitologia e Trovadorismo…
A Literatura de Cordel, mais que centenária no Brasil(ultrapassou cem mil títulos publicados, segundo Joseph Luyten), tem suas origens ocidentais e pré-medievais,no universo poético de Provença, França, com os trovadores albigens (com destaque para Arnaud Daniel, Bertran de Born, Guiraut de Bornelh e Rimbaud Daurenga).
http://pt.wikipedia.org/wiki/Proven%C3%A7al
Entre os trovadores portugueses, precursores da Literatura de Cordel e do Repente, vêm-me à memória Martim Soares e Paio Soares de Taiverós, além dos célebres reis-trovadores Dom Diniz e Dom Duarte.As influências sobre o cordel e a poesia popular contemporânea são multidiversas: desde a poesia mesopotâmica árabe-fenício-semítica, mediterrânea, hindu e persa, à poética egípcio - caldaica – hebréia – greco - latina e afro - indígena…
Não se pode esquecer a influência bíblica(Salmos de Davi, Provérbios de Salomão, Cântico dos Cânticos, Apocalipse), do Lunário Perpétuo, enciclopédias, dicionários, almanaques, dos grandes livros religiosos e belos cânticos de todos os tempos, presentes nas diversas civilizações ao longo do processo histórico.
Os chineses e indianos devem ter tido significativa influência nas origens e desenvolvimento da poesia popular, por sua antigüidade e por tantos escritos primordiais como os Vedas, Gita, Upanishads, Mahabarata, Ramayana, I Ching, o Zen e o Tão – Te - King, via Confúcio, Lao-Tse, Buda, Krishna, Rama e outros sábios do velho e mágico Oriente, tão incompreendido pela cultura ocidental.
A Poesia de Cordel demonstra a sua força e pujança na expressão ibero-lusitana - afro - brasilíndia e galego - castelã…Sem esquecer da verve provençal e italiana(latina). Os romanos com suas epopéias fecundaram a semente da poesia ocidental, herdada dos gregos, etruscos, celtas, gauleses, bretões, normandos, nórdicos e dos povos bárbaros da antiga Europa, Ásia e África.
Foi nesse espaço mitológico que surgiu a poética mágica de Dante e a verve inventiva do mestre Leonardo da Vinci e dos grandes artistas italianos. Entretanto, foi na Espanha de Quevedo e Cervantes(Quixote) e em Portugal de Pessoa, Camões e Gil Vicente, que o cordel ganhou feição popular e postura lítero-poética.
É na poesia cavalheiresca e trovadoresca que o cordel se inspira e alimenta-se de forma histórica, principalmente a partir dos Doze Pares da França(que retrata os tempos do Imperador Carlos Magno), das gestas e epopéias, dos bardos, apodos, Templários, da Távola Redonda do Rei Arthur, de El Cid, O Campeador, dos cavaleiros e cruzadas e da obra monumental de Camões e Cervantes, ambos influenciados por Dante Alighieri e por toda a tradição popular da oralidade greco-latina-ibero-lusitana.
Os trovadores foram os principais precursores e alicerces para a futura Literatura de Cordel nos países de língua portuguesa, principalmente no Nordeste do Brasil, a partir de Salvador-Bahia, dos portos marítimos e do Rio São Francisco, até chegar em Campina Grande, Caruaru e Juazeiro do Norte, onde criou raízes e imortalizou-se na verve dos poetas cordelistas e cantadores repentistas.
Não se pode esquecer o papel do boi(ciclo do gado), dos bandeirantes, dos jesuítas José de Anchieta e Manoel da Nóbrega, do negro(batuque, orixás, terreiros, candomblé), dos índios, caboclos, mamelucos, cafusos, mulatos, garimpeiros, aventureiros, lavradores, vaqueiros e tropeiros: disseminadores de costumes, falas e dialetos pelo vasto Sertão, da poesia regional e universal.Os poetas cantam a sua aldeia e desencantam os uni.versos.
A Literatura de Cordel foi enriquecida pela criatividade e maestria de Gil Vicente, Camões, Rabelais, Gregório de Matos, Bocaje, Castro Alves, Gonçalves Dias, Cervantes, José de Alencar, Tobias Barreto, Catulo da Paixão Cearense, Juvenal Galeno, Ascenso Ferreira, além da contribuição incomensurável dos trovadores provençais e do romanceiro medieval.
Pesquisa, influências e confluências…
O cordel ganhou o mundo por meio do estudo, pesquisa e divulgação de mestres, leitores, amantes e pesquisadores da cultura popular, nomes como: Luís da Câmara Cascudo, Leonardo Mota, Manuel Diégues Jr, Ariano Suassuna, Rodrigues de Carvalho, Gustavo Barroso, Átila de Almeida, José Alves Sobrinho, Manoel Florentino Duarte, Rogaciano Leite, Jorge Amado, Glauber Rocha(pai do Cinema Novo), João Cabral de Melo Neto(Morte e Vida Severina), Rachel de Queiroz(O Quinze), José Américo de Almeida(A Bagaceira), José Lins do Rego(Fogo Morto), Graciliano Ramos(Vidas Secas), Mário de Andrade(Macunaíma), Sebastião Nunes Batista, Veríssimo de Melo, Sílvio Romero, Tobias Barreto, Vicente Salles, Alceu Maynard, Cavalcanti Proença, Roberto Benjamin, Carlos Alberto Azevedo, Hernâni Donato, Liêdo Maranhão de Souza, Téo Azevedo, Orígenes Lessa, Mário Lago, Américo Pellegrini Filho, Jerusa Pires Ferreira, Sebastião Vila Nova, Ruth Brito Lemos, Gilmar de Carvalho,
Raymond Cantel, Joseph Luyten, Mark Curran, Paul Zumthor, Candace Slater, Ria Lemaire, Silvie Raynal, Silvie Debs, Martine Kunz, Ronald Daus,Silvano Peloso, Zé Ramalho, Soares Feitosa(Jornal de Poesia),Ribamar Lopes, José Erivan Bezerra de Oliveira,Fausto Neto,Teófilo Braga, J. de Figueiredo Filho, Eduardo Diatahy de Menzes, Francisca Neuma Fechine Borges, Antônio Augusto Arantes, Ruth Brito, Maria de Fátima Coutinho, Rodrigo Apolinário( Cordel Campina), Maria Edileuza Borges, Alda Maria Siqueira Campos, Alícia Mitika Koshiyama, Maristela Barbosa de Mendonça, Mª José F. Londres, Patrícia Araújo, Doralice Alves de Queiroz, Esmeralda Batista, Viviane de Melo Resende, Márcia Abreu, Assis Ângelo, A.M Galvão, V.M Resende,Shirlley Guerra, Maria Julita Nunes e tantos outros destaques do mundo culturaliterário.
Renomados criadores das artes e da literatura brasileira foram influenciados pelo cordel. Saliento os principais que me recordo: Ariano Suassuna, Mário de Andrade, Oswald de Andrade, Jorge Amado, Graciliano Ramos, José Américo de Almeida, Rachel de Queiroz, Guimarães Rosa, João Cabral de Melo Neto, Manuel Bandeira, Dias Gomes, João Ubaldo Ribeiro, Orígenes Lessa, Cora Coralina, Carlos Drummond de Andrade, Paulo Freire, José Nêumane Pinto e tantos outros criadores significativos.
Na música, além de Villa-Lobos, a presença do cordel é marcante em Luiz Gonzaga, Elomar, Zé Ramalho, Raul Seixas, Antônio Nóbrega, Quinteto Violado, Alceu Valença, Geraldo Azevedo, Ednardo, Xangai, Fagner, Elba Ramalho, Belchior, Caçulinha, Mário Zan, Zeca Baleiro, Lenine, Chico Science, Chico César, Amelhinha, Juraíldes da Luz, Chico Buarque, Geraldo Vandré, João do Vale, Jackson do Pandeiro, Jorge Mautner, Tom Zé, Dominguinhos, Oswaldinho, Clodo, Climério e Clésio(Os Irmãos Ferreira do São Piauí e de Brasília), Sivuca, Zé Gonzaga, Marinês, Hemeto Paschoal, Pixinguinha, Cartola, Noel Rosa,Ary Barroso, Vital Farias, Genival Lacerda,Diana Pequeno, Roberto Correia, Nando Cordel, Cordel do Fogo Encantado,Castanha e Caju, Cegas de Campina Grande, Jorge Antunes, Anand Rao, Argemiro Neto, Genésio Tocantins, Paulinho Pedra Azul, Beirão, Waldonys, Robertinho do Acordeon,Zé Calixto, Arlindo dos Oito Baixos, Gérson Filho, Pedro Sertanejo, Furinchu, Chiquinho do Acordeon, Torquato Neto, Capinan, Pessoal do Ceará, Gilberto Gil, Jorge Mautner, Maria Betânia, Vinícius de Moraes, Milton Nascimento, João Gilberto e Caetano Veloso. Só para lembrar alguns nomes expressivos. A lista é quilométrica.
Mitos e precursores
Convém ressaltar figuras de destaque, mistura de cordelistas e cantadores como o lendário "Zé Limeira", fabuloso e fantástico Poeta do Absurdo, de Orlando Tejo e o inesquecível mestre Patativa do Assaré, da Triste Partida e tantas chegadas… Há ainda os semeadores Ugolino de Sabugi(primeiro cantador que se conhece), Nicandro Nunes da Costa, Silvino Pirauá, Germano da Lagoa, Romano da Mãe D´Água, Cego Aderaldo, Cego Oliveira, Zé da Luz, Fabião das Queimadas, Zé de Duquinha, Caraíba de Irecê, Otacílio e Lourival Batista, Ivanido Vilanova, Pinto do Monteiro, Pedro Bandeira, Raimundo Santa Helena, Oliveira de Panelas, Azulão, Rodolfo Coelho Cavalcante,Franklin Machado Nordestino e Cuíca de Santo Amaro. São símbolos que me vem de repente à memória.
Não posso esquecer de figuras mí(s)ticas do universo sertânico do cordel: Lampião, Maria Bonita, Corisco, Antônio Silvino, Jesuíno Brilhante, Quelé do Pajeú, Lucas de Feira, Sinhô Pereira, Antônio das Mortes, os dragões da maldade, os santos guerreiros, beatos, jagunços, coronéis, cabras da peste, personagens glauberianos e cinematográficos…
Presença no Brasil: do sertão às grandes cidades
No Brasil, o cordel ganhou estatura poética na Região Nordeste do Brasil, pelas bandas do Polígono das Secas, Vale do São Francisco, Sertão do Cariri, dos Inhamuns, do Pajeú, Serra de Santana, Serra da Laranjeira, a mítica Serra do Teixeira(Olimpo da Poesia), Campina Grande(Capital do Cordel), João Pessoa,Vales do Jaguaribe, Parnaíba, Gurguéia; Chapada Diamantina, Chapada do Apodi,Serra da Borborema, Chapada do Corisco, Caruaru, Juazeiro do Norte, Crato, Crateús, Limoeiro, Recife/Olinda, Fortaleza, Salvador, Ibititá, Recife dos Cardosos, Lapão, Rochedo, Ibipeba, Canarana, Taguatinga, Águas Claras, Serra Talhada, Quixadá, Qixeramobim, Cabrobó, São José do Egito, Patos, Piancó, Umbuzeiro, Penedo, Aracaju, Oeiras, Picos, Imperatriz, Pedreiras, Catolé do Rocha, Monteiro, Sumé, Serra Branca, Bezerros, Surubim, Mossoró, Caicó, Aracati,Paulo Afonso, Feira de Santana, Juazeiro, Petrolina, Teixeira,Irecê/Jacobina, Barra, Morro do Chapéu, Bom Jesus da Lapa, Senhor do Bonfim,Uauá, Chorrochó, Maceió, Natal, São Luís, Cachoeira dos Índios, Terezina, Parnaíba, Belém, Ilhéus, Itabuna, Canindé, Arapiraca, Palmeira dos Índios, Ingazeira, Quebrângulo, Santarém, Ipirá, Irará, Canudos, Monte Santo, Sertânia, Jequié, Vitória da Conquista, Ibititá, Canarana, Lapão, Recife dos Cardosos, Pirapora, Anápolis, Montes Claros, Rio, São Paulo,Campinas,Diadema,Brasília /Ceilândia/Taguatinga/Gama e pela vastidão das metrópoles, dos campos, fazendas, roças, lugarejos, povoados, arraiais, arrabaldes, vilas, vielas, pés de serra e cidadelas da caatinga e do agreste.
Francisco Chagas Batista publicou um folheto, no ano de 1902, em Campina Grande, que está catalogado na Casa de Rui Barbosa - no Rio de Janeiro. É registrado como o primeiro folheto de cordel brasileiro publicado. Muito outros anteriores, se perderam na poeira do tempo.
Por muitos desses caminhos andaram e foram lidos poemas dos vates - poetas fenomenais: O condoreiro Antônio Frederico de Castro Alves (uma espécie de precursor do cordel erudito e do improviso), Silvino Pirauá de Lima( o introdutor do folheto de cordel no Brasil, segundo Luís da Câmara Cascudo), Agostinho Nunes da Costa(um dos pais da poesia popular no Nordeste), Leandro Gomes de Barros(um dos principais cordelistas de todos os tempos, pioneiro-mor, publicou centenas de folhetos), Ugolino de Sabugi(primeiro cantador), Francisco Chagas Batista, Nicandro Nunes da Costa), Germano da Lagoa, Romano de Mãe D´Água, Manoel Caetano, Manoel Cabeleira, Diniz Vitorino, João Benedito, José Duda, Antônio da Cruz, Joaquim Sem Fim, Manuel Vieira do Paraíso, Romano Elias da Paz, Manoel Tomás de Assis, José Adão Filho, Lindolfo Mesquita, Arinos de Belém, Antônio Apolinário de Souza, Laurindo Gomes Maciel, Rodolfo Coelho Cavalcante, Francisco Sales Areda, Manoel Camilo dos Santos, Minelvino Francisco da Silva, Caetano Cosme da Silva, Expedito Sebastião da Silva, João Melquíades Ferreira da Silva, José Camelo de Rezende, Joaquim Batista de Sena, Gonçalo Ferreira da Silva, Teodoro Ferraz da Câmara, José Albano, João Ferreira de Lima, José Pacheco, Severino Gonçalves de Oliveira, Galdino Silva, João de Cristo Rei, Zé Mariano, Antônio Batista, José Alves Sobrinho, Manuel Pereira Sobrinho, Antônio Eugênio da Silva, Severino Ferreira, Augusto Laurindo Alves(Cotinguiba), Moisés Matias de Moura, Pacífico Pacato Cordeiro Manso, José Bernardo da Silva, Cuíca de Santo Amaro, João Martins de Athaide, Apolônio Alves dos Santos, José Costa Leite, Antônio Teodoro dos Santos, José Cavalcante Ferreira(Dila), Francisco Gustavo de Castro Dourado, Manoel Monteiro, Abraão Batista, J.Borges, Zé da Luz, Arievaldo e Klévisson Viana, Zé Soares, Zé Pacheco, João Lucas Evangelista, Amargedom, Joăo de Barros, Zé de Duquinha, Carolino Leobas, Elias Carvalho, Zé Maria de Fortaleza, Audifax Rios, Adalto Alcântara Monteiro, Cunha Neto, Francisco Queiroz, Ary Fausto Maia, Toni de Lima, Bráulio Tavares, Téo Azevedo, Stênio Diniz, Josealdo Rodrigues, Antônio Lucena, Geraldo Gonçalves de Alencar, Hélvia Callou, Edmilson Santini, Eugênio Dantas de Medeiros, Jomaci e Jandhuir Dantas, Francisco de Assis, Paulo de Tarso, Francisco Morojó, Pedro Osmar, Geraldo Emídio de Souza, Olegário Fernandes, Zé Antônio, Pedro Américo de Farias, Marcelo Soares, Jair Moraes, João Pedro Neto, Francisca Barrosa, Lourdes Ramalho, Tindinha Laurentino, Maria da Piedade Correia - Maria Diva Guiapuan Vieira, Vânia Diniz, Lilian Maial, Vânia Freitas, Cora Coralina, José Leocádio Bezerra, Antônio Barreto, Antônio Vieira,Bule-Bule,Gutemberg Santana, Jotacê Freitas, Leandro Tranquilino Pereira, Luar do Conselheiro, Maísa Miranda, Marco Haurélio, Sérgio Baialista e diversos nomes recorrentes no fantástico cosmos cordelista. Poetas significativos do passado e da atualidade, entre tantos baluartes da Poesia Popular e do Romanceiro do Cordel.
Cordel na Internet.
Amargedom, Almir Alves Filho, Anízio Guimarães, Benedito Generoso da Costa, Daniel Fiuza, Domingos Medeiros, Francisco Egídio Aires Campos(Mestre Egídio), Gonçalo Ferreira da Silva, Guaipuan Vieira, F.G C.Dourado, Jesssier Quirino, Jandhuir Dantas, José de Souza Dantas, Lenísio Bragante de Araújo, Rubênio Marcelo.(Todos os últimos citados são publicados constantemente na Internet). Divulgam seus trabalhos nas páginas da Web com relativa freqüencia e constantes atualizações.
O cordel tem presença constante no mundo virtual.Além de centenas de cordelistas que divulgam os seus trabalhos na Internet, temos até a Academia Brasileira de Literatura de Cordel, com sede no Rio de Janeiro e composta por seleto quadro de acadêmicos de boa qualidade.
Há pouco surgiu um dos melhores sites sobre o Cordel na Internet: O Cordel Campina, coordenado por Rodrigo Apolinário, em Campina Grande, Meca sertaneja da poesia popular e berço de célebres poetas e cantadores repentistas.
http://www.cordelcampina.cgonline.com.br
O cordel subsiste,sobrevive, apesar das idiossincrasias, intempéries, dificuldades e antropofagias da Indústria cultural midiática, globalizante e da invasão cultural norte-americana…
São imprescindíveis a divulgação na mídia e na web, distribuição eficiente,abertura de espaços e fóruns de discussão e de publicação de textos de cordel, de autores tradicionais e contemporâneos, para dinamização do movimento da Poesia Popular Universal…
A Internet é um espaço primordial e dinamizador de nossa literatura popular.
Cordel no Planalto Central do Brasil.
Quem quiser conhecer um pouco sobre a poesia popular e apreciar a minha criação em cordel, visite: http://www.gustavodourado.com.br/cordel.htm
(Originalmente publicado no nº 2 da Revista Cerrado Cultural).
segunda-feira, 24 de janeiro de 2011
MALA DE GARUPA
Por Antonio Francisco de Paula (Brasília, DF)
Velha mala de garupa
De pano de colchão
Herança da tradição
Da gauchada de antanho
Que a ferro branco e estanho
E lança firme nas mãos
Defenderam este chão
Dos valentes castelhanos
Rude trapo de riscado
Da nossa gente simplória
Costurado pela história
Com a linha da esperança
Que ficaste nas estâncias
Pendurada nos galpões
Abarrotada de emoções
De saudades e lembranças
Toda vez que me deparo
Com uma mala de garupa
Já vejo o velho Chicuta
Oitavado no bolicho
Contente matando o bicho
Num martelo retovado
E depois comprando fiado
Os apetrechos de serviço
Espoleta ,chumbo grosso
Fumo em rama ,rapadura
Uma meia de canha pura
Pra espantar a solidão
Erva buena pro chimarrão
Pavio e pedra pro isqueiro
Charque gordo pro carreteiro
E querosene pro lampião
Café, açúcar mascavo
Tecido de chita e de brim
Mata piolho,criolim
E glostora pras melenas
Cabrestilhos pras chilenas
E como sempre de costume
Um frasquito de perfume
Pra agradar dona pequena
Socando tudo na mala
Metade pra cada lado
E saindo meio emborcado
Levando as compras nas costas
Atalhando pela encosta
Por dentro de uma picada
Chegando dando risada
Na sua velha palhoça
Quantas e quantas vezes
Andastes entreveirada
Em rinhas e carreiradas
Nos reboliços de venda
Onde o índio ventena
Te enrodilhava no braço
Pra se livrar dos puaços
Dos retalhos de chilenas
Viajando presa nos tentos
No recavém dos arreios
Acompanhando os tropeiros
Os vaqueanos andantes
Os caixeiros viajantes
A indiada campeira
Aparceirando as parteiras
E as benzedeiras de dantes
Sacolejando nos fueiros
No assoalho das carroças
Levando a bóia na roça
Para o humilde camponês
Que todo final de mês
Tapado de judiaria
Se bandeava a lá cria
Pro armazém do português
Num joguito de osso
Ou carteado de baralho
Na beira de um borralho
Numa roda de chimarrão
Nos fandangos de galpão
Nos bailes de cola atada
Nos tragos e porfiadas
Nas pulperias do rincão
Nas domas e gineteadas
Tiros de laços e castração
Nos dias de marcação
De esquilas e carneadas
Nos bolichos beira de estrada
Atirada pelos balcões
Amadrinhando os peões
Nas fuzarcas animadas
Lendária mala gaudéria
Peregrina dos pagos
Tu és o maior legado
Que carrego na memória
Da indiada de outrora
Que vagueavam sem assombro
Contigo atirada nos ombros
Carregando a nossa história.
Sobre o autor:Antonio Francisco de Paula nasceu no povoado de Caputera, município de Itapeva, em Santa Catarina, na fronteira com o Estado do Paraná. Neto de gaúchos, é poeta e declamador premiado nos torneios dos Centros de Tradições Gaúchas do Planalto Central.É autor do livro de poesias gauchescas MEU AVÔ, MEU MESTRE, publicado em 2005. Inaugurou o primeiro número do CERRADO CULTURAL, em 27.jul.2008.
Velha mala de garupa
De pano de colchão
Herança da tradição
Da gauchada de antanho
Que a ferro branco e estanho
E lança firme nas mãos
Defenderam este chão
Dos valentes castelhanos
Rude trapo de riscado
Da nossa gente simplória
Costurado pela história
Com a linha da esperança
Que ficaste nas estâncias
Pendurada nos galpões
Abarrotada de emoções
De saudades e lembranças
Toda vez que me deparo
Com uma mala de garupa
Já vejo o velho Chicuta
Oitavado no bolicho
Contente matando o bicho
Num martelo retovado
E depois comprando fiado
Os apetrechos de serviço
Espoleta ,chumbo grosso
Fumo em rama ,rapadura
Uma meia de canha pura
Pra espantar a solidão
Erva buena pro chimarrão
Pavio e pedra pro isqueiro
Charque gordo pro carreteiro
E querosene pro lampião
Café, açúcar mascavo
Tecido de chita e de brim
Mata piolho,criolim
E glostora pras melenas
Cabrestilhos pras chilenas
E como sempre de costume
Um frasquito de perfume
Pra agradar dona pequena
Socando tudo na mala
Metade pra cada lado
E saindo meio emborcado
Levando as compras nas costas
Atalhando pela encosta
Por dentro de uma picada
Chegando dando risada
Na sua velha palhoça
Quantas e quantas vezes
Andastes entreveirada
Em rinhas e carreiradas
Nos reboliços de venda
Onde o índio ventena
Te enrodilhava no braço
Pra se livrar dos puaços
Dos retalhos de chilenas
Viajando presa nos tentos
No recavém dos arreios
Acompanhando os tropeiros
Os vaqueanos andantes
Os caixeiros viajantes
A indiada campeira
Aparceirando as parteiras
E as benzedeiras de dantes
Sacolejando nos fueiros
No assoalho das carroças
Levando a bóia na roça
Para o humilde camponês
Que todo final de mês
Tapado de judiaria
Se bandeava a lá cria
Pro armazém do português
Num joguito de osso
Ou carteado de baralho
Na beira de um borralho
Numa roda de chimarrão
Nos fandangos de galpão
Nos bailes de cola atada
Nos tragos e porfiadas
Nas pulperias do rincão
Nas domas e gineteadas
Tiros de laços e castração
Nos dias de marcação
De esquilas e carneadas
Nos bolichos beira de estrada
Atirada pelos balcões
Amadrinhando os peões
Nas fuzarcas animadas
Lendária mala gaudéria
Peregrina dos pagos
Tu és o maior legado
Que carrego na memória
Da indiada de outrora
Que vagueavam sem assombro
Contigo atirada nos ombros
Carregando a nossa história.
Sobre o autor:Antonio Francisco de Paula nasceu no povoado de Caputera, município de Itapeva, em Santa Catarina, na fronteira com o Estado do Paraná. Neto de gaúchos, é poeta e declamador premiado nos torneios dos Centros de Tradições Gaúchas do Planalto Central.É autor do livro de poesias gauchescas MEU AVÔ, MEU MESTRE, publicado em 2005. Inaugurou o primeiro número do CERRADO CULTURAL, em 27.jul.2008.
LEMBRANÇAS DE GURI
Por Antonio Francisco de Paula (Brasília, DF)
Numa dessas madrugadas
De céu escuro enferruscado
Acordei meio assustado
De um medonho pesadelo
De badalo de cincerro
E mugido de boiada
E relincho da potrada
Ecoando no potreiro
E o sono teatino
Já sacudiu os baixeiros
E me deixou no travesseiro
Remoendo minhas lembranças
E no lombo da esperança
Sai batendo esporas
Na culatra da memória
Da minha querida infância
Num upa voltei no tempo
De piazito carreteiro
Correndo pelo terreiro
Entre a casa e o galpão
De calça curta , pés no chão
Com o calcanhar rachado
Comendo pinhão assado
Na grimpa com meus irmãos
Brincando lá no quintal
Na sombra da pitangueira
Na mangueirita de tronqueira
Fechada com varejão
Onde eu menino peão
No meio do alvoroço
Reunia o gado de osso
Nos dias de marcação
Uma garra de pelego
Numa vara de marmelo
Era meu baio amarelo
Que eu gostava de encilhar
E saía a camperiar
Laçando touro e novilha
Com um lacito de embira
Que o vovô ensinou a trançar
Num relance também vejo
De avental lá na cozinha
A minha querida mãezinha
Em roda do fogão
Preparando a refeição
Um arroz de carreteiro
Salada e feijão tropeiro
E paçoca de pilão
Pedalando na varanda
Na máquina de costura
Apurando a rapadura
No tacho de melado
Na fornalha de assado
Atiçando o braseiro
Cuidando do pão caseiro
Alimento abençoado
O papai lá na mangueira
De alpargatas e bombacha
Secando o leite das guachas
Entreverado com os terneiros
Encangando os carreiros
O pachola e o chitado
O pimpão e o colorado
Pintassilgo e o letreiro
Atrelando dois a dois
Na carreta carregada
Para mais uma jornada
Na sagrada profissão
Transportando a produção
Pelas serras e canhadas
Serpenteando nas estradas
Empoeiradas do rincão
Ainda ouço o rangido
De cangalhas e bruacas
Latidos e bate patas
E o era era dos tropeiros
Dos gaudérios cavaleiros
Repontando a boiada
Em direção à charqueada
Pra diante do vilarejo
E no meu gauderiar andejo
Nos verdes campos dos anos
Guardo em mala de pano
A minha maior herança
Os recuerdos de criança
Do meu mundo de guri
Do torrão onde eu vivi
A minha feliz infância
Numa dessas madrugadas
De céu escuro enferruscado
Acordei meio assustado
De um medonho pesadelo
De badalo de cincerro
E mugido de boiada
E relincho da potrada
Ecoando no potreiro
E o sono teatino
Já sacudiu os baixeiros
E me deixou no travesseiro
Remoendo minhas lembranças
E no lombo da esperança
Sai batendo esporas
Na culatra da memória
Da minha querida infância
Num upa voltei no tempo
De piazito carreteiro
Correndo pelo terreiro
Entre a casa e o galpão
De calça curta , pés no chão
Com o calcanhar rachado
Comendo pinhão assado
Na grimpa com meus irmãos
Brincando lá no quintal
Na sombra da pitangueira
Na mangueirita de tronqueira
Fechada com varejão
Onde eu menino peão
No meio do alvoroço
Reunia o gado de osso
Nos dias de marcação
Uma garra de pelego
Numa vara de marmelo
Era meu baio amarelo
Que eu gostava de encilhar
E saía a camperiar
Laçando touro e novilha
Com um lacito de embira
Que o vovô ensinou a trançar
Num relance também vejo
De avental lá na cozinha
A minha querida mãezinha
Em roda do fogão
Preparando a refeição
Um arroz de carreteiro
Salada e feijão tropeiro
E paçoca de pilão
Pedalando na varanda
Na máquina de costura
Apurando a rapadura
No tacho de melado
Na fornalha de assado
Atiçando o braseiro
Cuidando do pão caseiro
Alimento abençoado
O papai lá na mangueira
De alpargatas e bombacha
Secando o leite das guachas
Entreverado com os terneiros
Encangando os carreiros
O pachola e o chitado
O pimpão e o colorado
Pintassilgo e o letreiro
Atrelando dois a dois
Na carreta carregada
Para mais uma jornada
Na sagrada profissão
Transportando a produção
Pelas serras e canhadas
Serpenteando nas estradas
Empoeiradas do rincão
Ainda ouço o rangido
De cangalhas e bruacas
Latidos e bate patas
E o era era dos tropeiros
Dos gaudérios cavaleiros
Repontando a boiada
Em direção à charqueada
Pra diante do vilarejo
E no meu gauderiar andejo
Nos verdes campos dos anos
Guardo em mala de pano
A minha maior herança
Os recuerdos de criança
Do meu mundo de guri
Do torrão onde eu vivi
A minha feliz infância
COTIDIANO BRASÍLIA
Por Paccelli José Maracci Zahler
Não dá para descrever a sensação de estar chegando em Brasília pela primeira vez. Meus olhos interioranos pareciam estar a ponto de saltar das órbitas de tanta vontade de ver e sentir tudo de uma vez só. Porém, Brasília é uma cidade diferente. Para conhecê-la, só vivendo nela.
Fiquei me sentindo minúsculo ante a largura das avenidas e a imponência do prédio do Congresso Nacional. Que dizer, então, do Palácio do Planalto, da Igreja Dom Bosco e da Catedral Metropolitana? Era como entrar em um cartão postal!
E lá se foram dezoito anos! Período no qual acredito já ter devassado todos os segredos da capital do meu país.
Preso às tradições do meu Estado natal, o Rio Grande do Sul, jamais me imaginei entrando em contato com "hare krishnas", tarólogos, astrólogos, naturalistas, iridiologistas, radiestesistas, espíritas, médiuns, pais-de-santo, com pessoas que buscam a energia das pirâmides e dos cristais, sem falar naquelas que têm contatos imediatos com seres extraterrestres.
Em toda essa diversidade de religiões e crenças, evoluí espiritualmente. Muito mais do que esperava. Penetrei nos meandros do misticismo, busquei o equilíbrio mental e emocional através da prática do "tai-chi-chuan". Coisas desta cidade magnífica que exerce poderes mágicos sobre seus habitantes.
Brasília desperta curiosidade de quem a visita pela primeira vez; ódio em quem se estabelece, devido às grandes distâncias; e amor em quem permanece. É uma terra de contrastes. Em um mesmo local podem ser faladas todas as línguas e ouvir-se todos os sotaques. Ela mesma já começa a desenvolver o próprio sotaque.
A beleza das mansões convive com os barracos dos migrantes. As crianças abandonadas e famintas aguardam ansiosamente os pães que são jogados fora nas padarias por não terem sido vendidos. Alguns homens são vistos buscando comidas nos latões de lixo dos restaurantes luxuosos.
Tais coisas não maculam a imagem de Brasília. São reflexos de uma cidade que cresceu além de sua capacidade e da crise social e econômica pela qual o país vem passando. Brasília não tem culpa, assim como nenhuma outra terra tem culpa da ambição, dos desmandos e das mazelas dos homens.
O céu continua lindo, provavelmente, o mais belo do país tanto na estação chuvosa como na estação seca.
A vegetação do cerrado, com suas árvores tortuosas que assustam o visitante casual, ao mesmo tempo encanta os olhos com a beleza rústica de suas flores.
As águas cristalinas brotadas da rocha do Parque Nacional de Brasília, em meio às árvores do cerrado, as quais exalam um perfume característico, formam um verdadeiro templo ao ar livre. Lá, as pessoas vão buscar as energias para restabelecer aquelas perdidas nos momentos de tensão e estresse do trabalho.
Seriam estas as razões de Brasília ser uma cidade mística? Só quem aceita viver nela sabe a resposta. Eu sei, mas não conto pra ninguém!
(publicado no primeiro número da Revista Cerrado Cultural, em 27.jul.2008).
Não dá para descrever a sensação de estar chegando em Brasília pela primeira vez. Meus olhos interioranos pareciam estar a ponto de saltar das órbitas de tanta vontade de ver e sentir tudo de uma vez só. Porém, Brasília é uma cidade diferente. Para conhecê-la, só vivendo nela.
Fiquei me sentindo minúsculo ante a largura das avenidas e a imponência do prédio do Congresso Nacional. Que dizer, então, do Palácio do Planalto, da Igreja Dom Bosco e da Catedral Metropolitana? Era como entrar em um cartão postal!
E lá se foram dezoito anos! Período no qual acredito já ter devassado todos os segredos da capital do meu país.
Preso às tradições do meu Estado natal, o Rio Grande do Sul, jamais me imaginei entrando em contato com "hare krishnas", tarólogos, astrólogos, naturalistas, iridiologistas, radiestesistas, espíritas, médiuns, pais-de-santo, com pessoas que buscam a energia das pirâmides e dos cristais, sem falar naquelas que têm contatos imediatos com seres extraterrestres.
Em toda essa diversidade de religiões e crenças, evoluí espiritualmente. Muito mais do que esperava. Penetrei nos meandros do misticismo, busquei o equilíbrio mental e emocional através da prática do "tai-chi-chuan". Coisas desta cidade magnífica que exerce poderes mágicos sobre seus habitantes.
Brasília desperta curiosidade de quem a visita pela primeira vez; ódio em quem se estabelece, devido às grandes distâncias; e amor em quem permanece. É uma terra de contrastes. Em um mesmo local podem ser faladas todas as línguas e ouvir-se todos os sotaques. Ela mesma já começa a desenvolver o próprio sotaque.
A beleza das mansões convive com os barracos dos migrantes. As crianças abandonadas e famintas aguardam ansiosamente os pães que são jogados fora nas padarias por não terem sido vendidos. Alguns homens são vistos buscando comidas nos latões de lixo dos restaurantes luxuosos.
Tais coisas não maculam a imagem de Brasília. São reflexos de uma cidade que cresceu além de sua capacidade e da crise social e econômica pela qual o país vem passando. Brasília não tem culpa, assim como nenhuma outra terra tem culpa da ambição, dos desmandos e das mazelas dos homens.
O céu continua lindo, provavelmente, o mais belo do país tanto na estação chuvosa como na estação seca.
A vegetação do cerrado, com suas árvores tortuosas que assustam o visitante casual, ao mesmo tempo encanta os olhos com a beleza rústica de suas flores.
As águas cristalinas brotadas da rocha do Parque Nacional de Brasília, em meio às árvores do cerrado, as quais exalam um perfume característico, formam um verdadeiro templo ao ar livre. Lá, as pessoas vão buscar as energias para restabelecer aquelas perdidas nos momentos de tensão e estresse do trabalho.
Seriam estas as razões de Brasília ser uma cidade mística? Só quem aceita viver nela sabe a resposta. Eu sei, mas não conto pra ninguém!
(publicado no primeiro número da Revista Cerrado Cultural, em 27.jul.2008).
UM POUCO DO DISTRITO FEDERAL
Por Paccelli José Maracci Zahler
O Distrito Federal é um caldeirão cultural. Engana-se quem pensa que aqui só existem funcionários públicos e políticos oportunistas a serviço das demais Unidades da Federação.
Existem diplomatas, representantes de todos os países com os quais o Brasil mantém relações diplomáticas e que trazem um pouco da sua cultura; existem brasileiros de praticamente todas a Unidades da Federação, que procuram cultivar e compartilhar as suas manifestações culturais , além de praticantes de todos os credos.
Tudo isso se constitui em uma riqueza muito grande e não é de se estranhar ver uma descendente de japoneses dançando música africana com desenvoltura; europeus jogando capoeira; afrodescendentes expertos em comida japonesa; musicistas locais executando música judaica, árabe, andina.
A literatura do Distrito Federal vem se destacando no cenário nacional, embora sofra um pouco com os altos custos das publicações físicas.
Em uma época conturbada como esta em que estamos vivendo, o mundo precisa cada vez mais da literatura para encontrar as respostas que tanto necessita.
(publicado no primeiro número da Revista Cerrado Cultural, em 27.jul.2008)
O Distrito Federal é um caldeirão cultural. Engana-se quem pensa que aqui só existem funcionários públicos e políticos oportunistas a serviço das demais Unidades da Federação.
Existem diplomatas, representantes de todos os países com os quais o Brasil mantém relações diplomáticas e que trazem um pouco da sua cultura; existem brasileiros de praticamente todas a Unidades da Federação, que procuram cultivar e compartilhar as suas manifestações culturais , além de praticantes de todos os credos.
Tudo isso se constitui em uma riqueza muito grande e não é de se estranhar ver uma descendente de japoneses dançando música africana com desenvoltura; europeus jogando capoeira; afrodescendentes expertos em comida japonesa; musicistas locais executando música judaica, árabe, andina.
A literatura do Distrito Federal vem se destacando no cenário nacional, embora sofra um pouco com os altos custos das publicações físicas.
Em uma época conturbada como esta em que estamos vivendo, o mundo precisa cada vez mais da literatura para encontrar as respostas que tanto necessita.
(publicado no primeiro número da Revista Cerrado Cultural, em 27.jul.2008)
CERRADO CULTURAL, A REVISTA LITERÁRIA VIRTUAL
Por Paccelli José Maracci Zahler
A primeira vez de qualquer atividade é sempre um desafio. É com esse espírito que estamos lançando a revista literária virtual CERRADO CULTURAL.
É óbvio que um título desses deve suscitar algumas perguntas, antes que elas sejam expressas formalmente, anteciparemos a resposta.
A expressão “Cerrado” refere-se à vegetação nativa do Planalto Central do Brasil, no qual o Distrito Federal, tendo Brasília como capital do país, está implantado.
A vegetação do Cerrado chegou a constituir cerca 25 % do território nacional, porém, com a expansão da fronteira agrícola, o desmatamento e as queimadas, esse percentual foi reduzido drasticamente, correndo um sério risco de extinção.
Uma revista com o título de CERRADO CULTURAL visa chamar a atenção para a vegetação do Cerrado e para a necessidade de sua preservação e exploração sustentável, ao mesmo tempo em que vai procurar valorizar as manifestações culturais da região no campo literário. Para isso, estará aberta a colaborações.
(Publicado no primeiro número da Revista Cerrado Cultural em 27.jul.2008).
A primeira vez de qualquer atividade é sempre um desafio. É com esse espírito que estamos lançando a revista literária virtual CERRADO CULTURAL.
É óbvio que um título desses deve suscitar algumas perguntas, antes que elas sejam expressas formalmente, anteciparemos a resposta.
A expressão “Cerrado” refere-se à vegetação nativa do Planalto Central do Brasil, no qual o Distrito Federal, tendo Brasília como capital do país, está implantado.
A vegetação do Cerrado chegou a constituir cerca 25 % do território nacional, porém, com a expansão da fronteira agrícola, o desmatamento e as queimadas, esse percentual foi reduzido drasticamente, correndo um sério risco de extinção.
Uma revista com o título de CERRADO CULTURAL visa chamar a atenção para a vegetação do Cerrado e para a necessidade de sua preservação e exploração sustentável, ao mesmo tempo em que vai procurar valorizar as manifestações culturais da região no campo literário. Para isso, estará aberta a colaborações.
(Publicado no primeiro número da Revista Cerrado Cultural em 27.jul.2008).
HÓSPEDES
Por Pedro Du Bois (Itapema, SC)
Hóspede na inutilidade perco
a paciência em obviedades:
ao responder anseios interiores
rasgo paredes com palavras
alarmadas ao milagre e refaço
a noite divulgada ao acaso: junto
o teor do expediente e o declino
em versos: no inverso da jornada
esqueço a escala crescente
das necessidades:
hospedo a maldade
ultrapassada.
Sobram cicatrizes em calosidades:
esquecer ainda é o maior mistério.
Sobre o autor: Pedro Du Bois é poeta e contista.
Hóspede na inutilidade perco
a paciência em obviedades:
ao responder anseios interiores
rasgo paredes com palavras
alarmadas ao milagre e refaço
a noite divulgada ao acaso: junto
o teor do expediente e o declino
em versos: no inverso da jornada
esqueço a escala crescente
das necessidades:
hospedo a maldade
ultrapassada.
Sobram cicatrizes em calosidades:
esquecer ainda é o maior mistério.
Sobre o autor: Pedro Du Bois é poeta e contista.
sexta-feira, 21 de janeiro de 2011
UMA LEI DE RESPONSABILIDADE AMBIENTAL?
Por Leonardo Boff
Já existe a lei de responsabilidade fiscal. Um governante não pode gastar mais do que lhe permite o montante dos impostos recolhidos. Isso melhorou significativamente a gestão pública.
O acúmulo de desastres sócio-ambientais ocorridos nos últimos tempos, com desabamentos de encostas, enchentes avassaladoras e centenas de vítimas fatais junto com a destruição de inteiras paisagens, nos obrigam a pensar na instauração de uma lei nacional de responsabilidade sócio-ambiental, com pesadas penas para os que não a respeitarem.
Já se deu um passo com a consciência da responsabilidade social das empresas. Elas não podem pensar somente em si mesmas e nos lucros de seus acionistas. Devem assumir uma clara responsabilidade social. Pois não vivem num mundo a parte: são inseridas numa determinada sociedade, com um Estado que dita leis, se situam num determinado ecossistema e são pressionadas por uma consciência cidadã que cada vez mais cobra o direito à uma boa qualidade de vida.
Mas fique claro: responsabilidade social não é a mesma coisa que obrigação social prevista em lei quanto ao pagamento de impostos, encargos e salários; nem pode ser confundida com a resposta social que é a capacidade das empresas de se adequarem às mudanças no campo social, econômico e técnico. A responsabilidade social é a obrigação que as empresas assumem de buscar metas que, a meio e longo prazo, sejam boas para elas e também para o conjunto da sociedade na qual estão inseridas.
Não se trata de fazer para a sociedade o que seria filantropia, mas com a sociedade, se envolvendo nos projetos elaborados em comum com os municípios, ONGs e outras entidades.
Mas sejamos realistas: num regime neoliberal como o nosso, sempre que os negócios não são tão rentáveis, diminui ou até desaparece a responsabilidade social. O maior inimigo da responsabilidade social é o capital especulativo. Seu objetivo é maximizar os lucros das carteiras e portofólios que controlam. Não vêem outra responsabilidade, senão a de garantir ganhos.
Mas a responsabilidade social é insuficiente, pois ela não inclui o ambiental. São poucos os que perceberam a relação do social com o ambiental. Ela é intrínseca. Todas empresas e cada um de nós vivemos no chão, não nas nuvens: respiramos, comemos, bebemos, pisamos os solos, estamos expostos à mudanças dos climas, mergulhados na natureza com sua biodiversidade, somos habitados por bilhões de bactérias e outros microorganismos. Quer dizer, estamos dentro da natureza e somos parte dela. Ela pode viver sem nós como o fez por bilhões de anos. Nós não podemos viver sem ela. Portanto, o social sem o ambiental é irreal. Ambos vêm sempre juntos.
Isso que parece óbvio, não o é para a grande parte das pessoas. Por que excluimos a natureza? Porque somos todos antropocêntricos, quer dizer, pensamos apenas em nós próprios. A natureza é exterior, posta ao nosso bel-prazer.
Somos irresponsáveis face à natureza quando desmatamos, jogamos bilhões e litros de agrotóxicos no solo, lançamos na atmosfera, anualmente, cerca de 21 bilhões de toneladas de gases de efeito estufa, contaminamos as águas, destruímos a mata ciliar, não respeitamos o declive das montanhas que podem desmoronar e matar pessoas nem observamos o curso dos rios que nas enchentes podem levar tudo de roldão.
Não interiorizamos os dados que biólogos e astrofísicos nos asseguram: Todos possuímos o mesmo alfabeto genético de base, por isso somos todos primos e irmãos e irmãs e formamos assim a comunidade de vida. Cada ser possui valor intrínseco e por isso tem direitos. Nossa democracia não pode incluir apenas os seres humanos. Sem os outros membros da comunidade de vida, não somos nada. Eles valem como novos cidadãos que devem ser incorporados na nossa compreensão de democracia que então passa a ser uma democracia sócio-ambiental. A natureza e as coisas dão-nos sinais. Elas nos chamam atenção para os eventuais riscos que podemos evitar.
Não basta a responsabilidade social, ela deve ser sócio-ambiental. É urgente que o Parlamento vote uma lei de responsabilidade sócio-ambiental imposta a todos os gestores da coisa pública. Só assim evitaremos tragédias e mortes.
Sobre o autor: Leonardo Boff é filósofo e teólogo.
Colaboração: Valéria Viana Labrea.
Já existe a lei de responsabilidade fiscal. Um governante não pode gastar mais do que lhe permite o montante dos impostos recolhidos. Isso melhorou significativamente a gestão pública.
O acúmulo de desastres sócio-ambientais ocorridos nos últimos tempos, com desabamentos de encostas, enchentes avassaladoras e centenas de vítimas fatais junto com a destruição de inteiras paisagens, nos obrigam a pensar na instauração de uma lei nacional de responsabilidade sócio-ambiental, com pesadas penas para os que não a respeitarem.
Já se deu um passo com a consciência da responsabilidade social das empresas. Elas não podem pensar somente em si mesmas e nos lucros de seus acionistas. Devem assumir uma clara responsabilidade social. Pois não vivem num mundo a parte: são inseridas numa determinada sociedade, com um Estado que dita leis, se situam num determinado ecossistema e são pressionadas por uma consciência cidadã que cada vez mais cobra o direito à uma boa qualidade de vida.
Mas fique claro: responsabilidade social não é a mesma coisa que obrigação social prevista em lei quanto ao pagamento de impostos, encargos e salários; nem pode ser confundida com a resposta social que é a capacidade das empresas de se adequarem às mudanças no campo social, econômico e técnico. A responsabilidade social é a obrigação que as empresas assumem de buscar metas que, a meio e longo prazo, sejam boas para elas e também para o conjunto da sociedade na qual estão inseridas.
Não se trata de fazer para a sociedade o que seria filantropia, mas com a sociedade, se envolvendo nos projetos elaborados em comum com os municípios, ONGs e outras entidades.
Mas sejamos realistas: num regime neoliberal como o nosso, sempre que os negócios não são tão rentáveis, diminui ou até desaparece a responsabilidade social. O maior inimigo da responsabilidade social é o capital especulativo. Seu objetivo é maximizar os lucros das carteiras e portofólios que controlam. Não vêem outra responsabilidade, senão a de garantir ganhos.
Mas a responsabilidade social é insuficiente, pois ela não inclui o ambiental. São poucos os que perceberam a relação do social com o ambiental. Ela é intrínseca. Todas empresas e cada um de nós vivemos no chão, não nas nuvens: respiramos, comemos, bebemos, pisamos os solos, estamos expostos à mudanças dos climas, mergulhados na natureza com sua biodiversidade, somos habitados por bilhões de bactérias e outros microorganismos. Quer dizer, estamos dentro da natureza e somos parte dela. Ela pode viver sem nós como o fez por bilhões de anos. Nós não podemos viver sem ela. Portanto, o social sem o ambiental é irreal. Ambos vêm sempre juntos.
Isso que parece óbvio, não o é para a grande parte das pessoas. Por que excluimos a natureza? Porque somos todos antropocêntricos, quer dizer, pensamos apenas em nós próprios. A natureza é exterior, posta ao nosso bel-prazer.
Somos irresponsáveis face à natureza quando desmatamos, jogamos bilhões e litros de agrotóxicos no solo, lançamos na atmosfera, anualmente, cerca de 21 bilhões de toneladas de gases de efeito estufa, contaminamos as águas, destruímos a mata ciliar, não respeitamos o declive das montanhas que podem desmoronar e matar pessoas nem observamos o curso dos rios que nas enchentes podem levar tudo de roldão.
Não interiorizamos os dados que biólogos e astrofísicos nos asseguram: Todos possuímos o mesmo alfabeto genético de base, por isso somos todos primos e irmãos e irmãs e formamos assim a comunidade de vida. Cada ser possui valor intrínseco e por isso tem direitos. Nossa democracia não pode incluir apenas os seres humanos. Sem os outros membros da comunidade de vida, não somos nada. Eles valem como novos cidadãos que devem ser incorporados na nossa compreensão de democracia que então passa a ser uma democracia sócio-ambiental. A natureza e as coisas dão-nos sinais. Elas nos chamam atenção para os eventuais riscos que podemos evitar.
Não basta a responsabilidade social, ela deve ser sócio-ambiental. É urgente que o Parlamento vote uma lei de responsabilidade sócio-ambiental imposta a todos os gestores da coisa pública. Só assim evitaremos tragédias e mortes.
Sobre o autor: Leonardo Boff é filósofo e teólogo.
Colaboração: Valéria Viana Labrea.
quinta-feira, 20 de janeiro de 2011
MITO CORPO (Jorge Amâncio/Anand Rao)
Poema: Jorge Amâncio
Música: Anand Rao
Fonte: YouTube.
O autor: Jorge Amâncio é professor e membro titular da Academia de Letras do Brasil - ALB/DF, cadeira nº 16, patrono Solano Trindade.
Música: Anand Rao
Fonte: YouTube.
O autor: Jorge Amâncio é professor e membro titular da Academia de Letras do Brasil - ALB/DF, cadeira nº 16, patrono Solano Trindade.
EM SERRA CHUVA (Jorge Amâncio/Anand Rao)
Poema: Jorge Amâncio
Música: Anand Rao
Dor e morte nas chuvas do Rio. O poeta Jorge Amancio fez Em Serra Chuva e Anand Rao musicou o texto. Portal Cultural Anand Rao (www.anandraobr.com) e o e-mail é producaoanandrao@gmail.com.
Fonte: YouTube.
O autor: Jorge Amâncio é professor e membro titular da Academia de Letras do Brasil - ALB/DF, cadeira nº 16, patrono Solano Trindade.
Música: Anand Rao
Dor e morte nas chuvas do Rio. O poeta Jorge Amancio fez Em Serra Chuva e Anand Rao musicou o texto. Portal Cultural Anand Rao (www.anandraobr.com) e o e-mail é producaoanandrao@gmail.com.
Fonte: YouTube.
O autor: Jorge Amâncio é professor e membro titular da Academia de Letras do Brasil - ALB/DF, cadeira nº 16, patrono Solano Trindade.
quarta-feira, 19 de janeiro de 2011
CORDEL PARA RÔMULO MARINHO
Por Gustavo Dourado
Rômulo Marinho é de Guaçuí:
Capixaba de Celina...
Foi criado na Tijuca:
Compõe e não desafina:
Sua arte é dia.amante:
Quintessência cristalina...
Telegrafista-advogado:
Juiz e compositor...
Sindtelegrafista do Rio:
Foi presidente-diretor...
Da conhecida CONTCOP:
Foi presidente-fundador...
Anos Sessenta:
Vem ao Planalto Central...
Residência em Brasília:
Faz trabalho musical...
Secretário de Serviços Públicos:
Do Distrito Federal...
É membro da ANACIM:
E presidente-fundador...
Autores e Intérpretes:
Apoiam o compositor:
Nosso Vinícius do Cerrado:
Tem alma e voz de trovador...
Palindromista afamado:
Foi Deputado Federal...
Vários cargos exerceu:
Com ética profissional...
Sindescritores-Almub:
Sapiência cultural...
Parceiro de Evaldo Gouveia:
O conhecido cantor...
Fazem belas obras-primas:
Tudo em nome do Amor...
Rômulo Marinho, poeta:
Iluminado escritor...
Sindicato dos Escritores:
Atua como Diretor...
Do Direito Autoral:
É grande conhecedor...
Papalíndromo lapida:
Sua arte é um primor...
É o Rei do Palíndromo:
Nunca nasceu outro igual...
É como Pelé em campo:
Faz drible fenomenal...
Feito Garrincha na bola:
Faz verso monumental...
Contrato Coletivo de Trabalho:
(A Tua História) é social...
(TUCANO NA CUT) um marco:
Poética palindromal...
Palindromagia zen:
Verve do transcendental...
Fez o mais longo palíndromo:
Do idioma português...
478 letras,173 palavras:
Leio sempre todo mês...
É mestre n`arte da poesia:
É mago palindromês...
Aprecia a amizade:
Já curtiu a bhoemia...
Permanece na ativa:
Na arte da poemia...
Feito Noel do Cerrado:
Tece a sua fantasia...
Brasília muito lhe deve:
Fez verso para a cidade...
Admira JK:
Age com fraternidade...
É crítico da coisa errada:
Busca ética-verdade...
Dedicado à Família:
E à solidariedade...
Ama os filhos,curte os netos/as:
Cultiva a liberdade...
Sua poesia resplandece:
Flui a luminosidade...
É uma Usina de Letras:
Multiartista-criator...
Escritores e Poetas:
Têm apreço, dão valor...
Brasília homenageia:
O mestre compositor...
Internauta concriativo:
É vate navegador...
Pelos mares da Web:
Critica o mal.feitor
"Eles tão metendo a mão"
Do Pacotão, ganhador
Foi matéria no Correio:
Saiu na tela global...
Mantém a simplicidade:
Com seu toque natural...
Especialista em vinho:
Transmuta o hominal...
Pós-aposentadoria:
Dedica-se a criação
Cultua a dona Mirtes:
Amada do coração
É um amante da noite:
Faz sua Revôolução...
Rômulo Marinho, parabéns:
Poeta, mestre, criador...
Advogado respeitado:
Homem de grande valor...
Tem nossa admiração:
Batam palmas, por favor...
Sobre o autor: Gustavo Dourado é professor, poeta, cordelista, escritor. Doutor em Filosofia Univérsica pela Academia de Letras do Brasil, Seccional DF.
Rômulo Marinho é de Guaçuí:
Capixaba de Celina...
Foi criado na Tijuca:
Compõe e não desafina:
Sua arte é dia.amante:
Quintessência cristalina...
Telegrafista-advogado:
Juiz e compositor...
Sindtelegrafista do Rio:
Foi presidente-diretor...
Da conhecida CONTCOP:
Foi presidente-fundador...
Anos Sessenta:
Vem ao Planalto Central...
Residência em Brasília:
Faz trabalho musical...
Secretário de Serviços Públicos:
Do Distrito Federal...
É membro da ANACIM:
E presidente-fundador...
Autores e Intérpretes:
Apoiam o compositor:
Nosso Vinícius do Cerrado:
Tem alma e voz de trovador...
Palindromista afamado:
Foi Deputado Federal...
Vários cargos exerceu:
Com ética profissional...
Sindescritores-Almub:
Sapiência cultural...
Parceiro de Evaldo Gouveia:
O conhecido cantor...
Fazem belas obras-primas:
Tudo em nome do Amor...
Rômulo Marinho, poeta:
Iluminado escritor...
Sindicato dos Escritores:
Atua como Diretor...
Do Direito Autoral:
É grande conhecedor...
Papalíndromo lapida:
Sua arte é um primor...
É o Rei do Palíndromo:
Nunca nasceu outro igual...
É como Pelé em campo:
Faz drible fenomenal...
Feito Garrincha na bola:
Faz verso monumental...
Contrato Coletivo de Trabalho:
(A Tua História) é social...
(TUCANO NA CUT) um marco:
Poética palindromal...
Palindromagia zen:
Verve do transcendental...
Fez o mais longo palíndromo:
Do idioma português...
478 letras,173 palavras:
Leio sempre todo mês...
É mestre n`arte da poesia:
É mago palindromês...
Aprecia a amizade:
Já curtiu a bhoemia...
Permanece na ativa:
Na arte da poemia...
Feito Noel do Cerrado:
Tece a sua fantasia...
Brasília muito lhe deve:
Fez verso para a cidade...
Admira JK:
Age com fraternidade...
É crítico da coisa errada:
Busca ética-verdade...
Dedicado à Família:
E à solidariedade...
Ama os filhos,curte os netos/as:
Cultiva a liberdade...
Sua poesia resplandece:
Flui a luminosidade...
É uma Usina de Letras:
Multiartista-criator...
Escritores e Poetas:
Têm apreço, dão valor...
Brasília homenageia:
O mestre compositor...
Internauta concriativo:
É vate navegador...
Pelos mares da Web:
Critica o mal.feitor
"Eles tão metendo a mão"
Do Pacotão, ganhador
Foi matéria no Correio:
Saiu na tela global...
Mantém a simplicidade:
Com seu toque natural...
Especialista em vinho:
Transmuta o hominal...
Pós-aposentadoria:
Dedica-se a criação
Cultua a dona Mirtes:
Amada do coração
É um amante da noite:
Faz sua Revôolução...
Rômulo Marinho, parabéns:
Poeta, mestre, criador...
Advogado respeitado:
Homem de grande valor...
Tem nossa admiração:
Batam palmas, por favor...
Sobre o autor: Gustavo Dourado é professor, poeta, cordelista, escritor. Doutor em Filosofia Univérsica pela Academia de Letras do Brasil, Seccional DF.
ELES TÃO METENDO A MÃO (marchinha de Carnaval) (vídeo)
Por Gustavo Dourado e Rômulo Marinho
Fonte: YouTube.
Fonte: YouTube.
segunda-feira, 17 de janeiro de 2011
ATÉ QUANDO?
Por Vânia Moreira Diniz (Brasília, DF)
Todos os anos nessa época assistimos ao amargurante espetáculo de dor e desespero com as chuvas de verão, que em suas consequências desabrigam e matam tantas pessoas. E nesse ano especialmente isso foi ainda mais devastador e em lágrimas assistimos à tragédia que se apresenta no estado do Rio, São Paulo e interior de Minas sem poder fazer nada senão enviar dinheiro e roupas que nem sabemos se chegará lá.
Nasci e cresci no Rio de Janeiro, nessa terra cheia de luz, alegria e barulho e muitas vezes passei férias em Petrópolis, Itaipava e Teresópolis e em cidades que estão sendo completamente arruinadas e onde seus moradores lutam para salvar suas casas, seus bens e seus parentes.
Muito, muito triste observar impotente os acontecimentos dolorosos que se desenrolam no sudeste de nosso país e sentimos indignação por ainda não ter sido feita nenhuma prevenção e ter que ouvir das autoridades as mesmas explicações como se isso fosse um acontecimento natural enquanto tanta gente entrega seu dom mais precioso: a própria vida.
Ao assistirmos as reportagens sobre as águas que inundam as cidades atingidas pensamos que antes de tudo, já deveriam ter sido tomadas sérias providências para evitar essa tristeza profunda que está acontecendo em nosso país. Doar cestas básicas? Isso pode melhorar agora um pouco a fome dos que se salvaram, mas não retorna a vida dos que se foram.
Vemos as autoridades aconselharem que as pessoas saiam de suas casas e dos lugares perigosos, mas para onde eles irão? Acho que o governo teria que providenciar lugares dignos para essa população sofredora que assiste água abaixo o sacrifício de suas vidas em casas construídas com o trabalho honesto do dia a dia e principalmente o horror de perder seus entes mais queridos.
Como fazer? Acho que chega de explicações que não levam a nada, as mesmas que já foram dadas o ano passado, e o outro anterior e ainda o outro...
Chega de não responsabilizar os órgãos competentes pela falta de providências enérgicas antes que as chuvas pudessem devastar as cidades e a população do Brasil.
Que se gaste menos, que se viaje menos e que as autoridades possam ser mais sóbrias em tudo para que seja permitido não ressarcir, porque isso jamais seria possível num acontecimento tão doloroso e uma vida é muito preciosa para que se possa compensar, porém pelo menos dar condições dignas dessa população curtir seus sofrimentos com mais dignidade..
Vidas ceifadas, pessoas sem habitação, crianças sofrendo estão aí para quem quiser ver e os abrigos não são uma solução. Desejamos que sejam resolvidos esses problemas com casas onde possa haver a privacidade natural que eles tinham em suas próprias casas por mais pobres que fossem.
Até quando continuaremos a ver tantas pessoas desabrigadas e mortas pelas consequências dessas chuvas torrenciais e não serem tomadas nenhuma providência para evitar tudo isso? Quando? Até quando?
Como falar de ecologia quando nem às pessoas humanas se dá o devido valor? Como saber preservar os animais e a nossa exuberante natureza se nem aos nossos semelhantes sabemos defender? Até quando?
Sobre a autora: Vânia Moreira Diniz é escritora, poetisa, humanista e pesquisadora. Doutora em Filosofia Univérsica, é fundadora e presidenta da Academia de Letras do Brasil, Seccional DF (ALB-DF).
Todos os anos nessa época assistimos ao amargurante espetáculo de dor e desespero com as chuvas de verão, que em suas consequências desabrigam e matam tantas pessoas. E nesse ano especialmente isso foi ainda mais devastador e em lágrimas assistimos à tragédia que se apresenta no estado do Rio, São Paulo e interior de Minas sem poder fazer nada senão enviar dinheiro e roupas que nem sabemos se chegará lá.
Nasci e cresci no Rio de Janeiro, nessa terra cheia de luz, alegria e barulho e muitas vezes passei férias em Petrópolis, Itaipava e Teresópolis e em cidades que estão sendo completamente arruinadas e onde seus moradores lutam para salvar suas casas, seus bens e seus parentes.
Muito, muito triste observar impotente os acontecimentos dolorosos que se desenrolam no sudeste de nosso país e sentimos indignação por ainda não ter sido feita nenhuma prevenção e ter que ouvir das autoridades as mesmas explicações como se isso fosse um acontecimento natural enquanto tanta gente entrega seu dom mais precioso: a própria vida.
Ao assistirmos as reportagens sobre as águas que inundam as cidades atingidas pensamos que antes de tudo, já deveriam ter sido tomadas sérias providências para evitar essa tristeza profunda que está acontecendo em nosso país. Doar cestas básicas? Isso pode melhorar agora um pouco a fome dos que se salvaram, mas não retorna a vida dos que se foram.
Vemos as autoridades aconselharem que as pessoas saiam de suas casas e dos lugares perigosos, mas para onde eles irão? Acho que o governo teria que providenciar lugares dignos para essa população sofredora que assiste água abaixo o sacrifício de suas vidas em casas construídas com o trabalho honesto do dia a dia e principalmente o horror de perder seus entes mais queridos.
Como fazer? Acho que chega de explicações que não levam a nada, as mesmas que já foram dadas o ano passado, e o outro anterior e ainda o outro...
Chega de não responsabilizar os órgãos competentes pela falta de providências enérgicas antes que as chuvas pudessem devastar as cidades e a população do Brasil.
Que se gaste menos, que se viaje menos e que as autoridades possam ser mais sóbrias em tudo para que seja permitido não ressarcir, porque isso jamais seria possível num acontecimento tão doloroso e uma vida é muito preciosa para que se possa compensar, porém pelo menos dar condições dignas dessa população curtir seus sofrimentos com mais dignidade..
Vidas ceifadas, pessoas sem habitação, crianças sofrendo estão aí para quem quiser ver e os abrigos não são uma solução. Desejamos que sejam resolvidos esses problemas com casas onde possa haver a privacidade natural que eles tinham em suas próprias casas por mais pobres que fossem.
Até quando continuaremos a ver tantas pessoas desabrigadas e mortas pelas consequências dessas chuvas torrenciais e não serem tomadas nenhuma providência para evitar tudo isso? Quando? Até quando?
Como falar de ecologia quando nem às pessoas humanas se dá o devido valor? Como saber preservar os animais e a nossa exuberante natureza se nem aos nossos semelhantes sabemos defender? Até quando?
Sobre a autora: Vânia Moreira Diniz é escritora, poetisa, humanista e pesquisadora. Doutora em Filosofia Univérsica, é fundadora e presidenta da Academia de Letras do Brasil, Seccional DF (ALB-DF).
CRESCER
Por Pedro Du Bois (Itapema, SC)
A antevisão do inferno
conforma a figura ensinada
enquanto criança: ter sido
criança antes
da história
adulterada
o menino ativa idéias
descomunais ao corpo
ingente, purgado
em vitaminas inexistentes
o inferno desdobrado
em passos: passado
recoberto em eras.
Floresta desbastada.
Sobre o autor: Pedro Du Bois é poeta e contista.
A antevisão do inferno
conforma a figura ensinada
enquanto criança: ter sido
criança antes
da história
adulterada
o menino ativa idéias
descomunais ao corpo
ingente, purgado
em vitaminas inexistentes
o inferno desdobrado
em passos: passado
recoberto em eras.
Floresta desbastada.
Sobre o autor: Pedro Du Bois é poeta e contista.
ESTA É BAGÉ
Por Sheila Corrêa
Sóbria, elegante, culta, soberana
De boa estampa, atávica, altaneira
Herdeira de Sepé, sangue charrua
Que no berço da Fé nasceu guerreira
Mais um portal de igreja que se fez cidade
Esta é Bagé, Rainha da Fronteira.
Temos por devoção dois padroeiros
A quem nos ajoelhamos em oração
Nossa meiga Senhora Auxiliadora
E o guerreiro fiel São Sebastião
Talvez daí a alma do bageense
Bravia e suave como um chimarrão.
Cada rua ou esquina é um campo aberto
Onde cavalga o Vento Minuano
Potro chucro sem cerca e sem porteira
Um frio do Sul, cortante e aragano
Mas no peito de cada habitante
Crepita um fogo de calor humano.
Lá do alto do Cerro de Bagé
Envolverás a cidade num abraço
Construção que do céu se faz espelho
Poncho que ali se estende em seu regaço
Como uma noite azul cheia de estrelas
Iluminando a vastidão do espaço.
Tendo a pampa por ninho e por moldura
Terra de amor, trabalho e poesia
Em que o passado se enlaça com o futuro
Do cacique Ibagé foi moradia
Aonde quem nasce, ou visita, quando parte
Sabe que há de retornar um dia.
Colaboração: Heloísa Bello (Londrina, PR).
Sóbria, elegante, culta, soberana
De boa estampa, atávica, altaneira
Herdeira de Sepé, sangue charrua
Que no berço da Fé nasceu guerreira
Mais um portal de igreja que se fez cidade
Esta é Bagé, Rainha da Fronteira.
Temos por devoção dois padroeiros
A quem nos ajoelhamos em oração
Nossa meiga Senhora Auxiliadora
E o guerreiro fiel São Sebastião
Talvez daí a alma do bageense
Bravia e suave como um chimarrão.
Cada rua ou esquina é um campo aberto
Onde cavalga o Vento Minuano
Potro chucro sem cerca e sem porteira
Um frio do Sul, cortante e aragano
Mas no peito de cada habitante
Crepita um fogo de calor humano.
Lá do alto do Cerro de Bagé
Envolverás a cidade num abraço
Construção que do céu se faz espelho
Poncho que ali se estende em seu regaço
Como uma noite azul cheia de estrelas
Iluminando a vastidão do espaço.
Tendo a pampa por ninho e por moldura
Terra de amor, trabalho e poesia
Em que o passado se enlaça com o futuro
Do cacique Ibagé foi moradia
Aonde quem nasce, ou visita, quando parte
Sabe que há de retornar um dia.
Colaboração: Heloísa Bello (Londrina, PR).
sábado, 15 de janeiro de 2011
O PREÇO DE NÃO ESCUTAR A NATUREZA
Por Leonardo Boff
O cataclisma ambiental, social e humano que se abateu sobre as três cidades serranas do Estado do Rio de Janeiro, Petrópolis, Teresópolis e Nova Friburgo, na segunda semana de janeiro, com centenas de mortos, destruição de regiões inteiras e um incomensurável sofrimento dos que perderam familiares, casas e todos os haveres tem como causa mais imediata as chuvas torrenciais, próprias do verão, a configuração geofísica das montanhas, com pouca capa de solo sobre o qual cresce exuberante floresta subtropical, assentada sobre imensas rochas lisas que por causa da infiltração das águas e o peso da vegetação provocam frequentemente deslizamentos fatais.
Culpam-se pessoas que ocuparam áreas de risco, incriminam-se políticos corruptos que destribuíram terrenos perigosos a pobres, critica-se o poder público que se mostrou leniente e não fez obras de prevenção, por não serem visíveis e não angariarem votos. Nisso tudo há muita verdade. Mas nisso não reside a causa principal desta tragédia avassaladora.
A causa principal deriva do modo como costumamos tratar a natureza. Ela é generosa para conosco pois nos oferece tudo o que precisamos para viver. Mas nós, em contrapartida, a consideramos como um objeto qualquer, entregue ao nosso bel-prazer, sem nenhum sentido de responsabilidade pela sua preservação nem lhe damos alguma retribuição. Ao contrario, tratamo-la com violência, depredamo-la, arrancando tudo o que podemos dela para nosso benefício. E ainda a transformamos numa imensa lixeira de nossos dejetos.
Pior ainda: nós não conhecemos sua natureza e sua história. Somos analfabetos e ignorantes da história que se realizou nos nossos lugares no percurso de milhares e milhares de anos. Não nos preocupamos em conhecer a flora e a fauna, as montanhas, os rios, as paisagens, as pessoas significativas que ai viveram, artistas, poetas, governantes, sábios e construtores.
Somos, em grande parte, ainda devedores do espírito científico moderno que identifica a realidade com seus aspectos meramente materiais e mecanicistas sem incluir nela, a vida, a consciência e a comunhão íntima com as coisas que os poetas, músicos e artistas nos evocam em suas magníficas obras. O universo e a natureza possuem história. Ela está sendo contada pelas estrelas, pela Terra, pelo afloramento e elevação das montanhas, pelos animais, pelas florestas e pelos rios. Nossa tarefa é saber escutar e interpretar as mensagens que eles nos mandam. Os povos originários sabiam captar cada movimento das nuvens, o sentido dos ventos e sabiam quando vinham ou não trombas d’água. Chico Mendes com quem participei de longas penetrações na floresta amazônica do Acre sabia interpretar cada ruído da selva, ler sinais da passagem de onças nas folhas do chão e, com o ouvido colado ao chão, sabia a direção em que ia a manada de perigosos porcos selvagens. Nós desaprendemos tudo isso. Com o recurso das ciências lemos a história inscrita nas camadas de cada ser. Mas esse conhecimento não entrou nos currículos escolares nem se transformou em cultura geral. Antes, virou técnica para dominar a natureza e acumular.
No caso das cidades serranas: é natural que haja chuvas torrenciais no verão. Sempre podem ocorrer desmoronamentos de encostas. Sabemos que já se instalou o aquecimento global que torna os eventos extremos mais freqüentes e mais densos. Conhecemos os vales profundos e os riachos que correm neles. Mas não escutamos a mensagem que eles nos enviam que é: não construir casas nas encostas; não morar perto do rio e preservar zelosamente a mata ciliar. O rio possui dois leitos: um normal, menor, pelo qual fluem as águas correntes e outro maior que dá vazão às grandes águas das chuvas torrenciais. Nesta parte não se pode construir e morar.
Estamos pagando alto preço pelo nosso descaso e pela dizimação da mata atlântica que equilibrava o regime das chuvas. O que se impõe agora é escutar a natureza e fazer obras preventivas que respeitem o modo de ser de cada encosta, de cada vale e de cada rio.
Só controlamos a natureza na medida em que lhe obedecemos e soubermos escutar suas mensagens e ler seus sinais. Caso contrário teremos que contar com tragédias fatais evitáveis.
Sobre o autor: Leonardo Boff é filósofo e teólogo.
Colaboração: Valéria Viana Labrea.
O cataclisma ambiental, social e humano que se abateu sobre as três cidades serranas do Estado do Rio de Janeiro, Petrópolis, Teresópolis e Nova Friburgo, na segunda semana de janeiro, com centenas de mortos, destruição de regiões inteiras e um incomensurável sofrimento dos que perderam familiares, casas e todos os haveres tem como causa mais imediata as chuvas torrenciais, próprias do verão, a configuração geofísica das montanhas, com pouca capa de solo sobre o qual cresce exuberante floresta subtropical, assentada sobre imensas rochas lisas que por causa da infiltração das águas e o peso da vegetação provocam frequentemente deslizamentos fatais.
Culpam-se pessoas que ocuparam áreas de risco, incriminam-se políticos corruptos que destribuíram terrenos perigosos a pobres, critica-se o poder público que se mostrou leniente e não fez obras de prevenção, por não serem visíveis e não angariarem votos. Nisso tudo há muita verdade. Mas nisso não reside a causa principal desta tragédia avassaladora.
A causa principal deriva do modo como costumamos tratar a natureza. Ela é generosa para conosco pois nos oferece tudo o que precisamos para viver. Mas nós, em contrapartida, a consideramos como um objeto qualquer, entregue ao nosso bel-prazer, sem nenhum sentido de responsabilidade pela sua preservação nem lhe damos alguma retribuição. Ao contrario, tratamo-la com violência, depredamo-la, arrancando tudo o que podemos dela para nosso benefício. E ainda a transformamos numa imensa lixeira de nossos dejetos.
Pior ainda: nós não conhecemos sua natureza e sua história. Somos analfabetos e ignorantes da história que se realizou nos nossos lugares no percurso de milhares e milhares de anos. Não nos preocupamos em conhecer a flora e a fauna, as montanhas, os rios, as paisagens, as pessoas significativas que ai viveram, artistas, poetas, governantes, sábios e construtores.
Somos, em grande parte, ainda devedores do espírito científico moderno que identifica a realidade com seus aspectos meramente materiais e mecanicistas sem incluir nela, a vida, a consciência e a comunhão íntima com as coisas que os poetas, músicos e artistas nos evocam em suas magníficas obras. O universo e a natureza possuem história. Ela está sendo contada pelas estrelas, pela Terra, pelo afloramento e elevação das montanhas, pelos animais, pelas florestas e pelos rios. Nossa tarefa é saber escutar e interpretar as mensagens que eles nos mandam. Os povos originários sabiam captar cada movimento das nuvens, o sentido dos ventos e sabiam quando vinham ou não trombas d’água. Chico Mendes com quem participei de longas penetrações na floresta amazônica do Acre sabia interpretar cada ruído da selva, ler sinais da passagem de onças nas folhas do chão e, com o ouvido colado ao chão, sabia a direção em que ia a manada de perigosos porcos selvagens. Nós desaprendemos tudo isso. Com o recurso das ciências lemos a história inscrita nas camadas de cada ser. Mas esse conhecimento não entrou nos currículos escolares nem se transformou em cultura geral. Antes, virou técnica para dominar a natureza e acumular.
No caso das cidades serranas: é natural que haja chuvas torrenciais no verão. Sempre podem ocorrer desmoronamentos de encostas. Sabemos que já se instalou o aquecimento global que torna os eventos extremos mais freqüentes e mais densos. Conhecemos os vales profundos e os riachos que correm neles. Mas não escutamos a mensagem que eles nos enviam que é: não construir casas nas encostas; não morar perto do rio e preservar zelosamente a mata ciliar. O rio possui dois leitos: um normal, menor, pelo qual fluem as águas correntes e outro maior que dá vazão às grandes águas das chuvas torrenciais. Nesta parte não se pode construir e morar.
Estamos pagando alto preço pelo nosso descaso e pela dizimação da mata atlântica que equilibrava o regime das chuvas. O que se impõe agora é escutar a natureza e fazer obras preventivas que respeitem o modo de ser de cada encosta, de cada vale e de cada rio.
Só controlamos a natureza na medida em que lhe obedecemos e soubermos escutar suas mensagens e ler seus sinais. Caso contrário teremos que contar com tragédias fatais evitáveis.
Sobre o autor: Leonardo Boff é filósofo e teólogo.
Colaboração: Valéria Viana Labrea.
quinta-feira, 13 de janeiro de 2011
OFICINA PERDIZ (documentário, 2006, 20 min)
Oficina Perdiz
Gênero: Documentário
Diretor: Marcelo Díaz
Ano: 2006
Duração: 20 min
Cor: Colorido
Bitola: 35mm
País: Brasil
Local de Produção: DF
Perdiz instalou sua oficina mecânica em uma área pública na cidade planejada de Brasília (Brasil), no ano de 1969. Há 17 anos abriu seu espaço pela primeira vez para o teatro com Esperando Godot de Becket. E não parou mais. Hoje permanece no mesmo local, dividido entre peças mecânica e teatrais. Entretanto, continua irregular.
Ficha Técnica
Produção Marcelo Díaz Fotografia Krishna Schmidt Roteiro Marcelo Díaz Som Acácio Campos, Chico Borôro, Fernando Cavalcanti, Igor Schmidt Edição de som Dirceu Lustosa Câmera Krishna Schmidt Direção de produção José Geraldo Assistente de Câmera Sérgio Bites, Igor Schmidt Assistente de Produção Rebeca Cavalcanti, Julia Campello Mixagem VTI Network Pós-produção TeleImage Montagem Edu Jung Eletricista João Bala, Nelson Fagundes Transcrição de Depoimentos Raquel O Neill
Prêmios
Melhor Curta 35mm - Prêmio Câmara Legislativa no Festival de Brasília 2006
Prêmio CTAV no Festival Internacional de Curtas de São Paulo 2007
Prêmio ABD e C no Mostra do Filme Etnográfico 2007
Melhor Documentário no Vídeo Festival São Carlos 2007
Melhor Roteiro no Curta Canoa 2007
Festivais
Brasil Plural 2007/ 2008
Brazilian Film Festival of Miami 2007
Brazilian Film Festival of Toronto 2007
Cine Ceará 2007
Curta Cinema - Festival Internacional de Curtas do Rio de Janeiro 2006
FAM - Florianópolis 2007
FestCine Amazônia 2007
Festival de Cinema de Varginha 2007
Festival de Gramado 2007
Festival Internacional de Cine de Antofagasta 2007
Goiânia Mostra Curtas 2007
Milano Film Festival 2007
Mostra Curta Audiovisual de Campinas 2007
Mostra de Tiradentes 2007
Mostra do Filme Livre 2008
Sydney Latin American Film Festival 2008
Vitória Cine Vídeo 2007
Amazonas Film Festival 2007
Curta Cabo Frio 2007
Festival de Vídeo de Teresina 2007
Festival del Nuevo Cine Latino Americano de Habana 2007
Mosca - Mostra audiovisual de Cambuquira 2007
Mostra Cinema Conquista 2007
Panorama Recife de Documentários 2007
Araribóia Cine 2007
quarta-feira, 12 de janeiro de 2011
AMBIGUIDADE
Por Delasnieve Daspet (Campo Grande, MS)
Sou!
Sou um mundo em miniatura,
Microscópica na aparência,
Ciclópica nos sonhos.
Sou!
Sou herdeira da luz infinita,
Do amor,
Da maldade,
Da amizade,
Da inveja.
Sou!
Sou heroína,
Sou bandida,
Sou perdedora,
Sou vencedora planetária.
Tivergeso
Por isso sou!
Sou pranto,
Sou riso,
Delínquo...
Sou bondade.
Sou ventura,
Sou radiosa,
Sou força,
Sou vacilante,
Sou propensa ao mal. ..
Sou fatuidade.
Sou vento que açoita,
Sou a flor que se abre,
Sou o útero que abriga.
Sou a noite negra das trevas,
Sou o luar que ilumina.
Sou a estagnação,
Sou o poder,
Sou a inércia.
Sou fértil,
Sou pântano estéril.
Sou o campo verde,
Sou o peito que amamenta.
Ambiguidade.
Dor e dever.
Sou o sol que aquece,
Sou a água que dá vida.
Sou pensamento
Que navega pelos ares,
Pelos mares,
Pelo éter!
Sou satélite que gravita.
Que permanece na morte e na vida,
Prolongando o momento diáfano
Do encontro final.
Sou melodia em surdina
Depois num crescendo
Sou o êxtase!
Sou o aroma,
O cheiro,
A flor,
O pólen,
A luz.
O átomo,
Sou eu.
Sou você. ..
Somos nós!
(23 fevereiro de 2001)
Sobre a autora: Delasnieve Daspet é advogada, poetisa e Embaixadora Universal da Paz.
Sou!
Sou um mundo em miniatura,
Microscópica na aparência,
Ciclópica nos sonhos.
Sou!
Sou herdeira da luz infinita,
Do amor,
Da maldade,
Da amizade,
Da inveja.
Sou!
Sou heroína,
Sou bandida,
Sou perdedora,
Sou vencedora planetária.
Tivergeso
Por isso sou!
Sou pranto,
Sou riso,
Delínquo...
Sou bondade.
Sou ventura,
Sou radiosa,
Sou força,
Sou vacilante,
Sou propensa ao mal. ..
Sou fatuidade.
Sou vento que açoita,
Sou a flor que se abre,
Sou o útero que abriga.
Sou a noite negra das trevas,
Sou o luar que ilumina.
Sou a estagnação,
Sou o poder,
Sou a inércia.
Sou fértil,
Sou pântano estéril.
Sou o campo verde,
Sou o peito que amamenta.
Ambiguidade.
Dor e dever.
Sou o sol que aquece,
Sou a água que dá vida.
Sou pensamento
Que navega pelos ares,
Pelos mares,
Pelo éter!
Sou satélite que gravita.
Que permanece na morte e na vida,
Prolongando o momento diáfano
Do encontro final.
Sou melodia em surdina
Depois num crescendo
Sou o êxtase!
Sou o aroma,
O cheiro,
A flor,
O pólen,
A luz.
O átomo,
Sou eu.
Sou você. ..
Somos nós!
(23 fevereiro de 2001)
Sobre a autora: Delasnieve Daspet é advogada, poetisa e Embaixadora Universal da Paz.
DOIS RIOS (DOIS AMANTES)
Por Ridamar Batista
Dois rios com alegria resvalam por entre as pedras, cantando uma sinfonia ouvida por todo quêniun e cantam assim felizes por estarem certos que vão se encontrar no caminho.
De cima daquele morro, sentados na laje da encosta os dois ciganos descansam, enquanto felizes contemplam a imagem tão bela daquelas paragens sem fim. O sol bate nas pedras ao entardecer e o colorido das flores revela todos os tons.
São namorados da vida, de mãos dadas trocam olhares na certeza do amor.
Ela vestida de seda, um lenço vermelho na cabeça e outro cingindo o ventre, nos pés a sandália bordada, nos braços pulseiras doiradas no olhar a ternura profunda de quem sabe ser amada.
Olham o verde esperança, enlaçados pelo abraço de toda entrega sincera, doação dos sentimentos.
Como os dois rios, se fundem e perdem a identidade para correr no infinito em busca de um mesmo momento, vislumbram do alto do queniun a entrega das águas que se encontram numa cantiga eterna, mostrando a grandiosidade da vida.
A companheira silente, bebe com entusiasmo a sabedoria do amante, que vai lhe ensinando aos poucos o que há de mais sagrado.
Fecham os olhos e sonham diante da imensidão. É tão belo o momento que o silencio é preciso. Apenas o som das águas faz o sentido de tudo.
Nascidas em cima do morro, correm cantando felizes e vão em busca do mar. Conhecem os desafios, sabem que é longo o caminho e o quanto é mister resvalar. Porem a força da vida empurra as águas pra frente sem que temam o caminhar.
Assim também os amantes, dois ciganos errantes, vão em busca do destino.
Param de vez em quando. Ele sabe cada canto onde a natureza foi pródiga para enfeitar o caminho. De camisa vermelha, lenço amarrado ao pescoço, botas até os joelhos, atento a cada sinal, leva a moça pelas mãos e num gesto de carinho, descem o queniun devagar. Lá em baixo as águas rolam, cantando sem parar.
Sabem viver cada dia, sem ansiedade ou agonia, certos de que vão chegar ao ponto de suas buscas.
Estando longe ou perto o coração bate certo, cumprindo o mesmo tom, como as águas dos riachos, cantam para alegrar o vale, uma canção de amor.
Levam ternura nas almas por onde tem que passar. Seguem de mãos dadas, serenos pelas estradas, como os rios para o mar. Alimentam seu caminho, ladeando de carinho e dando vida a quem passar. Ao correrem por este leito, carregam o alimento no peito e semeiam compreensão.São caminheiros do mundo e aprendizes da vida. Sem destino e sem norte, vagam pelos caminhos, levando em seu cadinho uma pitada sorte.
Confiam em sua estrela, o sol durante o dia e a lua brilhando a noite. Dormem sobre a relva, bebem na mesma concha e fazem a vida bela.
Sobre a autora: Ridamar Batista é membro da Academia de Letras do Brasil, Seccional Goiás.
Dois rios com alegria resvalam por entre as pedras, cantando uma sinfonia ouvida por todo quêniun e cantam assim felizes por estarem certos que vão se encontrar no caminho.
De cima daquele morro, sentados na laje da encosta os dois ciganos descansam, enquanto felizes contemplam a imagem tão bela daquelas paragens sem fim. O sol bate nas pedras ao entardecer e o colorido das flores revela todos os tons.
São namorados da vida, de mãos dadas trocam olhares na certeza do amor.
Ela vestida de seda, um lenço vermelho na cabeça e outro cingindo o ventre, nos pés a sandália bordada, nos braços pulseiras doiradas no olhar a ternura profunda de quem sabe ser amada.
Olham o verde esperança, enlaçados pelo abraço de toda entrega sincera, doação dos sentimentos.
Como os dois rios, se fundem e perdem a identidade para correr no infinito em busca de um mesmo momento, vislumbram do alto do queniun a entrega das águas que se encontram numa cantiga eterna, mostrando a grandiosidade da vida.
A companheira silente, bebe com entusiasmo a sabedoria do amante, que vai lhe ensinando aos poucos o que há de mais sagrado.
Fecham os olhos e sonham diante da imensidão. É tão belo o momento que o silencio é preciso. Apenas o som das águas faz o sentido de tudo.
Nascidas em cima do morro, correm cantando felizes e vão em busca do mar. Conhecem os desafios, sabem que é longo o caminho e o quanto é mister resvalar. Porem a força da vida empurra as águas pra frente sem que temam o caminhar.
Assim também os amantes, dois ciganos errantes, vão em busca do destino.
Param de vez em quando. Ele sabe cada canto onde a natureza foi pródiga para enfeitar o caminho. De camisa vermelha, lenço amarrado ao pescoço, botas até os joelhos, atento a cada sinal, leva a moça pelas mãos e num gesto de carinho, descem o queniun devagar. Lá em baixo as águas rolam, cantando sem parar.
Sabem viver cada dia, sem ansiedade ou agonia, certos de que vão chegar ao ponto de suas buscas.
Estando longe ou perto o coração bate certo, cumprindo o mesmo tom, como as águas dos riachos, cantam para alegrar o vale, uma canção de amor.
Levam ternura nas almas por onde tem que passar. Seguem de mãos dadas, serenos pelas estradas, como os rios para o mar. Alimentam seu caminho, ladeando de carinho e dando vida a quem passar. Ao correrem por este leito, carregam o alimento no peito e semeiam compreensão.São caminheiros do mundo e aprendizes da vida. Sem destino e sem norte, vagam pelos caminhos, levando em seu cadinho uma pitada sorte.
Confiam em sua estrela, o sol durante o dia e a lua brilhando a noite. Dormem sobre a relva, bebem na mesma concha e fazem a vida bela.
Sobre a autora: Ridamar Batista é membro da Academia de Letras do Brasil, Seccional Goiás.
2011 - A FORÇA DO PENSAMENTO E DAS PALAVRAS
Por Ridamar Batista
Diante da verdadeira dinâmica que a vida cumpre, de novo Mercúrio chega na regência do ano.
2011 terá a natureza andrógena, bipolar e mutável.
Dançará entre os dois extremos. Pulará do Yin para o Yang sem pedir licença.
Os pratos da balança ficarão à deriva, cada vez mais bêbados ao sabor do vento.
Como um camaleão com fome ou com medo, assim estaremos durante o passo deste ano vindouro.
As mudanças lunares, as estações do ano, tudo terá a regência quente de Mercúrio o astro impulsivo, eloquente, intelectual e comunicativo.
As argumentações estarão cheias de astúcias, o pensamento a mil por hora e a necessidade de análise muito aguçada.
Os tons passearão entre o azul e o laranja e facilitarão a interpretação das sensações da alma.
O elemento será o AR e com isso estaremos mais sutís, realinhando nossa forma de pensar e de perceber o entorno em busca de elementos positivos para facilitar o convívio.
Desenvolveremos a coragem. Estaremos mais aptos a compreender o que se instala no mundo e na vida dos que estão criando para o amanhã.
Navegaremos entre calmarias e tempestades.
Nosso corpo estará mais frágil nos ombros, braços, mãos.
Deveremos exercitar a glândula Tireóide com pequenas massagens feitas com a ponta dos dedos em movimentos alternados e rítmicos.
Respirar profundamente o ar puro pela manhã e fazer simbiose mental com a luz solar será a força mágica que nos equilibrará.
Usar ervas como aniz, sabugueiro e camomila em infusões também nos levará a estados de paz mental e física.
O calor do fogo angélico vindo da presença apaziguadora do anjo Miguel, protetor do ano 2011, deverá ser ativado com uma vela acesa todas as manhãs ao mesmo tempo que pediremos a queima simbólica de tudo que nos for negativo ou passageiro, prevalecendo a força eterna da Luz maior.
Nosso lar enfeitado de flores trará a ancoragem perfeita para o anjo, nossa sentinela invisível.
Desejo a cada um de todos que comigo comungam a fé e a esperança de um mundo melhor, numa caminhada próspera e pródiga a mais perfeita conspiração cósmica para a realização de nossos projetos.
Prece Cósmica
Universo!
Em sintonia plena e perfeita simbiose, meu coração pulsa em ritmo e som iguais ao ritmo e som UNO.
Tudo funciona em harmonia e paz.
Somos apenas UM.
Assim Seja!
Sobre a autora: Ridamar Batista é membro da Academia de Letras do Brasil, Seccional Goiás.
Diante da verdadeira dinâmica que a vida cumpre, de novo Mercúrio chega na regência do ano.
2011 terá a natureza andrógena, bipolar e mutável.
Dançará entre os dois extremos. Pulará do Yin para o Yang sem pedir licença.
Os pratos da balança ficarão à deriva, cada vez mais bêbados ao sabor do vento.
Como um camaleão com fome ou com medo, assim estaremos durante o passo deste ano vindouro.
As mudanças lunares, as estações do ano, tudo terá a regência quente de Mercúrio o astro impulsivo, eloquente, intelectual e comunicativo.
As argumentações estarão cheias de astúcias, o pensamento a mil por hora e a necessidade de análise muito aguçada.
Os tons passearão entre o azul e o laranja e facilitarão a interpretação das sensações da alma.
O elemento será o AR e com isso estaremos mais sutís, realinhando nossa forma de pensar e de perceber o entorno em busca de elementos positivos para facilitar o convívio.
Desenvolveremos a coragem. Estaremos mais aptos a compreender o que se instala no mundo e na vida dos que estão criando para o amanhã.
Navegaremos entre calmarias e tempestades.
Nosso corpo estará mais frágil nos ombros, braços, mãos.
Deveremos exercitar a glândula Tireóide com pequenas massagens feitas com a ponta dos dedos em movimentos alternados e rítmicos.
Respirar profundamente o ar puro pela manhã e fazer simbiose mental com a luz solar será a força mágica que nos equilibrará.
Usar ervas como aniz, sabugueiro e camomila em infusões também nos levará a estados de paz mental e física.
O calor do fogo angélico vindo da presença apaziguadora do anjo Miguel, protetor do ano 2011, deverá ser ativado com uma vela acesa todas as manhãs ao mesmo tempo que pediremos a queima simbólica de tudo que nos for negativo ou passageiro, prevalecendo a força eterna da Luz maior.
Nosso lar enfeitado de flores trará a ancoragem perfeita para o anjo, nossa sentinela invisível.
Desejo a cada um de todos que comigo comungam a fé e a esperança de um mundo melhor, numa caminhada próspera e pródiga a mais perfeita conspiração cósmica para a realização de nossos projetos.
Prece Cósmica
Universo!
Em sintonia plena e perfeita simbiose, meu coração pulsa em ritmo e som iguais ao ritmo e som UNO.
Tudo funciona em harmonia e paz.
Somos apenas UM.
Assim Seja!
Sobre a autora: Ridamar Batista é membro da Academia de Letras do Brasil, Seccional Goiás.
DESPREZO
Por Pedro Du Bois (Itapema, SC)
Desprezado ao sustento
despedaço o corpo à estrada: ir e vir
em bifurcado
corpo
estraçalho a vontade
ao recontar pedaços
inaproveitáveis
repouso antes da viagem
na longitude programada
imerso em pensamentos
penso a passagem
do pássaro escalado
ao morro atrás da casa
ao sustento identifico
a fome: restam fatias
intercaladas.
Sobre o autor: Pedro Du Bois é poeta e contista.
Desprezado ao sustento
despedaço o corpo à estrada: ir e vir
em bifurcado
corpo
estraçalho a vontade
ao recontar pedaços
inaproveitáveis
repouso antes da viagem
na longitude programada
imerso em pensamentos
penso a passagem
do pássaro escalado
ao morro atrás da casa
ao sustento identifico
a fome: restam fatias
intercaladas.
Sobre o autor: Pedro Du Bois é poeta e contista.
segunda-feira, 10 de janeiro de 2011
A FLORESTA CERRADO
Por Jorge Amâncio (Brasília, DF)
meu coração arde
entristece e chora
Angelim do cerrado,
Jacarandá, Lixeira
Mutamba, Mandioqueira
fogo no cerrado
a floresta abrasada
Dipteryx alata,
Annona crassiflora
Hancornia speciosa
flora nata do cerrado
queima mata preciosa
Caryocar brasiliensis
Zeyheria digitalis
Qualea grandiflora
Pequis, Bolsa de pastor
Pau de terra, Vermelhão
Hirtella glandulosa
fumaça fabulosa
cinzas sobre brasília
Barbatimão
Baru
Buriti
Mangaba
Marmelada de bola
Murici do cerrado
Guazuma ulmifolia
nuvens sobre brasília
meu corpo sente
minha alma chora
a floresta queima.
(Poema composto em 15/09/2008)
O autor: Jorge Amâncio é professor e membro titular da Academia de Letras do Brasil - ALB/DF, cadeira nº 16, patrono Solano Trindade.
meu coração arde
entristece e chora
Angelim do cerrado,
Jacarandá, Lixeira
Mutamba, Mandioqueira
fogo no cerrado
a floresta abrasada
Dipteryx alata,
Annona crassiflora
Hancornia speciosa
flora nata do cerrado
queima mata preciosa
Caryocar brasiliensis
Zeyheria digitalis
Qualea grandiflora
Pequis, Bolsa de pastor
Pau de terra, Vermelhão
Hirtella glandulosa
fumaça fabulosa
cinzas sobre brasília
Barbatimão
Baru
Buriti
Mangaba
Marmelada de bola
Murici do cerrado
Guazuma ulmifolia
nuvens sobre brasília
meu corpo sente
minha alma chora
a floresta queima.
(Poema composto em 15/09/2008)
O autor: Jorge Amâncio é professor e membro titular da Academia de Letras do Brasil - ALB/DF, cadeira nº 16, patrono Solano Trindade.
A LENDA DE IARAGUAÇU*
Por Luiz Eduardo Caminha (Ratones, Florianópolis, SC)
Iaraguaçu, grande mãe d’água, era uma velha índia da aldeia Mbyá, do tronco Guarani-karijós, que habitava a ilha de Santa Catarina nos séculos XVI a XVIII, quando o homem branco chegou. Sua tribo descendia dos últimos sete casais fugitivos dos brancos invasores que massacraram a maioria dos Guaranis-karijós da Ilha da Magia. Antes, os casais refugiaram-se no sul da ilha, donde atravessaram para a Praia da Pinheira. Ali, permaneceram apenas um verão, temerosos de novos massacres. Foram para o Morro dos Cavalos. Anos mais tarde, seus pais e parentes migraram para o local onde vivia. Eram pescadores e não podiam viver longe das águas. Dela tiravam seu sustento em canoas de um pau só de garapuvu. Assentaram-se, ainda na segunda metade do século XVII, às margens da Lagoa de Fora, como chamavam a Lagoa de Santo Antônio onde, na margem oposta, crescera a Vila de Laguna.
Iara, como gostava que a chamassem, vivia numa choupana de paus e telhado de folhas de Indayá, uma palmeira da região. Desde pequena tinha visões que prenunciavam coisas boas ou ruins. Na tribo, estas atribuições eram próprias dos Pajés, mas muitos de seus “irmãos da terra” - como ela chamava os índios – dela se valiam. Também era dada a práticas medicinais e até caciques vinham atrás de seu conhecimento sobre as ervas.
Era o ano de 1838. Sua idade era desconhecida, mas os fatos que narrava ter vivido, como a fundação de Laguna em 1776, supunham que beirava os 75 anos. Sua vida resumia-se aos arredores da choupana e, boa parte do dia, em torno de um fogão de barro construído por um de seus netos. Curava muita gente, dava muitos conselhos e mesmo as autoridades de Laguna e as famílias de posse, de vez em quando, a ela recorriam. Afirmavam que, além das curas, ela mudara a vida de muita gente com seus aconselhamentos e adivinhações.
Ainda menina, fora levada pela mãe para servir a uma família da Vila, mas não sabia viver longe da liberdade da mata. Quase nada fazia que fosse costume dos brancos. Sua Senhora, uma mulher má, surrava-lhe com açoites e com uma espalmadeira “pra aprender as coisas”, como dizia.
Um dia, já moça feita, depois de inúmeras tentativas de fuga, fora mandada embora. A mãe já não vivia mais. Havia morrido de fraqueza nos pulmões, doença trazida pelos brancos. A maioria da aldeia havia deixado o lugar.
Iara foi catequizada aos 30 anos e aprendeu malmente a língua dos brancos misturando palavras com o tupi-guaraní. Era assim que falava com as pessoas que a procuravam. A todos atendia e transmitia sua paz interior, fruto das bênçãos de Nhanderú-etê, o Deus Verdadeiro, em quem acreditava.
Vivia com o neto, um cachorro velho e uma formosa águia cinzenta que ela mesma amestrara. Os moradores de Laguna já haviam se acostumado com sua presença soberana e solitária nos céus. Sempre que ela aparecia com seus estridentes trinados, alguma coisa estava por acontecer. Diziam que era Iaraguaçú que a enviava para lhes avisar. Era corrente a crença: quando a águia de Iaraguaçú plainava silente era época de calmaria e peixe em abundância, mas quando aparecia gritando e fazendo voos rasantes, um tempo ruim estava por vir. Era melhor guardar os animais, não sair para o mar e recolherem-se em suas casas, “prá modo de mal algum assussedê”, como diziam os matutos pescadores. Era dito e feito. Quando alguém desafiava o aviso, alguma tragédia acontecia. Barcos que soçobravam, pessoas que adoeciam – e até faleciam – vítimas de uma molha de chuva, gado que morria por ter ficado fora dos potreiros, enfim, o melhor era se precaver.
Uma das protegidas de Iaraguaçú era Aninha, a quem chamava kunhataí, filha do tropeiro Bentão. Fora Iara quem prevenira Aninha que seu casamento, arranjado pela mãe, com o sapateiro da cidade, não vingaria. Também previra que Aninha iria esposar um aventureiro de outras terras, vindo do mar, um valente que viria junto com a guerra que aconteceria no sul do Brasil e que tentaria criar em Laguna uma outra nação, a República Juliana. Tudo acontecera como dissera. Até a doença do pai, também vítima dos pulmões, quando tomara uma chuvarada no alto da Serra do Dose, assim escrita, com “esse”, em virtude de um estalajadeiro italiano da família Dose que vivia no sopé da escarpada montanha. O pai não aguentara e, como previra Iara, atravessara “manõ yvy ugwa” - o vale da morte, para se juntar a Nhanderú-etê.
Aninha não dava um passo sem consultar a velha índia. Muitas vezes, quando algo lhe afligia, era a própria águia que pousava num galho alto de um garapuvu, perto de sua casa, emitindo trinados peculiares, sinal de que a índia queria lhe falar.
Por isso, Aninha muito chorou quando a velha amiga partiu. Teve um estranho pressentimento naquela manhã, ao ver a chuva incomum com raios e trovões como se fosse uma chuvada de verão.
De repente, o sol se abriu, o vento parou e um duplo arco-íris, que ia em direção à Lagoa de Fora, apareceu no céu.
A passarada, que já vinha se ocupando do acasalamento, no leva e trás de palhas e raminhos para os ninhos, parecia ter sido convocada por um Ser Supremo para uma revoada conjunta. O barulho dos pardais, tico-ticos, sabiás laranjeiras, coleirinhas e dos sanhaçus azuis, se misturavam com o gorjeio das pombas rolas e com o grito agudo dos gaviões. Uma Sinfonia da Natureza. Todos os pássaros seguiam o mesmo rumo, em direção ao final do arco-íris. Nas ruas, cavalos relinchavam como se pressentissem um predador. Cães ladravam. Não um latido comum. Uivavam como se estivessem a sofrer, a chorar.
Foram três minutos daquela algaravia. E uma calada se fez. Um grito agudo, da águia cinzenta que voava acima de tudo, rompeu o silêncio. A atenção se voltou para os lados da Lagoa de Fora.
A notícia correu pela Vila como o vento gelado vindo do Sul. Era trazida por “pena-esvoaçante” o pequeno indiozinho carijó, o neto que vivia com Iaraguaçu.
~ Mãe Iara suspirou! Foi pra terra de seus pais! Seu espírito viaja pra encontrar “Nhanderú etê”.
Aninha montou seu cavalo assim mesmo, no pelo, sem perder tempo de encilhá-lo. Disparou em cavalgada para as bandas de onde, à beira da laguna, jazia no leito de palha, o corpo da amiga. Chorava pelo caminho. Suas lágrimas escorriam pelo rosto e embaçavam-lhe a visão.
Não foi só Aninha a única que para lá se dirigiu. A cidade quase se esvaziara para reverenciar a velha índia. Até o Vigário se abalou, em uma charrete, para lá estar. Embora guardasse alguma ligação com aquela espécie de ocultismo dos silvícolas, ele não tinha dúvidas, ali, naquele corpo, habitara um Anjo. Não! Iaraguaçu não era uma bruxa como insistiam alguns poucos maldizentes. Seu Deus era o mesmo Deus da Cristandade. Quando fazia uma prece a “Nhanderú etê”, estava orando ao Deus Verdadeiro dos cristãos. Quando rogava a “Nhanderu ra'y”, o filho de “Nhanderú etê”, era a Jesus Cristo que evocava. Por isso, e por ser batizada, merecia um enterro cristão, no Cemitério da Vila.
Mas, estas vãs preocupações eram desnecessárias. Iara tinha um testamento. Queria um enterro cristão, mas também, de acordo com a tradição tupi-guarany, ser enterrada no Campo dos Espíritos, aonde muitos de sua tribo jaziam em paz. Manifestou ainda em vida, o desejo de ter os serviços funerais de um padre, mas queria que seus restos repousassem com sua gente.
Aninha estava desolada, mas ao mesmo tempo resignada. Embora triste, ficou ali, velando aquele corpo cuja alma, cujo espírito, já estava no lugar que a vida eterna lhe reservara. Um lugar diferente da choupana humilde e pobre que vivera, embora Iara sempre lhe dera a impressão que era feliz do jeito que vivia, da sorte que “Nhanderú etê” lhe reservara. Talvez porque soubesse que a morte era uma passagem para um lugar de Paz, sem sofrimentos, sem o frio gelado do inverno e o calor insuportável dos verões. Uma vida onde as primaveras e os outonos eram as únicas estações. Lá, onde dizia que seu pai Bentão também estava, Iara seria uma luz a brilhar em todos os momentos.
Hoje, as águias cinzentas são uma raridade. Como os índios, foram enxotadas por seu predador, o homem. Mas o espírito de Iaraguaçu ainda paira sobre a Lagoa. Dizem os mais antigos que quando uma tormenta vinda do sul ameaça os pescadores, basta uma prece: “Iaraguaçu, grande mãe d’água, socorrei-nos!” Logo o vento se dissipa e a calmaria reina absoluta.
Quando uma águia cinzenta ainda é vista plainando silente e graciosa sobre os céus da região, os mais velhos sabem que a pesca do camarão e das tainhas será afortunada.
E ainda se recolhem e se protegem quando ouvem alguma delas, com trinados agudos voarem em rasantes por ali.
* Lenda premiada em 1º. Lugar no 1º. Concurso Internacional de Lendas e Poesia ME - 2010
Iaraguaçu, grande mãe d’água, era uma velha índia da aldeia Mbyá, do tronco Guarani-karijós, que habitava a ilha de Santa Catarina nos séculos XVI a XVIII, quando o homem branco chegou. Sua tribo descendia dos últimos sete casais fugitivos dos brancos invasores que massacraram a maioria dos Guaranis-karijós da Ilha da Magia. Antes, os casais refugiaram-se no sul da ilha, donde atravessaram para a Praia da Pinheira. Ali, permaneceram apenas um verão, temerosos de novos massacres. Foram para o Morro dos Cavalos. Anos mais tarde, seus pais e parentes migraram para o local onde vivia. Eram pescadores e não podiam viver longe das águas. Dela tiravam seu sustento em canoas de um pau só de garapuvu. Assentaram-se, ainda na segunda metade do século XVII, às margens da Lagoa de Fora, como chamavam a Lagoa de Santo Antônio onde, na margem oposta, crescera a Vila de Laguna.
Iara, como gostava que a chamassem, vivia numa choupana de paus e telhado de folhas de Indayá, uma palmeira da região. Desde pequena tinha visões que prenunciavam coisas boas ou ruins. Na tribo, estas atribuições eram próprias dos Pajés, mas muitos de seus “irmãos da terra” - como ela chamava os índios – dela se valiam. Também era dada a práticas medicinais e até caciques vinham atrás de seu conhecimento sobre as ervas.
Era o ano de 1838. Sua idade era desconhecida, mas os fatos que narrava ter vivido, como a fundação de Laguna em 1776, supunham que beirava os 75 anos. Sua vida resumia-se aos arredores da choupana e, boa parte do dia, em torno de um fogão de barro construído por um de seus netos. Curava muita gente, dava muitos conselhos e mesmo as autoridades de Laguna e as famílias de posse, de vez em quando, a ela recorriam. Afirmavam que, além das curas, ela mudara a vida de muita gente com seus aconselhamentos e adivinhações.
Ainda menina, fora levada pela mãe para servir a uma família da Vila, mas não sabia viver longe da liberdade da mata. Quase nada fazia que fosse costume dos brancos. Sua Senhora, uma mulher má, surrava-lhe com açoites e com uma espalmadeira “pra aprender as coisas”, como dizia.
Um dia, já moça feita, depois de inúmeras tentativas de fuga, fora mandada embora. A mãe já não vivia mais. Havia morrido de fraqueza nos pulmões, doença trazida pelos brancos. A maioria da aldeia havia deixado o lugar.
Iara foi catequizada aos 30 anos e aprendeu malmente a língua dos brancos misturando palavras com o tupi-guaraní. Era assim que falava com as pessoas que a procuravam. A todos atendia e transmitia sua paz interior, fruto das bênçãos de Nhanderú-etê, o Deus Verdadeiro, em quem acreditava.
Vivia com o neto, um cachorro velho e uma formosa águia cinzenta que ela mesma amestrara. Os moradores de Laguna já haviam se acostumado com sua presença soberana e solitária nos céus. Sempre que ela aparecia com seus estridentes trinados, alguma coisa estava por acontecer. Diziam que era Iaraguaçú que a enviava para lhes avisar. Era corrente a crença: quando a águia de Iaraguaçú plainava silente era época de calmaria e peixe em abundância, mas quando aparecia gritando e fazendo voos rasantes, um tempo ruim estava por vir. Era melhor guardar os animais, não sair para o mar e recolherem-se em suas casas, “prá modo de mal algum assussedê”, como diziam os matutos pescadores. Era dito e feito. Quando alguém desafiava o aviso, alguma tragédia acontecia. Barcos que soçobravam, pessoas que adoeciam – e até faleciam – vítimas de uma molha de chuva, gado que morria por ter ficado fora dos potreiros, enfim, o melhor era se precaver.
Uma das protegidas de Iaraguaçú era Aninha, a quem chamava kunhataí, filha do tropeiro Bentão. Fora Iara quem prevenira Aninha que seu casamento, arranjado pela mãe, com o sapateiro da cidade, não vingaria. Também previra que Aninha iria esposar um aventureiro de outras terras, vindo do mar, um valente que viria junto com a guerra que aconteceria no sul do Brasil e que tentaria criar em Laguna uma outra nação, a República Juliana. Tudo acontecera como dissera. Até a doença do pai, também vítima dos pulmões, quando tomara uma chuvarada no alto da Serra do Dose, assim escrita, com “esse”, em virtude de um estalajadeiro italiano da família Dose que vivia no sopé da escarpada montanha. O pai não aguentara e, como previra Iara, atravessara “manõ yvy ugwa” - o vale da morte, para se juntar a Nhanderú-etê.
Aninha não dava um passo sem consultar a velha índia. Muitas vezes, quando algo lhe afligia, era a própria águia que pousava num galho alto de um garapuvu, perto de sua casa, emitindo trinados peculiares, sinal de que a índia queria lhe falar.
Por isso, Aninha muito chorou quando a velha amiga partiu. Teve um estranho pressentimento naquela manhã, ao ver a chuva incomum com raios e trovões como se fosse uma chuvada de verão.
De repente, o sol se abriu, o vento parou e um duplo arco-íris, que ia em direção à Lagoa de Fora, apareceu no céu.
A passarada, que já vinha se ocupando do acasalamento, no leva e trás de palhas e raminhos para os ninhos, parecia ter sido convocada por um Ser Supremo para uma revoada conjunta. O barulho dos pardais, tico-ticos, sabiás laranjeiras, coleirinhas e dos sanhaçus azuis, se misturavam com o gorjeio das pombas rolas e com o grito agudo dos gaviões. Uma Sinfonia da Natureza. Todos os pássaros seguiam o mesmo rumo, em direção ao final do arco-íris. Nas ruas, cavalos relinchavam como se pressentissem um predador. Cães ladravam. Não um latido comum. Uivavam como se estivessem a sofrer, a chorar.
Foram três minutos daquela algaravia. E uma calada se fez. Um grito agudo, da águia cinzenta que voava acima de tudo, rompeu o silêncio. A atenção se voltou para os lados da Lagoa de Fora.
A notícia correu pela Vila como o vento gelado vindo do Sul. Era trazida por “pena-esvoaçante” o pequeno indiozinho carijó, o neto que vivia com Iaraguaçu.
~ Mãe Iara suspirou! Foi pra terra de seus pais! Seu espírito viaja pra encontrar “Nhanderú etê”.
Aninha montou seu cavalo assim mesmo, no pelo, sem perder tempo de encilhá-lo. Disparou em cavalgada para as bandas de onde, à beira da laguna, jazia no leito de palha, o corpo da amiga. Chorava pelo caminho. Suas lágrimas escorriam pelo rosto e embaçavam-lhe a visão.
Não foi só Aninha a única que para lá se dirigiu. A cidade quase se esvaziara para reverenciar a velha índia. Até o Vigário se abalou, em uma charrete, para lá estar. Embora guardasse alguma ligação com aquela espécie de ocultismo dos silvícolas, ele não tinha dúvidas, ali, naquele corpo, habitara um Anjo. Não! Iaraguaçu não era uma bruxa como insistiam alguns poucos maldizentes. Seu Deus era o mesmo Deus da Cristandade. Quando fazia uma prece a “Nhanderú etê”, estava orando ao Deus Verdadeiro dos cristãos. Quando rogava a “Nhanderu ra'y”, o filho de “Nhanderú etê”, era a Jesus Cristo que evocava. Por isso, e por ser batizada, merecia um enterro cristão, no Cemitério da Vila.
Mas, estas vãs preocupações eram desnecessárias. Iara tinha um testamento. Queria um enterro cristão, mas também, de acordo com a tradição tupi-guarany, ser enterrada no Campo dos Espíritos, aonde muitos de sua tribo jaziam em paz. Manifestou ainda em vida, o desejo de ter os serviços funerais de um padre, mas queria que seus restos repousassem com sua gente.
Aninha estava desolada, mas ao mesmo tempo resignada. Embora triste, ficou ali, velando aquele corpo cuja alma, cujo espírito, já estava no lugar que a vida eterna lhe reservara. Um lugar diferente da choupana humilde e pobre que vivera, embora Iara sempre lhe dera a impressão que era feliz do jeito que vivia, da sorte que “Nhanderú etê” lhe reservara. Talvez porque soubesse que a morte era uma passagem para um lugar de Paz, sem sofrimentos, sem o frio gelado do inverno e o calor insuportável dos verões. Uma vida onde as primaveras e os outonos eram as únicas estações. Lá, onde dizia que seu pai Bentão também estava, Iara seria uma luz a brilhar em todos os momentos.
Hoje, as águias cinzentas são uma raridade. Como os índios, foram enxotadas por seu predador, o homem. Mas o espírito de Iaraguaçu ainda paira sobre a Lagoa. Dizem os mais antigos que quando uma tormenta vinda do sul ameaça os pescadores, basta uma prece: “Iaraguaçu, grande mãe d’água, socorrei-nos!” Logo o vento se dissipa e a calmaria reina absoluta.
Quando uma águia cinzenta ainda é vista plainando silente e graciosa sobre os céus da região, os mais velhos sabem que a pesca do camarão e das tainhas será afortunada.
E ainda se recolhem e se protegem quando ouvem alguma delas, com trinados agudos voarem em rasantes por ali.
* Lenda premiada em 1º. Lugar no 1º. Concurso Internacional de Lendas e Poesia ME - 2010
sexta-feira, 7 de janeiro de 2011
quinta-feira, 6 de janeiro de 2011
sábado, 1 de janeiro de 2011
Bem-vindos à Revista Cerrado Cultural, Brasília, DF!
Por Paccelli José Maracci Zahler
Depois de mais de um ano fora do ar, devido a problemas operacionais e outros que não cabe mencionar, decidimos criar o blog da Revista Cerrado Cultural.
A Revista Cerrado Cultural é dedicada a todos os autores, novos ou experientes, consagrados ou não, reconhecidos ou não, que produzem uma literatura de ótima qualidade. Por esta razão, aceitamos colaborações que serão publicadas após passarem por um controle de qualidade para que possamos levar o melhor da literatura e das artes aos nossos leitores.
Esperamos que o sucesso da experiência na internet se repita agora no formato de blog.
Depois de mais de um ano fora do ar, devido a problemas operacionais e outros que não cabe mencionar, decidimos criar o blog da Revista Cerrado Cultural.
A Revista Cerrado Cultural é dedicada a todos os autores, novos ou experientes, consagrados ou não, reconhecidos ou não, que produzem uma literatura de ótima qualidade. Por esta razão, aceitamos colaborações que serão publicadas após passarem por um controle de qualidade para que possamos levar o melhor da literatura e das artes aos nossos leitores.
Esperamos que o sucesso da experiência na internet se repita agora no formato de blog.
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