sábado, 2 de março de 2013

PERFIL: FÁTIMA D'ÁVILA



Por Paccelli José Maracci Zahler

Fátima D’Ávila, pedagoga, artista plástica, fotógrafa, designer de jóias, arte-terapeuta. A talentosa bajeense concedeu entrevista para a coluna PERFIL da Revista Cerrado Cultural, edição de março de 2013.

RCC.  A senhora nasceu em Bagé, RS, porém, muito cedo, radicou-se em São Paulo. Que lembranças guarda de sua infância em Bagé?

FD. Muito poucas. Eu morava na cidade por isso não tenho lembranças "gaúchas" de cavalos, rebanhos e coisas parecidas. Só duas ou três amigas de escola, brincadeiras no pátio de casa e bonecas.

RCC. Como foi a transferência para São Paulo?

FD. Foi antes do meu 3o. irmão nascer. Fiquei maravilhada com a árvore de Natal no aeroporto de Congonhas. A adaptação foi um pouco difícil, mas rápida. Cheguei lá no 4o. ano primário e tive que voltar para o segundo . Naquele tempo se escrevia com pena.Talvez, aí, tenha começado o meu trabalho com arte. Vou explicar: uma professora me ensinou que quando eu borrava o caderno (porque a pena pingava), podia aproveitar aquele borrão e fazer uma flor! Não precisa dizer que meu caderno era cheio de flores, né? 





RCC. A vida cultural da capital paulista motivou a sua dedicação às artes plásticas?

FD. Acho que sim, mas eu tinha mais contato com música, literatura e teatro. Era o tempo das fotonovelas, o que era proibido lá em casa. Nós ganhávamos livros, todo o Monteiro Lobato e muitos outros. Mais tarde, o Teatro Brasieliro de Comédia - TBC abriu uma campanha para sócios e eu e meu irmão nos associamos. Assim vimos tudo que foi apresentado, até Dercy Gonçalves e Grande Otelo. Vi também O Balcão, mas não lembro se ainda era TBC. Eu também gostava muito de moda, criava muita coisa. Fiz um pedaço de várias faculdades, até que fui fazer um teste vocacional e aí foi que começou formalmente.

RCC. Na adolescência, a senhora tomou contato com o cinema. Como isso se deu?

FD. Foi muito pouco. Meu pai fazia fotografia de cinema e produção na Vera Cruz, mas eu não frequentava o set.

RCC. Sentiu vontade de dedicar-se ao teatro?

FD. Não, eu sou dos bastidores. Ainda tenho vontade de fazer cenários, vestuário, iluminação, essas coisas.

RCC. Como o movimento hippie influenciou a sua vida?

FD. Ah! os hippies! os hippies abriram as portas do mundo. Mas eu não era exatamente hippie. Eu gostava das  roupas,do artesanato, da paz e amor e viajar. Mas não tomava nenhuma droga e nem sei exatamente o que eles faziam. Mas a música era boa.

RCC. Naquela época, a proposta de uma vida alternativa mudou a sua maneira de ver a sociedade?

FD.Viver em comunidade me parecia uma boa, mas a vida me levou por outros caminhos e eu não era tão alternativa assim. Há alguns anos visitei o que restou de uma comunidade hippie na Bahia e fiquei apavorada.



 
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RCC. A senhora trabalhou na Rede Ferroviária Federal S.A. e no Banco do Brasil.
Como foi essa experiência?

FD. Era só trabalho pra ganhar um salário. Sem recompensas emocionais. "Educação bancária", como disse Paulo Freire, "nunca deu certo". Pra mim, muito menos!

RCC. Foi muito difícil conciliar trabalho com a formação em artes plásticas?

FD. Foi. Não recebi apoio de lugar nenhum, nem de ninguém. Ao contrário, arte sempre foi considerada brincadeira, que não "serve" pra nada ou decoração. É triste.

RCC. A senhora se dedica à pintura, à gravura, à fotografia e à joalheria. Qual a que expressa melhor o seu sentimento?

FD. No meu caso a joalheria saiu da escultura. Curto muito escultura. Pintei muito também. São todas "disciplinas" da faculdade que procurei aperfeiçoar.

RCC. A senhora tem participado de várias exposições não apenas no Rio Grande do Sul como fora dele. Como a senhora avalia a receptividade dos seus trabalhos por parte do público?

FD. Acho que fiz poucas exposições, não tinha tempo para acompanhá-las e ás vezes não tinha dinheiro. É difícil aparecer em Bagé alguém com trânsito livre, que leve o trabalho para os lugares certos.

RCC. É possível viver da arte no Brasil?

FD. É possível, mas é difícil. Tem que fazer concessões, tem que amar a arte acima de todas as coisas, tem que arrumar um marchand etc etc é muito pra minha cabeça!

OS OLHOS DE MARUSIA


Por Paccelli José Maracci Zahler

(à Marusia Stefanova)

Quando olhei em seus olhos
Vi Marusia sonhadora
Estudando poesia
Em sua longínqua Bulgária.
Vi também seu sorriso,
Seus ideais e sensibilidade
E a vontade de construir
Uma justa sociedade.

Creio que foi assim
Que Marusia e seus sonhos
Chegaram até aqui.

E passados os anos
Tive a Felicidade
De olhar seus doces olhos
Que me fizeram recordar
Que é necessário sonhar!

(Havana, 26/06/95)

AMORES

Por Pedro Du Bois (Itapema, SC)


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INEXISTIR

Por Pedro Du Bois (Itapema, SC)


A pedra
em sedimentos
petrifica
a ideia
da vida
em movimento

(rola pelas ribanceiras
 explode em dinamites)

a pedra sabe da inexistência
do homem como ser.

LA ÚLTIMA CENA

Por Mario Meléndez (Chile)

Y el gusano mordió mi cuerpo
y dando gracias
lo repartió entre los suyos diciendo
"Hermanos
éste es el cuerpo de un poeta
tomad y comed todos de él
pero hacedlo con respeto
cuidad de no dañar sus cabellos
o sus ojos o sus labios
los guardaremos como reliquia
y cobraremos entrada por verlos"

Mientras esto ocurría
algunos arreglaban las flores
otros medían la hondura de la fosa
y los más osados insultaban a los deudos
o simplemente dormían a la sombra de un espino

Pero una vez acabado el banquete
el mismo gusano tomó mi sangre
y dando gracias también
la repartió entre los suyos diciendo
"Hermanos
ésta es la sangre de un poeta
sangre que será entregada a vosotros
para el regocijo de vuestras almas
bebamos todos hasta caer borrachos
y recuerden
el último en quedar de pie
reunirá los restos del difunto"

Y el último en quedar de pie
no solamente reunió los restos del difunto
los ojos, los labios, los cabellos
y una parte apreciable del estómago
y los muslos que no fueron devorados
junto con las ropas
y uno que otro objeto de valor
sino que además escribió con sangre
con la misma sangre derramada
escribió sobre la lápida
"Aquí yace Mario Meléndez
un poeta
las palabras no vinieron a despedirlo
desde ahora los gusanos hablaremos por él"

SINFONÍA NEGRA

Por Mario Meléndez (Chile)


Eva colgaba sus muertos de la ventana
para que el aire lamiera los rostros
preñados de cicatrices
Ella miraba esos rostros y sonreía
mientras el viento empujaba sus senos
hacia la noche agusanada
Una orgía de aromas sacudía el silencio
donde ella se deseaba a sí misma
y entre suspiros y adioses
un grillo ciego desmalezaba
sus antiguos violines
Nadie se acercaba a Eva
cuando daba de mamar a sus muertos
la cólera y el frío
se disputaban su adolescencia
el orgasmo daba paso al horror
el deseo a la sangre
y pequeñas criaturas violentas
despegaban de su vientre
poblando los amaneceres
de luto y de pesadillas
Luego
cuando todo quedaba en calma
y las sombras por fin
regresaban a su origen
Eva guardaba sus muertos
besándolos en la boca
y dormía desnuda sobre ellos
hasta la próxima luna llena


PRECAUCIONES DE ÚLTIMA HORA

Por Mario Meléndez (Chile)

Debo cuidarme de los gusanos
cuando me entierren
lo más seguro
es que hablen mal de mí
que escupan sobre mis poemas
y orinen las flores frescas
que adornarán mi tumba
llegado sea el caso
que hasta devoren mis huesos
me arranquen los intestinos
o en el colmo de la injusticia
se roben mi diente de oro
y todo esto porque en vida
jamás escribí sobre ellos