Por Paccelli José Maracci Zahler
Professora dos ensinos público e particular,
aposentada, escritora, poetisa, natural de Bagé, RS
RCC.A
senhora participou do Grêmio Estudantil do Colégio Estadual Dr. Carlos Kluwe.
Sua formação deu-se exclusivamente em escolas públicas?
Márcia.
Minha formação foi, exclusivamente, feita em escolas públicas, de grande renome
na época e com o núcleo comum (vigente nos currículos em todo o Brasil) e a
parte diversificada de grande qualidade, atendendo às demandas locais e regionais,
onde se propiciava grande participação estudantil, embora os tempos fossem
difíceis, para expressarmos os nossos valores e ideias. A participação em
movimentos estudantis, no meu caso, foi
envolvendo a filantropia e o social, em meios de comunicação, ainda que os
ideais políticos fizessem plano de fundo; mas,sempre, tangendo e visando a
promoção da escola e a projeção do Grêmio na comunidade local.
RCC.
Sempre houve uma rivalidade entre o Colégio Estadual e o Colégio N. S.
Auxiliadora. A senhora chegou a viver intensamente esse período?
Márcia.
Evidentemente, que rivalidades, numa pequena cidade como a nossa, existe e vai
continuar, porque a concorrência pela clientela é notória, pois uma escola
particular não sobrevive se não matricular determinado número de clientes. Mas
o Colégio Estadual era composto, na época, por um grupo de docentes da melhor
qualidade e o Colégio N. S. Auxiliadora, também, com o diferencial de que este
último era pago e só entrava nas escolas particulares, naquele período, quem, realmente,
tinha como pagar, o que não é o caso de hoje. Essa rivalidade, a que se refere
a pergunta, se relacionava a melhor banda,
ao colégio mais bonito, à escola com o maior número de alunos,ao número
de eventos que uma ou outra promovia e a
outros acontecimentos de vulto na comunidade.
RCC.
Durante a sua Licenciatura em Letras, a URCAMP ainda não era universidade, mas
FAT-FUnBa. A senhora sentiu algum preconceito em relação a esse fato após a
graduação?
Márcia.
Não, absolutamente, não senti preconceito para os horizontes que tinha projetado no
plano profissional. E, ainda, sentia orgulho de ter sido aluna do curso
de LETRAS daquela época, em que, segundo os professores , um currículo de boa
qualidade predominava.
RCC.
Como foi a sua experiência como professora da Escola Estadual Dr. Félix
Contreiras Rodrigues?
Márcia.
Foi uma das mais ricas experiências pelas quais passei, porque fui supervisora
escolar, professora de currículo das séries iniciais, professora no fundamental,
professora no ensino de adultos e adolescentes e, ainda, promovi a reforma de
disciplinas, a que a escola se propunha , na época.
RCC.
Foi sua prática pedagógica no Colégio N. S. Auxiliadora que a levou a fazer
pós-graduação na PUC-RS abordando o método educativo Dom Bosco?
Márcia.
Sim, esta influência salesiana, na prática educativa, me impulsionou a me
especializar nesta área específica do conhecimento, porque tinha “sede em
saber” mais sobre o método de D. Bosco, tão atual sempre e tão revisitado pela
evangelização.Foi, nesta pós-graduação, que posso dizer de consciência plena,
que adquiri conhecimentos nunca dantes estudado.
RCC.
Há alguma diferença entre o método Dom Bosco e outros métodos educativos
tradicionais?
Márcia.
Notoriamente, sim, pois um método utilizado, no século passado, se mantém ainda
vivo e moderno, apenas se adaptando aos novos tempos, num novo olhar sobre a
educação.
RCC.
A senhora sempre esteve ligada à Igreja Católica. Fale-nos sobre sua
participação na Pastoral Universitária.
Márcia.
Sim, minha formação religiosa é profunda; meus pais, sempre, nos influenciaram
a frequentar a Igreja Católica, como crença fundamental do ser humano.Então, todos os sacramentos
foram consolidados na fé cristã católica e evidenciados numa prática sequencial
e ativa.
RCC.
Como foi seu trabalho no Projeto Rondon?
Márcia.
Foi uma participação regional, onde era evidenciado o voluntariado em projetos de toda a natureza. Ali, naquele
momento, percebi o engajamento político profundo, que todos poderiam ter, ao
realizar determinada tarefa. Creio que o Projeto Rondon foi , naquele período,
a atividade mais envolvente no meio
social. E eu, idealista, como fui e sou, ainda, me engajei no trabalho com as crianças e os idosos.
RCC.
A sua atividade literária começou na faculdade?
Márcia.
Não, a composição literária foi uma catarse de sentimentos ao longo de minha
vida, pois a motivação para escrever, eram as ebulições das impressões da alma,
retiradas da realidade exterior a que presenciava. Nunca me conformei com as
injustiças, com mentiras, com falta de ética, com falta de profissionalismo, e
o contexto social era motivador, gerador de temas poéticos, que, até hoje,
exploro.
RCC.
A senhora colaborou com o extinto jornal Correio do Sul, com a Revista Sintonia
Salesiana e com a revista Salesianito. Tais colaborações eram técnicas?
Márcia.
Sim. No Correio do Sul, minhas publicações eram frutos dos estudos
elaborados em sala de aula e em meios acadêmicos, comparando a literatura
com as demais artes. Na Revista Sintonia Salesiana, fazia parte dos estudos do
mês, em que se passava a limpo, todo o
caráter educativo em questão. E, no SALESIANITO, eram resenhas de atividades
extracurriculares, em que os educadores faziam parte essencial, pois a escola
primava pela participação de todos na comunidade educativa.
RCC.
A sua produção literária foi intensificada com a aposentadoria do magistério em
19 de dezembro de 2006?
Márcia.
Praticamente, sim. Mas a grande produção literária , ainda, repousa nos
guardados da adolescência e metade da
vida adulta, em que tudo era motivo para reflexão e exposição de ideias, para
denunciar determinado aspecto da realidade vivenciada.
RCC.
Recentemente a senhora lançou o livro de poesias UM AROMA DE ROSAS, tanto na
Feira do Livro de Porto Alegre quanto na de Bagé. Como a senhora avalia a
receptividade dos leitores?
Márcia.
Máxima! O retorno do livro foi um referencial de quanto as pessoas, ainda,
gostam de poesias reflexivas, com assuntos cotidianos, de caráter diverso, sem
aquele pedantismo de apelo amoroso ou sexual. Houve leitores que me disseram
ter adotado o livro “Um aroma de rosas” como livro de cabeceira; claro, o que
muito me agradou!
RCC.
A senhora tem alguma preferência entre a poesia e a prosa?
Márcia.
Atualmente, não, pois a grande discussão entre as fronteiras de uma prosa
poética com a poesia são tênues, embora os academicistas insistam em dizer que
poesia não é prosa, mas deve-se ter em mente que a prosa poética pode virar
poesia.
RCC.
Atualmente, a senhora vive em Porto Alegre. Pensa em retornar à Bagé algum dia?
Márcia.
Penso em retornar à terra natal, como um filho pródigo que, um dia, retorna ao
lar. Porto Alegre, no momento, é a ponte, é o aprendizado para uma
transformação interior rumo ao crescimento pessoal, profissional, porque é um
centro gerador de cultura, atualização e aperfeiçoamento em diversas áreas.
Aprimoro minha prática poética com oficinas de criação literária, em diversos
cursos na PUC e na UFRGS, nas livrarias com espaço destinado a isso. Sei que o caminho percorrido, ainda,
é insuficiente para um aprendizado pleno, mas sei que a rota trilhada, foi
decisiva para os progressos efetuados. Encerro dizendo que “sejamos puros como
os lírios do campo, pois nem Salomão, em toda a sua glória, se vestiu como um
deles...”