quinta-feira, 1 de agosto de 2013

PERFIL: MARCIA NADYA DURO MELLO




Posted by Picasa

Por Paccelli José Maracci Zahler

Professora dos ensinos público e particular, aposentada, escritora, poetisa, natural de Bagé, RS

RCC.A senhora participou do Grêmio Estudantil do Colégio Estadual Dr. Carlos Kluwe. Sua formação deu-se exclusivamente em escolas públicas?

Márcia. Minha formação foi, exclusivamente, feita em escolas públicas, de grande renome na época e com o núcleo comum (vigente nos currículos em todo o Brasil) e a parte diversificada de grande qualidade, atendendo às demandas locais e regionais, onde se propiciava grande participação estudantil, embora os tempos fossem difíceis, para expressarmos os nossos valores e ideias. A participação em movimentos estudantis, no meu caso,  foi envolvendo a filantropia e o social, em meios de comunicação, ainda que os ideais políticos fizessem plano de fundo; mas,sempre, tangendo e visando a promoção da escola e a projeção do Grêmio na comunidade local.

RCC. Sempre houve uma rivalidade entre o Colégio Estadual e o Colégio N. S. Auxiliadora. A senhora chegou a viver intensamente esse período?

Márcia. Evidentemente, que rivalidades, numa pequena cidade como a nossa, existe e vai continuar, porque a concorrência pela clientela é notória, pois uma escola particular não sobrevive se não matricular determinado número de clientes. Mas o Colégio Estadual era composto, na época, por um grupo de docentes da melhor qualidade e o Colégio N. S. Auxiliadora, também, com o diferencial de que este último era pago e só entrava nas escolas particulares, naquele período, quem, realmente, tinha como pagar, o que não é o caso de hoje. Essa rivalidade, a que se refere a pergunta, se relacionava a melhor banda,  ao colégio mais bonito, à escola com o maior número de alunos,ao número de eventos que uma ou outra promovia e a  outros acontecimentos de vulto na comunidade.

RCC. Durante a sua Licenciatura em Letras, a URCAMP ainda não era universidade, mas FAT-FUnBa. A senhora sentiu algum preconceito em relação a esse fato após a graduação?

Márcia. Não, absolutamente, não senti preconceito para os horizontes  que tinha projetado  no  plano profissional. E, ainda, sentia orgulho de ter sido aluna do curso de LETRAS daquela época, em que, segundo os professores , um currículo de boa qualidade predominava.

RCC. Como foi a sua experiência como professora da Escola Estadual Dr. Félix Contreiras Rodrigues?

Márcia. Foi uma das mais ricas experiências pelas quais passei, porque fui supervisora escolar, professora de currículo das séries iniciais, professora no fundamental, professora no ensino de adultos e adolescentes e, ainda, promovi a reforma de disciplinas, a que a escola se propunha , na época.

RCC. Foi sua prática pedagógica no Colégio N. S. Auxiliadora que a levou a fazer pós-graduação na PUC-RS abordando o método educativo Dom Bosco?

Márcia. Sim, esta influência salesiana, na prática educativa, me impulsionou a me especializar nesta área específica do conhecimento, porque tinha “sede em saber” mais sobre o método de D. Bosco, tão atual sempre e tão revisitado pela evangelização.Foi, nesta pós-graduação, que posso dizer de consciência plena, que adquiri conhecimentos nunca dantes estudado.

RCC. Há alguma diferença entre o método Dom Bosco e outros métodos educativos tradicionais?

Márcia. Notoriamente, sim, pois um método utilizado, no século passado, se mantém ainda vivo e moderno, apenas se adaptando aos novos tempos, num novo olhar sobre a educação.

RCC. A senhora sempre esteve ligada à Igreja Católica. Fale-nos sobre sua participação na Pastoral Universitária.

Márcia. Sim, minha formação religiosa é profunda; meus pais, sempre, nos influenciaram a frequentar a Igreja Católica, como crença fundamental  do ser humano.Então, todos os sacramentos foram consolidados na fé cristã católica e evidenciados numa prática sequencial e ativa.

RCC. Como foi seu trabalho no Projeto Rondon?

Márcia. Foi uma participação regional, onde era evidenciado  o voluntariado  em projetos de toda a natureza. Ali, naquele momento, percebi o engajamento político profundo, que todos poderiam ter, ao realizar determinada tarefa. Creio que o Projeto Rondon foi , naquele período, a atividade  mais envolvente no meio social. E eu, idealista, como fui e sou, ainda, me engajei  no trabalho com as crianças e os idosos.

RCC. A sua atividade literária começou na faculdade?

Márcia. Não, a composição literária foi uma catarse de sentimentos ao longo de minha vida, pois a motivação para escrever, eram as ebulições das impressões da alma, retiradas da realidade exterior a que presenciava. Nunca me conformei com as injustiças, com mentiras, com falta de ética, com falta de profissionalismo, e o contexto social era motivador, gerador de temas poéticos, que, até hoje, exploro.

RCC. A senhora colaborou com o extinto jornal Correio do Sul, com a Revista Sintonia Salesiana e com a revista Salesianito. Tais colaborações eram técnicas?

Márcia. Sim. No Correio do Sul, minhas publicações eram frutos dos estudos elaborados  em sala de aula e  em meios acadêmicos, comparando a literatura com as demais artes. Na Revista Sintonia Salesiana, fazia parte dos estudos do mês, em que se passava  a limpo, todo o caráter educativo em questão. E, no SALESIANITO, eram resenhas de atividades extracurriculares, em que os educadores faziam parte essencial, pois a escola primava pela participação de todos na comunidade educativa.

RCC. A sua produção literária foi intensificada com a aposentadoria do magistério em 19 de dezembro de 2006?

Márcia. Praticamente, sim. Mas a grande produção literária , ainda, repousa nos guardados  da adolescência e metade da vida adulta, em que tudo era motivo para reflexão e exposição de ideias, para denunciar determinado aspecto da realidade vivenciada.

RCC. Recentemente a senhora lançou o livro de poesias UM AROMA DE ROSAS, tanto na Feira do Livro de Porto Alegre quanto na de Bagé. Como a senhora avalia a receptividade dos leitores?

Márcia. Máxima! O retorno do livro foi um referencial de quanto as pessoas, ainda, gostam de poesias reflexivas, com assuntos cotidianos, de caráter diverso, sem aquele pedantismo de apelo amoroso ou sexual. Houve leitores que me disseram ter adotado o livro “Um aroma de rosas” como livro de cabeceira; claro, o que muito me agradou!

RCC. A senhora tem alguma preferência entre a poesia e a prosa?

Márcia. Atualmente, não, pois a grande discussão entre as fronteiras de uma prosa poética com a poesia são tênues, embora os academicistas insistam em dizer que poesia não é prosa, mas deve-se ter em mente que a prosa poética pode virar poesia.

RCC. Atualmente, a senhora vive em Porto Alegre. Pensa em retornar à Bagé algum dia?

Márcia. Penso em retornar à terra natal, como um filho pródigo que, um dia, retorna ao lar. Porto Alegre, no momento, é a ponte, é o aprendizado para uma transformação interior rumo ao crescimento pessoal, profissional, porque é um centro gerador de cultura, atualização e aperfeiçoamento em diversas áreas. Aprimoro minha prática poética com oficinas de criação literária, em diversos cursos na PUC e na UFRGS, nas livrarias com espaço destinado  a isso. Sei que o caminho percorrido, ainda, é insuficiente para um aprendizado pleno, mas sei que a rota trilhada, foi decisiva para os progressos efetuados. Encerro dizendo que “sejamos puros como os lírios do campo, pois nem Salomão, em toda a sua glória, se vestiu como um deles...”

ÔNUS

Por Pedro Du Bois (Itapema, SC)

Receio na inversão do ônus
desaprovar o modo
de me dizer inocente: antigas melodias
                                   embalam fantasmas.

Na irracionalidade
da hora a diáspora
adia o encontro.

Do ônus da prova
sabe o condenado: condensado
em ares encarecidos

de verdades.

ARTES PLÁSTICAS

Por Pedro Du Bois (Itapema, SC)

Na artificialidade do gesto
o corte impede a madeira
            impele a pedra
            interpela o metal
            interpreta o papel


as transformações se completam.

ESGOTAR

Por Pedro Du Bois (Itapema, SC)

Esgotado em gestos
na imobilidade da tela repintada
em cenas: o modelo
imobilizado no olho
do pintor
       na mão do escultor
no obturador fotográfico.

O gesto desnecessário
do corpo em aceno de adeuses

                e até logo.

A MANIPULAÇÃO DA SOCIEDADE

Por Humberto Pinho da Silva (Vila Nova de Gaia, Portugal)

Na segunda metade do século. XX, para se avaliar a força da publicidade invisível, realizou-se, na cidade de Nova Jersey nos Estados Unidos, curiosa experiência:
Foi colocado, em sobreposição, por segundos, no filme, que estava a ser projectado num cinema, publicidade à Coca-Cola e a Pop corn.
Verificou-se que no intervalo, o bar da sala de espectáculo, foi invadido por pessoas ávidas de refrescarem-se com a bebida indicada, acompanhando-a com pop. corn.
Diariamente somos bombardeados pela publicidade; e ainda que muitos pensem o contrário, ela influi nas nossas escolhas e gostos
Poucos conseguem pareceres, fruto de aturadas meditações. A maioria, exprime os conceitos do seu jornal ou da emissora de rádio ou TV, que habitualmente escuta.
O homem-massa não tem ideias nem opiniões; só imite pareceres, após ler o articulista preferido, ou depois de ter consultado, o líder do partido político, em que se filiou ou que simpatiza. Mesmo assim receia, em regra, tomar posição. Prefere dizer: “ ouvi”, “dizem”, “ é o que consta” ou afirma categoricamente: “ li no jornal”.
Os fazedores de opinião conhecem a fragilidade das massas e agem habilidosamente para influenciarem a opinião pública.
Esta que é acéfala, sempre pensa por cabeça alheia: pelo que está na moda.
E a moda, é ditada pela mass-media, que, conscientemente, vai “envenenando” a população, no intuito de aceitar o que meses ou anos atrás, reprovava.
A novela televisiva não serve apenas para entreter o nosso serão; o enredo é escrito, em geral, para alterar o pensar da sociedade.
A telenovela e o cinema, há muito deixaram de ser o espelho da vida quotidiana; transformaram-se em armas poderosas, que conseguem mudar opiniões e inculcar nova-moral e novos valores.
Assim como a “mentira”, tantas vezes “ martelada” no subconsciente, chega a parecer “ verdade”, também: conceitos, modas, vocabulário, atitudes e posturas, apresentadas na TV, conseguem que se aceite, o que antes indignava.
Os políticos e os publicitários conhecem esse extraordinário poder. Por isso, ao fazer-se referendo, por exemplo, sobre: o aborto, prepara-se a população para que tenha o parecer que lhes interessa.
Falo do aborto, mas podia falar de: homossexualidade, relações sexuais entre colegiais, e até ideologias políticas e religiosas.
Após a emissão de telenovela, que abordava a religião muçulmana, houve uma série de conversões ao islamismo, em território brasileiro.
Os observadores, mais atentos, avisam, que há meios de comunicação, a transmitirem programas e opiniões de figuras públicas, no propósito de incutirem novos modos de pensar, e abalarem convicções e valores há muito enraizados na população.

Não é de estranhar, que grupos económicos, partidos políticos e até grupos religiosos, estejam interessados em adquirirem: jornais, rádios e canais de televisão, para assim poderem facilmente manipularem a opinião pública.

O MEU MENINO JESUS

Por Humberto Pinho da Silva (Vila Nova de Gaia, Portugal)

Guardo doces recordações dos serões da casa de meu pai. Não havia ainda televisão e era impensável a Internet. A família ficava, após o jantar, a conviver, a conversar.
Meu pai, contava, então, velhas histórias de família. Histórias que ouvira a sua avó, que explicavam a razão e a origem de certo quadro ou imagem, que tínhamos em casa.
Entre elas, lembro-me a do Menino Jesus. Estatueta de madeira, representando criança, entre os quatro a cinco anos.
Havia em Gonçalo ou arredores de Viseu - não sabia ao certo, - formosa menina, filha de abastado lavrador, que possuía Menino Jesus, rechonchudo e coradinho, solicitado para assistir a velórios de anjinhos, que partiam antes da puberdade.
Na quinta, trabalhava moço que engraçou com a menina, e esta, por sua vez, enamorou-se do jovem. Escusado é dizer, que os pais da rapariga, não aceitaram  tal amizade. Conhecedores dessa proibição, assentaram guardar segredo daquele amor tão desigual.
O tempo passou, mas não a amizade. Essa, sempre crescia, alimentada com olhares ternos e beijos furtivos.
Ardendo em amores, a menina aceitou ser raptada. Uma bela manhã, antes do Sol nascer, entroixou as roupas e fugiu na companhia do moço.
Receosos que a viessem procurar, enclausurando-a num convento ou casa de familiares, os jovens vieram para a cidade do Porto, em busca de casa e trabalho.
Acolheram-se em modesta casinha e matrimoniaram-se na igreja de Santa Marinha.
A vida do casal era simples, mas o amor que os unia era tão grande, que nem reparavam na pobreza.
Bafejados pela sorte, conseguiram amealhar pé-de-meia, e decorar a casinha com gosto e algum gasto.
Guardava a jovem esposa grande desgosto. Não sofria saudades dos pais, nem irmãos, e menos ainda do quarto da rica casa paterna, mas sim, do Menino Jesus, que lá deixara.
Certa ocasião, o marido, ausentou-se. Foi a Viseu. Conseguiu que fossem solicitar o “Menino”, para expô-lo a velório de anjinho. Na pose da imagem, correu a santeiro, para que fizesse cópia fiel.
Decorrido semanas, na posse da imagem, apresentou-a, cheio de contentamento, à mulher. Perante o alegre pasmo, ouviu, o moço, áspera censura:
- “ Não quero o Menino. Fizeste acto muito feio: roubar é pecado!
Mas logo tudo foi sanado, ao saber que era apenas cópia.
Assim a imagem passou de geração a geração, até às minhas mãos.

Com a televisão e outros entretenimentos, os acolhedores serões em família, terminaram - já na minha adolescência. Com eles, perdi velhas e curiosas histórias que tanto encantaram a minha juventude. 

JEAN GUITTON

UMA CENA CURIOSA DE SUA VIDA

Por Humberto Pinho da Silva (Vila Nova de Gaia, Portugal)

Alain de Botton, esteve recentemente em Lisboa, nas “Conferencias, Fidelidades Seguros “, e falou “Como Viver, sabiamente e Bem.”.
Logo saltou-me à memória o grande filósofo do séc. XX Jean Guitton, membro da Academia de França, e professor da Universidade de Dijon e Souborne.
Pouco depois do seu falecimento a 21 de Março de 1999, o Presidente do Conselho Pontifício da Cultura, o Cardeal Paul Poupard, comparou-o a Pascal, um pensador cultíssimo, senhor de fé convicta, admirado por François Mitterand, que o visitou, anos antes o seu falecimento para saber o que se passa além da morte.
Mas não é da sua obra, nem de seus amigos, que abordo a figura de Guitton, mas para vos contar passos enternecedores, dessa grande figura de França.
Prestes a iniciar a vida militar, Jean Guitton, acercou-se de sacerdote para expor-lhe problema que há muito o inquietava.
Estava acostumado, ao entrar no seu quarto, ajoelhar-se para fazer as orações da noite. Ora, receava que os colegas o levassem ao ridículo, por manter tal prática.
O sacerdote, ligeiramente embaraçado, respondeu-lhe que era dever do católico, não se envergonhar da sua fé, e de a demonstrar em público, mas que compreendia o receio.
Jean Guitton, logo na primeira noite, antes de se deitar, ajoelhou-se, vencendo o medo, e em plena caserna, orou, diante dos companheiros. Para seu assombro, ninguém disse palavra de reprovação.
Passaram-se vinte anos. Guitton é professor catedrático e pensador de renome internacional, quando teve conhecimento que colega de camarata, havia falecido.
Como amigo e colega do pai - diretor da Faculdade de Ciência, - sentiu-se na obrigação de apresentar condolências.
Ao vê-lo, muito contristado com a morte do filho, avizinhou-se e após agradecer a presença do colega. Disse-lhe:
-Meu filho, que era ateu, como eu, tinha grande admiração por si. Não tanto por ser um grande filósofo, mas pelo gesto e exemplo que deu ao ajoelhar-se, para rezar, diante de todos os camaradas.
Para concluir, e por considerar curioso, queria reproduzir o que Jean Guitton declarou sobre “ O medo do Além “ a uma revista francesa (tradução, publicada no jornal “ Diálogo Europeu “, de 18/02/95:
“ Tenho medo do Juízo Final. Vós sabeis, nas fórmulas da confissão, acusamo-nos dos pecados que se cometeram por Acão, e por omissão. A mim, o que me inquieta, são os pecados que cometi por omissão. Tenho medo que Deus me diga: “ Então Guitton, dei-te muitos talentos, coloquei-te numa sociedade muito interessante, ajudei-te em colóquios excecionais, e o que tu fizeste?”. Não sei como, no outro mundo, se põem de acordo a justiça de Deus e a Sua Misericórdia.”

“Naturalmente, penso que a segunda é superior à primeira, e que Deus acabará por perdoar a toda a gente, que Ele esvaziará completamente o inferno. Mas não estou seguro. .”

O MEDO À BÍBLIA

Por Humberto Pinho da Silva (Vila Nova de Gaia, Portugal)

Todos sabem que em tempos medievais, ler a bíblia era crime grave. Crime que penalizava raros, pois só os que conheciam latim, tinham acesso ao Livro; e esses eram quase todos sacerdotes, por isso, estavam livres de castigo.
Do assunto e muito mais, conta Mário Martins, em livro do Instituto de Cultura Portuguesa.
Mas, em tempos quase contemporâneo, na primeira metade do século XX, ainda o acesso ao Livro, estava interdito à maioria dos portugueses.
Meu pai asseverava, que em menino, escutara a sacerdotes: que quem tivesse Bíblia, de capas pretas e folhas vermelhas, sem aprovação eclesiástica, devia queimar. Eram falsas, Mas as católicas, as que tinham aprovação eclesiástica, eram raras, e ninguém as recomendava, pelo menos abertamente.
Numa manhã de domingo, minha bisavó Júlia, ouvindo dizer a católicos entendidos e a padres, que as Bíblias protestantes deviam ser queimadas, meteu dois volumes, ricamente ilustrados, editados pela Empresa Editora de Bíblia Sagrada Ilustrada - 1893, numa saca de pano, e encaminhou-se para a sacristia da paróquia, para falar com o abade.
O padre procurou a autorização eclesiástica e não a encontrando, disparou:
- É falsa….Queimar é pena! …deixe ficar comigo.
Minha bisavó era simples, mas não parva. Meteu os volumes na saquita e retorquiu, erguendo os ombros:
- Se servem para o Sr. Abade, também servem para mim!
Chegou-me, agora à memória, episódio curioso, ocorrido comigo:
Quando tinha vinte anos, era amigo de pastor evangélico, que insistia para participar nas aulas dominicais.
Fui, e foram bem proveitosas. Cresci espiritualmente. Nas aulas sempre recomendava o uso de Bíblias não anotadas, portanto evangélicas.
Certa ocasião, convidou-me para almoçar em sua casa. Enquanto a esposa preparava a refeição, mostrou-me o escritório.
Visionei as estantes e descobri a Bíblia das Paulistas. Não me contive:
- Recomenda não consultar a Bíblia católica, porque são anotadas, e afinal aqui está uma! …
Surpreendido pela descoberta, esclareceu-me:
- Tenho Bíblias católicas, porque são de grande utilidade: além de esclarecerem passagens obscuras, situa-nos geograficamente. Consulto-As assiduamente.
Fiquei a saber, que são úteis para os pastores, mas não para os fiéis!
Há seitas, que para poderem defender pontos de vista, mudam, nas suas edições, a pontuação, e usam traduções incorrectas. Por isso, ao adquirir uma Bíblia, não católica, deve-se verificar se foi editada pela Sociedade Bíblica.
Nas últimas décadas, a Igreja, anda empenhada na divulgação da Bíblia e tudo tem feito para que os crentes façam leituras diárias, pelo menos do Evangelho.

E ainda bem que assim é, pois é pena, que a ignorância do Seu contudo, leve intelectuais e figuras publicas a proferirem erros crassos, quando falam de cristianismo.

TER VERGONHA NA CARA

Por Humberto Pinho da Silva (Vila Nova de Gaia, Portugal)

Vários escritores, vinham constantemente dizendo, a meu pai, que descesse à Capital. Argumentavam que só quem colaborasse na imprensa de Lisboa, é que era verdadeiramente conhecido e apreciado.
Embora não concordando, meu pai, resolveu tentar criar secção, com seu nome, em diário lisboeta.
A tarefa não era fácil, para quem não estava familiarizado com políticos e não se encontrava filiado em partidos e movimentos cívicos.
Lembrou-se então de ir pedir auxilio a velho amigo de infância, político respeitado, e de grande prestígio, com quem sempre manteve laços fraternos de amizade.
E uma bela tarde de domingo bateu ao ferrolho de sua residência.
 Este atendeu-o de braços abertos e em grande festa. Após os habituais abraços, meu pai, entrou ao que vinha, ou seja: apresentá-lo ou recomendá-lo a diretor ou administrador de matutino lisboeta, para propor-lhe a criação de coluna sob sua responsabilidade.
Para isso levava currículo e crónicas, que semanalmente publicava num matutino portuense.
Após escutar atentamente tudo que meu pai lhe contava, e de passar os olhos pelos artigos, que já conhecia, até era leitor assíduo, segundo disse, declarou desanimadamente:
- Sabes, Mário, eu até conheço quem pode interessar a colaboração e provavelmente remuneraria generosamente, mas tu escreves no semanário X, e és conhecido pelas tuas ideias religiosas e moralistas, e isso estraga tudo. Deixa o semanário, e escreve artigos a insinuar deslizes do governo. Não é preciso desancar! E eu levo-os ao conhecimento dele. Até posso, se escreveres com porquinho de pimenta, e grão de sal, dar-te carta de recomendação a diretor de periódico de Barcelona. Como sabes, a imprensa espanhola paga mais que os míseros cem ou cento e cinquenta…
Nessa noite, na mesa de jantar, com a família reunida, meu pai, após relatar o encontro com o velho companheiro de folguedo, rematou com tristeza e desalento:
- “Se tenho que abdicar dos meus princípios e valores, que professo, prefiro continuar a ser jornalista da província, e andar de cabeça erguida.

Meu pai ainda era daquele velho tempos em que havia homens de vergonha na cara.