quinta-feira, 1 de agosto de 2013

JEAN GUITTON

UMA CENA CURIOSA DE SUA VIDA

Por Humberto Pinho da Silva (Vila Nova de Gaia, Portugal)

Alain de Botton, esteve recentemente em Lisboa, nas “Conferencias, Fidelidades Seguros “, e falou “Como Viver, sabiamente e Bem.”.
Logo saltou-me à memória o grande filósofo do séc. XX Jean Guitton, membro da Academia de França, e professor da Universidade de Dijon e Souborne.
Pouco depois do seu falecimento a 21 de Março de 1999, o Presidente do Conselho Pontifício da Cultura, o Cardeal Paul Poupard, comparou-o a Pascal, um pensador cultíssimo, senhor de fé convicta, admirado por François Mitterand, que o visitou, anos antes o seu falecimento para saber o que se passa além da morte.
Mas não é da sua obra, nem de seus amigos, que abordo a figura de Guitton, mas para vos contar passos enternecedores, dessa grande figura de França.
Prestes a iniciar a vida militar, Jean Guitton, acercou-se de sacerdote para expor-lhe problema que há muito o inquietava.
Estava acostumado, ao entrar no seu quarto, ajoelhar-se para fazer as orações da noite. Ora, receava que os colegas o levassem ao ridículo, por manter tal prática.
O sacerdote, ligeiramente embaraçado, respondeu-lhe que era dever do católico, não se envergonhar da sua fé, e de a demonstrar em público, mas que compreendia o receio.
Jean Guitton, logo na primeira noite, antes de se deitar, ajoelhou-se, vencendo o medo, e em plena caserna, orou, diante dos companheiros. Para seu assombro, ninguém disse palavra de reprovação.
Passaram-se vinte anos. Guitton é professor catedrático e pensador de renome internacional, quando teve conhecimento que colega de camarata, havia falecido.
Como amigo e colega do pai - diretor da Faculdade de Ciência, - sentiu-se na obrigação de apresentar condolências.
Ao vê-lo, muito contristado com a morte do filho, avizinhou-se e após agradecer a presença do colega. Disse-lhe:
-Meu filho, que era ateu, como eu, tinha grande admiração por si. Não tanto por ser um grande filósofo, mas pelo gesto e exemplo que deu ao ajoelhar-se, para rezar, diante de todos os camaradas.
Para concluir, e por considerar curioso, queria reproduzir o que Jean Guitton declarou sobre “ O medo do Além “ a uma revista francesa (tradução, publicada no jornal “ Diálogo Europeu “, de 18/02/95:
“ Tenho medo do Juízo Final. Vós sabeis, nas fórmulas da confissão, acusamo-nos dos pecados que se cometeram por Acão, e por omissão. A mim, o que me inquieta, são os pecados que cometi por omissão. Tenho medo que Deus me diga: “ Então Guitton, dei-te muitos talentos, coloquei-te numa sociedade muito interessante, ajudei-te em colóquios excecionais, e o que tu fizeste?”. Não sei como, no outro mundo, se põem de acordo a justiça de Deus e a Sua Misericórdia.”

“Naturalmente, penso que a segunda é superior à primeira, e que Deus acabará por perdoar a toda a gente, que Ele esvaziará completamente o inferno. Mas não estou seguro. .”

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