Revista literária virtual de divulgação de escritores, poetas e amantes das letras e artes. Editor: Paccelli José Maracci Zahler Todas as opiniões aqui expressas são de responsabilidade dos autores. Aceitam-se colaborações. Contato: cerrado.cultural@gmail.com
terça-feira, 1 de dezembro de 2015
POEMA PARA NÃO MORRER
Por Terezinha Manczak (Blumenau, SC)
Flui das mandrágoras o efeito desmedido
De ternura e canto em meu peito afoito
Antevendo o destino das metáforas
Rumo ao núcleo do desconhecido
Aquarelas de manhãs inesperadas
Fragmentos de romances não escritos
Alma do mundo em corpo de espanto
Papéis de parede esmaecidos
Auroras rompem a casca das manhãs
Frutos e quimera de lavouras vãs
Na textura da dor, a pele arde
Rubro desejo e primavera
Espera:cedo ou tarde, o amor
"I TASTE A NEW LIQUOR: A HOMAGE TO EMILY DICKINSON'
Por
Paccelli M. Zahler (ALB, Brasília, DF)
tastE
froM
tankards
In
pearL not
molten snowY
anD
saInts
little
sCooped
turn drunKen
butterflIes
reNounce
their dramS i
drink
mOre
seraphs swiNg
SILÊNCIO (mesóstico)
Por Paccelli M. Zahler (Brasília, DF)
baStou um olhar...
nada sIgnifico
não sinto tua
faLta...
não chorarEi por ti
Não olharei pra
trás
não quero te enContrar,
não sentIrei saudades,
nãO chorarei por ti
DESASTRE DE MARIANA (mesóstico)
Por Paccelli M. Zahler (Brasília, DF)
Dilma na COP21 mEncionou Mariana pois o governo eStá Agindo para reduzir oS danos do maior desastre ambienTal da históRia na bacia do rio docE Danos ambientais, populaçõEs em risco. Mencionou que o governo Age paRa reduzIr dAnos e puNir severAmente
FASCÍNIO
Por Vânia Moreira Diniz (ALB,
Brasília, DF)
Meus olhos se fecham,
Minhas mãos procuram
Meu corpo treme
sensações se multiplicam...
À procura do teu amor,
A vida parece extinguir-se,
Lucidez fugindo docemente,
na alucinação do prazer,
Desejo intenso e ilimitado,
Doçura a nos libertar.
Troca de carícias,
A povoar a alma de sonhos,
Nossos corpos a pedir carinhos,
Sensualidade provocante
em luxúrias poderosas.
A penetração enlouquecedora,
Orgasmo a liberar o prazer,
O encanto e o fascínio,
Oferecimento sedutor,
gemidos eloqüentes
Paixão!
DÚVIDAS
Por Pedro Du Bois
(Balneário Camboriú, SC)
Dúvida anteposta em
verdades.
O rumor do elevado
momento
na concretização do
nada: mal feito
malfeitor.
Benefício e dúvida.
A ordem artificializa
mundos inconstantes.
Verdades ignoradas
no descompasso.
PREFERIR
Por Pedro Du Bois
(Balneário Camboriú, SC)
A preferência
apresentada
na alteração de cores
e traços:
destroços do navio
casco submerso
boias
e botes
mulheres crianças
e ratos.
DESEJOS
Por Pedro Du Bois
(Balneário Camboriú, SC)
Ao corpo é dado
desejo
jogo
joio
sina
destino
desejos desenvolvem
o sentido
da entrega na
conquista.
ao desejo é dado o
corpo
consentido: não
consentir
martiriza a carne.
ALVOS
Por Pedro Du Bois
(Balneário Camboriú, SC)
almejo a vida:
alvejo
a caça
descanso sob a
árvore
a ser derrubada
no ar a sensação
da perda
apedrejo a vidraça
e em cacos
reflito
ao dia: vida
condensada
em alvos
inatingíveis.
UMA CIDADE ENCANTADA
Por Ridamar Batista (ALB, Anápolis, GO)
Minha cidade não é uma cidade, é um clã ou
melhor uma tribo. Não temos língua pátria, temos um dialeto exclusivo e puro.
Somos apreciados pelo mundo a fora como seres "DiouUU" ou seja, de
outro planeta, porque entre nós pouca palavra basta e se for apenas um pedaço,
aí sim, é que se fala tudo.
Falamos
de várias maneiras, inclusive com as mãos e falamos muito alto, acho que o
motivo, são os morros que abafam nosso som. Em nosso linguajar podemos
encontrar muitas ramificações dialéticas, como por exemplo falar de trás para
frente, falar a língua do P ou falar por sinais e neste campo entram, pequenos
toques, piscar de olhos, trejeitos com a face, levantar a sobrancelha, cocar,
lamber os lábios, tocar suavemente ou mesmo beliscar o outro, isso depende da
circunstância.
Temos
costumes diferentes, e, ao mesmo tempo, iguais .Existe um algo em comum que
supera todas as expectativas. Cantamos, dançamos, fazemos festas homéricas ou
simplesmente conversamos, sendo que uma coisa e outra ou tudo junto, é sempre o
mesmo ato de ser feliz.
Por
nossas calçadas enfeitadas de pedras multicoloridas, passaram e passam pessoas
de todas as partes e de toda as condecorações, e, ninguém de nossa tribo levanta
a cabeça ou a abaixa por tal transeunte. Somos sempre mais importantes.. Somos
daqui.
Qualquer
pessoa que ousar pisar o nosso chão sem pertencer ao mesmo clã, é sempre e para
sempre chamado " gente de
fora". Somente o padre ( grande contribuidor para o aumento do clã)
nunca fora chamado de fora. Respeito? Talvez um quê de hipocrisia, melhor com
ele...
O
médico também é pessoa colocada no pedestal. Para ele tudo e todos, sem jamais
questionar um ato ou fato.
O
que mais me encanta em minha cidade é o gosto comum pelos apelidos. Todo mundo
tem um e nem se pode dizer no tal Bullying. É mesmo quase cordial, quase afetivo
ter um apelido, por mais esdrúxulo que pareça. Fogueira, Ferrugem ou Fogoió,
tudo se refere a quem tiver nascido com os cabelos ruivos, e, não foram poucos.
Numa cidade como esta é de se admirar, porém, ninguém busca razões, apenas
apelida e pronto.
Sabiá,
Periquito, Ganço ou qualquer outro pássaro que por ventura fizer motivo, se
torna por aqui em nome próprio. Gambá, coruja, Jegue, Jumento ou coisa
parecida, todos estes apelidos são comuns. " Peidou, cagou"... pobre moça, fora conhecida até
se mudar, por este triste apelido que lhe fora concedido, por um momento de
torpe diarreia em pleno cinema da cidade.
E
para não falar dos tantos bobos que por aqui habitam... A bobos, se incluem
todos que não fazem parte da maioria extremamente culta, poética ou boêmia, que
formam a massa. E estes conhecidos por " uma parte no canteiro" ou um
mil reis na nota", não me perguntem nunca o que, isso quer dizer. Só ouvi,
nunca entendi.
Numa
tal sintonia intelectual vive esta gente que ao longo de uma vida dois amigos
se falavam por meio de Charadas. Eram compadres, amigos e eternos companheiros
de pescaria, cachaça e cigarros. Um dia voltando de uma desta tais pescaria um
dos dois ao chegar próximo da esquina de suas casas disse:
______Ultimo
cigarro da pescada.
Um
foi para um lado e o outro para o oposto.
Lá
pela meia noite, o compadre que ficara calado, se levanta da cama e sai de
casa. Bate a aldaba da casa de seu amigo e quando este se levanta para atender
o compadre lhe pergunta:
______Quantas?
Em
charadas se faz uma frase e se diz o número de sílabas, daí o outro tem que
responder uma palavra que coincide com o número de sílabas e o resultado da
frase. mas naquele momento não havia Charada. Era apenas uma despedida.
____Quantas?
O
compadre que dissera a despedida" Ultimo cigarro da pescada" ficou
sem entender nada. Daí ou outro amigo lhe explicou:
______Não
consigo dormir. Já tentei de tudo, mas você não me deixou o número das sílabas.
Risos,
explicações... tudo resolvido, não era uma charada.
Tudo
acontece em minha cidade.
Quando
ela começou, vieram pessoas de alguns lugares e ali foram se assentando,
fazendo a vida e fazendo fortuna. Tudo virava dinheiro. Os minerais eram de uma
fartura incomensurável, os animais se reproduziam aos milhares, os vegetais
floriam em profusão e os homens eram felizes e nunca mais dali se foram.
Misturaram... misturaram. Até que formou o clã.
Beleza,
força e coragem. Assim se fez o povo.
Tudo
lá é festa, colorido e som. Todos são músicos, artistas e poetas.
Tem
até quem diz que em minha cidade quando nasce um filho, se joga na parede. Se
pregar é músico ou poeta e se cair é músico poeta ou boêmio.
As
mulheres possuem uma beleza tão grande que chega a hipnotizar estranhos. usam
roupas coloridas, adornos pelo corpo e cabelos longos. Dançam como ninfas e
cantam o som dos deuses. De cabelos longos, lisos, anelados ou totalmente
encarapinhados, são todas umas fadas. Dançam e cantam a luz da lua e enfeitiçam
homens e deuses. São belas. Negras, brancas ou amareladas, todas se pintam para
conquistar seus homens e estes ficam tão enfeitiçados que por elas choram a
vida toda.
Tocam
todos os instrumentos musicais, homens ou mulheres e saem pelas ruas a fazer
serenatas ou cantatas, e ali compõem seus versos, suas músicas ao luar.
Amam
o violino, a flauta, a guitarra e o piano. A música faz parte da arte e da vida.
Os
poetas abandam. Em toda casa se faz poesia e a poesia se faz em cada coração.
Os
amores são quase eternos e quando não são ficam remorsos e perduram e vão se
transformando em música ou poesia. Assim é minha cidade, um pouco da ternura
dos índios, muito da sabedoria dos ciganos e algo do sensualismo dos europeus.
Um
clã... uma tribo... uma cidade diferente das outras.
Quer
saber onde está? no meio do coração de quem a busca.
SOARES DOS REIS, O MAIOR ESCULTOR PORTUGUÊS SUICIDOU-SE HÁ 130 ANOS
Por Humberto Pinho
da Silva (Vila Nova de Gaia, Portugal)
Em
vésperas de Santo António, o atelier de Soares dos Reis, sito na rua de Camões,
em Gaia, engalanava-se para receber visitas. Arrimavam-se as esculturas,
cobriam-se de panos brancos, os esboços, penduravam-se vistosos balões,
acendiam-se as velas e, para concluir, o artista suspendia enfeites, de papel
crepe, de várias cores.
Sobretarde,
ao declinar do dia, chegavam os convidados, entre eles, apareciam: Henrique
Pousão, Souza Pinto, Tomás Costa, Teixeira Lopes, Marques Guimarães, Diogo José
de Macedo.
Serviam-se,
em bonitas bandejas de porcelana, doce de chã da “ Palaia” - estabelecimento
que ficava na rua do Bonjardim, no Porto, - e biscoitos de Valongo; abriam-se
garrafas de “Porto”, da Companhia Geral de Agricultura dos Vinhos do Alto
Douro; e quando a festa atingia o auge, o anfitrião dedilhava, nas cordas de
velho violão, trechos da “ Marcha de Luís XIV”.
Conversava-se
sobre Arte, e de conhecidos artistas plásticos que residiam na Cidade da Luz;
os que pretendiam estar à la page, liam e comentavam o folhetim de “ A
Palavra”, onde experimentado jornalista, desassombradamente, desancava na
política e nos políticos da capital.
Eram
festas modestas, mas de intelectuais, onde imperava respeito e dignidade.
Tinha
o escultor índole amarga, frontalidade que se confundia de grosseria e
agressividade. Os íntimos - e pouco mais, - conheciam-lhe o coração terno e a
apurada sensibilidade hipersensível.
Insignificante
falta de atenção, frase não concluída, era bastante para o deixar em atroz
ansiedade.
Tinha
Soares dos Reis numerosos detratores. Contribuiu para isso, o jeito agreste e
rude como se exprimia.
Frequentemente
citava Boileau: “ Un sot, trouve toujours un plus sot qui l’admire”.
Ao
analisar trabalho alheio, não se inibia de declarar, se não fosse de seu
agrado: “ É uma borracheira! …”
Detestava
os políticos, mormente os hipócritas, que para ele eram quase todos;
considerava-se democrata e católico, mas poucas vezes ia à missa. Escrevia
muito pouco e carteava-se ainda menos.
Em
dias santos realizava longos passeios a pé- Ia a Paço de Rei, Quebrantões, Gervide
e Lavandeira. Levava casaco comprido, bota-de-elástico, nada cuidadas, e cabelo
desamanhado.
Fascinava-se
com a beleza campestre, o sossego das bouças, o trinar dos passarinhos, o
sussurrar embalador dos córregos e a beleza das flores silvestres que atapetavam
os verdes campos de Oliveira do Douro.
Quando
se apaixonou pela delicada esposa, mudou por completo. Mandou fazer, na
Alfaiataria Rocha, bonito fraque e substituiu a bota-de-elástico, por modernas
de cordão. Passou a cuidar o cabelo e amiúde frequentava o barbeiro.
Se
o tempo não permitia andar pelo campo, recolhia-se no Clube Recreativo de
Mafamude, jogando bilhar e dominó.
Numa
hora de extremo desespero, que o levou ao suicídio, escreveu no papel de parede
do quarto: “ Sou cristão, porém nestas condições, a vida, para mim, é
insuportável. Peço perdão a quem ofendi injustamente, mas não perdoo a quem me
fez mal.”
Soares
dos Reis - o maior escultor português nasceu em Santo Ovídio (Gaia),
numa terça-feira, a 14 de Outubro de 1847. Foram seus pais, Manuel Soares
Júnior - proprietário de mercearia, onde o filho era marçano, - e D. Rita do
Nascimento.
Foi
batizado na Igreja de Mafamude pelo Padre Francisco Ribeiro de Moura, e teve
como padrinhos: Santo António e D. Ana Maria de Jesus.
Desde
cedo mostrou tendência pelo desenho. Na escola (a do Cabeçudo) retratou, às
escondidas, o professor, o Sr. Matos. Descoberta a falta de atenção, o mestre
não lhe bateu, e terminada a aula andou a mostrar, admirado, o talento do
aluno.
Pouco
depois, os pintores Francisco José Resende e Diogo de Macedo, este último, avô
da esposa de Soares dos Reis, ao conhecerem o extraordinário valor do rapaz,
convenceram o pai a matriculá-lo na Academia de Belas Artes.
Entrou
na Escola a 1 de Outubro de 1861; seis anos depois partia para Paris, como
bolseiro do Estado. Devido à guerra franco - prussiana, deslocou-se, depois
para Roma, onde na rua de S. Nicolau, 4, esculpiu o fabuloso “ Desterrado”.
Regressa
à Pátria, em 1872, torna-se em 1881, professor da Academia Portuense de Belas Artes.
A16
de Fevereiro de 1889, suicida-se na sua casa da rua de Camões, em Gaia.
Casou
a 15 de Julho de 1885, com D. Amélia Aguiar de Macedo. Do matrimónio nasceram:
Fernando de Macedo Soares dos Reis, que faleceu com 27 anos (Estudou no Colégio
dos Órfãos. Foi empregado da Foto - Bazar e do Banco Comercial do Porto. Era um
entusiástico pelo Esperanto) e Raquel Soares dos Reis, que morreu solteira.
Quarenta
e dois anos após a sua morte - em Portugal é assim que se tratam os artistas de
nomeada, porque os outros morrem à fome, se não se tornam políticos à força, -
concederam à viúva e filha, a pensão de mil e quinhentos escudos mensais, por
despacho de 2 de Março de 1931, do Presidente Óscar Fragoso Carmona, como
gratidão da Pátria à família do genial escultor.
CIDADE NUA
Por Samuel da Costa (ALB, Anápolis, GO)
(Para Rute Margarida Rita)
Corpo incorpóreo
Em transcendência
Uma nota dissonante
Que destoa
Que trespassa
A realidade liquefeita
E pós-moderna
***
Viagem transcendental
Em terra nua
***
Corpo incorpóreo nu
Em desalinho
Que devassa
Noturnos labirintos
***
São perdidas noites insones
Sem fim
INEXORÁVEL (MEUS SONHOS EM MIL PEDAÇOS)
Por Samuel da Costa (ALB, Anápolis, GO)
(Para Mari Gomes)
O teu silêncio sobre mim
Vale mais que mil palavras
***
São mil palavras imperfeitas
Hialinas abstrações liquefeitas
Belas
letras não revisadas
Enclausuradas
Em
páginas em branco
***
Quem dera poder saltar
Lançar-me ao infinito
E perpassar os astros
Alcanças a divina musa
***
Fazer-te feliz por alguns dias
Ou poucas horas
Nanosegundos de pura felicidade
Em poucas linhas abstratas
RAINHA VICTÓRIA (NAVEGO PELO MAR DA TRANQUILIDADE)
Por Samuel da Costa (ALB, Anápolis, GO)
Para
Victória Butler Rodríguez
Navego pelo mar da tranquilidade
Cheio de esperanças
Renovadas
***
Pois tenho pensamentos probos
Pensamentos bons
Mesmo sabendo que tenho
Um longo e difícil caminho
Para percorrer
***
A minha abstrata arte
Já não conhece limites
Criou
asas
Voo
para além do cosmo infindo
***
Tenho um longo e tortuoso caminho
Pela frente
Mas sei que ela vai estar lá
A minha espera
Tão linda e prefeita
Como só ela sabe ser
***
Já não dói mais...
A minha negra arte tão carregada
De dor e sofrimento
Não existe mais
***
A minha negra dor se foi
Dobrou a esquina e desapareceu
Por completo em meio
A massa dissoluta
***
O crepúsculo eviterno
Já não
cega mais
Meus quasímodos olhos
Não
temo a negra noite eterna
Com seus mistérios infindos
***
Tenho o sono tranquilo
Pois sei que ela estará
Ao meu lado
Quando eu acordar pela manhã
VIOLETAS PAIXÕES
Por Samuel da Costa (ALB, Anápolis, GO)
(Para Izabella Silva)
Com passos firmes
Veio ao meu encontro
***
Tinha brancas e imaculadas
Rosas nas mãos
Um belo sorriso nos lábios
Mil pedidos de desculpas
Para declamar
Chamando-me
Para um eviterno valsar
Sob a luz do negro luar
***
Veio até a minha surreal pessoa
Depois de muitas tempestades
Com
fortes ventos, trovoadas e raios...
De muita tormenta e dor
***
Veio como quem quis virar
A página das nossas liquefeitas vidas
Por
fim
Uns pedidos de desculpas
Lamúrias e lamentos
Na ponta da língua
***
Veio por fim
Como violetas paixões
A declamar uma breve
E inócuo poema pastoril de amor
***
Veio abstrato
Vazio
e oco
Em violetas paixões
E eu simplesmente lhe disse não
FÁH BUTLER (A QUARTA NOTA MUSICAL)
Por Samuel da Costa (ALB, Anápolis, GO)
Uma écloga de amor
Uma ignota canção pastoril
Em estado puro
Em tempos de paz
Em tempos de guerras
***
A celestial e intempestiva paixão
O lascivo amor sintético
O sibilino e abissal amor
Nanotecnológico
***
O amor abstrato e surreal
Em tempos de realidade líquida
Em tempos de realidade virtual
Em tempos de realidade liquefeita
LEANDRO GOMES DE BARROS
LEANDRO GOMES DE
BARROS - Dia do Cordelista
Por Gustavo Dourado (ALT,Taguatinga,DF)
(Homenagem de Gustavo
Dourado e da Academia de Letras de Taguatinga)
Leandro Gomes de
Barros:
Na Paraíba nasceu
Na fazenda Melancia
O vate sobreviveu
Na cidade de Pombal
O seu nome
inscreveu...
1865:
Em novembro,
dezenove...
Em Pombal na Paraíba
O Leandro nos comove
Poesia de primeira
Sua poesia me
move...
Criou o Canção de
Fogo:
Foi dínamo da poesia
O cordel tem sua
marca
Sua luz, sua magia
Registrou o seu
talento
O que fez foi
alquimia...
1918:
4 de março o dia
Vitimado pela gripe
Que matava à luz do
dia
Influenza espanhola
Era o nome da
porfia...
Fugiu de casa aos 11
anos:
Pelo padre
maltratado
Vicente Xavier de
Faria
Era o nome do danado
Perseguia a Leandro
Dava pisa no
coitado...
O padre era seu tio:
Agia com violência
Leandro queria paz
Ser tratado com
decência
Leandro, Cancão,
Alfredo
Não é mera
coincidência...
Fez centenas de
cordéis:
Que merecem antologia
É poeta consagrado
Até pela academia
Sua poesia tem arte
Tem o caldo da
magia...
História da Donzela
Teodora:
Juvenal e o Dragão
A Órfã Abandonada
As Histórias de Canção
Rosa e Lino de
Alencar
Leandro, vate do
sertão...
Antônio Silvino, o
Rei dos Cangaceiros:
A Filha do Pescador.
João da Cruz - O Boi
Misterioso
Alonso e Marina...A
Força do Amor
O Príncipe e a Fada,
O Dinheiro
O Soldado Jogador...
A Batalha de
Oliveiros e Ferrabrás:
A Morte de Alonso e
a Vingança de Marina
A Mulher Roubada; A
Vida de Pedro Cem
Criou A Princesa da
Pedra Fina
Teceu A Prisão de
Oliveiros
Com poética
silibrina...
Leandro Gomes de
Barros:
Poeta incomensurável
Foi um dínamo da
poesia
Eternamente louvável
Hoje encanta no
infinito
Mestre vate
inigualável...
O PUDOR DAS CRIANÇAS
Por
Humberto Pinho da Silva (Vila Nova de Gaia, Portugal)
Recostada
na cadeira de trabalho, em contraluz, diante da camila, revestida de toalhinha
cor de canela, que tapa a braseira de cobre – onde em frias tardes de Inverno,
ardem brasas rubras, – a zelosa mãe, de agulha na mão, acerta os calções
vermelhos, da filha amada.
Pelas
extensas vidraças, viradas para a cidadela, penetra leve claridade, envolvendo
tudo numa doce e deliciosa paz.
Luz
desmaiada de fim de tarde de Verão. Lá fora, o céu azul, acarminas- se,
esmorecendo lentamente, em violeta – sanguínea e luminosa poalha doirada.
Silêncio.
A
pequena salinha adormece em doce penumbra. Tudo se desvanece num misterioso
encantamento: o aparelho de TV; o armário, pintado de branco, arrimado ao
fundo; a toalhinha cor de canela, a mãe; os calções encarnados…Tudo se
esvanece, esfuma-se, perdido na luz acolhedora, de entardecer calmoso.
Vem
da cozinha, intensamente iluminada, tilintar de vidros e metais; e paira no ar,
adocicado e delicioso odor a chocolate. É a filha mais velha que tem o bolo no
forno.
De
súbito o repousante silêncio – convidativo à sonolência, – é rasgado por
harmoniosa voz juvenil:
-“
Mãe!!! … Como se faz chantilly?”
Um
sorriso de bondade aflora nos lábios finos da progenitora.
Depõe
os calções encarnados, mais a agulha, sobre a mesa, e lançando meigo olhar para
a filha – que de mangas arregaçadas, no limiar da porta, aguarda a esperada
resposta, – diz:
-
“Mistura manteiga com açúcar e bate muito bem…muito bem…muito bem…Depois…”
Afobada,
de braços balanceando, boca a transbordar sorrisos chilreantes, olhos vivos,
espertos, luzindo de felicidade, entra a caçulinha, em grande estardalhaço.
Beija
de fugida a mãe; abraça-a afectuosamente, como querendo dizer: - “ Gosto muito
de ti! …”
Espicaçada
pela curiosidade, aos saltinhos, quase pardalita travessa, a menininha
interroga, ansiosamente a mana querida:
-
“O que estás a fazer?!”
Ninguém
lhe responde….
Amuada,
despeitada, triste, de olhos fixos no vácuo, fica pensativa, a folhear velho
caderno escolar, de capa azul, de folhas enodoadas, por muito ter sido
manuseado.
Pela
escancarada porta de vidro da varanda, entra, trazido pela brisa morna, à
mistura com ruídos da rua: guinchos infantis e risos festivos de crianças. São
os filhos do doutor ou do Major?
Ao
longe, muito ao longe, galos de voz esganiçada, anunciam que são horas de
recolher….
A
salinha, agora, é quase trevas. Na semi-escuridão reluzem, na carinha morena,
os luminosos olhos castanhos da meiga garotinha, que permanecem parados,
tristes e meditativos.
Por
arte mágica, de repente, tudo ganha brilhos e rebrilhos e nítidos contornos.
Foi a mãe, que vindo da cozinha, acendeu as lâmpadas.
-“
Vamos provar?” – Diz, como se a convidasse.
Nesse
comenos, toca a campainha. Quem será?!
É
a D. Flora, professora, amiga da dona de casa.
Dá
repenicados beijinhos à menina e à mãe, e atira, com quatro dedos rechonchudos,
beijos à que anda à volta com o bolo, que rescende.
Conta
novidades: casamento da Néné; maroteiras do filho do Dr. Bento; a lotaria
premiada, vendida na Praça da Sé…
-
“Vem menina! …Vem provar!” – Insiste, mais uma vez, a mãe, explicando, à
visita, que vão a banhos para Foz de Arelho.
Encolhida,
envergonhada, enleada, de faces rosadas, avizinha-se; e esta sem reparar no
rosto anacarado de acanhamento, levanta-lhe a vaporosa saia, deixando as
calcinhas cor-de-rosa, à vista e a perna nua.
Constrangida,
humilhada, por se ver descomposta diante de estranhos, a pequenita fica a
balancear: a brincar com os dedos das mãos…Com os dedos dos pés…Acariciando os
macios cabelos castanhos de reflexos doirados; mas as maçãzinhas do rosto,
enrubescem-se de pejo.
A
mãe é mãe. Não é “gente”. Despir-se diante dela, é normal…mas na frente de
visitas…
Indiferente
ao comportamento da filha, nem repara no acanhamento, e continua a conversar –
num cavaquear de amigas.
Este
quadro familiar, tão simples, tão singelo, tão sem importância, não seria
merecedor de registro, senão fosse o embaraço da mocinha.
Os
pais, por vezes, esquecem-se que os filhos cresceram…Deixaram de ser
garotinhos.
Há
mães que pedem a empregadas para darem banho aos filhos, e vestem-nos diante de
amigas. Olvidando que o pudor das crianças deve ser respeitado.
A cena que vos trago, ocorreu há muito e
muitos anos, quando os meninos e meninas eram recatados.
Agora,
o pudor, parece estar a desaparecer…
O
“progresso” deve-se, em parte, ao: ensino misto, à liberdade paterna e mormente
à nefasta influência do cinema e TV.
Essa
á vontade, por si, não é má nem boa. Mau é quando descamba em libertinagem e
desrespeito pelo corpo.
VISITAR DOENTE: DEVER DO CRENTE E DO NÃO CRENTE
Por Humberto Pinho da Silva (Vila Nova de
Gaia, Portugal)
Entre o reduzido
número de amigos de meu pai, contava-se um frade.
Conhecera-o em
soalheira tarde de Verão, quando foi encarregado de realizar reportagem sobre
certo santo, de certa Ordem Religiosa.
E de tal modo
ficaram amigos, que durante longos anos, visitava-o no seu conventinho.
Chegaram a trocar
presentes e debater assuntos transcendentes, de interesse de ambos.
A amizade era
notada por todos, e de tal jeito, que aos poucos tornou-se conhecido e amigos
de quase todos os irmãos da comunidade, inclusivo o Superior e Provincial.
Um dia, a doença
que o levaria à morte, atirou-o para Casa de Saúde, onde permaneceu semanas
acamado e com poucas esperanças de vida.
Nas suas horas de
solidão e desespero, pedia para telefonarem aos amigos, para que o fossem
visitar, já que se sentia só, perdido e desanimado num quarto de hospital.
Apareceram
familiares, principalmente o primo Júlio – sempre prestável, sempre pronto a
fazer pequenos favores, e a visitar e animar doentes.
Além do Júlio,
poucos mais apareceram…Os inadiáveis afazeres não lhes permitiam….
Lastimoso, contava
aos filhos e à empregada, que, por tanto tempo haver servido a nossa casa,
tornou-se membro da família:
- “Parece impossível, nem o Frei X, que mora
tão perto, apareceu…”
Mais tarde – no
interregno que a doença lhe deu, – foi ao convento para visitar o amigo
“atarefado”.
Não estava. Atendeu
o porteiro, que prestimoso, foi chamar “um senhor padre”.
Ao abordar a
hospitalização, meu pai referiu-se ao facto de Frei X, não ter aparecido,
devido a não ter transporte disponível. (Desculpa que lhe deu, pelo telefone.)
Em resposta, ouviu:
- “Não tinha
transporte?! … A Casa tem carro. Eu próprio o levaria, com muito gosto, no meu
automóvel! …”
Uma das obras de
caridade do cristão é visitar presos e doentes.
Que haja receio de
confortar presos, compreende-se, mas que não se visite doentes, mormente
conhecidos e amigos, é falta de Amor cristão e humanamente imperdoável.
O desprezo. A
indiferença e principalmente a ingratidão, costuma doer mais que a doença,
mesmo quando é grave e mortífera.
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