sexta-feira, 1 de dezembro de 2023

Podcast: Biblioteca Pública de Bagé, RS (90 anos)

HOMENAGEM POÉTICA AOS 90 ANOS DA BIBLIOTECA PÚBLICA DE BAGÉ, RS

MEMÓRIAS PÓSTUMAS DE BRÁS CUBAS (EM HAICAI)

 Por Leandro Bertoldo Silva (Padre Paraíso, MG)

Capítulos VII a X 



BRINDANDO ARCO-ÍRIS

Por Márcia Etelli Coelho (São Paulo, SP)




Sobre a autora:

Márcia Etelli Coelho é médica e escritora. Pertence à Academia Brasileira de Médicos Escritores -ABRAMES, Academia Cristã de Letras - ACL, Sociedade Brasileira de Médicos Escritores - Regional São Paulo, Associação de Jornalista e Escritores do Brasil, Movimento Poético Nacional, e União Brasileira de Escritores.

 

AINDA EÇA...

Por Humberto Pinho da Silva (Porto, Portugal)

  

A transladação dos restos mortais do escritor para o Panteão Nacional, fez correr muita tinta, que envolveu, descendentes do romancista, respeitáveis intelectuais e políticos.

O caso chegou ao Supremo Tribunal Administrativo, que acabou de dar razão a Afonso Reis Cabral, trineto de Eça e Presidente da Fundação Eça de Queirós.

Mesmo contra a vontade de alguns descendentes, que tudo fizeram para o impedir – houve até quem duvidasse que o antepassado gostasse de estar em companhia desses ilustres cidadãos... – e da boa gente de Baião, habituada à "presença" do escritor, no Cemitério de Stª. Cruz do Douro, o tribunal sentenciou a favor da Fundação Eça de Queiroz.

O maior estilista da língua portuguesa deixou, portanto, de ser " pertença" exclusiva da família e dos baionenses, para ser de todos os portugueses.

Homenagem justíssima, já que seus contemporâneos não souberam ou não quiseram prestar-lhe, após o falecimento, as honras de que era merecedor.

Como não se pode, talvez nem se queira, levar Camilo para o Panteão Nacional, parece-me de inteira justiça erguer, como se fez com Aristides de Sousa Mendes, no Panteão, cenotáfio de homenagem a Camilo Castelo Branco. Era gesto de louvar e prova que o romancista não está esquecido.

Durante as cerimónias fúnebres de Camilo, Guerra Junqueiro sugeriu – que devia ser sepultado nos Jerónimos e fosse decretado luto nacional.

E no Parlamento, Alberto Pimentel, propôs que ficasse registado em ata – " Um voto de profundo sentimento pela morte do iminente escritor, Visconde de Correia Botelho, Camilo Castelo Branco, glória da literatura nacional".

Infelizmente essas vozes amigas foram em vão. Camilo: " O Primeiro Romancista da Península", como se dizia, ou: " O Príncipe dos Escritores", como afirmou Reis Santos, na oração fúnebre, permanece, quase esquecido, no jazigo de amigo, no Cemitério da Lapa, no Porto.

A concluir, julgo oportuno levar ao conhecimento do leitores, o parecer do conceituado filólogo, fundador da " Sociedade da Língua Portuguesa", Vasco Botelho de Amaral, no:" Glossário Critico", sobre Camilo:

(...) A linguagem de Camilo é riquíssima de valores expressivos (...) Em todas as páginas revela o Mestre, o diligente estudo a que se consagrou, auscultando os dizeres das bocas populares e investigando nos clássicos documentos ignorados, mas inestimáveis riquezas idiomáticas. Junte-se a isto o extraordinário génio verbal e estilístico do escritor, e como resultado se nos apresentará a admirável vernaculidade da linguagem de Camilo".

O NATAL QUE PASSEI COM O AVÔ ALBERTO

Por Humberto Pinho da Silva (Porto, Portugal)

  

O avô de minha mulher, chegou ao Brasil, no início do século XX.

Era jovem e cheio de ambições. Estreara-se no jornalismo, em Portugal, num jornalzinho de bairro: “O Garnisé”.

Como o primo fosse editor de semanário de inspiração monarquista, passou a colaborar nele, mantendo coluna, que assinava com o pseudónimo de: Urbano”.

A razão de não usar seu nome nas crónicas, é simples de explicar: o jornal pertencia a movimento monárquico, e ele era republicano, de sete costados.

Seria? Creio que era apenas um jovem, apaixonado pelas “Letras”; o que queria, era escrever…

Empregou-se, no Brasil, no escritório de fábrica de produto alimentício.

Como colaboradora, tinha a filha do proprietário. Uma jovem bonita e simples. A idade; o convívio; o facto da mãe de ambos, terem sido amigas, na infância, tornaram-se íntimos.

Dessa amizade, resultou o casamento.

Numa das minhas estadias, a São Paulo – em véspera de Natal, – encontrei-o no jardim da sua bela casa de Alto de Pinheiros, junto ao canteiro dos junquilhos. Seus cabelos brancos lampejavam, batidos pelo sol morno da manhã.

Conversamos sobre a economia do seu querido Portugal.

De repente, encarando-me com os seus belos olhos verdes – verdes como formosas esmeraldas, – encrustados no rosto moreno, queimado pelo Sol, disse-me que ia revelar-me um segredo, que há muito vivia com ele; quiçá, pensando na minha condição de rapaz pobre:

- “Sabe por que deixei de passar a Noite de Consoada com meus cunhados?”

Aguardei a resposta. Certamente não esperava que lha desse:

- “No início de casado continuou caminhando pelo jardim, parando junto à porta da garagem, – todos os irmãos reuniam-se na noite de Natal. Era uma bonita festa! Ceávamos; conversávamos… e noite velha, chegava o Pai Natal, com saco repleto de presentes, para as crianças.”

Neste momento fez uma pausa. Silêncio prolongado.

- “Tudo corria bem…até que certa vez, minha filha mais velha, interrogou-me muito agastada: “Não é justo! Papai Noel dá-me sempre roupinha, enquanto minhas primas recebem bicicletas! …”

Novo silêncio, ainda mais prolongado.

- “Os meus cunhados tinham posses. Podiam distribuir prendas caras… fiquei tão triste, que resolvi, desde então, consoar só, com meus filhos e a Júlia…”

Neste momento a voz embargou-se, e uma lágrima envergonhada, aflorou, deslizando suavemente, pela face envelhecida.

Compreendi; e pensei: quantos irmãos se separam, por essa e outras razões, como tais?

Como é difícil, para quem vive folgadamente, entender as dificuldades dos outros! …

Quantas vezes, humilhamos, o próximo, sem o saber?

Assim se vão afastando, os irmãos…  os primos…os parentes…

A VERDADEIRA EDUCAÇÃO

Por Humberto Pinho da Silva (Porto, Portugal) 

 

Nunca se falou tanto de educação como nos nossos dias, mas são poucos os que sabem educar.

Em norma confunde-se educar com instruir.

Educa-se em casa, no seio da família. Instrui-se na escola, com o professor.

Pais há que preferem abdicar, deixando a difícil tarefa, à escola, o que é um erro. O professor pode ser ótimo mestre, mas corre-se o risco de inculcar, nas mentes em formação, ideologias e conceitos nefastos e perniciosos.

Em: " L Educantion des Filhes" – Paris Corrêa, Mauriac, aborda e indica o que é a verdadeira educação:

"Para muitos pais, o essencial é, antes de tudo o mais, que os filhos estejam de saúde: é esse o primeiro cuidado: " Estás a transpirar, não bebas ainda... Parece-me que estás quente: vou ver se tens febre..." (...) Primeiro cuidar da saúde da criança; depois da educação: " Põe-te direito: estás a fazer corcunda... Não limpes o prato... Não te sabes servir da faca... Não te espojes no chão dessa maneira.... Põe as mãos em cima da mesa! As mãos, não os cotovelos... Com a idade que tens, ainda não sabes descascar um fruto?..." Sim, é preciso que sejam bem-educados! E o sentido que todos nós damos a esta expressão " bem-educados" mostra até que ponto nós a rebaixamos. O que conta é a impressão que possam causar aos outros, ou seja, a fachada. Desde que, exteriormente, não traiam nada do que o mundo não aceita, achamos que tudo está a correr bem.

" Os únicos educadores dignos desse nome - mas quantos há que o sejam? - são aqueles para quem conta aquilo a que Barrés chamava educação da alma. Para esses, o que importa naquela jovem vida, que lhes é confiada, não é só a fachada que dá para o mundo, mas as disposições interiores, aquilo que, num destino, só Deus e a consciência conhecem

A educação moral da criança, é uma coisa importante"

O que devia interessar ao educador, não é como disse Mouriac, a fachada, as boas maneiras, regras uteis para viver em sociedade, mas  a educação da alma, para que cresça com solida formação moral e venha a ser útil à coletividade, como cidadão.