Revista Cerrado Cultural
Revista literária virtual de divulgação de escritores, poetas e amantes das letras e artes. Editor: Paccelli José Maracci Zahler Todas as opiniões aqui expressas são de responsabilidade dos autores. Aceitam-se colaborações. Contato: cerrado.cultural@gmail.com
sexta-feira, 1 de dezembro de 2023
MEMÓRIAS PÓSTUMAS DE BRÁS CUBAS (EM HAICAI)
Por Leandro Bertoldo Silva (Padre Paraíso, MG)
Capítulos VII a X
BRINDANDO ARCO-ÍRIS
AINDA EÇA...
Por Humberto Pinho da Silva (Porto, Portugal)
A transladação dos restos
mortais do escritor para o Panteão Nacional, fez correr muita tinta, que
envolveu, descendentes do romancista, respeitáveis intelectuais e políticos.
O caso chegou ao Supremo
Tribunal Administrativo, que acabou de dar razão a Afonso Reis Cabral, trineto
de Eça e Presidente da Fundação Eça de Queirós.
Mesmo contra a vontade de
alguns descendentes, que tudo fizeram para o impedir – houve até quem duvidasse
que o antepassado gostasse de estar em companhia desses ilustres cidadãos... –
e da boa gente de Baião, habituada à "presença" do escritor, no
Cemitério de Stª. Cruz do Douro, o tribunal sentenciou a favor da Fundação Eça
de Queiroz.
O maior estilista da língua
portuguesa deixou, portanto, de ser " pertença" exclusiva da família
e dos baionenses, para ser de todos os portugueses.
Homenagem justíssima, já que
seus contemporâneos não souberam ou não quiseram prestar-lhe, após o
falecimento, as honras de que era merecedor.
Como não se pode, talvez nem se
queira, levar Camilo para o Panteão Nacional, parece-me de inteira justiça
erguer, como se fez com Aristides de Sousa Mendes, no Panteão, cenotáfio de
homenagem a Camilo Castelo Branco. Era gesto de louvar e prova que o romancista
não está esquecido.
Durante as cerimónias fúnebres
de Camilo, Guerra Junqueiro sugeriu – que devia ser sepultado nos Jerónimos e
fosse decretado luto nacional.
E no Parlamento, Alberto
Pimentel, propôs que ficasse registado em ata – " Um voto de profundo
sentimento pela morte do iminente escritor, Visconde de Correia Botelho, Camilo
Castelo Branco, glória da literatura nacional".
Infelizmente essas vozes amigas
foram em vão. Camilo: " O Primeiro Romancista da Península", como se
dizia, ou: " O Príncipe dos Escritores", como afirmou Reis Santos, na
oração fúnebre, permanece, quase esquecido, no jazigo de amigo, no Cemitério da
Lapa, no Porto.
A concluir, julgo oportuno
levar ao conhecimento do leitores, o parecer do conceituado filólogo, fundador
da " Sociedade da Língua Portuguesa", Vasco Botelho de Amaral, no:"
Glossário Critico", sobre Camilo:
(...) A linguagem de Camilo é
riquíssima de valores expressivos (...) Em todas as páginas revela o Mestre, o
diligente estudo a que se consagrou, auscultando os dizeres das bocas populares
e investigando nos clássicos documentos ignorados, mas inestimáveis riquezas
idiomáticas. Junte-se a isto o extraordinário génio verbal e estilístico do
escritor, e como resultado se nos apresentará a admirável vernaculidade da
linguagem de Camilo".
O NATAL QUE PASSEI COM O AVÔ ALBERTO
Por Humberto Pinho da Silva (Porto, Portugal)
O avô de minha mulher, chegou
ao Brasil, no início do século XX.
Era jovem e cheio de ambições.
Estreara-se no jornalismo, em Portugal, num jornalzinho de bairro: “O Garnisé”.
Como o primo fosse editor de
semanário de inspiração monarquista, passou a colaborar nele, mantendo coluna,
que assinava com o pseudónimo de: Urbano”.
A razão de não usar seu nome
nas crónicas, é simples de explicar: o jornal pertencia a movimento monárquico,
e ele era republicano, de sete costados.
Seria? Creio que era apenas um
jovem, apaixonado pelas “Letras”; o que queria, era escrever…
Empregou-se, no Brasil, no
escritório de fábrica de produto alimentício.
Como colaboradora, tinha a
filha do proprietário. Uma jovem bonita e simples. A idade; o convívio; o facto
da mãe de ambos, terem sido amigas, na infância, tornaram-se íntimos.
Dessa amizade, resultou o
casamento.
Numa das minhas estadias, a São
Paulo – em véspera de Natal, – encontrei-o no jardim da sua bela casa de Alto
de Pinheiros, junto ao canteiro dos junquilhos. Seus cabelos brancos
lampejavam, batidos pelo sol morno da manhã.
Conversamos sobre a economia do
seu querido Portugal.
De repente, encarando-me com os
seus belos olhos verdes – verdes como formosas esmeraldas, – encrustados no
rosto moreno, queimado pelo Sol, disse-me que ia revelar-me um segredo, que há
muito vivia com ele; quiçá, pensando na minha condição de rapaz pobre:
- “Sabe por que deixei de
passar a Noite de Consoada com meus cunhados?”
Aguardei a resposta. Certamente
não esperava que lha desse:
- “No início de casado – continuou caminhando pelo jardim, parando
junto à porta da garagem, – todos os irmãos reuniam-se na noite
de Natal. Era uma bonita festa! Ceávamos; conversávamos… e noite velha, chegava
o Pai Natal, com saco repleto de presentes, para as crianças.”
Neste momento fez uma pausa.
Silêncio prolongado.
- “Tudo corria bem…até
que certa vez, minha filha mais velha, interrogou-me muito agastada: “Não é
justo! Papai Noel dá-me sempre roupinha, enquanto minhas primas recebem
bicicletas! …”
Novo silêncio, ainda mais
prolongado.
- “Os meus cunhados
tinham posses. Podiam distribuir prendas caras… fiquei tão triste, que resolvi,
desde então, consoar só, com meus filhos e a Júlia…”
Neste momento a voz
embargou-se, e uma lágrima envergonhada, aflorou, deslizando suavemente, pela
face envelhecida.
Compreendi; e pensei: quantos
irmãos se separam, por essa e outras razões, como tais?
Como é difícil, para quem vive
folgadamente, entender as dificuldades dos outros! …
Quantas vezes, humilhamos, o
próximo, sem o saber?
Assim se vão afastando, os
irmãos… os primos…os parentes…
A VERDADEIRA EDUCAÇÃO
Por Humberto Pinho da Silva (Porto, Portugal)
Nunca se falou tanto de
educação como nos nossos dias, mas são poucos os que sabem educar.
Em norma confunde-se educar com
instruir.
Educa-se em casa, no seio da
família. Instrui-se na escola, com o professor.
Pais há que preferem abdicar,
deixando a difícil tarefa, à escola, o que é um erro. O professor pode ser ótimo
mestre, mas corre-se o risco de inculcar, nas mentes em formação, ideologias e
conceitos nefastos e perniciosos.
Em: " L Educantion des
Filhes" – Paris Corrêa, Mauriac, aborda e indica o que é a verdadeira
educação:
"Para muitos pais, o
essencial é, antes de tudo o mais, que os filhos estejam de saúde: é esse o
primeiro cuidado: " Estás a transpirar, não bebas ainda... Parece-me que
estás quente: vou ver se tens febre..." (...) Primeiro cuidar da saúde da
criança; depois da educação: " Põe-te direito: estás a fazer corcunda...
Não limpes o prato... Não te sabes servir da faca... Não te espojes no chão
dessa maneira.... Põe as mãos em cima da mesa! As mãos, não os cotovelos... Com
a idade que tens, ainda não sabes descascar um fruto?..." Sim, é preciso
que sejam bem-educados! E o sentido que todos nós damos a esta expressão "
bem-educados" mostra até que ponto nós a rebaixamos. O que conta é a
impressão que possam causar aos outros, ou seja, a fachada. Desde que,
exteriormente, não traiam nada do que o mundo não aceita, achamos que tudo está
a correr bem.
" Os únicos educadores
dignos desse nome - mas quantos há que o sejam? - são aqueles para quem conta
aquilo a que Barrés chamava educação da alma. Para esses, o que importa naquela
jovem vida, que lhes é confiada, não é só a fachada que dá para o mundo, mas as
disposições interiores, aquilo que, num destino, só Deus e a consciência
conhecem
A educação moral da criança, é
uma coisa importante"
O que devia interessar ao
educador, não é como disse Mouriac, a fachada, as boas maneiras, regras uteis
para viver em sociedade, mas a educação
da alma, para que cresça com solida formação moral e venha a ser útil à coletividade,
como cidadão.