quarta-feira, 1 de abril de 2020

QUE LER? COMO LER?


Por Humberto Pinho da Silva (Porto, Portugal)



Certa vez escutei o nosso Mário Soares, asseverar: “ Só os burros é que não mudam”.Logo choveu enxurrada de criticas sobre o político - considerado, pelos portugueses, como o pai da democracia, - acompanhada de ruidosos risos e sorrisos trocistas.
Não recordo, em que contexto proferiu a frase, mas, que ao longo da vida sofremos metamorfoses, é realidade incontestada.
Vamos abandonada “ conchas”, como disse Pierre Theilhard de Chardin, no caminhar pelo percurso da existência .
O convívio, a idade, a experiência adquirida, e mormente:  ler e pensar; pensar e ler, transforma-nos, “crescendo”, espiritualmente e culturalmente.
Vamos abandonando “ conchas”,obtendo visões novas, alterando o nosso Sentir” e pensar, e o modo de encarar o mundo.
Ao referir a transformação, pela leitura, não abordo só a de ensaios e romances, mas a crónicas, muitas vezes excelentes, dadas à luz, na imprensa, de vida efémera, é certo, mas merecedoras de aturada reflexão.
Ao  longo da vida, muitas vezes, mudei de parecer, influenciado pela leitura.
Refiro-me à leitura atenta, e não a realizada na escola, por obrigação; feita de espírito critico; parando a cada passo, para pensar e meditar: na frase feliz e conselho oportuno.
Leitores há - “devoradores” de livros, - que lêem tudo que a critica ou livreiro, recomenda. Em regra, premiada ( sabe-se lá como!). Lêem por distracção…ou matar o tempo…
A leitura proveitosa, que “eleva” e faz pensar, é a que passa pelo crivo da nossa critica: Concordo? Discordo? Está bem? Está mal?
A primeira leitura, de jacto, é para avaliar a obra, o enredo, se é romance: geralmente de pouco proveito.
Mas, ao reler e tresler, penetra-se no “sumo” do livro; saboreia-se a elegância, a subtileza da frase, e assimila-se, igualmente, o pensamento do escritor ou filosofo.
Não é a muita leitura, que transforma; mas assimilar o raciocínio de grandes espíritos.
Nem tudo que se edita, é recomendável, mas somente a que alimenta o espírito e eleva a alma.
Obras há, que melhor é não as ler, porque prejudicam a alma, ainda que apresentem saborosa prosa e esplêndido estilo.
Cabe a cada um, escolher ou aconselhar-se, com intelectuais competentes, de boa formação moral, para buscar os livros na floresta dos escaparates do livreiro.
Termino, desejando boa e proveitosa leitura.

PROCISSÃO


ARRANJOS


Por Pedro Du Bois (Balneário Camboriú, SC)
  

Fosse o amor

mera referência

estatística 


o beijo trocado

o expoente

no abraço dado

em divisões


o sim anunciado

em coerente resultado
  

a vida impõe

o fortuito e a doença

retém o imponderável


o cosmo e o caos

se entrelaçam

na vontade

desconsiderada.


REGRESSO


Por Pedro Du Bois (Balneário Camboriú, SC)


Não me faço cúmplice

do progresso: ao regresso

encaminho o pensamento

que resguardo das ousadias

vazias em ressignificações


ser a certeza na incultura

amadurecida em frágeis

árvores despojadas

de glórias e bandeiras

em desfraldadas hastes

de empunhadas lanças

guerreiras formas imateriais

do escondido ao progresso

na maneira correta de dizer não

e virar o rosto ao contragolpe.


VENHA!

Por Fabiane Braga Lima (Rio Claro, SP)

Quero penetrar na sua alma...

Tocar em cada parte do seu corpo.

Com meus lábios molhados

beijá-lo todo.

***

Com minha essência te deixar louco...

Venha! Venha fazer amor comigo!

Estou louca de tesão.

Com muitas sensações,

alucinam-me...

***

Não ouse dizer não!

Mata os desejos que se afloram

dentro me mim....

***

Venha! Quero beijar sua boca

lentamente mordendo seu corpo todo...

Quero gemer de dor e prazer,

Até te enlouquecer..!

O resto é contigo


Fabiane Braga Lima é poetisa em Rio Claro, SP 
 Contato: bragalimafabiane@gmail.com

NUNCA MAIS!

Por Fabiane Braga Lima (Rio Claro, SP)
  

Ainda me lembro de você!

Naquela tarde, onde me sentia

angustiada e delirava….

***

A lua me fazia companhia.

Existia um imenso vazio,

um vácuo dentro de minha Alma...

***

Este vazio me acompanhava,

sempre!

Quis correr tantas vezes..

Pois sua maldade me enojava!

Mas nunca consegui fugir...

Sempre foi um homem sedento

de maldade...

***

E eu inerme! Totalmente desarmada!

Pedindo aos deuses

para que fosse indolente…

Para que meu corpo,

não sentisse a dor da maldade...

***

De um homem cruel que resignei-me

sem saber de sua crueldade...!

Nunca mais


Fabiane Braga Lima é poetisa em Rio Claro, SP
Contato: bragalimafabiane@gmail.com

APÓS A NOVELA

Por Vivaldo Terres (Itajaí, SC)



Após a novela de banho tomado,

Te deitavas no leito fingindo dormir,

Mostrando a nudez desse teu corpo lindo,

E de minuto a minuto chamavas por mim.

***

E eu ocupado na escrivaninha,

Escrevendo versos de amor

Que não eram pra outras, e sim para ti...

Não via a hora de terminar a inspiração,

Para em teus braços eu me comprimir.

***

Pois sentia o perfume de todo o teu corpo,

Fragrância divina que vinha de ti,

Nesses minutos de santos e puros desejos,

Eu não via a hora de te possuir.

***

Após o trabalho por mim terminado,

Eu também fingia que estava a dormir,

Sabendo que estavas loca de desejo...

E eu já no leito, chamavas por mim.

***

E de repente num súbito instante,

Não mais podendo resistir...beijei tua boca,

Acaricie teus seios

E te penetrei tal, o desejo que havia em mim.

***

Beijei o teu sexo molhado,

Sugando o liquido extraído de ti,

A cada carícia no mesmo exercido...

Embora se não quisesses,

Não terias como resistir.

***

Aquela noite foi maravilhosa,

Extraímos todo desejo...

Que em nós existia, acordamos exaustos...

Com o sol na janela avisa



Vivaldo Terres é poeta em Itajaí, SC 
Contato: vivaldo.itj2@gmail.com

MEU CONTÍNUO ATO

Por Samuel da Costa (Itajaí, SC)

  Fico eu a pensar...
 Nas minhas utopias.
E na nova geração que já não sonha mais!
E pensar nas múlti-plas razões...
Do meu contínuo...
Ato de escrever!
Textos que ninguém vai compreender.
Ai vem o desejo...
De revisar os meus textos!
E lembro-me também de ‘’re-visitar’’
Meus antigos mestres já mortos!
Então ensaio o meu Adeus às Armas!
Eu não consigo!
Ensaio o meu Motim!
Eu não consigo!
Ensaio o meu Boy-cote!
Eu não consigo!
Ensaio a minha Greve de fome!
Eu não consigo!
Ensaio o meu Retorno à vida.
 Eu não consigo!   
Ai tento escrever algo novo...
Eu não consigo!
Tento viver outra vida!
Eu não consigo!
Tento novos hábitos!
Eu não consigo...
Tento novos padrões de consumo!
Eu não consigo!
Tento ficar sozinho...
Eu não consigo!
Tento quebrar o silêncio sepulcral!
Em mim...
E não consigo!
Tento entender as pessoas!
Eu não consigo!
Tento compreender- te...
Eu não consigo!
Tento me esconder de ti...
Eu não consigo!
Tento te esquecer por completo...
Eu não consigo!
Ensaio me entender...
E eu não consigo!

  Samuel da Costa é poeta em Itajaí, SC.



INCENTIVE AS MULHERES NEGRAS


Por Clarisse da Costa (Biguaçu, SC)

A mulher negra precisa de alto confiança. Para isso acontecer ela precisa de espaço e reconhecimento. Acima de tudo muitas mulheres buscam o seu respeito e sair do cenário ‘’mulher objeto sexual’’, ao qual a sociedade insiste em colocá-la. Nos últimos meses temos visto mulheres negras em grandes cargos e outras lutando pelo seu espaço. É necessário que isso se propague, que essa mulher sinta-se acolhida e respeitada pelos seus.
Mulheres negras podem e devem ir além do quadro empregada doméstica. Não estamos mais no período escravocrata onde a vida da mulher negra era resumida em trabalhos domésticos, ama de leite e o objeto sexual do senhor de escravos. Vamos incentivar as nossas mulheres negras de tal forma que elas se sintam capazes de enfrentar qualquer obstáculo, incentivem seus trabalhos, apoiem e compartilhem. Não deixem no anonimato essas mulheres e suas histórias de luta e resistência.
Mas esse papel de apoio não se deve somente ao homem e o núcleo familiar dessas mulheres, nós mulheres também temos que nos apoiar. Nada de críticas e julgamentos. Ninguém nasce pronto para vida e cresce um ser perfeito. A gente vai crescendo na medida em que a gente vai avançando.

Clarisse da Costa é cronista e poetisa em Biguaçu SC
Contato: clarissedacosta81@gmail.com  



A FALTA DE ACESSIBILIDADE E SENSIBILIDADE


Por Clarisse da Costa (Biguaçu, SC)

Primeiro, que você perde toda a sua mobilidade; segundo, que você vê a sua vida parar e depois de toda transformação você se vê parado novamente, pois os amigos te abandonam. As pessoas começam te tratar de forma diferente, em algumas pessoas é visível ver essa indiferença através do olhar. Outras simplesmente querem saber o que houve com a sua pessoa e começam a falar de Deus como se o tempo todo você pensasse acabar com a sua vida. Algumas vezes parece que somos anormais, não porque nos achamos anormais e sim porque as pessoas nos tratam assim.
Já tive taxista que recusou a minha corrida. E isso é algo decorrente com qualquer pessoa que tenha problemas físicos. Então você caminha pela cidade e não se sente incluso e vê que muitas pessoas são excluídas pela sociedade e autoridades. Não há acessibilidade e nem sensibilidade. Você tem o direito à vida, mas não o direito de viver. O seu espaço de vida se limita do quarto até a sala. Mas essa condição não é você que impõe e sim a sociedade.
O ser humano busca entender e conhecer aquilo que lhe convém. Então o deficiente físico geralmente fica de lado. Aí vêm aqueles questionamentos que muitas vezes é uma ofensa para nós e nos machucam. Dói na alma.
— Você consegue fazer sexo com esse seu problema?
— Você consegue namorar de mãos dadas?
— Como você faz para beijar na boca?
O que falta para o ser humano é se colocar no lugar do outro. Eu sou o estranho para você, mas o contrário do que pensas o estranho é você mesmo.

Clarisse da Costa é cronista e poetisa em Biguaçu, SC
Contato: clarissedacosta81@gmail.com 


AMO-TE

Por Fabiane Braga Lima (Rio Claro, SP)



Mas nunca esteve comigo....

Acho que foi imaginação,

Mas doí demais no peito...

***

Parece um tormento!

Me destruiu em segundos,

Me faz ficar em silêncio...

***

Tornou-se uma cicatriz

Sei como arde...

Peço a Deus que feche!

Esta ferida criada pelo tempo...

***

Mas vou reerguer-me

Lembrarei de todo o amor vivido

Quero viver!

Apesar de todo sofrimento....

***

Lembrarei dos belos momentos

Te eternizarei guardado comigo

Dentro do peito....

***

Mas,

Alma minha requer

Demais, este aconchego…!


Fabiane Braga Lima é poetisa em Rio Claro, SP

 Contato: bragalimafabiane@gmail.com

MANIFESTO


 Por Urda Alice Klueger (Palhoça, SC)


                                    Saibam todos que, nesta data, coloquei no correio carta registrada dirigida à presidência do Instituto Histórico e Geográfico de Santa Catarina, pedindo o meu desligamento do mesmo.
                                    Pertencia a ele desde 22 de novembro de 1991, quando para ele fui indicada pelo queridíssimo embaixador Licurgo Costa, quase centenário então, coisa que naquele momento me encheu de prazer e de admiração e esse pertencimento muitas vezes fez com que o citasse com grande alegria. Este tempo de três décadas que desde então transcorreu, no entanto, foi aos poucos fazendo com que eu olhasse para o referido Instituto com olhos de maior clareza, até chegar a esta data, quando já me é muito incômodo pertencer a tal entidade sem me sentir bastante ferida por ali estar.
                                    Vejamos o que acontece: o Instituto Histórico e Geográfico de Santa Catarina, mesmo sendo uma entidade mais que centenária neste Estado, bem como outras agremiações que por aqui existem, com mui raras exceções, compõem-se de reuniões de homens brancos, muitos deles de viés fascista, onde não se vê o amanhã. É uma sociedade solidária que vive das glórias do passado, tendo pouquíssimos elos entre o passado e o presente e onde quase nada se vislumbra em direção ao futuro. A cada ano faz-se uma série de reuniões e/ou atividades com pessoas escolhidas dentro do espírito machista, patriarcal, ultraconservador, não-transversal, apresentando as histórias dos heróis e da elite, onde o povo aparece muito pouco e a mulher aparece quase nada, em reuniões estanques, onde se abordam só determinados períodos da História e muito pouco da Geografia. São os membros do Instituto os donos do conhecimento institucional, nada (ou muito pouco) fazendo para criar caminhos para o futuro através de diálogos com a juventude e inserção nos campos escolares.
                                    Neste momento em que vivemos envoltos em brumas, escapando-se delas e bradando em voz alta pelas ruas a cadela do fascismo, não vi nenhuma iniciativa do Instituto Histórico e Geográfico de Santa Catarina no sentido de combater tal barbaridade (como outras entidades já o fizeram), pois para tal doutrina não há meio termo ou tolerância: com fascistas não há diálogo, mas combate. Não se trata de se respeitar pensamentos diversos, mas da própria sobrevivência do que de humano há em nós.
                                    Qual a importância de quem não dialoga com o mundo? Para que serve um Instituto Histórico e Geográfico que se fecha sobre si mesmo e só permite a palavra dos que lhe interessam? Em que momento da História que se perdeu a oportunidade de trazer a construção intelectual política, geográfica e territorial de Santa Catarina para que tais campos dialogassem com a sociedade contemporânea? Que se respeite a sociedade, que seja ele um local de conclaves abertos e não apenas de convidados que vão fazer a fala que o Instituto quer. Há que haver um espaço aberto para todos, para as mulheres, para os negros, para os caboclos, para os indígenas, para os LGBTs e a outras fatias da sociedade porventura existentes. Tal não há, no entanto, e se mantém o Instituto Histórico e Geográfico impassível diante de um futuro que já chegou, e quando não se dialoga com o futuro, está-se fadado a morrer.
                                    Não quero estar para esse triste momento fúnebre, no entanto. Assim, nesta data, tomo a iniciativa de me separar do mesmo.

                                    Palhoça, SC, 05 de Março de 2020.
Urda Alice Klueger
Escritora, historiadora e doutora em Geografia pela UFPR.

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