Por Urda Alice Klueger (Palhoça, SC)
Saibam todos
que, nesta data, coloquei no correio carta registrada dirigida à presidência do
Instituto Histórico e Geográfico de Santa Catarina, pedindo o meu desligamento
do mesmo.
Pertencia a
ele desde 22 de novembro de 1991, quando para ele fui indicada pelo
queridíssimo embaixador Licurgo Costa, quase centenário então, coisa que
naquele momento me encheu de prazer e de admiração e esse pertencimento muitas
vezes fez com que o citasse com grande alegria. Este tempo de três décadas que
desde então transcorreu, no entanto, foi aos poucos fazendo com que eu olhasse
para o referido Instituto com olhos de maior clareza, até chegar a esta data,
quando já me é muito incômodo pertencer a tal entidade sem me sentir bastante
ferida por ali estar.
Vejamos o
que acontece: o Instituto Histórico e Geográfico de Santa Catarina, mesmo sendo
uma entidade mais que centenária neste Estado, bem como outras agremiações que
por aqui existem, com mui raras exceções, compõem-se de reuniões de homens
brancos, muitos deles de viés fascista, onde não se vê o amanhã. É uma
sociedade solidária que vive das glórias do passado, tendo pouquíssimos elos
entre o passado e o presente e onde quase nada se vislumbra em direção ao
futuro. A cada ano faz-se uma série de reuniões e/ou atividades com pessoas
escolhidas dentro do espírito machista, patriarcal, ultraconservador,
não-transversal, apresentando as histórias dos heróis e da elite, onde o povo
aparece muito pouco e a mulher aparece quase nada, em reuniões estanques, onde
se abordam só determinados períodos da História e muito pouco da Geografia. São
os membros do Instituto os donos do conhecimento institucional, nada (ou muito
pouco) fazendo para criar caminhos para o futuro através de diálogos com a
juventude e inserção nos campos escolares.
Neste
momento em que vivemos envoltos em brumas, escapando-se delas e bradando em voz
alta pelas ruas a cadela do fascismo, não vi nenhuma iniciativa do Instituto
Histórico e Geográfico de Santa Catarina no sentido de combater tal barbaridade
(como outras entidades já o fizeram), pois para tal doutrina não há meio termo
ou tolerância: com fascistas não há diálogo, mas combate. Não se trata de se
respeitar pensamentos diversos, mas da própria sobrevivência do que de humano
há em nós.
Qual a
importância de quem não dialoga com o mundo? Para que serve um Instituto
Histórico e Geográfico que se fecha sobre si mesmo e só permite a palavra dos
que lhe interessam? Em que momento da História que se perdeu a oportunidade de
trazer a construção intelectual política, geográfica e territorial de Santa
Catarina para que tais campos dialogassem com a sociedade contemporânea? Que se
respeite a sociedade, que seja ele um local de conclaves abertos e não apenas
de convidados que vão fazer a fala que o Instituto quer. Há que haver um espaço
aberto para todos, para as mulheres, para os negros, para os caboclos, para os
indígenas, para os LGBTs e a outras fatias da sociedade porventura existentes.
Tal não há, no entanto, e se mantém o Instituto Histórico e Geográfico
impassível diante de um futuro que já chegou, e quando não se dialoga com o
futuro, está-se fadado a morrer.
Não quero
estar para esse triste momento fúnebre, no entanto. Assim, nesta data, tomo a
iniciativa de me separar do mesmo.
Palhoça, SC,
05 de Março de 2020.
Urda
Alice Klueger
Escritora,
historiadora e doutora em Geografia pela UFPR.
-
Este Manifesto só poderá ser publicado na sua íntegra, ficando proibida a
divulgação de apenas parte do mesmo.
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O mesmo está sendo divulgado no meu Facebook e também para os grupos que
mantenho na internet, e que são compostos por leitores, amigos ou órgãos de
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-
Este Manifesto também está sendo enviado para as seguintes entidades ou
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