quinta-feira, 1 de julho de 2021

TOMAZ ANTONIO GONZAGA

 Por Humberto Pinho da Silva (Porto, Portugal)




Vou-vos contar um grande amor, que deu origem a belo livro de poesia, entre portuense e gentil menina mineira, cuja primeira edição veio a lume, em 1792.

Apesar do poeta mostrar-se apaixonado pela jovem de dezoito anos, não obstou que viesse a casar com senhora, um pouco boçal, filha de mercador de escravos.

Refiro-me a Tomaz Gonzaga, ouvidor de Vila Rica, que participou na conspiração, que ficou conhecida por: “Inconfidência Mineira”, cujo fim era implantar o regime republicano.

Movimento revolucionário, que todos os brasileiros conhecem. Será que conhecem? Creio que sim, apesar de alguns factos históricos serem, em quase todas as nações, propositadamente esquecidos ou encobertos.

Quem era Tomaz Gonzaga, que muitos julgam ser brasileiro?

Nasceu na cidade do Porto, em 1744, filho de brasileiro e de portuense, batizado na igreja de S. Pedro de Miragaia.

 

 

Igreja de Miragaia onde foi baptizado o poeta Tomaz


 Consta, o seguinte, no livro de Registos Paroquial, do dia 2 de Setembro do ano de 1744:

 

Thomaz filho do Licenciado João Bernardo Gonzaga e de Dona Thomazia Isabel Gonzaga, moradores na rua dos Cobertos desta freguezia, nasceo a onze de Agosto de mil sete centos e quarenta e quatro, e foy por mim baptizado a dous de Setembro do mesmo anno, sendo padrinho o Reverendo Domingos Teyxeyra de Abreu, digo Domingos Ferreyra de Abreu assistente na Cidade de Lisboa; tocou por elle com procuração o Reverendo Licenciado Antonio de Deos Campos Conego Mageatral da Sé desta Cidade; e tocou também o menino o Doutor Desembargador desta rellação João Barrozo Pereyra assistente na rua dos Ferradores, da freguezia de Santo Illdefonço suburbio desta Cidade; forão testemunhas as abaixo comigo assinadas desta mesma freguezia; e por verdade fis este assento, que assiney hera ut supra.

 

O Abbade Manoel da Cruz, O Pº. Raymumdo Darque, Antonio Gomes de Castro”

 

 

Trecho de Miragaia, Porto, Portugal

 

Tomaz Gonzaga (Dirceu) embarcou com o pai, para o Brasil com oito anos. Era ouvidor em Vila Rica (andava pelos 45 anos) quando se apaixonou por delicada menina de 18, rica e órfã: Maria Joaquina Doroteia de Seixas Brandão (Marília).

Nos versos que escreveu, versos de amor, deixa a dúvida, a quem os lerem, que não tinha a certeza da cor dos cabelos de sua amada: umas vezes diz que são pretos; outras vezes louros…

Apesar da enorme diferença de idade, parece que havia, entre os namorados, grande e mutuo afeto.

O certo é, que se envolveu na preparação da revolta contra a Monarquia, inspirada nas ideias democratas, que José Joaquim da Maia, difundiu influenciado por ideologias, em voga, nos Estados Unidos. 

Argumentavam os conspiradores, que a razão eram os demasiados impostos, que a Coroa impunha aos mineiros. Denunciados, foram presos e condenados: uns a prisão; outros à morte. Passava-se isto em 1787-89.

A rainha perdoou-lhes a pena capital, comutando-a em degredo, menos ao Tiradentes, como se sabe.

Tomaz Gonzaga, depois de passar pela prisão da ilha das Cobras, no Rio de Janeiro, foi para Moçambique, onde viria a casar com D. Juliana de Sousa Mascarenhas, senhora de abastada fortuna, filha de mercador de escravos. Do enlace nasceram: a Ana e Alexandre Mascarenhas Gonzaga.

Consta que advogou e levou vida abastada. A menina mineira (Marília) ainda o foi visitar – dizem que engravidou, –, que leva a crer que o amor dela era mais sólido.

Tomaz Gonzaga (Dirceu) faleceu em 1807. Maria Joaquina (Marília) ainda viveu até 1853, e está sepultada em Ouro Preto. Em 21 de Abril de 1955, foi transladada para o Museu da Inconfidência.

 

 


Casa onde viveu o poeta, em Ouro Preto, MG.

 

 

 

 

 


 

 

ACADEMIA MARANHENSE DE CIÊNCIAS, LETRAS E ARTES MILITARES



Por Coronel Furtado (São Luís, MA)

ACADEMIA MARANHENSE DE CIÊNCIAS, LETRAS E ARTES MILITARES

 

A AMCLAM é o primeiro sodalício misto fundado no país que integra policiais e bombeiros militares cientistas sociais, escritores e artistas (plásticos, compositores, músicos e outras habilidades), associados à civis que com as Instituições PMMA e CBMMA mantém laços fraternos, possuidores também de habilidades nas letras (a maioria imortais de outros sodalícios) e que surgiu das ideias do Coronel PMMA Carlos Furtado.

 Tem como objetivos: 1) estimular, reconhecer, fomentar e valorizar a literatura e as artes em todos os níveis; 2) incentivar e motivar os militares estaduais na produção de obras técnicas-profissionais, literárias e artísticas; 3) promover parcerias constantes e fraternas com as instituições e sodalícios da literatura e da arte; 4) intercambiar com centros de atividades culturais brasileiros e internacionais; entre outros.

Integram a AMCLAM:

·      Militares: Coronéis Furtado, Maciel, Sousa, Luongo, Jesus, Honório, Bastos e Diniz; os Tenentes Coronéis Lopes, Frank, James e Marco Aurélio; o Major Roberto; os Capitães Lobato, Afonso e Zenkner; o Subtenente Francisco Rodrigues; os Sargentos Frazão e Ebnilson.

·      Civis: O Desembargador Federal Alberto Tavares; o Desembargador Estadual Castro; o Juiz Federal Roberto Veloso; os Procuradores de Justiça Raimundo Marques e Teodoro; os Promotores de Justiça Clésio e Paulo Avelar; o Delegado de Polícia Civil Márcio Araújo; os Professores Universitários José Olímpio, Marialva, Laércio, Vera e José Augusto; o Advogado Jadson e o Padre Meireles.

Os Patronos das cadeiras são personalidades que deixaram verdadeiros legados à geração atual, através de grandes feitos e relevantes serviços à sociedade maranhense e brasileira, com destaque para o Brigadeiro Falcão, militar de inúmeras qualidades que foi o primeiro Comandante do Corpo Policial da Província do Maranhão, gênese da atual Polícia Militar do Maranhão; Monsenhor Hélio Maranhão; o Alferes Tiradentes - Patrono das Polícias Militares; Dom Pedro II – Patrono dos Corpos de Bombeiros, Duque de Caxias – Pacificador do Maranhão e outros.

A AMCLAM tem contribuído com projetos de alcance social: doação de livros para bibliotecas comunitárias, oficinas para projetos quilombolas, concurso de redação para alunos dos colégios militares, concurso de poesias e seus integrantes já lançaram diversas obras literárias, técnicas, artes plásticas e composições musicais.

Localizada na ilha do Amor – São Luís do Maranhão, a “Athenas Brasileira”, a AMCLAM foi fundada em 31/05/2018, a Casa do Brigadeiro Falcão é presidida pelo Coronel da reserva remunerada da Polícia Militar do Maranhão, Carlos Augusto Furtado Moreira.

 

Visite o site: www.amclamma.org

Interaja com as redes sociais: instagram, Facebook e WatsApp (98) 991926747

 


 

POR QUE ENVELHECEMOS? FINAL DE CICLO, MAGIA DO REINÍCIO OU GRATIDÃO?

 

Por Edimilson Eufrásio (Americana, SP)

 

De modo geral, as pessoas  temem a chegada da velhice. A idade vai chegar um dia, não tenha dúvida, e como vai chegar para aqueles que não partirem prematuramente. A preocupação sempre é para com a saúde. Todos dizem que gostariam de envelhecer saudável e conscientemente. Todos, indistintamente, clamam por saúde.

Acontece que nem todos têm o privilégio de envelhecer saudável ou consciente de suas ações. Às vezes, a vida surpreende e inesperadamente, como num passe de mágica, a velhice chega e a pessoa não se preparou ou não está de forma como idealizou. Daí, vêm as consequências que são inevitáveis: preconceitos, indiferenças, rejeição, constrangimentos, dependências, dentre outros sentimentos nada nobres que deixam o idoso com complexo de inferioridade.

Independentemente da situação, o subconsciente de quem envelhece estará ativo e saberá de tudo o que acontece ao seu redor e, como a uma câmera de captação de imagens e sons, registrará tudo. Nessa fase, em geral, todo ser humano se auto define como a um trapo humano, encosto, objeto sem valor, uma sucata qualquer, ser desprezível, e sua consciência, no dia-a-dia, exibirá as cenas de sua existência. Virá à consciência saudade e remorso.

Saudade de tudo o que viveu, sonhos realizados, vontades divididas, desejos ardentes, paixões, viagens, restaurantes, momentos de luxo e da partida de entes queridos e consequente vazio.

Remorso por tudo aquilo que deixou de fazer, de se arrepender, de pedir perdão, de ter ajudado alguém, de ter amado, de ter dividido o pão, de ter estendido a mão a algum amigo, de ter chegado antes de um fato triste ou trágico, tentando salvar alguém, das pessoas que fez infelizes e por ter acumulado tanto ódio e vingança em seu coração.

Estar na velhice não significa ser velho, imprestável, mas, sim, que cumpriu missões e que se prepara à despedida deste plano, que serviu de leito ao descanso e aos sonhos de toda a vida. Ser velho é ser sábio, maduro, experiente; é sentir missão cumprida e que tudo valeu a pena. Todos aqueles que chegam na fase da velhice são privilegiados, sortudos pois nem todos conseguem esse prêmio. São os denominados “escolhidos”.

Agradeça se estiver entre esses “escolhidos” e procure aproveitar o máximo do crepúsculo de sua existência. Se orgulhe de seus cabelos brancos e respire o ar com humor e alegria, compartilhando os seus ensinamentos com todos quanto for possível. Lembre-se de que o mais importante de tudo que viveu, foi o prazer de servir e não de ser servido.

É evidente que nem todos chegam na velhice com lucidez e com todos os órgãos em perfeito estado. Alguns chegam inconscientes, farrapos e não mais são donos de suas vontades. Mas nada mais importa. Até para morrer ou fazer a sua passagem de um plano para outro, é preciso ter dignidade e disciplina.

Na opinião de alguns, Deus é injusto com o ser humano. Primeiro porque oferece saúde, vida, riqueza, bens materiais, paixões, iludindo com as maravilhas do mundo e, no final da vida, os expõe ao ridículo e às humilhações, cobrindo de rugas, com deficiências de órgãos, jogando à cama sem poder se movimentar, tirando sonhos e desejos e, depois, os restos mortais com destino a uma vala como se fosse material qualquer e sem importância. 

Uma senhora cansada e marcada pela vida, também emite sua opinião sobre a velhice. Segundo ela, Deus num momento final e crucial de nossas vidas, nos tira a memória para que não nos lembremos de nada do que fizemos de bem ou ruim. Essa seria uma ajuda para que a passagem seja feita de forma tranquila e pacifica no momento determinado pela Justiça Divina.

Como poeta, acredito na pluralidade de almas e planetas e que necessitamos da vida material para avançar rumo à evolução espiritual. A fase da velhice é a melhor fase da vida, na qual o ser humano faz suas reflexões e análises profundas.

É nessa fase que a consciência se depara com sentimentos os mais diversos, inclusive a saudade que inflama o coração e o peito em razão das lembranças. Certamente, é maravilhoso sentir o dever cumprido, o prazer de deixar um legado que se perpetue às futuras vidas e gerações. A velhice, ou a melhor idade, é a fase de preparação para a despedida do planeta e dos ajustes finais da existência terrena. É importante estar sempre ligados com o Universo para que, na hora determinada, sejamos acolhidos em festa por todos os mensageiros divinos ou anjos como querem e acreditam os espiritualistas.

O poeta imortal que é, transcende o imaginário, viaja nas emoções e sensações, vê a velhice como magia, algo extraordinário, obra-prima da divindade e oportunidade única de prestar contas; é fase das considerações finais, ou seja, de findar um ciclo e iniciar outro, para que a vida tenha continuidade e evolua sempre.

O mais importante de tudo nessa passagem pela vida é o respeito que se deve ter para com cada ser humano, independentemente de sua idade ou da fase em que se vive. É evidente que, cuidando dos idosos, somos gratos e retribuímos todo amor que recebemos durante nossas vidas. A gratidão enobrece o ser e o credencia para novas lutas e conquistas que virão.

Como o Universo retribui tudo o que se faz, certamente, e pela lei do retorno, quando envelhecer, todos estarão às nossas voltas e poderemos sentir o mesmo amor que um dia oferecemos. Assim, de maneira digna, poderemos fazer a passagem desta para outra vida superior! E para finalizar devemos fazer as perguntas básicas: Por que envelhecemos? Final de ciclo, magia do reinicio ou gratidão?


QUANDO A VELHICE CHEGAR

 

Por Edimilson Eufrásio (Americana, SP)

 

Um dia, ao acordar e se olhar no espelho

Vai perceber que seus cabelos que eram grisalhos estão mais brancos

Ou prefere dizer mais grisalhos?

Que as rugas estão florescendo

Que a face está mais cansada

Que o corpo está no limite das forças

É o momento de olhar e refletir sobre o reflexo do espelho

Tudo que se viveu até aqui

Talvez surja algum arrependimento

Talvez sinta um vazio, uma saudade

Talvez uma dor de amor que partiu, calafrios

Lembranças ecoam no pensamento

Sem perceber, uma lágrima...e outra lágrima

E o pranto, inevitavelmente, inunda a alma

Aí começa-se a questionar se tudo valeu a pena

 

Quando a velhice chegar, não hesite em agradecer

É um privilégio para poucos, apenas para os escolhidos

Almas iluminadas que, dotadas de dons divinos,

São coroadas e abençoadas com a longevidade

Vivamos, assim, a cada instante como se esse fosse o último respiro

Sorria constantemente, como se a alegria fosse o alimento

Que o sacia em todos os dias, deixando-o empanturrado

Mergulhe de cabeça na felicidade, sem medo do futuro

O amanhã é imprevisível, um mistério

O segredo é se entregar, de corpo e alma, nas emoções e no prazer

É sentir o perfume da flor de hortelã

É ouvir o canto dos pássaros nas manhãs

Sobretudo, o segredo é se desvencilhar, renunciar, perdoar,  

        Proceder, sempre, às boas ações

 

Sinta as vitórias, mesmo que pequenas, obtidas no passado

Que tudo não foi tão difícil como se imaginava

Que as lutas não foram em vão como pensava

Que foi possível deixar um legado

Momento de acenar para o infinito e agradecer  

            Porque tudo indica que foi escolhido

Ah sim, aproveite para curtir os cabelos brancos

Sinal de que o tempo passou, ensinou a distribuir amor 

             e a ser humilde, realizar boas ações

Talvez, esteja na hora de começar a arrumar as malas

Se preparar para a mais longa, duradoura e, talvez, a mais bela das viagens!

Já pensou sobre o que levar na bagagem?

 

(Edimilson Eufrásio é natural de Americana, SP. Pertence à Academia Jahuense de Letras – AJL/SP; à Academia de Letras e Artes de Praia Grande -ALAPG/SP; ao Clube Literário de Gravataí/RS – CLG; e à CONCLAB/CONINTER - Confederação de Ciências Letras e Artes do Brasil/Conselho Internacional dos Acadêmicos de Ciências, Letras e Artes, Cadeira 92)

O ESFORÇO DE MIGUEL

 

Por Dias Campos (São Paulo, SP)

 

            A expectativa pelo primeiro filho traz sempre muita alegria.

E quando o sexo do bebê era o desejado pelos cônjuges, então o júbilo de que são tomados aproxima-se do imensurável!

Dois casais de hábitos e culturas distintas experimentariam essa ventura.

Na madrugada, um menino cabeludo e chorão iria abençoar palestinos estabelecidos em Jerusalém Oriental, cujo arrimo dedicava-se ao comércio de tecidos.

Até o seu nascimento, porém, os constantes enjoos, a suscetibilidade exacerbada e os desejos estapafúrdios da jovem mãe deixariam o marido de cabelos em pé!

A par disso, como anelassem um futuro próspero e feliz para a criança, resolveram chamá-lo Omar, que significa o que tem vida longa.

Três anos depois, no badalado balneário de Eilat, à beira do Mar Vermelho, uma linda menina traria alegria ao seio de uma abastada família israelense dedicada ao ramo hoteleiro.

Mas como a gravidez tornou-se de alto risco, seus pais prometeram que se o feto vingasse, o nome que escolheriam seria uma homenagem àquilo que mais prezavam.

E depois de oito meses e meio de extremosos cuidados e de fervorosas orações, deram-lhe o nome de Chaya, cujo significado é vida.

Omar e Chaya cresceriam envolvidos em desvelos, bons costumes e muito estudo; tudo visando a que se tornassem cidadãos íntegros e úteis à sociedade.

É claro que, lá no fundo, assim como os pais de Chaya imaginavam-na assumindo a rede de hotéis, ampliando-a a cada ano, e tornando-se uma das mulheres mais ricas do país, assim os de Omar desejavam que o filho herdasse o lucrativo estabelecimento, administrasse-o com a habilidade dos que dominam essa arte, e merecesse respeito e admiração entre o seu povo.

No entanto, seja porque os esposos tivessem uma mente mais aberta, flexível, seja porque a independência e a determinação das crianças ficassem evidentes desde tenra idade, seja, enfim, porque as asas de Miguel guiassem os seus protegidos antes mesmo de nascerem, o fato é que tanto Omar quanto Chaya não quiseram seguir as profissões que lhes estavam asseguradas.

Sendo assim, depois de prestar o serviço militar, Chaya foi estudar medicina. A vida queria ajudar a salvar tantas vidas quanto pudesse.

Omar, por seu turno, preferiu a nutrição. Aquele que tem vida longa desejava prolongar a vida de quantos o procurassem.

Não obstante, os pais de Chaya tinham esperança de que ela clinicasse em Eilat. Até ofereceram-lhe um consultório deslumbrante, equipado, inclusive, com secretária!

Da mesma forma, os pais de Omar não queriam perder o convívio com o filho. Para isso, já tinham engatilhada a compra de um belo apartamento, em uma das ruas mais movimentadas de Jerusalém Oriental.

Mas o destino é por vezes insopitável; quando não, desgostoso.

E Omar e Chaya mudaram-se para Holon, a sudeste da gigante Tel Aviv.

A cidade recebeu-os de braços abertos. E eles retribuíam dando o melhor de si.

Até que, certa tarde, o esplendor da auréola de Miguel “cegou-lhes” a visão, fazendo com que os desavisados trombassem na rua.

E tão logo Omar levantou Chaya, que caíra ao chão com o impacto, ouviu-se um magnético silêncio...

Nem se precisaria dizer que se os olhos do nutricionista brilharam ao fixarem aquela face angelical, os da médica rebrilharam ao se deterem naquele belo rosto trigueiro.

E depois dos recíprocos pedidos de desculpas, em que ela culpava-se por ser distraída, e ele, por ser desatento, Omar não se fez de rogado e pediu-lhe o número do celular.

Chaya não só o repassou como também deixou subentendido que gostaria muito que ligasse.

E porque ambos não mais tivessem compromissos, combinaram de se encontrar naquela mesma noite.

Chaya estava graciosa! Omar, contudo, vestira uma camisa berrante.

Fosse como fosse, tanto a israelense quanto o palestino nenhuma importância deram aos históricos entraves que se interpõem entre pessoas de diferentes nacionalidade e religião, uma vez que o sentimento que os atraía naquele momento era irresistível!

Os pontos mais animados da conversa foram as carreiras que abraçaram e os significados dos próprios nomes.

Mas o ápice do encontro aconteceu, mesmo, quando os olhos celestes testemunharam um delongado beijo...

Depois de alguns meses, Chaya e Omar decidiram comunicar o namoro aos pais.

E se é verdade que uns e outros exultaram com a possibilidade de se tornarem avós no futuro, também é exato afirmar que, no presente, encheram-se de orgulho ante a maturidade demonstrada por seus herdeiros, que puseram o amor muito acima de qualquer questão ou preconceito.

Passada uma semana, Chaya ligou para o namorado e perguntou se ele gostaria de comer pizzas e bater papo com um casal de amigos da obstetrícia.

Omar ficou surpreso, pois ainda era terça-feira!

Mas acabou sucumbindo àquela manha que tão bem o convencia.

Chegaram à noite ao prédio onde moravam os médicos.

E como a fome apertasse, as pizzas vieram em seguida.

Com efeito, a reunião caminhava para que o encontro fosse a primeira de muitas, tamanha a harmonia que ali reinava.

No entanto, nem a hierarquia de Miguel teria o condão de prever que a paz reinante sob o céu recamado fosse tão barbaramente aviltada...

De repente, uma chusma de mísseis, vindos da Faixa de Gaza, desabou sobre Holon!

E o prédio onde estavam Omar e Chaya desabou.

Algum tempo depois, estourou o revide dos atacados!...

E o bombardeio retaliativo impôs mais destruição, e muito mais vítimas.

Agora, quando as partes em conflito contam e enterram os seus mortos, ao arcanjo Miguel, que jamais desistirá da Humanidade, nada mais resta senão recolher os seus protegidos, consolar os que choram, e orar pelos que ainda se odeiam, na esperança de que algum dia venham a se amar.


(Dias Campos é romancista, cronista e contista, possui diversos títulos e prêmios literários. Reside em São Paulo, SP)

 

EU E AUGUSTO DOS ANJOS

 Por Miranez Matias do Vale (Olinda, PE)


Medíocres estrofes que meu cérebro gera,

Da heterogeneidade segue o colossal

Na forma metódica doravante fera,

Rumo ao paradoxo deste Universal.

Senti plasmas púrpuras suaves fluentes

Aromas envolvidos galáxias

Em névoa fluídica e áurea luzente

Em metamorfose forte aspirais

Libertino êxtase notei, flutuava.

Na amplidão do nada, mas com igualdade.

Porção litosférica onde me encontrava

Estive inserido na complexidade.

Logo percebi junto a mim pairava

Numa estranha forma enormes papiros

Hora que minh'alma ali recordava

Doutos postos rolos em Sinédrios giros.

 

Sem compreender a exatidão

Visões multicores que favorecia,

Nestes fragmentos da composição

Acéfala de célula que se desfazia.

Bela e tão afável surpresa brotava

Refolhos incônditos neste visual

Ectoplasma, os fótons visualizava

Profundezas idóneas, seio universal.

 

 

                                                                         (Olinda,PE, 19.06.1974)


 

 

 




QUEM SOU EU?

Por Miranez Matias do Vale (João Pessoa, PB)

 

Queres saber quem sou eu?

Eu te direi. Não sou nem grande

Nem pequeno, nem largo nem profundo.

Eu sou o iodo, eu sou o fósforo, eu sou o ferro,

Queres saber quem sou eu?

Eu te direi.                  

Eu venho da composição dos minérios

Das partículas do cálcio, do sódio, do magnésio,

Do nitrogênio, do carbono, do hidrogênio,

Do cloro, do barro, da água, do oxigênio,

Queres saber quem sou eu?

Eu te direi.

Eu venho da mistura desses elementos

Do potássio, do enxofre, hoje sou gente,

Eu venho do amor de dois, quando dois tira um

Fica três.

Queres saber quem eu sou?

Eu te direi.                  

Eu sou espírito, sou plasma, sou mortal,

Eu sou passado, sou presente, sou futuro,

Nasci da Composição do amor

Do sopro Divinal do Criador

Queres saber quem eu sou?

Eu te direi.


(João Pessoa,PB, 14 de março de 2021)


CORDEL DO SÃO JOÃO

Por Gustavo Dourado (Taguatinga, DF)

 

No São João de hoje em dia

Tudo está muito mudado

Tem show e festas em clube

Se perdeu o bom rebolado

Saudade do São João

No terreiro e no roçado

 

São João é arrasta-pé

Forró, fogueira e baião

Xote, xaxado e quadrilha

Foguetes, bombas, balão

Caruaru-Campina Grande

São João bom é no Sertão

 

Arraiá, queima de espada

Cará, milho e animação

Festa junina e joanina

No Brasil é tradição

Tem Santo Antônio, São Pedro

E o mais quente é São João

 

Tem fogos, sorte, adivinhas

Com simpatia e acalanto

Pai-Nosso, Salve-Rainha

Bela festa. É um encanto

Santo, cabeça pra baixo

Atrás da porta, num canto

 

Crisma, batismo de fogo

Dançar e pular fogueira

Assar batatas na brasa

Cantar a Mulher Rendeira

Baião de Luiz Gonzaga

Com forró à noite inteira

 

Tem pamonha e tem canjica

Mel, cuscuz e macaxeira

A cachaça de alambique

Cana quente de primeira

Bom São João é no Nordeste

Pra curar a pasmaceira

 

Em vinte e quatro de junho

Nosso Dia de São João

É festa da cristandade

Bem antiga tradição

E desde o Antigo Egito

Faziam celebração

 

Pular fogueira e dançar

Em tão linda animação

Sortilégio e buscapé

Tem chuva de ouro e rojão

Pistolágrimas nos céus

Nas noites de São João

 

Tem bandeirolas, balões

Claridades no Sertão

Barraquinhas de comida

Mungunzá, licor, quentão

Balinhas e amendoim

Como é bom o São João

 

Tem São João pelo Cerrado

Do povo trabalhador

Em Taguatinga e Ceilândia

Também no Rodeador

E no São João de Brasília

Sanfonarte, luz, calor

 

Meu São João quando garoto

Nas festas do interior

Em Recife dos Cardosos

Ibititá e Tombador

La no sertão de Irecê

São João de paz e amor

 

São João em minha infância

Não tinha eletricidade

A luz era só da lua

Só tinha estrelicidade

Do São João de eu menino

Lembro e morro de saudade...

 

Viva o São João...


(Gustavo Dourado é escritor, poeta, e presidente da Academia Taguatinguense de Letras-ATL)

MÃETERNA

Gustavo Dourado (Taguatinga, DF)

 

Nossa mãe é luz eterna

Estrelua da alvorada

Relembro a minha mãe

Dia, noite e madrugada

Salve todas mães do mundo

Mãe-flor naturezamada

 

Mãe germina a fantasia

Perfuma a realidade

Dádiva...graça divina

Reluz solidariedade

É multiestrela poética

No universo da saudade

 

Mãe, natureza sublime

Que sempre encanta e ilumina

Mãeterna lux infinita

Ser mãe é dádiva divina

Diva preciosa brilha

Translúcida cristalina

 

Sempiterna consciência

Sustentáculo do amor

Encanto da natureza

No bom verso trovador

Mãe dá força noite-a-dia

Remédio que cura a dor

 

Louvores às nossas mães

Mãeternura universal

Nos sonhos do dia a dia

Luzarte transcendental

Infiniterna natura

Quintessência sideral

 

Mãe é luz na plenitude

É virtude vitalina

É bênção da natureza

Beleza que ilumina

Sapiência que transmuta

Eternideidade mina

 

Mãe-palavra natureza

Sublime, ave, criativa

Germina o gen, vivifica

Mãe com energia viva

Mãe, que nos dá vida-amor

Mãe, não nos deixa à deriva

 

Mãe, que é sol da liberdade

Fraternidade, harmonia

Mãe-amor à flor da pele

Majestade em sinfonia

Multiverso aqui na Terra

Diamante...Estrela-Guia


(Gustavo Dourado, escritor, poeta, presidente da Academia Taguatinguense de Letras - ATL)