quinta-feira, 1 de julho de 2021

QUADRILOGIA: DO EU COMIGO MESMA, DA PÓS-MODERNIDADE E DAS BELAS-LETRAS FLUIDAS

Por Clarisse Cristal (Balneário Camboriú, SC)

 

Menina Flor (Flower girl)

 

Menino Flor

Eu não concordo

Com todos os sintéticos olhares

Inquisidores

Na minha confusa verve

Mesmo que sob à negra luz

Dos novos tempos pós-modernos

De realidade fluída

***

Menina Flor

Digo-te que é mágico

E muito sedutor

A minha autognose

Nestes dias confusos

E liquefeitos

***

Menino Flor/ Menina Flor

Eu não sou o que quereria ser

Eu não sou

O que quero ser

Nem mesmo

Na minha dolorosa existência

Que é inexistente

 

Alabama dreams (Black moon rise)

(Um tributo para o poeta Samuel da Costa)  

No teatro estático da vida

Das muitas das nossas tragédias

No cotidiano

No Brasil contemporâneo!!! 

Eu peço desesperadamente

Ao meu Brasil e-negrecesse

Por favor 

***

No princípio de tudo... 

O Brasil atual e-negrecesse 

Ao afável som da batida

Inefável batida do jazz fusion

E dos sabores do sacrossanto blues 

E-negrecesse 

***

Seattle is here dear

Alabama is there dearling

Everybody the mississippi it's nowhere

And old queen is dead 

 In a wonderful White world


Valhalla

Eu ousei escrever

Agora leia-me

Sem rancores

Sem dissabores 

***

Eu simplesmente ousei

Ser eu mesma

Existir sem afetações

Sem medos

Sem neuras

Sem rumos

***

Sim!

Eu ousei compor

Não em belas-letras

Não em belas-artes

Não em línguas mortas

***

Eu ousei beijar ardorosamente

 Na boca a minha colega

De trabalho

Como um algo banal

Não como um ato de libertação

Da minha ebúrnea

Torre de marfim

***

Eu escrevi

Agora leia-me

Sem paixões

Sem pressas

Pois eu fui buscar

O meu Santo Graal

Em belas-artes

Em belas-letras


Suçuarana 

 

Eu sempre quis ser

A negra musa ideal

Desnudada em múlti-plos

Tons pasteis  

A florir e povoar o fecundo

E nevoento imaginário

Do afro-aedo acidental em dor

Em seus decadentistas multi-versos

Supra-reais

Que livres quedam ao chão

Pela da pena alabastrina

Sufocada na pós-modernidade

***

Eu realmente sempre quis ser

Uma outra pessoa acre

E perdida que perambula pelas ruas

Em meio da multidão apologética

E não ficar aqui sozinha e sentada

Sempre quieta

E sempre escrevendo

E sempre compondo livres versos inúteis 

Dulcificados pelos sabores rocios da solitude

Em cruéis tempos pandêmicos

***

Eu sempre quis ser

A mais que perfeita negra suicide-girls

Que em desespero

De ser o que não desejo ser

E vai modelar em total desalinho

Para um retratista qualquer

E ter a bem-sonante ilusão fluída

De ser um outro alguém  

Para ter a imagem super-exposta em rede

Publicada em uma ufana revista eletrônica

Que ninguém lerá

***

Eu sempre quis ser

A mais bela negra ninfeia dos bosques

A mais que perfeita de todas

As mulheres-objeto

Enclausuradas na contemporaneidade fugidia

Ser de uso fruto de qualquer um

Sem ter qualquer tom de cinza

E não pertencer

A quem quer que seja


 Clarisse Cristal é poetisa e bibliotecária em Balneário de Camboriú, SC

 

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