Por Clarisse Cristal (Balneário Camboriú, SC)
Menina Flor (Flower girl)
Menino Flor
Eu não concordo
Com todos os sintéticos olhares
Inquisidores
Na minha confusa verve
Mesmo que sob à negra luz
Dos novos tempos pós-modernos
De realidade fluída
***
Menina Flor
Digo-te que é mágico
E muito sedutor
A minha autognose
Nestes dias confusos
E liquefeitos
***
Menino Flor/ Menina Flor
Eu não sou o que quereria ser
Eu não sou
O que quero ser
Nem mesmo
Na minha dolorosa existência
Que é inexistente
Alabama dreams (Black moon
rise)
(Um tributo para o poeta Samuel da
Costa)
No teatro estático da vida
Das muitas das nossas tragédias
No cotidiano
No Brasil contemporâneo!!!
Eu peço desesperadamente
Ao meu Brasil e-negrecesse
Por favor
***
No princípio de tudo...
O Brasil atual e-negrecesse
Ao afável som da batida
Inefável batida do jazz fusion
E dos sabores do sacrossanto blues
E-negrecesse
***
Seattle is here dear
Alabama is there dearling
Everybody the mississippi it's nowhere
And old queen is dead
In
a wonderful White world
Valhalla
Eu ousei escrever
Agora leia-me
Sem rancores
Sem dissabores
***
Eu simplesmente ousei
Ser eu mesma
Existir sem afetações
Sem medos
Sem neuras
Sem rumos
***
Sim!
Eu ousei compor
Não em belas-letras
Não em belas-artes
Não em línguas mortas
***
Eu ousei beijar ardorosamente
Na boca
a minha colega
De trabalho
Como um algo banal
Não como um ato de libertação
Da minha ebúrnea
Torre de marfim
***
Eu escrevi
Agora leia-me
Sem paixões
Sem pressas
Pois eu fui buscar
O meu Santo Graal
Em belas-artes
Em belas-letras
Suçuarana
Eu sempre quis ser
A negra musa ideal
Desnudada em múlti-plos
Tons pasteis
A florir e povoar o fecundo
E nevoento imaginário
Do afro-aedo acidental em dor
Em seus decadentistas multi-versos
Supra-reais
Que livres quedam ao chão
Pela da pena alabastrina
Sufocada na pós-modernidade
***
Eu realmente sempre quis ser
Uma outra pessoa acre
E perdida que perambula pelas ruas
Em meio da multidão apologética
E não ficar aqui sozinha e sentada
Sempre quieta
E sempre escrevendo
E sempre compondo livres versos
inúteis
Dulcificados pelos sabores rocios da
solitude
Em cruéis tempos pandêmicos
***
Eu sempre quis ser
A mais que perfeita negra suicide-girls
Que em desespero
De ser o que não desejo ser
E vai modelar em total desalinho
Para um retratista qualquer
E ter a bem-sonante ilusão fluída
De ser um outro alguém
Para ter a imagem super-exposta em rede
Publicada em uma ufana revista eletrônica
Que ninguém lerá
***
Eu sempre quis ser
A mais bela negra ninfeia dos bosques
A mais que perfeita de todas
As mulheres-objeto
Enclausuradas na contemporaneidade fugidia
Ser de uso fruto de qualquer um
Sem ter qualquer tom de cinza
E não pertencer
A quem quer que seja
Clarisse Cristal é poetisa e bibliotecária em
Balneário de Camboriú, SC
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