sábado, 1 de agosto de 2020

Bagé (por Pedro Barcellos Ferreira)

ESTÂNCIAS PAMPEANAS (EXPOSIÇÃO, BAGÉ, RS)



Curadoria: Gilmar de Quadros
Fotografia: Cássio Gomes Lopes
Poemas: Membros do Movimento dos Escritores Bageenses - MEB, Bagé, RS.

UMA PETIÇA FLOR DE MATREIRA

Por Severino Rudes Moreira (Bagé, RS)


    A minha avó, Lucídia Lopes, era dona de um campinho, umas duas quadras e pouco quase despovoadas, em razão do adiantado de sua idade, já com “setenta” e pico e meio "atempada" do reumatismo, além, é claro, de outras tantas doenças naturais do tempo consumido. Ou seja, da juventude acumulada.
     A criação não passava de três ou quatro vaquinhas de leite, uma égua rosilha, já com quase trinta anos e uma junta de bois, “Nanico e Redondo”, eram os nomes desses dois bichos impagáveis de mansos, que só serviam para arrastar a pipa e de quando em vez, um vizinho, ou um neto lavrar algum pedaço de terra.
     Era costume de minha avó ter sempre um neto lhe fazendo companhia, para esses servicinhos que sempre tocam à gurizada fazer, botar vaca, cortar lenha, buscar água. E dessa feita, estava eu passando uma temporada por lá.
     Bueno, o campo era um pastiçal, a “cousa” mais linda do mundo e os alambrados um abandono, a “cousa” mais triste do mundo.
    Dava pena de ver, e em razão disso, o campo vivia cheio de criação alheia.
    Entre tanto bicho alheio havia, uma petiça tostada de um tal, “Chico Sabiá”, que lhe conto, não havia mais matreira, pois era desses animais que enxergava o vivente, a meia légua, e já esticava a cola e o pior é que levava toda a cavalhada nessa “olada”, de modo que até a infeliz da rosilha, por vezes, inventava de me deixar a pé.
    Pegar aquela petiça nem a tiro de laço, pois não havia quem chegasse a doze braças pra atirar uma corda.
   Mas há quem diga, por sabedoria, que pra guri “taludo”, não existe égua matreira, de modo que eu comecei a pensar numa maneira de botar uma corda no pescoço da desgraçada e ressabiar dessas "matreirices", que estavam estragando toda a cavalhada.
     Descobri que a petiça em todas as noites vinha comer as sobras de milho no "embornal" da rosilha velha.
     Para que melhor entendam, o "embornal" ficava enfiado numa tronqueira de pitangueira, de modo que a égua velha comesse a ração na quantidade que quisesse e depois saísse a pastar no campo, o que em razão da “maleza” de dentes, sempre sobrava algum resto de milho.
 Andando lá pelo galpão, descobri um pedaço de couro donde tirei uns tentos, lonqueei a capricho, dei uma sovada e depois trancei de “três”, a única trança que sabia, fiz um "lacito" com uns quatro ou cinco metros, com argola e tudo, para botar, na tronqueira da pitangueira, uma armada bem feita entre o embornal e uma forquilha, de modo que pra comer precisasse enfiar o pescoço na laçada.
  A outra ponta da piola, atei no galho de cima pelo outro lado.
  Á tardinha deixei a rosilha comer a ração e fui armar a laçada pra pegar a petiça, mas por azar a égua velha voltou pra mais umas bocadas e amanheceu ela na corda, enquanto a petiça pastava no descampado como se fosse a única dona do campo.
Nem bem me viu, já afinou a cola em direção à sanga.
Eu, como se sabe, sou mais teimoso do que porco roceiro, de maneira, que, armei a laçada outra vez, e mais outra, e ainda outra mais, até que pelas cansadas, um dia amanheceu a bendita petiça agarrada pelo gargalo escabeceando e arrastando a cola no chão tentando escapar.
 Paciência nunca me faltou, por isso botei um freio na rosilha velha, atirei um pelego no lombo e fui voltear as vacas para puxar os tetos e garantir o café da manhã. Lembro que, ainda comi um prato de mogango com leite, pra depois fazer uma "brajerada" das boas para a “infame da petiça”.
  Cortei um galho de aroeira preta de um tamanho bem regular e atei na cola, depois enfiei um manojo de urtiga bem de contra o “sabugo” e larguei essa petiça no corredor em direção ao “Passo do Pessegueiro” que lhe conto, foi um tronar de patas e uma polvoadeira, a “cousa” mais linda do mundo.
 Dava gosto ver a petiça, “galopeava” enlouquecida sem entender o porquê, pois quanto mais corria, mais poeira levantava e de cabeça virada para trás, de tanto “cagaço”, só despontava o bico das orelhas por cima do lombo, pelo meio da nuvem de terra vermelha que se formou no corredor.
  Mas por desgraça, vinha subindo, do passo em direção ao rancho o “Firmino Rengo”, um carroceiro que vivia pelas campanhas comprando bichos de penas pra revender na cidade, e para desgraça, ainda maior, com a carroça carregada até o limite do toldo.
  Os matungos do carroceiro vendo aquela nuvem de poeira, tocando a petiça por diante se assustaram e dispararam com a carroça, deitando chirca, subindo barrancos, arrancando pedras e espalhando o bicharedo a campo até se enfiarem no Arroio, com o que sobrou da carroça. Ou melhor dizendo, só com o assoalho e os balancins, porque até as rodas se despedaçaram.
Bueno, pra consertar a carroça, mais de semana e pra juntar as aves fugidas quase duas. Isso sem contar o bicharedo que se extraviou e nunca mais foi visto.
A peticinha, com isso, se amansou de tal maneira que o galho da aroeira chegou a apodrecer atado na cola de tanto tempo que ficou e lhe digo mais, cheguei a lavrar de certa feita umas terras lá na costa do arroio, plantei trigo e gradeei com aquela rama atada na cola da petiça, só tocando ela por diante e lhe afirmo, cobriu tão bem a semente que se falhou “um pé qui outro foi muito”.
Bueno, pra encurtar esse causo, se passaram dois anos e a tal lavoura deixou de produzir. Era só o trabalho de plantar pois não nascia um pé de nada, se botava semente de dia e os bichos comiam de noite, ou talvez na madrugada, “assuscede” que não vingava nada.
Palpitou-me que fosse saracura ou paca por serem bichos roceiros demais e que, geralmente, atacam na madrugada ou na boca da noite, mas a julgar pelo estrago só podia ser de bando, ou quem sabe uma tropa.
Resolvi, então, fazer uns mundéus de laçada. Desses que quando o bicho belisca na espiga de milho, escapa uma laçada presa em um galho vergado, que é morte certa, por enforcamento.
Fiz uma dúzia deles e, ainda, pra garantir fiz uma “aripuca” de “carafá” trespassados com imbira e deixei armados na costa do mato.
De manhãzita, montei a cavalo e toquei em direção a lavoura pra revisar os mundéus... e que surpresa. Tinham pegado uma saracura polaca, cinco jacús nanicos, sendo que dois deles tinham penas amarelas e os outros três penas brancas e, ainda, três perdizes, tão “carijózinhas” que pareciam uma seda.
A aripuca encontrei uns cinqüenta metros adiante pois “um munaia d´um filhote de avestruz” caíra nela e de tão grande e forte que era a arrastara. E tem mais se arrepiava de tão furioso quando eu assobiava .
Hoje, é comum encontrar entendidos até da “estranja”, caçando por lá e tentando descobrir a razão de tanta “mestiçagem” nos bichos daqueles matos, pois ali há bichos que só ali são encontrados de tão estranhos que são.
 “E eu que bem sei” que aconteceu, por causa de uma petiça matreira, “tô quieto”. “Mas, afinal, se eu conto descobrem a brajerada”.

(Severino Rudes Moreira é membro do Movimento dos Escritores Bageenses - MEB)

ENGANO

Por Pedro Du Bois (Balneário Camboriú, SC)


REVIVER

Por Pedro Du Bois (Balneário Camboriú, SC)





RESTOS

Por Pedro Du Bois (Balneário Camboriú, SC)


CORDEL PARA "IL MAESTRO" ENNIO MORRICONE


Por Gustavo Dourado (ATL, Taguatinga, DF)

(Homenagem de Gustavo Dourado)
  
"Il Maestro" Ennio Morricone
Fez o som da realidade
Sentimento em partitura
Lume-audiovisualidade
Assobios, sinos e ruídos
Nas trilhas da liberdade

Ennio Morricone nasceu
Em Roma, a eterna cidade
28 – Século XX
Com toda vitalidade
Tornou-se compositor
Aos seis anos de idade
  
Santa Cecília de Roma
Academia Nacional
Trompete aos 10 anos
Na formação inicial
Composição e orquestra
E o órgão fundamental

Estreou no cinema
Aos 33 de idade
"O Fascista", de Salce
Ennio em musicalidade
Cinema e televisão
Fama e popularidade
  
Nos idos dos anos quarenta
Quarenta e seis em diante
Começa a compor trilhas
Nos anos cinquenta avante
"Il Federale", de Salce
Morricone segue adiante
  
Influenciado por Palestrina
Do clássico ao medieval
Ás do contemporâneo
Som verbovocovisual
De narrativas sonoras
Morrícone eternatural
  
Mais de 500 composições:
Era Uma Vez no Oeste
Três Homens em Conflito
Luta de cabra da peste
Faroestern nos sertões
Tal cangaço do Nordeste 

Sérgio Leone e Tarantino
Em parceria magistral
Tornatore e Bertolucci
Com trilha fenomenal
Com Polanski e Malick
Em transciência musical

'Cinema Paradiso' eterno
Patrimônio Imaterial
'Ata-me!', 'Os Intocáveis'
Viagem transcendental
'Os Oito Odiados' em cena
Fluem na trilha musical
  
Ganhou três Globos de Ouro
Maestro tão premiado
Três Grammys Awards
Compositor destacado
Um artista reconhecido
Seu nome foi consagrado

'Busca Frenética' ‘Màlena’
'Decameron' e 'A Missão'
Grande mestre da música
De suprema elevação
Compositor dos melhores
Estreluz de uma geração
  
"A Classe Operária vai para o Paraíso"
Pecados de Guerra, Missão: Marte
Sacco e Vanzetti, de Montaldo
Os ásperos caminhos da arte
Cinzas no Paraíso, de Malick
"Vatel” de Roland Joffé, destarte

Concertos ao redor do mundo
Com o Papa Francisco musical
A Gaiola das Loucas, de Molinaro
Com Verneuil, o cinema literal
Prêmio Princesa de Astúrias
O reconhecimento cultural

Composições clássicas
Programas de televisão
Canções populares no rádio
"spaghetti westerns" em ação
Consagrou Clint Eastwood
Bang Bang com emoção

Com Bernardo Bertolucci
A epopeia Novecento
Sobre as duas Itálias
O cinema em movimento
Amor e criatividade
Revolução no pensamento

"The Ecstasy of Gold", Metallica
O pop em composições
Música em peças de teatro
Sempre com inovações
Estrela na Calçada da Fama
Compôs óperas e canções

Cinema Paradiso, Malèna
A Lenda do Pianista do Mar
Com Giuseppe Tornatore
Cinema de alto patamar
Parceria esplendorosa
A arte a nos iluminar

Saló - 120 Dias de Sodoma
Decameron, Teorema
Pier Paolo Pasolini
Ima.gen reluz poema 
Morricone a germinar
A música foi o seu lema

Medo sobre a Cidade.  Os Sicilianos. 
"O Pássaro das Plumas de Cristal"
"A Cidade da Esperança", "Bugsy"
"A Batalha de Argel". O Profissional
O Homem das Estrelas, A Missão
Morricone na orquestra celestial...

“Por um Punhado de Dólares”
Por uns Dólares a Mais, a dança
Vi Três Homens em Conflito
E "Quando Explode a Vingança"
Rever Era uma Vez na América
“Era uma Vez no Oeste”, esperança
  
Nivelou a sonoridade
Com a narrativa visual
Trilha incidental sonora
À música experimental
Trilhou na musicografia
Do magma audiovisual

Conquistou dois Oscar
Um por trilha musical
E o Oscar honorário
Pela carreira magistral
Pelo conjunto da obra
Da trajetória sem igual

Morricone deixa a esposa
A sua querida Maria
Marco e Alessandra
A família em sintonia
Com Giovanni e Andrea
Seus filhos em sinfonia

Criou alquimusical
No assovio da cultura
No imaginário coletivo
Compôs a sua ternura
Transpôs o sentimento
Para a luz da partitura

Ennio nos faz sonhar
Toca o nosso coração
Faz a gente refletir
Mexe com a emoção
Eleva o sentimento
Com a arte da criação

Gustavo Dourado
Brasília, 6 de  julho de 2020.



ENTRE TANTOS SERES

Por Clarisse da Costa (Biguaçu, SC)

Entre seres intolerantes,
Onde os olhos se conectam
Em uma tela;
Não existe mais o abraço
Que abraça de verdade,
Nem o nós na coletividade.
Não sei o que se sucedeu
E o que se perdeu;
Tudo tem sido tão vazio
E cruel.
E nós os poetas
É que somos
Sentimentalistas bobos,
Enquanto isso a sociedade
Banca de generosa!
***
Contato: clarissedacosta81@gmail.com
(Fragmento do Livro Rabiscado de Poesias)


SILÊNCIO E ALMA


Por Fabiane Braga Lima (Rio Claro, SP)

               Noite gelada, já não sei o que escrever... Olho pra janela, vejo estrelas. Tento me lembrar de algum amor, não consigo, talvez nunca tenha amado, apenas me iludido.            
Tento me lembrar de algum momento especial, nada em mente. Mas na memória, vem tanta coisa vivida, tantas mentiras e verdades. Então, sinto um desgosto, começo a respirar ofegante, meu coração palpita.                  E, eu que tanto gosto do silêncio, sinto que ele me perturba, não entendo o porquê.  Respiro, penso calada: -No silêncio consigo enxergar minha Alma, minhas inúmeras inquietações, e isso perturba-me...!

Contato: bragalimafabiane@gmail.com

A MULHER EM TEMPOS DE REALIDADE FLUIDA


Por Clarisse da Costa (Biguaçu, SC)

Nenhuma mulher chega na sua maturidade para ser perfeita e sim para ser quem ela é. Ela só quer respeito. Ela só quer carinho. Mas você nunca vai ver uma mulher mendigar amor. Ela sabe o seu valor. Ela conhece boa parte do seu destino. Leva tempo até que ela aprenda, mas ela jamais deixa de aprender.
São sorrisos e choros até que ela olha para si. Os outros passam à ficar em seu segundo plano.
Eu sei... Nem todas as mulheres são assim. Algumas são frágeis. Mas quem disse que toda guerreira é forte o tempo todo? Ela também desmorona. Às vezes tudo que a mulher precisa é de apoio de alguém que a entenda.
       Não é fácil ser mulher num mundo onde o pensamento masculino é machista. Fica difícil de entender e ter alguma crença de que tudo vai mudar. O que muitos homens precisam entender é que ser carinhoso e respeitoso não os fazem menos homem.

Contato: clarissedacosta81@gmail.com

TU ÉS BEM LINDA!


   Por Clarisse da Costa (Biguaçu, SC)                                           
Não importa o que te digam. Teu sorriso encanta mesmo que por de trás tenha uma dor oculta. Teu olhar ilumina não importa o quanto você chorou. Você sabe que a vida não é perfeita. Você não é perfeita. Não precisa que alguém te diga isso.
        Procura estar com quem enfatiza as tuas qualidades. O corpo te sustenta, mas é o teu caráter e determinação que te faz vencedora.
Mulher larga de mão as amarras que te fazem sofrer. Sê feliz por ti mesma.    Não espera pelo outro. A vida se faz com sonhos, mas é bem melhor com os pés firmes no chão. Tu bem sabes da tua capacidade, só te falta confiança. Se não confiares em ti, quem irá confiar?  

Contato: clarissedacosta81@gmail.com

AGNELA EM ANUNCIAÇÃO

Por Samuel da Costa (Itajaí, SC)

Escolho o pecado!
Encolho-me!
Fujo! Traio!
Minto para mim mesma!
***
Agora...
Já não sei mais quem realmente sou.
Aonde vou!
Se estou realmente viva!
Pelo menos penso que estou;
Que existo lânguida,
 A vagar em uma outra...
Dimensão.
***
Tento fugir de mim mesma!
Escolho o pecado.
Afronto!
Magoo!
Quem realmente me ama.
***
Escondo-me!
De tudo e de todos.
Na agonia de ser eu mesma...
Minto para mim!
***
Escondo-me...
Na sibilina bruma!
No outono da minha vida.
No outono dos decadentistas...
***
Contemplo o arrebol…
Em total êxtase!
Escuto a sinfonia idílica e ignota...
Ouço o madrigal ao longe.
***
Lembro-me de quem se foi...
E choro de saudades.
***
Escondo-me!
No meu mítico passado!
Finjo estar em outro lugar...
Finjo que me importo…
Com as outras pessoas!
Com alguém que diz amar-me.
***
Aprisiono-me!
Em um mundo encantado,
um multi-verso quimérico!
Que construí somente para mim!
Minto para mim mesma.
Na esperança vã...
De me encontra comigo mesma!