segunda-feira, 1 de junho de 2020

UMA ESTÉTICA DA FOME


Por Glauber Rocha

Dispensando a introdução informativa que se tem transformado na característica geral das discussões sobre América Latina, prefiro situar as relações entre nossa cultura e a cultura civilizada em termos menos reduzidos do que aqueles que, também, caracterizam a análise do observador europeu. Assim, enquanto a América Latina lamenta suas misérias gerais, o interlocutor estrangeiro cultiva o sabor dessa miséria, não como um sintoma trágico, mas apenas como um dado formal em seu campo de interesse. Nem o latino comunica sua verdadeira miséria ao homem civilizado nem o homem civilizado compreende verdadeiramente a miséria do latino.
Eis – fundamentalmente – a situação das artes no Brasil diante do mundo: até hoje, somente mentiras elaboradas da verdade (os exotismos formais que vulgarizam problemas sociais) conseguiram se comunicar em termos quantitativos, provocando uma série de equívocos que não terminam nos limites da arte mas contaminam sobretudo a terreno geral do político. Para o observador europeu, os processos de criação artística do mundo subdesenvolvido só o interessam na medida que satisfazem sua nostalgia do primitivismo; e este primitivismo se apresenta híbrido, disfarçado sob as tardias heranças do mundo civilizado, heranças mal compreendidas porque impostas pelo condicionamento colonialista. A América Latina (AL), inegavelmente, permanece colônia, e o que diferencia o colonialismo de ontem do atual é apenas a forma mais aprimorada do colonizador; e, além dos colonizadores de fato, as formas sutis daqueles que também sobre nós armam futuros botes. O problema internacional da AL é ainda um caso de mudança de colonizadores, sendo que uma libertação possível estará sempre em função de uma nova dependência.
Este condicionamento econômico e político nos levou ao raquitismo filosófico e à impotência, que, às vezes inconsciente, às vezes não, geram no primeiro caso a esterilidade e no segundo a histeria.
A esterilidade: aquelas obras encontradas fartamente em nossas artes, onde o autor se castra em exercícios formais que, todavia, não atingem a plena possessão de suas formas. O sonho frustrado da universalização: artistas que não despertaram do ideal estético adolescente. Assim, vemos centenas de quadros nas galerias, empoeirados e esquecidos; livros de contos e poemas; peças teatrais, filmes (que, sobretudo em São Paulo, provocaram inclusive falências). O mundo oficial encarregado das artes gerou exposições carnavalescas em vários festivais e bienais, conferências fabricadas, fórmulas fáceis de sucesso, vários coquetéis em várias partes do mundo, além de alguns monstros oficiais da cultura, acadêmicos de Letras e Artes, júris de pintura e marchas culturais pelo país afora. Monstruosidades universitárias: as famosas revistas literárias, os concursos, os títulos.
A histeria: um capítulo mais complexo. A indignação social provoca discursos flamejantes. O primeiro sintoma é o anarquismo pornográfico que marca a poesia jovem até hoje (e a pintura). O segundo é uma redução política da arte que faz má política por excesso de sectarismo. O terceiro, e mais eficaz, é a procura de uma sistematização para a arte popular. Mas o engano de tudo isso é que nosso possível equilíbrio não resulta de um corpo orgânico, mas sim de um titânico e autodevastador esforço no sentido de superar a impotência: e, no resultado desta operação a fórceps, nós nos vemos frustrados, apenas nos limites inferiores do colonizador: e se ele nos compreende, então, não é pela lucidez de nosso diálogo, mas pelo humanitarismo que nossa informação lhe inspira. Mais uma vez o paternalismo é o método de compreensão para uma linguagem de lágrimas ou de mudo sofrimento.
A fome latina, por isto, não é somente um sintoma alarmante: é o nervo de sua própria sociedade. Aí reside a trágica originalidade do Cinema Novo diante do cinema mundial: nossa originalidade é nossa fome e nossa maior miséria é que esta fome, sendo sentida, não é compreendida.
De Aruanda a Vidas Secas, o Cinema Novo narrou, descreveu, poetizou, discursou, analisou, excitou os temas da fome: personagens comendo terra, personagens comendo raízes, personagens roubando para comer, personagens matando para comer, personagens fugindo para comer, personagens sujas, feias, descarnadas, morando em casas sujas, feias, escuras: foi esta galeria de famintos que identificou o Cinema Novo com o miserabilismo, hoje tão condenado pelo Governo do Estado da Guanabara, pela Comissão de Seleção para Festivais do Itamarati, pela crítica a serviço dos interesses oficiais, pelos produtores e pelo público – este último não suportando as imagens da própria miséria. Este miserabilismo do Cinema Novo opõe-se à tendência do digestivo, preconizada pelo crítico-mor da Guanabara, Carlos Lacerda: filmes de gente rica, em casas bonitas, andando em automóveis de luxo; filmes alegres, cômicos, rápidos, sem mensagens, e de objetivos puramente industriais. Estes são os filmes que se opõem à fome, como se, na estufa e nos apartamentos de luxo, os cineastas pudessem esconder a miséria moral de uma burguesia indefinida e frágil, ou se mesmo os próprios materiais técnicos e cenográficos pudessem esconder a fome que está enraizada na própria incivilização. Como se, sobretudo, neste aparato de paisagens tropicais, pudesse ser disfarçada a indigência mental dos cineastas que fazem este tipo de filmes. O que fez do Cinema Novo um fenômeno de importância internacional foi justamente seu alto nível de compromisso com a verdade; foi seu próprio miserabilismo, que, antes escrito pela literatura de '30, foi agora fotografado pelo cinema de '60; e, se antes era escrito como denúncia social, hoje passou a ser discutido como problema político. Os próprios estágios do miserabilismo em nosso cinema são internamente evolutivos. Assim, como observa Gustavo Dahl, vai desde o fenomenológico (Porto das Caixas), ao social (Vidas Secas), ao político (Deus e o Diabo), ao poético (Ganga Zumba), ao demagógico (Cinco Vezes Favela), ao experimental (Sol sobre a Lama), ao documental (Garrincha, Alegria do Povo), à comédia (Os Mendigos), experiências em vários sentidos, frustradas umas, realizadas outras, mas todas compondo, no final de três anos, um quadro histórico que, não por acaso, vai caracterizar o período Jânio-Jango: o período das grandes crises de consciência e de rebeldia, de agitação e revolução que culminou no golpe de abril. E foi a partir de abril que a tese do cinema digestivo ganhou peso no Brasil, ameaçando, sistematicamente, o Cinema Novo.
Nós compreendemos esta fome que o europeu e o brasileiro na maioria não entendeu. Para o europeu, é um estranho surrealismo tropical. Para o brasileiro, é uma vergonha nacional. Ele não come mas tem vergonha de dizer isto: e, sobretudo, não sabe de onde vem esta fome. Sabemos nós – que fizemos estes filmes feios e tristes, estes filmes gritados e desesperados onde nem sempre a razão falou mais alto – que a fome não será curada pelos planejamentos de gabinete e que os remendos do tecnicolor não escondem, mais agravam seus tumores. Assim, somente uma cultura da fome, minando suas próprias estruturas, pode superar-se qualitativamente: e a mais nobre manifestação cultural da fome é a violência.
A mendicância, tradição que se implantou com a redentora piedade colonialista, tem sido uma das causadoras de mistificação política e da ufanista mentira cultural: os relatórios oficiais da fome pedem dinheiro aos países colonialistas com o fito de construir escolas sem criar professores, de construir casas sem dar trabalho, de ensinar o ofício sem ensinar o analfabeto. A diplomacia pede, os economistas pedem, a política pede: o Cinema Novo, no campo internacional, nada pediu: impôs-se pela violência de suas imagens em vinte e dois festivais internacionais.
Pelo Cinema Novo: o comportamento exato de um faminto é a violência, e a violência de um faminto não é primitivismo. Fabiano é primitivo? Antão é primitivo? Corisco é primitivo? A mulher de Porto das Caixas é primitiva?
Do Cinema Novo: uma estética da violência antes de ser primitiva é revolucionária, eis aí o ponto inicial para que o colonizador compreenda a existência do colonizado; somente conscientizando sua possibilidade única, a violência, o colonizador pode compreender, pelo horror, a força da cultura que ele explora. Enquanto não ergue as armas, o colonizado é um escravo; foi preciso um primeiro policial morto para que o francês percebesse um argelino.
De uma moral: essa violência, contudo, não está incorporada ao ódio, como também não diríamos que está ligada ao velho humanismo colonizador. O amor que esta violência encerra é tão brutal quanto a própria violência, porque não é um amor de complacência ou de contemplação, mas um amor de ação e transformação.
O Cinema Novo, por isto, não fez melodramas: as mulheres do Cinema Novo sempre foram seres em busca de uma saída possível para o amor dada a impossibilidade de amar com fome: a mulher protótipo, a de Porto das Caixas, mata o marido; a Dandara de Ganga Zumba foge da guerra para um amor romântico; Sinhá Vitoria sonha com novos tempos para os filhos: Rosa vai ao crime para salvar Manuel e amá-lo em outras circunstâncias; a moça do padre precisa romper a batina para ganhar um novo homem; a mulher de O Desafio rompe com o amante porque prefere ficar fiel ao mundo burguês; a mulher em São Paulo S.A. quer a segurança do amor pequeno-burguês e para isto tentará reduzir a vida do marido a um sistema medíocre.
Explicação: Já passou o tempo em que o Cinema Novo precisava explicar-se para existir: o Cinema Novo necessita processar-se para que se explique, à medida que nossa realidade seja mais discernível à luz de pensamentos que não estejam debilitados ou delirantes pela fome. O Cinema Novo não pode desenvolver-se efetivamente enquanto permanecer marginal ao processo econômico e cultural do continente latino-americano: além do mais, porque o Cinema Novo é um fenômeno dos povos novos e não uma entidade privilegiada do Brasil: onde houver um cineasta disposto a filmar a verdade, e a enfrentar os padrões hipócritas e policialescos da censura intelectual, aí haverá um germe vivo do Cinema Novo. Onde houver um cineasta disposto a enfrentar o comercialismo, a exploração, a pornografia, o tecnicismo, aí haverá um germe do Cinema Novo. Onde houver um cineasta, de qualquer idade ou de qualquer procedência, pronto a pôr seu cinema e sua profissão a serviço das causas importantes de seu tempo, aí haverá um germe do Cinema Novo. A definição é esta e por esta definição o Cinema Novo se marginaliza da indústria porque o compromisso do Cinema Industrial é com a mentira e com a exploração. A integração econômica e industrial do Cinema Novo depende da liberdade da América Latina. Para esta liberdade, o Cinema Novo empenha-se, em nome de si próprio, de seus mais próximos e dispersos integrantes, dos mais burros aos mais talentosos, dos mais fracos aos mais fortes. É uma questão de moral que se refletirá nos filmes, no tempo de filmar um homem ou uma casa, no detalhe que observar, na moral que pregar: não é um filme mas um conjunto de filmes em evolução que dará, por fim, ao público a consciência de sua própria miséria.
Não temos por isto maiores pontos de contato com o cinema mundial, a não ser com suas origens técnicas e artísticas.
O Cinema Novo é um projeto que se realiza na política da fome, e sofre, por isto mesmo, todas as fraquezas consequentes de sua existência.

Glauber Rocha (Nova Iorque, Milão, Rio Janeiro – 1965)

CONJUGAÇÕES

Por Basilina Pereira (Brasília, DF)


(Basilina Pereira é membro da Academia de Letras do Brasil, Seccional Distrito Federal - ALB/DF)

AUXILIADORA DOS CRISTÃOS


Por Márcia Duro Mello (Bagé, RS)

Na luz da manhã,

ao abrir a janela,

no céu de opalina,

vislumbro o manto azul,

o manto de Nossa Senhora.

Tão lindo!

O frescor do orvalho, no jardim,

o aroma das rosas é a delicadeza

do milagre de cada dia.

Mãe de todas as mães;

das mães sois a rainha!

Sentis nossas angústias

e atendeis  nossa ladainha.

Maria Auxiliadora dos milagres,

chorou, sofreu, calou

no mais intenso silêncio;

na cruz, seu filho bebendo vinagre.

Doce Mãe!

Vede nossas avarezas,

orgulhos e vaidades

e mostrai a vossa benta realeza.

Na nossa fragilidade,

entrevimos nossa fraqueza.

Preferimos, muitas vezes, ser soberbos,

rabugentos e impiedosos,

quando nossa mão está ao alcance da Virgem,

para sermos piedosos,

complacentes, generosos

em nosso exemplo e ação.

É o exemplo que vale!

Não a doutrina em vão!

Senhora Auxiliadora da humanidade,

ajudai-nos a vislumbrar a humildade,

a caridade, o afeto,

para que não falemos vários dialetos.

Despedimo-nos da capa negra

da escuridão dos pecadores;

mostramos nossas chagas e dores

e sede nossa mãe de misericórdia!

Na mão esquerda, segura o Jesus menino;

na mão direita, segura o cetro

com o governo de toda a criação,

colocando   todos   nós  no espetro

da divina luz  arcoirizada  de  vossa  devoção.

É a fé que clama mais alto,

no planger  dos  sinos à tarde.

É a chamada de Maria,

na devoção da chama que, ainda, arde.

No vosso  andor de rosas,

só temos a agradecer por serdes tão generosa!

Do alto, nos contempla,

cheirais  a  jasmin  e  rosa.

No bordado dourado do manto,

evoca  o  sol  e  a  luz divina.

E, hoje, em honra  à  vossa  coroa,

vos pedimos numa só voz:

“Auxiliadora, rogai por nós!”

(Márcia Duro Mello é membro do Movimento dos Escritores Bageenses, MEB)

NOSSA SENHORA AUXILIADORA


Poe Ayeza Maria Ferreira  (Bagé, RS)

Com localização privilegiada

Sendo orgulho de Bagé

Ostenta um prédio importante...

Monumento no lugar

Situada em ponto central

Constitui belo portal...

O Colégio Auxiliadora

É destaque educacional

Sua igreja é magistral

Suas torres pontiagudas

Apontam como um sinal

Recebendo bênçãos do céu

E podem nos abençoar

Os sinos badalam sempre

Convocando seus fiéis

Na hora de silenciar

Permanecem a rezar

De mãos postas os indicam

Os caminhos a seguir

Do amor, da fé, do perdão

No convívio com os irmãos

Já que confraternizar

É o caminho do cristão. 

(Ayeza Maria Ferreira é membro do Movimento dos Escritores Bageenses, MEB)

CATEDRAL


Por Lúcia Oliveira  (Bagé, RS)

Linda paisagem,

ao entardecer.

O céu cheio de nuances...

Bela e perene Catedral!

Altas palmeiras,

que o vento faz fremir.

A imponente catedral

traz importantes lembranças

de minha história familiar.

Entre padres e vigários,

missas e louvores,

reverenciam o Criador.

O movimento dos carros

parece não respeitar

os fiéis em suas orações.

Lá dentro, muitas preces

e esperanças de um amanhã melhor.

Lá fora, a vida em ação.

Mas e quando tudo para?

O tempo é amigo ou inimigo dos que creem.

Vida é vida!

Não podemos negar.

Precisamos lutar e orar,

para que nem a catedral e nem os carros

Virem pó.

(Lúcia Oliveira é membro do Movimento dos Escritores Bageenses - MEB)

NIMBUS


Por  Pedro Barcellos  (Bagé, RS)

Naquela noite fantasmagórica, as luzes bruxuleavam como se brincassem de esconde-esconde com suas próprias sombras. Não havia eco; pois não havia som, nem passos na água fria que se acumulava na calçada. Não havia badalar de sino de igreja alguma. Os postes riscavam a noite com linhas incandescentes, mas a escuridão do silêncio era um manto que abafava até o farfalhar das folhas secas. Tudo estava suspenso no tempo, como uma respiração presa, tomada por vapor de panela, em um giro de desmaio, lento e infinito. Até que houve um respiro, um rasgo na noite úmida, um estrondo à frente da igreja. As nimbus se chocaram. Uma faísca se fez, um raio beijou a cruz; e o trovão se adonou de cada ruela, de cada casa e de cada ouvido, em Bagé. As gotas caíram rápido; e o tempo andou. O relógio, iluminado, como que para compensar o trabalho não feito, girou rápido, dando tantas voltas quanto possível, enquanto as gotas martelavam o asfalto, o zinco quente e o sono de quem acordou na calada da noite, sem saber que o tempo parara. O coração descompensado, batendo rápido; não era susto do trovão que ressoava no quarto, era o tempo se recuperando. Agora, o vento varre as ruas; e a chuva limpa as janelas, horas passadas... A noite pariu, o dia pode chegar de mansinho e tudo seguir na engrenagem da vida, sistêmica e perfeita.


(Pedro Barcellos é membro do Movimento dos Escritores Bageenses, MEB)

APRENDENDO A VOLTAR

Por Pedro Du Bois (Balneário Camboriú, SC)

I

aprendo a voltar
e me perco
em recordações:

o passado
petrificado
em passos
o retorno
fechado
em acasos

aprendo ser a volta
o pior do encontro
  
o rasgo instantâneo
do corpo ao mistério.

VEZES


Por Pedro Du Bois (Balneário Camboriú, SC)

Às vezes a vida

se desprograma

e o padrão

explode

em acontecimentos

inusitados

com que atravessa

o espaço

e ganha a terra

prometida



a vida retorna ao tanto

oferecido na média retórica

com que os dias se reapresentam



ficam gostos e imagens

fragmentados aos poucos

no tempero com que nos avistamos

no espelho.


CORDEL PARA FLÁVIO MIGLIACCIO


Homenagem de Gustavo Dourado (ATL, Taguatinga, DF)


Flávio Gomes Migliaccio

Do Brás, um bom paulistano

No Teatro de Arena

Arte em seu vasto oceano

Em 1954

Artista em primeiro plano



Ator talentoso e querido

Foi para outra dimensão

Deu adeus a esse mundo

De vírus e corrupção

Foi fazer teatro no céu

Em outra concepção



Célebre Teatro de Arena

No núcleo de fundação

No CPC da UNE

Teve boa atuação

Assistente de Sucksdorff

A arte foi sua paixão



Anos 1960:

Ator em cinematografia

"Terra em transe”, Glauber Rocha

Cinema pura magia

Sétima Arte na tela

Persona em cinemagia



Em mais de 30 novelas

Migliaccio participou

Personagens bem diversos

Em minisséries atuou

Na tv e no cinema

O artista se eternizou



Em "Rainha da Sucata"

Moreiras, na pão-duragem

Vitinho em "A Próxima Vítima"

Feirante de boa mensagem

Chalita em "Tapas & Beijos”

Deu um beijo na linguagem



Mamede em "Órfãos da Terra",

Em "Passione" Fortunato

"América" e "Êta Mundo Bom!"

Sempre brilhante no ato

"Caminho das Índias" e outras

Foi destaque em foto e fato    



Filho de um barbeiro

Tocador de violino

16 irmãos ao todo

Deram ritmo ao menino

Que se tornou um artista

Para alegrar nosso destino



Xerife e Tio Maneco

Papéis de repercussão

Em peças, filmes e séries

Teve boa atuação

A arte que eleva a vida

Vai além da depressão



Dirce Migliaccio, sua irmã

Na carreira teatral

Marcelo o seu filho

No caminho cultural

Na direção de cinema

A verve intelectual



"Confissões de um Senhor de Idade"

O seu último trabalho teatral

Nos palcos desde os 14

Experiência eclesial

Estudo em colégio católico

E o assédio clerical



Foi expulso do colégio

Por assédio denunciar

Espetáculo autobiográfico

Soube o fato narrar

Da igreja para o teatro

Na vida foi encenar



Três anos em ação

No teatro amador

Balconista e mecânico

A luta do trabalhador

Teatro e sobrevivência

A consciência do ator



1950 e tantos

A profissionalização

Com Ruggero Jacobbi

Fez teatralização

Rumo ao Teatro de Arena

Na arte da encenação



1956

No Arena atuação

“Julgue Você” em cena

Um cadáver em ação

Para fugir das pulgas

Fazia concentração



Anos 1960

Com o mestre Oduvaldo

"Chapetuba Futebol Clube"

Sem perder o rebolado

"Eles Não Usam Black-Tie”

Com Guarnieri no tablado



“A Revolução na América do Sul”

Com o grande Augusto Boal

 “O Grande Momento” no cinema

De um ator fenomenal

Filme de Roberto Santos

Cinema Novo é vital



25 anos em diante

No cinema nacional

Em "Cinco Vezes Favela"

Marcos Faria social

Segmento "Um Favelado"

Sétima Arte fulgural



"Pedreira de São Diogo",

Com Hirszman na escritura

"Terra em Transe", de Glauber

Cine arte se estrutura

Cinema Novo em cena

Eleva a nossa cultura



"A Hora e a Vez de Augusto Matraga"

Santos e Rosa na dianteira

"Todas as Mulheres do Mundo"

De Domingos Oliveira

Migliaccio cine e palco

Com a arte de primeira



Anos 1970

“Shazan, Xerife e Cia”

Flávio era o Xerife

Com  humor e  poesia

Paulo José era Shazan

Uma dupla que sorria



“As Aventuras do Tio Maneco”

Série e filme em romaria

"Maneco, o Super Tio"

Arte cinematografia

Teatro e televisão

Cine de noite e de dia



“Rainha da Sucata”, “Passione”

 E em “Senhora do Destino”

“Papel em Vila Madalena”

“A Próxima Vítima” em desatino

Prêmio por "Órfãos da Terra"

Para um ator diamantino



Chalita em “Tapas & Beijos”,

Um árabe em Copacabana

"Jovens Polacas" por último

A sétima arte emana

Flávio Migliaccio se foi

Em busca de seu nirvana



Sonhava ser Oscarito

Por Chaplin influenciado

Trajetória cinematográfica

Reconhecido em Gramado

Um ator entre os melhores

Trabalho bem premiado



Grande ator e roteirista

Cineasta e produtor

Também foi cartunista

Um destacado diretor

De família numerosa

Foi um mestre do humor

  

CORDEL PARA ALDIR BLANC


Homenagem de Gustavo Dourado (ATL, Taguatinga, DF)


A infinitude do verso
Na eternidade da canção

Nosso adeus a Aldir Blanc
Chora a música brasileira
Poeta e compositor
Um artista de primeira
Foi compor no infinito
Sua poesia verdadeira

Aldir Blanc Mendes
Estácio, Rio de Janeiro
Onde nasceu o poeta
Luminar e candeeiro
Trouxe o samba na alma
Paz e alegria ao terreiro 

1946

2 de setembro o dia
Aldir Blanc veio ao mundo
Transbordar amor poesia
Histórias do cotidiano
E a vida em sinfonia

Torcedor do Vasco da Gama
Da Acadêmicos do Salgueiro
Os seus versos memoráveis
Luz do Rio de Janeiro
Manifestou a cultura
De nosso povo brasileiro

Cronista da MPB
Com João Bosco parceria
O canto de Elis Regina
Com tristeza e alegria
No Estácio, Zona Norte
Fez samba com primazia 

Foi bom observador
De ativa curiosidade
As ruas e seus encantos
O grito pela liberdade
Os versos da boemia
Crítica à desigualdade

Poeta dos tipos humanos
Aos 16 na poesia

1966

Medicina em sincronia
Para entender as pessoas
À luz da psicologia

1972

“Agnus sei”, lançamento
Abre-alas com João Bosco
Parceria em movimento
Disco de Bolso “O Pasquim”
Poesia do sentimento

“Águas de março”, de Tom Jobim
Para fechar o verão
Uma nova MPB
Arte em nova dimensão
Aldir Blanc com seu verso
Deu belo toque na canção

1973

Adeus à psiquiatria
Uma nova concepção
Ritmo e harmonia
Lirismo no violão
Letras de elevado nível
Fez bater o coração

“O bêbado e a equilibrista”
“Cabaré”, “Kid Cavaquinho”
“O mestre-sala dos mares”
“Linha de passe” a caminho 
 “Bala com bala”, “Caça à raposa”
“De frente pro crime”, sozinho

Elis Regina deu eco
Ao canto da anistia
Epitáfio da ditadura
Do terror da tirania
A voz do povo nas rua 
Da voz à democracia

50 anos de carreira
Mais de 500 canções
Com Cristóvão Bastos
Parceria em criações
Resposta ao tempo, um eco
No canto das multidões

Fez letras com Guinga
Djavan e Hélio Delmiro
Canções com Moacyr Luz 
No samba sempre confiro
Crônicas da urbanidade
Em meu coração defiro

Clássico "Resposta ao tempo"
Nana Caymmi em ação
Edu Lobo e Sueli Costa
Nas esquinas da paixão
A infinitude do verso
Na eternidade da canção

“Saudades da Guanabara”
Com Paulo César Pinheiro
Na voz de Beth Carvalho
Samba o Rio de Janeiro
“Do um ao seis”, “Centro do coração”,
“Só dói quando Rio”, por inteiro

 “Rios, ruas e paraísos”
Com Maurício Tapajós
“Aldir Blanc — 50 anos”
O verso desata os nós
 “Rua dos Artistas e arredores”
 “Vida noturna” falar a sós.

Entre doçura e tristeza
Na obra do compositor
Aldir Blanc voz eterna 
Do Rio foi o trovador
Sua poesia inspirada
Pelo Cristo Redentor



DA SÉRIE O AMOR EM VERMELHO: A MEDIDA DE TODAS AS COISAS

Por Samuel da Costa (Itajaí, SC)

Nas medidas de todas as coisas
De todos os inaudíveis sons
Ao redor
De todas as abstratas cores
E de todas negras múlti-plas
Escuridões ao meu redor
***
Nas medidas de todas as coisas
De todos os sintécticos sons
Ao redor
De todas as cores e as não-cores
Ao meu redor
Um simples bom dia teu
Para mim
Já não me basta
Mussulinossa negra ninfa
***
Nas medidas de todas as coisas
Do meu múlti-verso apoplético
Minha dulcíssima negra musa
Eu espero que tenhas venerado
Profundamente
De todos os vagos versos agrafos
Que a ti eu dediquei
A beira da fossa abissal
***
Nas medidas de todas as coisas
Eu espero que tu vás até as janelas
Do ebúrneo palácio das memórias perdidas
E contemple todos os ruidosos ruídos
E todos os silêncios profundos
Ao teu redor
De todas as cores e as escuridões
Ao teu redor
***
Nas medidas de todas as coisas
Espero que mergulhes
Os teus delicados pés
Nas ebúrneas áreas da praia desolada
Que esvoaces o trigal dos teus cabelos
Ao sabor dos ventos outonais atlântico
***
Nas medidas de todas as coisas
Espero que não interrompas
As tuas nevoentas quimeras
Nunca mais divina Luna


DA SÉRIE O AMOR EM VERMELHO: UM RETRATO TEU NA PÓS-MODERNIDADE

Por Samuel da Costa (Itajaí, SC)

O eu ser feliz
Somente como
 As selvagens flores astrais
 Podem ser
***
O eu acordada
Com a divinal graça do alvor
Em um novíssimo dia
Ao lado teu
***
Um sorriso ameno
E um abraço eufônico teu
Eu só posso ser feliz
Como as álgidas negras flores
Podem o ser
***
O eu acordada
Com o alvor do astro rei
Em um novíssimo dia
Ao lado teu
***
Não! Não sensualize assim
Somente feche as nevoentas cortinas
Não! Não venha me embair
Somente apague
Todas as sibilinas luzes
Dispa-se
De todas as fluídas mentiras
E de todas as infindáveis
Desculpas abstratas
E débeis hipérboles afins
***
O eu-ser feliz
Como as imaculadas flores vagas
Podem o ser
Como um sonho bom
Uma quimera que nasceu
E morre em nanosegundos